Durante o séc. XIX ciência e civilização eram as palavras de ordem; incorporar a
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- Ísis Terra Coradelli
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1 Fernanda Aparecida Henrique da Silva. Durante o séc. XIX ciência e civilização eram as palavras de ordem; incorporar a imagem de progresso e modernidade era o desafio da nascente República. Nos aspectos culturais, a ciência e a civilização eram as palavras de ordem; a elite via no progresso científico e tecnológico a ponte para a civilização, e tinha como expoentes a França, que passaria a ser conhecida como a cidade da luz, e a Inglaterra. É o período das várias invenções: pilha, locomotiva, telégrafo, o navio e as ferrovias. Os grandes símbolos do momento eram a luz e a velocidade. Com a chegada dos trilhos, muitas cidades são criadas, as que já existentes são modificadas e valorizadas. Pode-se afirmar que o trem marcou a fisionomia urbana e desenvolveu regiões, estimulando-se a implantação crescente dos trilhos, através do interesse dos fazendeiros e do governo que via nas ferrovias a primeira representante do progresso. Na segunda metade do séc.xix, as idéias de progresso tomaram conta do universo simbólico, que relacionava tal meio de transporte à modernidad através das instalações ferroviárias. Os edifícios ferroviários tiveram grande importância no desenvolvimento da tecnologia da construção no Brasil; não somente com as edificações construídas para as estações de ferro, mas também para os pavilhões de Exposições, que vão ser freqüentes nesse período. Através deles o país entrou em contato com técnicas construtivas inovadoras, surgidas na Europa e nos Estados Unidos durante o séc. XIX e inicio do séc. XX, inclusive o interior e não somente no Rio de Janeiro. As inovações nessas construções ocorreram paralelamente às mudanças na fabricação do ferro; entre meados do século XIX e inicio do século XX, são construídos os primeiros edifícios empregando o ferro, com a característica peculiar de serem na grande maioria urbanos. O ferro nesse período era visto como material nobre. Novos
2 padrões de áreas urbanas trouxeram novos modelos de arquitetura, ou seja, novos padrões estéticos, programáticos e adaptados com determinados materiais á modernidade que se defendia por todo o mundo ocidental e que se encaixava nos anseios da burguesia, copiosa dos modelos europeus. Como nos mostra Artigas: Em todo o movimento há, na base, um desejo de modernizar o país, de abandonar velhas expressões, em proveito de formas que pudessem exprimir a necessidade de convivermos e até nos ombrearmos com as nações mais desenvolvidas do mundo ocidental. As sugestões tiradas do avanço tecnológico proporcionaram a procura da organização de espaços para morar e disso decorreram edifícios-objetos na paisagem urbana, que exprimissem o desejo de progresso geral da maior parte da nacionalidade. 1 Em meio ao processo de implantação de ferrovias, a estrutura, e como já dito, a fisionomia das cidades se modificou. Com o inicio da era ferroviária, as cidades passaram a se desenvolver e perdem a característica de povoados rurais, já que os trilhos possibilitam a comunicação entre as várias regiões do país. Através da mudança da relação tempo x distância, vários aspectos da sociedade vão se modificar, inclusive no tangente à urbanização e à arquitetura, uma vez que se torna possível o deslocamento de todos os tipos de materiais para todas as áreas. Não somente as peças, mas muitas vezes edifícios inteiros, eram importados. As cidades formadas guardarão importantes características próprias, com relação aos traçados urbanos. As da zona Noroeste, entre as quais se incluí Três Lagoas, se desenvolverão com a chegada dos trilhos e a partir das estações. A ferrovia, além de possibilitar vida econômica à futura cidade, gerou o próprio desenho urbano. Dentre os autores atuais, Ghirardello aborda o desenvolvimento das formações urbanas com a chegada dos trilhos nas chamadas bocas de sertão do Estado de São Paulo, mas restringindo-se ao lado paulista da linha construída pela Companhia 1 ARTIGAS, Vilanova. Caminhos da arquitetura. São Paulo: Cosac e Naify, 1999.
3 Noroeste, que compreende a região de Bauru a Araçatuba. 2 As mesmas características de construção e planejamento podem ser, tomando-se os devidos cuidados, estendidas para o lado sul mato-grossense da linha. Este último, afirma que diferentemente da cidade colonial e mesmo da cidade cafeeira do século XIX, nascidas em solo sacro, ao redor de uma capela, as cidades ferroviárias da zona noroeste surgirão sobre solos laicos e ao redor da estação, ou fronteiriças a ela. Apesar da tese de Ghirardello se restringir às cidades que compreendem a parte paulista da linha, tal afirmação pode ser generalizada á cidade de Três Lagoas, cuja estação foi inaugurada em 1912 e se tornou sede do município. Pelo caráter aglutinador que possuíam, as estações tornaram-se marcos referenciais em quase todas as cidades, atraindo para o seu redor os mais importantes serviços da comunidade e o comércio. O crescimento e desenvolvimento das cidades se fez de acordo com os interesses tradicionais da política local e de grupos específicos ligados ao governo de plantão. O que resultaria em planejamento urbano para alguns, mercado para alguns, lei para alguns, modernidade para alguns, cidadania para alguns. Durante a colonização dessas regioões a construção da imagem das cidades do interior, não havia espaço para todos. A idealização dessa auto-imagem estava associada a idéias e hábitos europeus. Cada vez mais os fazendeiros e suas famílias iam morar na capital, onde estavam à sede do governo, as instituições de ensino, os principais órgãos de imprensa e para onde convergiam os sistemas de transporte. Em seu artigo, José Leme Galvão Jr. Afirma que: símbolos da modernidade e avanço tecnológico, as ferrovias influenciaram o sistema viário das cidades, forçando a criação de novas ruas de acesso, causando problemas de transposição de suas vias, solucionados de várias 2 GHIRARDELLO, Nilson. Á beira da linha: formações urbanas da Noroeste paulista. Bauru: Unesp, Segundo Ghirardello, o termo boca do sertão é utilizado para ilustrar as regiões ainda não desbravadas pelo homem branco, de mata fechada, sem povoamento.
4 maneiras, e alterando o sistema de transporte público urbano para proporcionar o acesso as estações. 3 O planejamento urbano fez-se necessário, uma vez que a urbanização era característica de países civilizados, e a elite brasileira possuía um plano de obras urbanas, voltado para o embelezamento das cidades. Como afirma Filho, os grandes proprietários do período, afirmavam-se como agentes da civilização nos trópicos. 4 Essa camada irá promover em maior grau a urbanização das cidades, bem como uma arquitetura tipicamente urbana. Segundo o mesmo autor, a arquitetura brasileira sofreu modificações advindas das transformações sócio-econômicas e tecnológicas ocorridas então na vida do país. Também foram parte de uma política republicana de formação da indústria brasileira, consolidando assim a República. 5 o Rio de Janeiro será o local difusor de regras e costumes, por sua vez importados da Europa, modelos para o padrão de comportamento que iria atravessar o país pelo século XIX. No entanto, as diferenças eram decisivas e por diversas vezes representavam entrave para a difusão do modelo europeu. A análise das transformações ocorridas tanto no aspecto urbano, quanto na arquitetura da cidade de Três Lagoas, possibilitam uma leitura sobre as transformações políticas econômicas e sociais, em sintonia com um contexto mais geral do período. A estação de Três Lagoas era o portal para toda uma nova região em desbravamento, sede operacional e administrativa da empresa Itapura a Corumbá. Também era importante ponto, partindo dali vários eixos em quatro direções principais: o Norte, para Cuiabá, o Oeste, para Campo Grande, o Leste para São Paulo e o Sul para Dourados. 3 GALVÃO Jr., José Leme. Patrimônio cultural urbano-preservação e desenvolvimento Dissertação (Mestrado em Arquitetura) Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de Brasília, Brasília. 4 FILHO, N. G. R. Quadro da arquitetura no Brasil. São Paulo: Perspectiva, LIPPI, Lucia. As festas que a República manda guardar.
5 Certamente por esse e outros motivos, em 1911 a Empresa Construtora Machado de Mello, responsável pela construção da linha encarrega o engenheiro Oscar Teixeira Guimarães de executar um projeto urbano para a cidade de Três Lagoas, projeto arrojado com construções para uma cidade com o futuro prospero que se creditava à Três Lagoas. Os prédios teriam caráter arrojado. Na importância dos edifícios representativos ou praças que certamente levariam monumentos, fica clara a influencia francesa. Esse projeto não chegou a ser implantado e as edificações que encontramos hoje na cidade contam outra história, outro projeto mais simples ditou a construção dos edifícios.
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