Telejornalismo de Produção Local em Juiz de Fora: um Olhar sobre o Jornal da Alterosa Edição Regional 1
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1 Telejornalismo de Produção Local em Juiz de Fora: um Olhar sobre o Jornal da Alterosa Edição Regional 1 Simone Teixeira Martins 2 Faculdade Estácio de Sá de Juiz de Fora Resumo A proposta desse trabalho é a de verificar a existência de vínculos entre o telejornalismo de produção local produzido por uma emissora regional na cidade de Juiz de Fora, interior de Minas Gerais, e o público a que ele se destina. Para validar nosso estudo, analisamos a rotina de produção do Jornal da Alterosa Edição Regional. Efetuamos, ainda, grupos focais para verificar a audiência real do noticiário e se aquele universo de pessoas pesquisado sentia-se representado pelo telejornal e, conseqüentemente, pela emissora. A partir do suporte teórico de autores como Bazi, Coutinho e Vizeu, dentre outros, e da observação e análise do processo de produção do telejornal e das considerações dos grupos focais, percebemos que o jornalismo produzido pela TV Alterosa Juiz de Fora exerce uma função de referência para seu público. Mas não para todo ele. Palavras-chave Comunicação; Telejornalismo; Noticiabilidade; Audiência; Recepção. O rompimento das fronteiras da comunicação vivenciado no final do século passado a partir do processo de globalização formou um cenário fundamental para as mudanças de perspectiva da sociedade. Definida por Giddens (1991) como a intensificação das relações sociais em escala mundial, que ligam localidades distantes de tal maneira que 1 Trabalho apresentado ao GP Telejornalismo do IX Encontro dos Grupos/Núcleos de Pesquisas em Comunicação, evento componente do XXXII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. 2 Simone Martins é jornalista, radialista, pós-graduada em Comunicação e Gestão Empresarial (PUCMinas) e mestre em Comunicação (UFJF). Professora do Curso de Comunicação Social da Faculdade Estácio de Sá-JF e da Universidade Presidente Antônio Carlos-JF, desenvolve pesquisa sobre telejornalismo regional. sitema@terra.com.br 1
2 acontecimentos locais são modelados por eventos ocorrendo a muitas milhas de distância e vice-versa (1991, p. 69), a globalização dos meios de comunicação proporcionou especialmente no que diz respeito à televisão a ampliação de seus horizontes publicitários e sua abrangência. Bazi (2001) pondera que, simultaneamente, colocou o telespectador em uma situação mais confortável quanto à diversidade na procura de informação e de prestação de serviço (2001, p. 18). De maneira talvez paradoxal a princípio, a ampliação do universo de informações e a facilidade de acesso para obtê-las contribuíram para que o homem globalizado buscasse também reafirmar suas raízes locais. E o jornalismo de TV praticado pelas emissoras regionais pode auxiliar a população na solução de seus problemas. Em TV Regional: trajetórias e perspectivas, Rogério Bazi (2001) corrobora com a opinião de Debona e Fontanella (1996) quando elas identificam a TV regional como um canal de informação. Segundo as autoras, a TV regional pode servir para desenvolver as características culturais de cada comunidade, combatendo uma homogeneização que poderia ser causada pelas grandes redes de comunicação (1996, p. 18). É nesse aspecto que as temáticas regionais assumem papel relevante no contexto da comunicação, com destaque para a televisão brasileira 3. Dessa forma, acreditamos que algumas das transformações pelas quais o mundo passou fizeram com que as redes de televisão, na década de 90, buscassem um fazer televisivo mais regionalizado. Rogério Bazi (2001) argumenta que este seja o novo caminho para as emissoras de televisão, já que a TV regional retransmite seu sinal a uma determinada região, abordando assuntos locais e resgatando os valores culturais das comunidades, fazendo com que estas se vejam retratadas pela televisão, aumentando sua participação no contexto da sociedade. Assim, verificaria-se uma aproximação maior quando trabalhamos com o fazer jornalístico nas TV s regionais, já que as relações de proximidade existentes entre comunidade e emissora produzem, teoricamente, um jornalismo mais participativo, com maior exercício de cidadania. Isso porque a 3 A Constituição Federal, promulgada em 1988, em seu artigo nº 221, inciso III, já previa a regionalização da produção cultural, artística e jornalística das emissoras de televisão, mas ainda faltavam as leis ordinárias para regulamentar essa implantação. Um dos Projetos de Lei, que estava tramitava no Congresso Nacional desde 1991, da deputada federal Jandira Feghali (PC do B/RJ), foi aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados em 13 de Agosto de De acordo com o site da Câmara dos Deputados, o Projeto de Lei de nº 256/91, que regula o inciso III do artigo 221 da Constituição Federal, determina que as emissoras de televisão e rádio dediquem à produção local 30% da programação veiculada entre 7 e 23h. Disponível em Acesso em
3 população passa a influenciar e a participar (mesmo que limitada e discretamente) do processo de produção das notícias. A partir da hipótese de que a construção da identidade dos sujeitos seja feita tendo por base suas relações com outros indivíduos e com a sociedade na qual se inserem, não podemos deixar de ressaltar que, contemporaneamente, essa relação também é mediada pelos meios de comunicação de massa, principalmente os telejornais. Alfredo Vizeu e João Carlos Correia (2008) sugerem que o telejornalismo representa um lugar de referência para os brasileiros, e argumentam também que o telejornal é fundamental na construção de uma identidade local, na qual a referência serviria como uma espécie de orientação, além de funcionar como um laço social, um vínculo estruturante, como sugere Dominique Wolton (2006). Isso porque a notícia local é diferente da notícia chamada de rede porque gera uma relação de identificação mais direta com o telespectador, já que se refere a acontecimentos que o atingem em seu cotidiano mais próximo. Tomando como referência a hipótese assumida de que o telejornalismo de produção local funcione como lugar de referência para os telespectadores somada à estrutura de cobertura local pretendemos identificar como o Jornal da Alterosa Edição Regional, veiculado pela TV Alterosa em Juiz de Fora, constrói sua relação com seus telespectadores. Ao efetuar uma análise sobre o telejornalismo, Itânia Gomes (2004) define o vínculo criado entre emissora e espectador como um modo de endereçamento, englobando tudo o que é característico das práticas e formas comunicativas específicas de cada programa. Nessa perspectiva, nossa proposta foi a de analisar a construção da identidade do Jornal da Alterosa Edição Regional para verificar se existe identificação de seu público com ele, e ainda se o telejornal produz sentido para seus espectadores. Ou seja, verificamos, a partir de um estudo de recepção realizado com grupos de telespectadores, como parte de seu público se vê representado na televisão e ainda se esse constrói laços de pertencimento com a emissora. A existência, portanto, de uma relação de cumplicidade entre a TV Alterosa e a sociedade juizforana e a construção de vínculos entre público e telejornal foram algumas das questões estudadas. Isso porque partimos da premissa de que a imagem construída pela TV Alterosa para seu público e a que este tem dela fossem coincidentes, considerando que a TV Alterosa atue como um sistema de representação social para a sociedade juizforana. Em tese, portanto, a população deveria se identificar com o telejornalismo veiculado pela emissora por esta estar localizada na 3
4 cidade de Juiz de Fora, na Zona da Mata Mineira, e por retratar a realidade da sociedade deste local. Em um primeiro momento, acreditamos que isso de fato ocorresse porque o retorno aferido 4 por meio da audiência e das ligações e s enviados para a redação comprovavam que o público-alvo sentia-se representado no Jornal da Alterosa Edição Regional. De acordo com a editora-chefe do telejornal à época da pesquisa 5, Gilze Bara, a identificação existe porque a TV Alterosa veicula matérias que retratam o cotidiano dos moradores da cidade, fazendo com que eles se vejam na telinha e, assim, representados no telejornal. Dessa forma, partimos do pressuposto de que o telejornalismo pode, em princípio, contribuir para a construção de uma identidade local na medida em que faz com que seus telespectadores se identifiquem com as notícias veiculadas por ele, e se vejam inseridos no contexto da sociedade. Sobre a TV Alterosa Juiz de Fora A história da emissora que é foco das relações de que trata o presente artigo começa em 1990, quando a TV Tiradentes foi inaugurada em Juiz de Fora, com o objetivo de produzir uma programação eminentemente local. No começo, a TV veiculava apenas telejornais e programas de auditório, e agradou o público ao inserir na programação matérias policiais, esportivas, telejornais, programas de calouros e mesas de debate retratando a realidade local. Mas brigas internas causaram o fim de vários programas, e a sua afiliação à Rede Record. Já em 1999 a emissora passa a pertencer ao Grupo Associados Minas, com sede em Belo Horizonte, e afilia-se ao SBT. Passa a se chamar TV Alterosa Juiz de Fora e atualmente apresenta uma programação voltada para as classes C, D e E 6. No início, sua programação local limitava-se ao Jornal da Alterosa Edição Regional, veiculado de segunda a sábado, no horário de almoço. A identidade impressa pelo telejornalismo da 4 Segundo a ex-editora chefe, vários telespectadores ligam para a emissora, enviam s e abordam os repórteres nas ruas para falar sobre uma matéria veiculada no telejornal, mas o número de pessoas que assistem o telejornal ou até mesmo que ligam para a emissora nunca foi quantificado. 5 Em janeiro de 2009, Gilze Bara pediu demissão da TV Alterosa Juiz de Fora para assumir a chefia de marketing da Prefeitura de Juiz de Fora. 6 A definição do público da emissora foi informada pela então editora regional da emissora, Gilze Bara. 4
5 TV Alterosa na sociedade juizforana foi de uma TV local com matérias voltadas para a segurança pública e a exibição de VT s ágeis com imagens em plano seqüência 7. O Jornal da Alterosa Edição Regional, veiculado de segunda a sábado às 12h05, aborda o cotidiano de Juiz de Fora e é, portanto, o responsável pela construção de uma identidade local no âmbito da programação da emissora. Nesse sentido, torna-se necessário analisar a construção de laços de pertencimento entre emissora e público, e verificar se realmente existe uma identificação dos telespectadores com as informações veiculadas por ele. No único telejornal regional veiculado pela TV Alterosa estão presentes os recursos típicos de seu formato: a apresentadora faz a cabeça das matérias, chama os VT s e as entrevistas. O tempo de exibição do programa analisado é de, em média, 17 minutos diários 8. O jornal segue o modelo clássico dos telejornais locais, com notícias da cidade sede (Juiz de Fora) e das cidades da área de cobertura. Em tese, as notícias precisam ter alcance e interesse não só para quem é de Juiz de Fora, mas para as 127 cidades da região que recebem o sinal da emissora. Vale ressaltar, entretanto, que embora tanto a TV Alterosa objeto de nosso estudo quanto a TV Panorama (afiliada da Rede Globo em Juiz de Fora) sejam caracterizadas como emissoras regionais, elas não necessariamente produzem telejornalismo regional. O que se vê são produções locais. A então editora regional do Jornal da Alterosa Edição Regional, Gilze Bara, explica que existe a dificuldade estrutural para deslocar uma equipe para essas cidades para cobrir um fato, mas que as notas secas 9 cumprem o papel de dar visibilidade a elas. Apesar de parecer secundária para alguns, essa visibilidade, mesmo que limitada, faz com que o telespectador da região se veja inserido no telejornal, e com ele crie laços de pertencimento, identidade. Percebe-se que na produção das edições do telejornal procura-se enfocar assuntos relacionados ao âmbito local, incluindo as notícias referentes a problemas do dia-a-dia do cidadão. A cobertura dos problemas da comunidade, expostos e debatidos com as autoridades, através de flashes nas ruas, entrevistas e reportagens compõem a estrutura do Jornal da Alterosa. O telejornal também procura seguir a missão estabelecida pela 7 O plano seqüência é um plano cinematográfico, utilizado inicialmente pelo programa Aqui e Agora e que se difundiu nas produções jornalísticas do SBT e suas afiliadas. Segundo a editora regional do Jornal da Alterosa, ele é utilizado no telejornal para narrar uma história, sem muitos cortes na hora da edição da matéria, com o repórter no local do acontecimento contando como o fato aconteceu. 8 No cálculo de tempo médio do telejornal não estão incluídos aqueles destinados à veiculação de comerciais. 9 Nota lida pelo apresentador do telejornal sem qualquer imagem de ilustração. 5
6 TV Alterosa-JF, de informar e auxiliar no bem-estar da comunidade, ao produzir matérias de serviço e saúde. Algumas matérias que vão ao ar são de cunho assistencialista 10, e se mostram como canal facilitador para a solução de problemas do cotidiano da cidade. Por divulgar principalmente as notícias de Juiz de Fora, o Jornal da Alterosa Edição Regional é freqüentemente acionado pelo público para intervir efetivamente na solução de problemas, e é visto como um mediador entre o cidadão e o Poder Público, o que pode ser constatado através dos telefonemas e s dos telespectadores para o Canal da Alterosa 11 com a sugestão de pautas que abordem os problemas da comunidade. Os moradores esperam que a divulgação de seus problemas motive soluções. Mas a relação do telespectador com o telejornal que fala de sua cidade não gira só em torno do assistencialismo. O Jornal da Alterosa Edição Regional tem maior foco em matérias sobre os problemas da cidade, além de segurança e justiça. Mas sua produção é voltada principalmente para os fatos mais importantes do dia, sempre pensando no interesse público. Mas também entram matérias que a gente sabe que o público quer ver, como os fait-divers 12, completa Gilze Bara. Nesse sentido vale destacar que fazer uma avaliação da notícia é pensar no público a que ela se dirige, porque se pressupõe que as seleções efetuadas vão ao encontro dos desejos da audiência. Pereira Jr. (2005) identifica que o julgamento da noticiabilidade de um fato se decide perguntando-se em que medida o público teve conhecimento dele e quando. Por isso a participação popular sempre foi relevante ao longo da história do Jornal da Alterosa, e o telespectador participa e se informa do cotidiano de Juiz de Fora através do telejornal. Entendemos que o Jornal da Alterosa é construído e/ou concebido no processo de produção noticiosa para tornar-se lugar de referência para o telespectador juizforano. 10 Simeone, Braga e Mafra (2005) acreditam que se uma mudança se faz necessária é porque existem problemas que estão impedindo um bom funcionamento da sociedade. Os autores criticam a prática do assistencialismo por se tratar da geração de certo comodismo através de situações de ajuda que são constantes. E sugerem a mobilização como uma forma de compartilhar os problemas e distribui-los perante a sociedade para que todos se sintam co-responsáveis por ele e passem a agir na tentativa de solucioná-lo, o que não implica a retirada da função do Estado de garantir a integração, a regulação e o bom funcionamento da sociedade. Mas implica que a própria sociedade gere meios de solucionar os problemas com os quais o Estado por si só não seja capaz de lidar. 11 O Canal da Alterosa é um canal interativo no qual o telespectador entra em contato com a emissora através de um número de telefone disponibilizado pela TV Alterosa-JF durante toda a programação. 12 Fait-divers é uma expressão de jargão jornalístico que designa os assuntos não categorizáveis nas editorias tradicionais dos veículos. São fatos desconectados de historicidade jornalística, ou seja, referemse apenas ao seu caráter interno e seu interesse como fato inusitado, pitoresco. 6
7 Pereira Jr. (2005) ainda destaca que o processo de seleção das notícias é subjetivo e arbitrário, com as decisões dependendo muito de juízos de valor baseados no conjunto de experiências, atitudes e expectativas dos produtores e editores dos telejornais. Os valores-notícia estão, portanto, sempre relacionados à idéia da audiência, ao que deve ser veiculado. Apesar de realizar pesquisas anuais para medir sua audiência em Juiz de Fora, a TV Alterosa não as realiza no que diz respeito a noticiabilidade de um fato. O que deve ou não ser noticiado era decidido instintivamente pela própria ex-editora, o que faz com que os critérios de produção de notícias também sejam arbitrários: é priorizado o factual para depois analisar quais matérias devem entrar no jornal. Eu costumo dizer que os critérios de fechamento e seleção são pessoais, instintivos. Aqui é assim. Até porque a estrutura é muito enxuta, completa Gilze. E a identidade no Jornal da Alterosa Edição Regional é construída a partir de representações simbólicas que buscam corresponder a uma identificação deste com o seu público, e contribuir para que ele assista ao telejornal. Esta identidade, segundo a ex-editora regional, é criada através da seleção das matérias e da linguagem utilizada em todo o processo de produção. E é papel da produção do telejornal selecionar o que deve ser noticiável. Existem vários critérios para essa seleção, mas o que mais se destaca no discurso construído pela editora para explicar a rotina produtiva é o próprio instinto de ser repórter. Entendemos que seja válido, ainda, ressaltar que o Jornal da Alterosa Edição Regional imprimiu desde o início de 2008, uma nova identidade ao telejornal (para se adequar ao padrão utilizado pela TV Alterosa em todo o estado), responsável por promover uma interação, já na escalada, entre o repórter, na rua, chamando o telespectador para assistir à matéria de destaque feita por ele para aquela edição e a apresentadora no estúdio, que continua a apresentar as manchetes das notícias que serão exibidas ao longo do telejornal. A rotina da produção do telejornal da TV Alterosa segue, de maneira geral, a regra das demais emissoras regionais. A ronda e a pesquisa na internet fazem parte do processo de construção de pautas, mas leva em consideração a sugestão de produtores, repórteres, editores e, sobretudo, da comunidade que envia sugestões de matérias. Não há dados concretos desta participação popular. A ex-editora argumenta que, quando o telespectador sugere uma pauta interessante e há condições estruturais para apurá-la, uma equipe de jornalismo produz e o telejornal veicula a matéria, dando crédito ao telespectador na exibição da notícia. 7
8 Assim como no telejornal da emissora concorrente, as notícias no Jornal da Alterosa Edição Regional são distribuídas segundo critérios de importância. De acordo com Gilze Bara, não há a interferência da direção da emissora no que diz respeito a esses critérios, nem mesmo em relação ao conteúdo das edições. A matéria que abre o telejornal sempre possui maior impacto, devendo ser factual e, sobretudo, tratar de um assunto local. Cumprindo, assim, uma das premissas do jornalismo regional: o telespectador se sentirá representado na notícia. A utilização da linguagem coloquial, adequada ao seu público-alvo, era outra das preocupações da então editora. Gilze afirma que a hipótese que orienta o trabalho na emissora é a de que a maioria dos telespectadores do Jornal da Alterosa Edição Regional seja formada por jovens e mulheres, e reforça a importância de produzi-lo para toda a comunidade. É inegável, portanto, que o jornal apresente serviços de utilidade pública, além de dicas para o telespectador que participa efetivamente, segundo Gilze Bara, da construção do telejornal. Essa maior interação também ocorre por meio da promoção constante de eventos pela emissora na cidade de Juiz de Fora, como o passeio ciclístico, ou ainda com visitas à TV. Esses eventos, promovidos pela TV Alterosa-JF, têm como objetivo a aproximação da comunidade com a emissora, e sempre são noticiados pelo telejornal, reforçando o vínculo entre TV e sociedade juizforana na produção veiculada na telinha. De acordo com a ex-editora regional, o Jornal da Alterosa Edição Regional sempre teve o diferencial de ter a participação do povo, o que faz com que este crie laços de pertencimento com a emissora. Em busca da audiência real do Jornal da Alterosa Edição Regional: um estudo de recepção Para compreender a existência (ou não) e as características da identificação do público com o telejornal local e, conseqüentemente, com a emissora, promovemos discussões em grupo com os telespectadores do Jornal da Alterosa Edição Regional. Nosso objetivo era o de avaliar se as notícias veiculadas correspondiam, de fato, ao interesse dos espectadores. Para a seleção da amostra, tomamos como premissa o perfil do grupo delimitado pela própria editora do telejornal à época da pesquisa, Gilze Bara. Segundo 8
9 ela, o público é constituído por indivíduos pertencentes às classes C, D e E, divididos entre suas faixas etárias, com destaque para os jovens, que seriam a faixa majoritária. Além disso, as mulheres e os idosos também são considerados, pela ex-editora regional, público-alvo do Jornal da Alterosa Edição Regional. Das 67 pessoas que participaram do debate, mais de 65% pertenciam ao sexo feminino, público declarado alvo principal do telejornal por sua editora regional. No que se refere à faixa etária, os jovens corresponderam a quase 38% do universo investigado, enquanto os indivíduos com idade superior a 40 anos participaram em um percentual superior a 44% dos indivíduos ouvidos. A proposta de nosso trabalho de recepção foi traçar um paralelo sobre o que preconiza a literatura em relação ao telejornalismo de produção local, a partir da investigação do que foi veiculado pela TV Alterosa em Juiz de Fora ao longo de uma semana que utilizamos como recorte empírico para análise, associado à realidade vivenciada por seus telespectadores e ainda à nossa análise do processo de construção do telejornal. Para que pudéssemos observar como se processa a recepção das mensagens veiculadas pelo Jornal da Alterosa Edição Regional, ou seja, para compreender como elas são entendidas, decodificadas e re-elaboradas por seus espectadores, nosso estudo de recepção foi efetuado a partir da realização de cinco grupos focais, cuja localização foi escolhida dentre os bairros mais populosos da cidade 13, tendo como referência as regiões de planejamento delimitadas pela Prefeitura de Juiz de Fora Regiões de Planejamento Grama, Santa Luzia, Centro, Benfica, São Pedro. 14 De acordo com o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Juiz de Fora, a cidade está dividida em 12 Regiões de Planejamento, que são: 1. Barreira do Triunfo (corresponde aos bairros Barreira do Triunfo, Paula Lima, Dias Tavares e Chapéu D uvas); 2. Represa 3. Grama (Manoel Honório, Centenário, Bonfim, Bairu, Progresso, Marumbi, Santa Rita, Santa Terezinha, Eldorado, Nossa Senhora das Graças, Mariano Procópio, Grama e Nossa Senhora Aparecida); 4. Linhares 5. Lourdes (Lourdes, Olavo Costa, Furtado de Menezes, Floresta e Santo Antônio) 6. Santa Luzia (Graminha, Santa Luzia, Ipiranga, Santa Cecília e Mundo Novo) 7. Centro (Granbery, São Mateus, Alto dos Passos, Bom Pastor, Santa Helena, Democrata e Carlos Chagas, além da Área Central). 8. Cascatinha (Cascatinha, Santa Efigênia, Aeroporto, Salvaterra); 9. São Pedro (São Pedro, Nossa Senhora de Fátima, Santos Dumont, Borboleta, Imperador, Parque Jardim da Serra e Marilândia) 10. Santa Cândida (Milho Branco, Fazenda Santa Cândida, Jardim Natal). 11. Benfica (Esplanada, Monte Castelo, Industrial, Jóquei Clube, Santa Cruz, Benfica, Cidade do Sol, Jóquei Clube I, II e III, Barbosa Lage e Santa Cruz) 12. Igrejinha Disponível em Acesso em 04/03/
10 As discussões foram feitas depois dos grupos assistirem, em conjunto, à exibição da gravação de uma edição do telejornal completo, da escalada e da matéria principal em cada uma das edições veiculadas ao longo de uma semana. Em seguida, algumas questões foram propostas para o debate. Entre as questões propostas, buscamos a opinião dos componentes do grupo acerca do Jornal da Alterosa Edição Regional e ainda sobre o que mais havia chamado a atenção destes nas edições mostradas durante a exibição do telejornal. Outras questões apresentadas foram se as pessoas daquele universo investigado consideravam as matérias exibidas interessantes e ainda se os telespectadores se viam representados e de que forma no Jornal. Acreditamos ser válido destacar, também, que ainda questionamos se os telespectadores entenderam tudo o que foi dito ao longo do noticiário exibido e ainda se eles se identificavam com o telejornal. Entendemos ser válido destacar, finalmente, que o resultado do nosso trabalho refere-se àquele grupo de telespectadores estudado, e não corresponde ao universal, apesar de, a partir da análise de um grupo investigado, ser possível realizar inferências sobre outras realidades. Considerações finais Percebemos, ao final da pesquisa, que o jornalismo produzido pela TV Alterosa em Juiz de Fora exerce, de fato, uma função de referência para seu público. Mas não para todo ele. Acreditamos que a cobertura noticiosa feita pela emissora na cidade seja responsável por estabelecer vínculos com os telespectadores ao produzir um jornalismo de proximidade. Isso poderia ser explicado tanto pelo discurso da ex-editora regional (ao ressaltar que a cobertura noticiosa é prioritariamente local em função do número reduzido de profissionais na emissora), por Juiz de Fora ser uma cidade pólo da Zona da Mata Mineira, quanto pelo fato de os participantes dos grupos focais desenvolvidos, apesar de todas as críticas apresentadas ao Jornal da Alterosa Edição Regional, sentirem-se de alguma forma representados pelo noticiário e, conseqüentemente, pela emissora. Consideramos, a partir das reflexões e discussões promovidas, que os profissionais da TV Alterosa Juiz de Fora classificam os fatos de acordo com seus próprios estereótipos. No processo de construção do noticiário, percebemos que os jornalistas (principalmente 10
11 a editora na época da pesquisa, Gilze Bara) serviam-se mais de sua opinião sobre os assuntos para definir o que deveria ser divulgado. Dessa forma, ao analisar os critérios de noticiabilidade utilizados na construção das edições pesquisadas do Jornal da Alterosa Edição Regional, percebemos que a imagem que os jornalistas têm da audiência é determinada por aquilo que os próprios profissionais julgam despertar o interesse do público. Julgamos ser pertinente destacar, também, que a apresentação da notícia se adapta à imagem que os jornalistas têm do público, e que muitas vezes pode não refletir a realidade. No caso específico da TV Alterosa Juiz de Fora, a então editora regional autodenominou-se uma profissional que trabalha com sua intuição. Gilze Bara revela que assumia o papel de telespectadora para definir o que deveria ser apurado e transformado em notícia no Jornal da Alterosa Edição Regional. Observamos, dessa forma, que a ex-editora relacionava suas escolhas a seu próprio faro jornalístico. Nesse contexto, entendemos ainda que a imagem do público construída pela equipe de produção do Jornal determina as rotinas de produção do noticiário, influenciando na origem, seleção e produção das pautas bem como no enfoque adotado. Os grupos focais realizados com alguns telespectadores do Jornal da Alterosa Edição Regional revelaram-nos, contudo, que apenas algumas das notícias veiculadas são de seu real interesse. Percebemos, como resultado do trabalho efetuado com os grupos focais, que a noção de audiência que a emissora possui não tem correspondência efetiva com a audiência real, ao menos na visão do universo de pessoas investigado. Todavia, apesar de a audiência real do Jornal da Alterosa Edição Regional não corresponder à audiência presumida pelos profissionais da emissora (pelo menos no que tange às respostas dos participantes do estudo de recepção), consideramos válido ressaltar que, na visão do universo de pessoas pesquisado, a TV Alterosa produz um jornalismo de fácil entendimento, porque fala a mesma língua que os cidadãos das comunidades. Acreditamos, portanto, que a identidade construída pelo Jornal da Alterosa Edição Regional tenha sido fruto de suas representações simbólicas, ao buscar corresponder a uma identificação de seu público com as informações veiculadas, para que os telespectadores respondam com audiência. Entendemos que para que isso aconteça de fato seja necessária uma revisão de todo o processo comunicativo, com foco em sua audiência real, para que os telespectadores possam efetivamente se ver inseridos (e representados) no contexto da sociedade refletida, narrada, a partir das notícias 11
12 veiculadas pelo Jornal, e também para que a emissora contribua para a construção de uma identidade local em Juiz de Fora. Referências Bibliográficas BARA, Gilze. Gilze Bara: depoimento [agosto 2008]. Entrevistadora: Simone Teixeira Martins. Juiz de Fora, BAZI, Rogério Eduardo Rodrigues. TV Regional: trajetória e perspectivas. Campinas, SP: Editora Alínea, CÂMARA dos Deputados. Disponível em < >. Acesso em CORREIA, João Carlos; PEREIRA JR, Alfredo Eurico Vizeu (org.). A sociedade do telejornalismo. Petrópolis: Vozes, COUTINHO, Iluska et al. Telejornalismo e Identidade Local: uma reflexão sobre a produção jornalística nas emissoras de TV de Juiz de Fora. Regiocom XI Colóquio Internacional de Comunicação para o Desenvolvimento Regional. São Bernardo do Campo: Cátedra Unesco, CD'Rom. COUTINHO, Iluska e FERNANDES, Lívia. Telejornalismo Local e Identidade: o Jornal da Alterosa e a construção de um lugar de referência. XII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação Região Sudeste. Juiz de Fora: COUTINHO, Iluska. Telejornalismo e identidade em emissoras locais: a construção de contratos de pertencimento. In: VIZEU, Alfredo Eurico (org.). A sociedade do telejornalismo. Petrópolis: Vozes, CURADO, Olga. A notícia na TV: o dia-a-dia de quem faz telejornalismo. São Paulo: Alegro, DEBONA, Darci; FONTELLA, Odil. Telejornalismo Global x Regional. In: RONSINI, Veneza Mayora (org.). Sociedade, Mídia e Cultura. Santa Maria: CAPES, GIDDENS, Anthony. As conseqüências da modernidade. São Paulo: UNESP,
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Resumo. Palavras-chave. Telejornalismo local; audiência presumida; identidade.
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