Semanário 1. Lídia FARIAS 2 Taís Marques MONTEIRO 3 Osmar GONÇALVES 4 Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, CE

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1 RESUMO Semanário 1 Lídia FARIAS 2 Taís Marques MONTEIRO 3 Osmar GONÇALVES 4 Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, CE O presente trabalho tem como objetivo apresentar a fotografia artística Semanário que foi produzida através de passeios fotográficos no Centro, um bairro de Fortaleza. Durante os passeios, procurou-se formas de observar e interagir com os espaços e exercitar o ato fotográfico em relação à cidade e às pessoas que constroem este bairro. O homem comum, como protagonista da fotografia contemporânea, é um dos focos da trabalho. PALAVRAS-CHAVE: banca de revista, fotografia urbana, paisagem urbana INTRODUÇÃO Ao partir do pressuposto que os limites de uma disciplina não se encerram no fim do semestre letivo e por prosseguir com interesse no estudo e na prática fotográfica, optamos por dar continuidade, sob orientação do mesmo professor, aos passeios fotográficos iniciados anteriormente na disciplina de Fotopublicidade II. Dessa forma, decidimos prosseguir com os fotopasseios pelo Centro, bairro que deu origem a Fortaleza e que, atualmente, funciona como um dos centros comerciais da cidade. O Centro é um bairro composto pela diversidade da sua arquitetura, de pessoas que transitam por suas ruas, que conversam nos bancos de suas praças e das lojas, bancas e camelôs que constituem seu comércio. Os passeios fotográficos são compreendidos e exercitados não apenas como metodologia de produção de imagens, mas, também, como uma maneira de investigação, 1 Trabalho submetido ao XX Prêmio Expocom 2013 na Categoria a Produção Editorial e Produção 2 Aluna líder do grupo e estudante 9º semestre do Curso de Comunicação Social com habilitação em Publicidade da Universidade Federal do Ceará UFC. lidialif@gmail.com 3 Estudante do 4º semestre do Curso de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo da Universidade Federal do Ceará UFC. tais.monteiroo@gmail.com 4 Orientador do trabalho. Professor do curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Ceará UFC. osmargoncalves@hotmail.com

2 observação e interação com o espaço. Atividades de observação (incluindo a escuta), leitura (da vida metropolitana e de textos) e produção de textos. Flânerie, em outras palavras, pode ser associada com uma forma de olhar, de observar (pessoas, tipos sociais, contextos sociais e constelações); uma forma de ler a cidade e sua população (suas imagens espaciais, sua arquitetura, suas configurações humanas)" (FRISBY apud MCLAREN, 2000, p ) Nesse sentido, estas experiências com o espaço transformam a percepção do participantes com relação a cidade, influenciando nas escolhas dos objetos a serem fotografados. A fotografia tem um destino duplo.ela é filho do mundo do aparente, do instante vivido, e como tal guardará sempre algo do documento histórico ou científico sobre ele, mas ela é também filha do retângulo, um produto das belas-artes, o qual requer o preenchimento agradável ou harmonioso do espaço com manchas em preto e branco ou em cores. Nesse sentido, a fotografia terá sempre um pé no campo das artes gráficas e nunca será suscetível de escapar desse fato ( BRASSAÏ apud KOSSOY, 2001) Dessa maneira, fotografia Semanário não procura ser uma representação fiel do real, e assume a sua função imaginativa, no campo das belas artes. OBJETIVO Procuramos retratar o cotidiano, as cenas comuns que se repetem e geralmente nos passam despercebidas. Retratar o homem comum é personagem principal da percepção da imagem. Para Sontag (2004) a fotografia confere valor a paisagem retratada, cena, objeto e pessoas. Também buscamos interagir com os espaços através de passeios fotográficos no quais exercitamos o ato fotográfico em relação à cidade e à dinâmica de seus ambientes. JUSTIFICATIVA Cidades são compostas de cenas e pessoas que se repetem cotidianamente, mas que não deixam de ser únicas. Cada momento registrado torna-se passado no momento da fotografia, e o banal urbano é eternizado, em forma de memória, seja emotiva, seja física. A imagem fotográfica urbana é indiciária, pois busca o entendimento através da compreensão de mundo do expectador, para Kossoy (2007, p.41), no caso de uma cena de

3 rua, algum elemento fora da área de interesse, à primeira vista sem importância, pode ser decisivo para a fotografia. Detalhes, aparentemente insignificantes no nosso olhar, carregam em si informações visuais que podem decifrar um meio. A vinculação da fotografia com o real, como no instante da gravação do fotograma, determina que o fato registrado se dilua, pois deixa-se de ser efêmero, comum, corriqueiro, para tornar-se memória fotografada. Semanário tem como personagem um homem comum, um dono de banca de jornal, Bossoy cita Eric Hobsbawm que classifica a essas pessoas comuns de pessoas extraordinárias : Uma espécie de pessoa cujos nomes são usualmente desconhecidos de todos, exceto de sua família, seus vizinhos [...]. Em alguns casos, seus nomes são inteiramente desconhecidos e impossíveis de conhecer, como os dos homens e mulheres que mudaram o mundo [...] Essas pessoas constituem a maioria da raça humana. [...] Os escritos sobre tais indivíduos ausentes na história deixaram traços pouco significativos na narrativa macro-histórica. [...] Suas vidas têm tanto interesse quanto a sua ou a minha, mesmo que ninguém tenha escritos sobre elas. (KOSSOY, 2007, p.61-62) O homem extraordinário é o passante, o transeunte, o que não tem importância midiática e na macro-história. Baudelaire, no conto A uma passante, retratou uma mulher comum, sem aparente relevância social. Na contemporaneidade, passa-se a escolher, também, como personagem o homem comum e extraordinário. Assim como Baudelaire, achamos que o imaginário e o curioso encontra-se em tentar decifrar o anônimo, o personagem na multidão, o universo de questões que só o não saber permite. O interesse que podemos ter por essas imagens distantes é diferente daquele que move um historiador, que tentará entender, geralmente através dos modelos que sobrevivem na imagem, o modo de vida de uma época, o vestuário, o gesto, a família, o trabalho, a hierarquia das relações etc. Mas mesmo dentro da generalidade de seu método, ele provavelmente não deixará de ser tocado pela idéia de que ali houve uma existência que permanece única, sobre a qual pouco terá a dizer. (ENTLER, 2006) O nosso personagem é o homem extraordinário em um movimento comum, adentrando em um mar de revistas, jornais, livros. Assim, a sua existência é única e o movimento, apesar de repetitivo, é único também.

4 MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS Semanário foi produzia no Centro, bairro que comporta grande fluxo de pessoas e diversidade de serviços e comércios. O critério utilizado para a produção da imagem foi o de observar as cenas cotidianas dos comerciantes do Centro e retratá-las oferecendo uma outra visão daquilo que parece ser banal. Os equipamentos utilizado durante os passeios fotográficos que deram origem a fotografia Semanário foi uma câmera portátil Sony DSC W330, escolhida por ser mais discreta, para que se pudesse fotografar sem causar estranhamento. Procuramos a proximidade sem interferência da presença da câmera que, por diversas, vezes provoca estranhamento. Quando alguém fotografa cotidianamente, a distância criada entre aquele que toma a imagem e aquele que nela aparece é fruto das circunstâncias: seria contraproducente querer identificar cada pessoa registrada, para se antecipar à possível curiosidade de saber detalhes de sua história. Então, fotografa-se simplesmente e o desconhecimento é uma consequência que, eventualmente, aprende-se a explorar depois. (ENTLER, 2006) O anonimato dá-se por não interferir na existência real, para não esgotá-la em um relato direto com o personagem fotografado. Através dela, procuramos, como explana ENTLER (2006) garantir a identificação, isto é, o encontro daquele que observa dentro do evento observado. Preferimos deixar uma lacuna para ser preenchida com a imaginação e a tensão silenciosa de quem é o homem da banca. DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO O personagem de Semanário se encontra imerso em um mar de informações, que é o seu meio, seu espaço. A fotografia deu-se em um movimento repetitivo do homem extraordinário ao adentrar seu local de trabalho: uma banca de jornais e revistas. Nos perguntamos sobre sua história de vida.

5 Imagem Fotografia Artística Semanário Em Semanário, contamos a história de uma homem anônimo que trabalha uma banca de revistas e jornais em uma das praças do Centro. Uma banca imersa na enorme quantidade de periódicos expostos por toda sua extensão. A decisão pela fotografia preto e branco deu-se no sentido de retirar o foco das tonalidades e do colorido das revistas e jornais, deixá-los como personagens secundários e de realçar as formas, os movimentos e a sensação de que o homem, ao entrar na banca, seria devorado pela mesma. CONSIDERAÇÕES FINAIS O ato fotográfico requer paciência e dedicação para que se chegue ao resultado esperado, para que sejamos capazes de clicar na fração de segundo específica antes que determinado momento se perca. O instante decisivo ao qual o fotógrafo francês Cartier Bresson se referia. Assim, entende-se que cenas que, a princípio, seriam desinteressantes a partir da fotografia e do olhar do observador adquirem valor. Além disso, buscamos perceber histórias, cenas e personagens anônimos que constituem uma cidade e, também, a importância daquilo que, em um primeiro momento, parece não ter valor. Esse exercício, que não se encerra no presente trabalho, foi importante

6 para percebermos as sutilezas do cotidiano e como um alerta para que não fiquemos cegos aos elementos que compõem nossas vivências. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ENTLER, Ronaldo. Testemunhos silenciosos: uma nova concepção de realismo na fotografia contemporânea. ARS (São Paulo), São Paulo, v. 4, n. 8, Disponível em: < Acessado em 25 de Abril de BAUDALAIRE, Charles. As flores do mal. Editora Martin Claret KOSSOY, Boris. Fotografia & história. 2.ed., rev. São Paulo, SP. Ateliê, Editorial KOSSOY, Boris. Os tempos de fotografia: O efêmero e o perpétuo. São Paulo, SP. Ateliê Editorial, 2001