O ESCRITOR. um roteiro. Fábio da Silva. 17/10/2008 até 01/02/2009

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1 O ESCRITOR um roteiro de Fábio da Silva 17/10/2008 até 01/02/2009 Copyright 2009 by Fábio da Silva Todos os direitos reservados Rua Ana Teles, 489, casa 14 Praça Seca Rio de Janeiro (21) / silver_mota@yahoo.com.br

2 1. O ESCRITOR FADE IN: EXT. RUA DESERTA NOITE Uma MOÇA DE BRANCO, com longos cabelos claros e pele alva, corre desesperadamente, chorando. Ela ENTRA num... EXT. BECO SEM SAÍDA NOITE Onde força as maçanetas das portas, sem sucesso. Enquanto força a última maçaneta, ela olha para a entrada do beco. Um HOMEM DE PRETO ENTRA surgindo da penumbra. Ele é alto e magro. Só é possível ver a sua silhueta. A Moça de Branco cola as costas na parede. Calmamente, o Homem de Preto caminha na direção da Moça de Branco, que está encurralada. MOÇA DE BRANCO Por favor, não me machuque! Lentamente, ela abaixa-se, chorando. O Homem de Preto aproxima-se. CLOSEUP PUNHAL na mão do Homem de Preto. HOMEM DE PRETO Não se preocupe, criança. Vamos brincar.

3 2. EXT. AVENIDA RIO BRANCO E ADJACÊNCIAS - NOITE VISÃO DO ALTO. Um GRITO de mulher ECOA. FUSÃO PARA: EXT. AVENIDA RIO BRANCO E ADJACÊNCIAS - AMANHECER VISÃO DO ALTO. SOM de um pássaro CANTANDO. Surge na tela: RIO DE JANEIRO, INT. CASA DE /SALA DIA A mobília é simples. SOM de BATIDA na porta. DE ASSIS, homem jovem, com idade entre 23 e 28 anos, alto e magro, vai atender, se arrastando. Ele abre a porta para MEDEIROS, homem jovem, com idade entre 23 e 28 anos, alto e magro. É você, Waldir. Ainda é cedo. Já passou da hora, meu amigo. Carlos olha para o relógio de ponteiros na parede. CLOSEUP RELÓGIO DE PONTEIROS na parede, indicando 07:30h. Carlos vai para o... Perdia a hora de novo. BANHEIRO, de onde se ouve SOM de ÁGUA caindo da torneira.

4 3. A seguir, Carlos vai para o... QUARTO, onde troca de roupa. Na SALA, Waldir tira o chapéu e senta-se numa cadeira próxima a mesa. Como anda o livro? (O.S.) Está indo. Em cima da mesa, Waldir vê uma garrafa de vinho, pela metade, um copo sujo, algumas anotações, folhas em branco, uma caneta-tinteiro e alguns jornais. Afogar-se na bebida não é a solução, Carlos. No QUARTO, Carlos termina de abotoar a camisa. Na SALA, Carlos ENTRA. (O.S.) (cont.) Esqueça-se dela, meu amigo. Que Deus me perdoe, Waldir, mas eu preferia vê-la morta. Cuidado com o que deseja, meu amigo, pois pode conseguir. Não é um pouco cedo pra sermões?! Waldir sorri, e Carlos retribui. Carlos coloca o chapéu. (cont.) Estou pronto!

5 4. É assim que se fala. Nada como um dia após o outro. Vamos curar essa ressaca. Waldir e Carlos SAEM. E este fecha a porta atrás de si. SÉRIE DE PLANOS A) Carlos e Waldir cumprimentam Dona Catarina, que varre a calçada; B) Eles caminham por uma típica rua do Rio de Janeiro; C) Carlos e Waldir atravessam a rua após a passagem de uma carroça e de um carro; D) Eles param numa banca e compram um jornal; E) Carlos e Waldir cumprimentam duas belas jovens que caminham no sentido oposto; F) Agora, eles caminham pela Avenida Rio Branco de 1929; G) Carlos e Waldir entram na Padaria Aurora e tomam um cafezinho, enquanto conversam; H) Eles deixam a Padaria Aurora e caminham, apressados, pela Avenida Rio Branco; I) Carlos e Waldir sobem, apressados, a escadaria da Biblioteca Nacional; INT. BIBLIOTECA NACIONAL/SAGUÃO DE ENTRADA DIA e ENTRAM. Eles são recebidos pelo Senhor GUMERCINDO RABELO, homem forte, cabelos grisalhos, com idade permeando os 55 anos. Ao fundo, há um lance de escadas que conduz ao terceiro andar.

6 5. GUMERCINDO Isso são horas, vocês dois? Desculpe, Senhor Gumercindo. Não vai acontecer de novo. Desculpa, chefe. GUMERCINDO Chefe?! Por acaso eu tenho cara de índio, ô Waldir?! Gumercindo coloca as mãos na cintura. GUMERCINDO (cont.) Já é a segunda vez esta semana, fiquem sabendo vocês dois. A sorte é que vocês trabalham bem e são bons rapazes. Agora vocês dois mãos à obra! Antes de partirem, Gumercindo toma o jornal das mãos de Waldir. GUMERCINDO (cont.) Agora, podem ir! Waldir sussurra para Carlos. A sorte é que a filha dele gosta de você. GURMERCINDO Eu ouvi isso! Então, os amigos sobem pelo lance de escada que conduz ao terceiro andar. INT. BIBLIOTECA NACIONAL/ESCRITÓRIO DIA Uma típica repartição pública da década de 1929.

7 6. e, cada qual em sua mesa, em lados opostos, realizam suas tarefas. GUMERCINDO, em sua mesa, ao fundo, de costas para a janela, lê o jornal que tomara de Waldir. GUMERCINDO Mais uma mulher é morta nas proximidades da Avenida Rio Branco. Segundo relatos do Delegado Ernesto Paranhos, a jovem de 22 anos, encontrada em um beco sem saída, foi morta com uma estocada no abdômen. Já é a segunda morte em duas semanas. Que mundo é esse! Num beco sem saída?! Mas a que horas foi isso?! GUMERCINDO Diz aqui, que, possivelmente, entre vinte e duas e zero hora de ontem. Que importância tem as horas? Nada. Só curiosidade. EXT. AVENIDA RIO BRANCO DIA e caminham. Eles vêem... ANTÔNIA GONZAGA, uma jovem morena, de estatura mediana, de longos cabelos negros, com idade entre 20 e 25 anos, e FERNANDO, jovem alto e magro, com idade entre 23 e 28 anos, caminhado na calçada do lado oposto. Ela o acompanha segurando-o pelo braço. Carlos estaca.

8 7. Waldir caminha mais alguns metros e percebe que o amigo ficara para trás. Ele volve e caminha na direção de Carlos. Como ela pode fazer isso comigo? Meu amigo, você merece uma mulher melhor que a Antônia. Me trocou por aquele Fernando. Eu nem desconfiei dela. Ela não passa de uma interesseira. Não deixe que isso acabe com o teu dia. Carlos meneia a cabeça positivamente. (cont.) Agora vamos! EXT. AVENIDA RIO BRANCO DIA MAIS TARDE A jovem RABELO, moça pequena, com idade entre 19 e 24 anos, pele alva, com longos cabelos claros, caminhando. Trecho da música NUA de Ana Carolina TOCA. INT. CAFÉ CARIOCA DIA Um modesto estabelecimento no horário do almoço. e conversam, enquanto terminam o almoço. Sabe qual é a parte chata de terminar o almoço?

9 8. Qual? Perde-se a fome. Os amigos olham um para o outro e riem. Depois cumprimentam os DOIS POLICIAIS que se sentam numa mesa próxima. (cont.) Até que você está bem pra quem bebeu meia garrafa de vinho. Não exagera. Foi só um terço. Waldir olha para a entrada do restaurante. E agora a tua felicidade estará completa. Carlos volvem o olhar na direção da entrada para ver... RABELO ENTRANDO no estabelecimento e caminhando na direção deles. (cont.) Com o devido respeito, meu amigo, ela é simplesmente encantadora. Eu sei. Maria Clara continua caminhando na direção deles. Waldir levanta-se da mesa e da um tapinha no ombro do amigo. Dê uma chance a ela, dê uma chance a você. Ah! Hoje você paga a conta.

10 9. Ele cumprimenta Maria Clara e SAI. Ela aproxima-se da mesa. Olá, Carlos! Desconcertado, Carlos a cumprimenta. Olá, Maria Clara! Ela fica de pé parada em frente à mesa. Onde está o teu cavalheirismo? Rapidamente, Carlos levanta-se e puxa uma das cadeiras para Maria Clara. Ela se senta. Ele se senta a seguir. Posso te oferecer algo? Teu coração. Ele respira fundo e desvia o olhar dela. (cont.) Olha pra mim, Carlos. Ele volve o olhar para ela. (cont.) Por que não foi assistir ao meu ensaio ontem à tarde? Não estava me sentindo muito bem: fui direto pra casa. Desculpe-me. Tudo bem. Quando a gente ama, a gente perdoa tudo.

11 10. Maria Clara, eu... Sei que quer me amar também. Só que o teu coração ainda tem medo. Meu coração demora pra se curar. Não sou como Antônia. Jamais vou te decepcionar. Sempre te esperei. Estou me guardando pra você, está ouvindo. Ele olha para mesa, depois volta a olhar para ela. Eu ainda não estou pronto. Não quero te magoar nem me magoar novamente. Talvez fosse melhor você me esquecer, Maria. Carlos acena para o GARÇOM. Maria observa Carlos. Acha que é assim, acha que posso mandar e desmandar no meu coração, Carlos? O Garçom aproxima-se, e Carlos paga a conta. Só não quero que crie falsas esperanças. Carlos levanta-se e SAI. Maria Clara fica sentada com os olhos marejados.