ANJO DE LUZ. DR. JULIO Tem mais alguma consulta agendada pra hoje, Simone? SECRETÁRIA Não, Dr. Julio. A dona Rosa era a última.
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- Maria Antonieta Damásio Bastos
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1 ANJO DE LUZ 1 FADE IN: Seqüência de imagens mostrando uma pequena cidade interiorana, pacata. Cenas típicas de pessoas e paisagens de um lugar esquecido do mundo. 1. INT. POSTO DE SAÚDE DIA O ambiente é muito simples com móveis antigos e velhos, demonstrando certa precariedade em instalações e equipamentos de saúde. Porta da Sala de Consulta se abre e sai uma senhora, agradecendo ao, homem aparentemente de seus 50 anos, estatura mediana, barba rala e um pouco grisalha, que a acompanha até a porta. Despedem-se e ela passa pela, moça jovem, de seus 25 anos, cumprimentando-a e saindo. Tem mais alguma consulta agendada pra hoje, Simone? Não, Dr. Julio. A dona Rosa era a última. Bom, então acho que vou aproveitar que está tranqüilo e vou embora mais cedo hoje. entra novamente em sua sala, tirando o jaleco e colocando-o sobre o encosto da cadeira. Acho que faz muito bem, doutor. Tem trabalhado demais, precisa descansar um pouco. (Voltando) Está certo... vou seguir seu conselho. Mas já sabe: qualquer coisa estarei em minha casa. Não se preocupe. Bom descanso e até amanhã. Obrigado. E até amanhã. sai, enquanto a ainda organiza algumas fichas de pacientes.
2 2. EXT. RUA (FRENTE DO POSTO DE SAÚDE) DIA 2 sai tranquilamente e pára alguns instantes na calçada. Olha o tempo, que começa se fechar, com nuvens escuras próximas à cidade. Vai em direção ao carro, poucos metros adiante, um Chevette 73, porém bem conservado. Entra no veículo e sai. 3. RUA (FRENTE DO POSTO DE SAÚDE) TARDE Mesmo enquadramento da cena anterior, porém chovendo. A chuva dá a impressão de estar anoitecendo. Rua deserta. A aparece na porta, abre o guarda chuva, fecha a porta, verifica se está bem trancada e sai, passos um pouco apressados, na direção contrária à que o MÉDICO saiu anteriormente. 4. RUA (FRENTE DO POSTO DE SAÚDE) TARDE (FIM DE TARDE) Mesmo enquadramento das cenas anteriores. A cena está mais escura, principiando a noite. Uma leve garoa continua a cair. Um surge na cena, correndo, vindo da direção que saiu a. Sobe os poucos e baixos degraus que dão acesso à porta do POSTO DE SAÚDE e tenta abrir a porta. Percebe que está trancada. Ainda assim força a maçaneta e bate na porta, quase em desespero. Afasta-se um pouco, olhando a porta. Olha ao redor, e sai correndo na direção em que saiu o MÉDICO. 5. INT. SALA NOITE está sentado numa poltrona, ainda de meias, usando sandálias, vestindo um roupão sobre a calça e camisa. Toma uma xícara de chá enquanto lê uma revista. O ambiente tem pouca iluminação, apenas uma réstia de luz vinda da cozinha e um abajur na mesa ao lado da poltrona, para a leitura. Batidas na porta. levanta e olhar e fixa a porta. Novamente as batidas, seguidas de uma voz de. (V.O.) Doutor, doutor. Por favor, me ajude! (levantando) Já vai! Só um minuto! Vai a até a porta e abre. Se espanta ao ver o, todo molhado e sujo, respirando ofegante. Por favor, doutor. Tem que me ajudar!
3 Meu Deus! Olhe só pra você... entre! 3 Minha mãe precisa da sua ajuda, doutor. Ela vai morrer! Calma, fica tranqüilo que vou ajudar, mas precisa se secar primeiro. corre a um quarto e volta com uma toalha, enquanto o aguarda. Enrola-o na toalha. Não podemos esperar mais, doutor. Ela não tem muito tempo. calça os sapatos, que estão próximos à poltrona, tira o roupão jogando-o na cadeira e dirigindo-se novamente ao quarto. Onde você mora, garoto? Em um sitio... é um pouco longe daqui. Minha mãe ficou muito doente e não teve como sair de lá. Tá certo... vamos pra lá. Como se chama? Pedro. O vai saindo, ainda enrolado na toalha, impaciente, enquanto retorna do quarto vestindo um casaco. Pega sua valise sobre uma mesa de trabalho na sala e o segue até a porta, abrindo-a e saindo logo após o. Fecha a porta. 6. INT. CARRO NOITE FUSAO PARA: Ainda chove, mas a noite está um pouco clara. dirige, concentrado, enquanto o tem o olhar fixo para o céu. Murmura alguma coisa, incompreensível, com lábios trêmulos, lembrando uma oração. às vezes o olha, porém não conversam durante o percurso. Aos poucos a chuva vai cessando e a noite tornando-se mais clara. Nuvens vão descobrindo a lua, que ilumina a estrada. Em alguns momentos, o faz gestos indicando o caminho. Chegam a um ponto onde o carro não passa, uma pequena trilha, saindo da estrada, entre pequena vegetação.
4 Acho que a partir daqui vamos a pé EXT. CARREADOR NOITE Saem do carro e seguem pelo caminho enlameado, desviando-se de alguns arbustos. Tempos depois avistam uma pequena casa, muito simples, no final da estrada. Seguem em direção a ela. 8. INT. CASEBRE/SALA NOITE O menino entra apressado, parando frente à porta. entra e pára atrás dele. Pronto mãe, eu trouxe o doutor. Ele vai cuidar da senhora. Por outro ângulo, vê-se uma, muito abatida, deitada num sofá velho, desacordada. O MÉDICO adianta-se a ela, colocando a mão em sua testa e em seguida tomando seu pulso. Rapidamente tira ampolas e seringas de sua valise e inicia os primeiros cuidados. Preciso de uma bacia com água e toalha, rápido. O sai apressado. O MÉDICO aplica uma injeção na, e o menino volta com a bacia com água e a toalha, colocando em uma pequena mesa ao lado do sofá. Afastando-se lentamente. molha a toalha e a coloca, dobrada, sobre a testa da, e em seguida, pinga algumas gotas de um medicamento em sua boca. O, que então deixou a toalha na qual estava enrolado sobre uma cadeira, vai saindo lentamente para outro cômodo, sem que o MÉDICO perceba, já que está concentrado em salvar a vida da pobre. 9. INT. CASEBRE/SALA DIA Amanhece. está sentado em uma cadeira, cochilando, ao lado da, que começa despertar, ainda muito fraca. O MÉDICO acorda e adianta-se a ela, que o olha espantada, medindo a temperatura e com uma expressão um pouco mais tranqüila. Se sente melhor, senhora? Se demoro um pouco mais, a senhora não resistiria. Está com uma virose muito perigosa. E a febre esteve muito alta.
5 Como chegou aqui doutor? 5 Seu filho me trouxe até aqui. Meu filho? Sim. Fique feliz por isso. Seu filho é um anjo. Salvou sua vida... Mas como...? não entendo... meu filho está morto há três dias, doutor. O quê? Da mesma doença. Piorei tanto que não pude nem sair daqui para buscar ajuda. O MÉDICO a olha, incrédulo. A olha para o cômodo ao lado, ainda espantada. O MÉDICO lentamente se dirige para lá. Pára na porta que separa a sala do pequeno quarto. Volta o olhar para a, como pedindo uma explicação. 10. INT. CASEBRE/QUARTO DIA Vê-se o parado à porta, perplexo. A câmera recua e vai mostrando o ambiente, até destacar o, morto, pálido, sobre a cama. Já não chove, uma luz invade o quarto através da janela, tornando-se cada vez mais forte. O MÉDICO, olha pela janela, para a luz que cada vez mais vai ofuscando seus olhos. Seu rosto, transfigurado, vai desaparecendo sob a intensa luminosidade. FADE OUT FIM
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