Uma cara bonita. 1. Zoe está zangada. livros e do seu trabalho. Mas depois do trabalho gosta de atuar em peças de teatro com os Newport
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- Rachel Meneses Almada
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1 Uma cara bonita 1. Zoe está zangada Zoe tem dezassete anos. Trabalha numa livraria, na pequena cidade de Newport. Zoe gosta de livros e do seu trabalho. Mas depois do trabalho gosta de atuar em peças de teatro com os Newport Players. Os Newport Players fazem seis peças por ano, e Zoe entra na maioria delas. Algumas peças são emocionantes, outras são famosas. Esta semana, a peça é Romeu e Julieta de William Shakespeare. Muitas pessoas virão assistir, pensa Zoe. Tenho que atuar bem. Mike tem dezoito anos. É aluno na Faculdade de Newport e gosta de escrever. Quer, um dia, escrever peças para teatro e televisão. Um dia quero ser famoso, pensa. Newport tem um jornal. The Newport Weekly News é o seu nome, e a editora é a Tia de Mike, Peggy. Uma manhã, ela telefona a Mike. Queres escrever uma crítica sobre Romeu e Julieta para o jornal, Mike? pergunta ela. Os Newport Players vão levá-la à cena esta noite no Little Theatre. Sim, por favor, Tia Peggy! diz Mike. Obrigado por mo pedir. Nessa noite, ele vai ao Little Theatre de Newport para ver a peça. Entra no teatro e senta-se à frente. Tira o bloco de notas e a esferográfica, pronto a tirar notas para a sua crítica. Há muita gente na audiência. Cinco minutos mais tarde, a peça começa. Zoe faz o papel de mãe de Julieta. Ela sabe todas as suas falas e di-las bem. Mike observa-a. Ela é muito bonita e está a dar o seu melhor, pensa. Mas não é fácil representar o papel de uma mulher mais velha. Ela só tem dezasseis ou dezassete anos, e todos nós sabemos isso. E começa a escrever no seu bloco. Duas horas mais tarde, a peça chega ao fim e o público abandona o teatro. Mike vai para casa e escreve a crítica para o jornal. Não se sente muito satisfeito. Foi uma boa peça, mas que poderei dizer da rapariga que fez o papel de mãe de Julieta? pensa. Quero ser delicado, mas também tenho que ser honesto.
2 No sábado, na livraria, Zoe lê a crítica de Mike acerca da peça. E fica zangada. Olha para o nome: Mike Morrison. Quem é este Mike Morrison? pensa ela. O que é que ele percebe de representação? 2. Zoe tem uma ideia Terça feira da semana seguinte. Zoe e a sua amiga Annie estão no Café Newport, ao fim da tarde. Annie estuda na Faculdade de Newport e ela e Zoe encontram-se, por vezes, ao entardecer no café. Subitamente, Zoe vê um rapaz sentado numa mesa do outro lado da sala. Quem é aquele rapaz? pergunta a Annie. Annie ri-se. Gostas dele? Tem uma cara simpática, diz ela. O nome dele é Mike. Eu vejo-o muitas vezes na faculdade. Mike? diz Zoe. Mike quê? Mike Morrison, diz Annie. Então este é o Mike Morrison? diz Zoe, furiosa. Sim, porquê? diz Annie. Ele escreve críticas para o Newport Weekly News, diz Zoe. Exatamente, disse Annie. A tia dele é a editora. Ele oh! Para de repente e olha para Zoe. A crítica de Romeu e Julieta Claro! diz Zoe. Lembras-te? Zoe Baker representa o papel de mãe de Julieta. Tem uma cara bonita e diz bem as suas falas. Mas não passa de uma rapariga por baixo das roupagens de uma mulher mais velha e zangada, e todos nós nos apercebemos disso. Com cara simpática ou sem cara simpática, odeio-o! Annie ri-se. OK, vai lá dizer-lhe, diz ela. Vai dizer-lhe Odeio-te, Mike Morrison. Escreves críticas estúpidas para o jornal. Vai lá. Mas Zoe não estava a rir. Pois sim, muito bem! diz ela furiosamente, e começa a levantar-se da cadeira. Depois, de repente, para. Que se passa? pergunta Annie. Estás com medo? Não, diz Zoe. Tenho uma ideia melhor. Ele vem muitas vezes a este café? Todas as terças e quintas feiras ao fim da tarde, creio eu, diz Annie. Tem uma aula de escrita na faculdade e vem cá depois de esta acabar. Zoe pensa durante um ou dois minutos. Isso é muito interessante, diz por fim. Ai é? diz Annie. Olha para Mike Morrison e depois para Zoe. Porque é que é interessante? Que estás a pensar fazer? Diz-me lá, eu sou uma boa atriz? pergunta Zoe. Sim, és, diz Annie. Mas OK, diz Zoe. Sou boa atriz e vou prová-lo ao Sr. Mike-Cara -Simpática-Morrison.
3 E como pretendes fazer isso? pergunta Annie. Zoe sorri e começa a contar a Annie a sua ideia 3. Uma entrevista difícil Na quinta seguinte, Mike vai ao Café Newport depois da sua aula de escrita. Pede um café, e depois começa a ler um dos seus livros. Minutos mais tarde, chega ao café uma mulher. Traz uma revista debaixo do braço. No princípio, Mike nem vê a mulher. Depois ela vai até à sua mesa. Olá, diz ela. És o Mike Morrison? Mike fica surpreso. Sim, diz ele. Sou eu. A mulher sorri. Posso sentar-me aqui nesta mesa? pergunta. Sim, claro, diz Mike. O meu nome é Kate Lawson, diz a mulher. Sou a editora da revista Yes!. Conheces? Ela senta-se e põe a revista sobre a mesa, mesmo à frente de Mike. Sim, conheço, diz Mike. É uma revista sobre gente famosa. Certíssimo, diz Kate. Queres escrever algo? Estarias disposto a fazer uma entrevista? Uma entrevista? diz Mike, surpreendido. E porque está a pedir-mo a mim? Tu às vezes escreves críticas de teatro para o semanário de Newport, diz ela. Não é verdade? Sim, escrevo, diz ele. Um dia quero escrever peças, e.. Bom, faz então esta entrevista para a minha revista, diz ela. É com um famoso dramaturgo que vive em Newport. Todd Marin é o único dramaturgo famoso em Newport, diz Mike. Ele vive no maior sossego e não sai muito. E é famoso por não falar a repórteres de revistas de mexericos. Ele põe-nos logo fora de sua casa! Kate ri. Estás com medo? diz ela. Os bons repórteres não temem entrevistas difíceis. Queres escrever peças, não queres? Bem, talvez ele possa dizer-te alguma coisa sobre como escrevê-las. Mike pensa Ela tem razão. Talvez eu consiga aprender algo com Todd Marin. OK! diz ele. Quando posso fazê-la? Amanhã de manhã, diz Kate. Deves dizer a Marin Esta entrevista é para a revista Yes!. Mas diz-lho apenas depois de teres entrado na casa dele. Está bem? OK, diz Mike. 4. A casa de Todd Marin Nesse mesmo dia, mais tarde, Zoe está a falar com Annie ao telefone.... então eu digo-lhe Sou a editora da revista Yes! e poderias entrevistar Todd Marin, diz Zoe a Annie.
4 Todd Marin! diz Annie. Mas ele põe logo os repórteres de revistas de mexericos porta fora! Eu sei! diz Zoe, rindo. E eu quero ficar à porta dele para ver Todd Marin por o Mike Morrison fora de casa! Na manhã seguinte, Mike vai a casa de Todd Marin. É uma casa grande, e há imensos arbustos e árvores altas mesmo em frente. Não gosto lá muito da revista Yes!, mas esta entrevista é importante. pensa Mike. E talvez possa falar com Todd Marin acerca da minha peça. (Mike está a escrever uma peça para televisão.) Caminha até à porta da casa. Leva o seu bloco de notas e tem uma lista de perguntas a fazer ao dramaturgo. Mas sente-se um pouco apreensivo com aquele homem famoso. Zoe segue Mike até casa de Todd Marin. Vai com cuidado e segue-o em silêncio. Zoe está, de novo, a representar o papel de Kate Lawson. Tem uma peruca preta por cima do seu cabelo e está a usar óculos. Esconde-se atrás de um dos arbustos e vê Mike chegar à porta da frente. É uma casa grande e escura. Isto é divertido, pensa ela, sorrindo. Quando Todd Marin abre a porta de sua casa, Mike começa a falar rapidamente. Olá, Sr. Marin, diz ele. Sou Mike Morrison. Sou aluno da Faculdade de Newport e quero escrever peças. Ai sim? diz Todd Marin. E escrevo críticas no Newport Weekly News, diz-lhe Mike. O que queres de mim? pergunta Todd Marin. Posso fazer-lhe umas perguntas? diz Mike. Porquê? pergunta Marin. Para o Newport Weekly News? Que pergunta complicada! O que é que eu faço agora? pensa Mike. Digo-lhe uma mentira, ou digo-lhe a verdade? Então, depois de um ou dois segundos, diz É é para a revista Yes!. Escute, eu sei que é uma revista idiota, mas 5. Zoe espera Zoe está a observar Mike e Todd Marin por detrás de um arbusto. Consegue vê-los, mas não ouve o que dizem. Vê Todd Marin a abrir a porta e Mike a segui-lo para dentro de casa. Zoe sorri. Certo. Ele já está dentro de casa, pensa. Vamos agora esperar que Todd Marin o ponha cá fora! Todd Marin leva Mike para o seu escritório. Há centenas de livros por toda a sala e uma grande secretária. Todd senta-se por detrás da secretária. Obrigada por me teres dito a verdade, diz ele a Mike. Vejo que és um jovem honesto. Podes fazer as tuas perguntas. Mas não para a revista
5 Yes!. Tens razão. É uma revista idiota. Detesto revistas de mexericos. Porque é que as pessoas escrevem para elas? Porque pagam montes de dinheiro, penso eu, diz Mike. Todd Marin ri. Sim, tens de novo razão, diz ele. Mas podes escrever sobre mim para o Newport Weekly News. Está bem assim? Sim, tudo bem, diz Mike, e sorri feliz para Todd Marin. Sempre que posso, gosto de ajudar jovens escritores com algumas ideias, diz Todd amavelmente. Senta-te. Mike senta-se, põe o bloco de notas em cima da secretária de Todd e abre-o. Algumas vezes leio as tuas críticas no jornal, diz Todd. São muito boas. Bom, acho que não estão mal, diz Mike. Mas eu quero escrever para teatro, para televisão e para cinema. Neste momento estou a escrever uma peça. Ai sim? Fala-me dela, diz Todd. Posso? pergunta Mike. Bom, é acerca de um rapaz e de uma rapariga. Um rapaz e uma rapariga? É verdade. Eles Todd Marin recosta-se na cadeira para ouvir e Mike conta-lhe o enredo da sua peça. Mike está muito nervoso, mas Todd Marin não diz nada. Antes sorri e ouve-o muito atentamente. Quando, por fim, Mike para de falar, Todd diz Obrigado. É muito interessante. A história é boa e também divertida. Mas há uma ou duas coisas que podes fazer para melhorá-la. Para começar Zoe continua atrás do arbusto e espera. Passa uma hora e nada acontece. Está a ficar impaciente. O que é que eles estarão a fazer lá dentro? pensa ela. Todd Marin nunca dá entrevistas a revistas de mexericos, de que é que eles estarão a falar? Recorda a crítica de Mike Morrison a Romeu e Julieta. Recorda as suas palavras sobre a atuação dela e quer ver a cara dele quando Todd Marin o expulsar de casa. Quanto tempo terei de esperar? pensa ela com impaciência. 6. Dizendo a verdade Ao fim de hora e meia, Mike Morrison deixa o escritório de Todd Marin e sai da casa. Ele e o dramaturgo sorriem e Mike diz Obrigado. Falam durante dois ou três minutos e Zoe observa-os por detrás do arbusto. Está admirada. O que está a acontecer? pensa. Porque estão tão amistosos?
6 Depois de mais um ou dois minutos, eles dão um aperto de mãos. Depois Todd Marin volta para casa e Mike Morrison vai embora. E vê Kate Lawson à sua espera. Oh, olá, diz ele nervosamente. Fica surpreendido por vê-la tão cedo. Está à minha espera? Sim, diz ela com impaciência. Estou à espera da tua entrevista. Olhe, não consigo mentir-lhe, responde ele. Não tenho qualquer entrevista para a revista Yes!. O Sr. Marin recusa sempre falar com repórteres de revistas de mexericos. Mas que começa Kate. De que podem duas pessoas falar durante uma hora e meia? diz Mike a rir. Sobre escrita, personagens e enredo. Nada para a revista Yes!, lamento. No entanto, tenho a minha lista de perguntas e as respostas do Sr. Marin, mas a entrevista é para o Newport Weekly News. E agora sei muito mais sobre escrever peças. E ele está muito interessado na minha peça. A tua peça? diz Kate furiosa. Sim. Estou a escrever uma peça para televisão, diz Mike. E o Sr. Marin quer lê-la. Diz que pode ajudar-me com as personagens e o enredo. Que simpático! diz ela. Digam olá ao Mike Morrison, o famoso dramaturgo! Escreve críticas idiotas para o Newport Weekly News, mas as suas peças são boas. Está zangada, diz Mike. Ouça, lamento muito pela entrevista para a Yes! Kate ri. Não, tudo bem, diz ela. Não estou zangada. E depois, faz uma coisa mesmo estranha. Tira a cabeleira. Está a usar uma peruca! pensa Mike, surpreso. A seguir, tira os óculos e sorri para Mike. E agora ele reconhece-a. E começa a rir. Tu não és a Kate Lawson! diz ele. Tu és Claro que sou, diz Zoe. Sou uma rapariga de dezassete anos na pele de uma mulher mais velha, Sr. Mike Morrison, escritor de críticas para o Newport Weekly News! A cara de Mike está agora muito vermelha. Sente-se embaraçado. Mas que partida! Então a Kate Lawson, editora da revista Yes! não existe! exclama. Não, não existe, diz Zoe, rindo. O que pensas agora? Isto prova alguma coisa? Sou boa atriz? Sim, és boa atriz, diz Mike, rindo com ela. E vou escrever isso no Newport Weekly News. Vais mesmo? diz Zoe. Sim, e obrigado por me teres levado a conhecer Todd Marin, diz-lhe Mike. Já não se sente nada envergonhado. Agora vou poder ser ajudado com a minha peça, diz ele. Vem daí, vamos tomar um café. E sou eu que pago! Bom, não posso dizer que não a um café de graça! diz Zoe. E ri-se. John Escott A Pretty Face Oxford, Oxford University Press, 2003 (Tradução e adaptação)
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