COMISSÃO INTERNA DE PREVENÇÃO DE ACIDENTES - CIPA
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- Patrícia Lencastre Bardini
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1 ESTUDO COMISSÃO INTERNA DE PREVENÇÃO DE ACIDENTES - CIPA Nilton Rodrigues da Paixão Júnior Consultor Legislativo da Área V Direito do Trabalho e Processual do Trabalho ESTUDO FEVEREIRO/2008 Câmara dos Deputados Praça 3 Poderes Consultoria Legislativa Anexo III - Térreo Brasília - DF
2 SUMÁRIO 1. Estatuto jurídico da Comissão Interna de Prevenção de Acidente CIPA Ministério do Trabalho e Emprego: normas regulamentadoras Justiça do Trabalho Análise crítica da demanda enviada à parlamentar solicitante Câmara dos Deputados. Todos os direitos reservados. Este trabalho poderá ser reproduzido ou transmitido na íntegra, desde que citados o autor e a Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados. São vedadas a venda, a reprodução parcial e a tradução, sem autorização prévia por escrito da Câmara dos Deputados. Este trabalho é de inteira responsabilidade de seu autor, não representando necessariamente a opinião da Câmara dos Deputados. 2
3 COMISSÃO INTERNA DE PREVENÇÃO DE ACIDENTES CIPA Nilton Rodrigues da Paixão Júnior 1. ESTATUTO JURÍDICO DA COMISSÃO INTERNA DE PREVENÇÃO DE ACIDENTE CIPA A Comissão Interna de Prevenção de Acidente CIPA encontra regulação na Constituição da República (ADCT, art. 10, inciso II, alínea a ) e na Consolidação das Leis do Trabalho CLT, aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943 (artigos 163, 164 e 165). Nos ensinamentos de Sérgio Pinto Martins 1, a CIPA tem por objetivo observar e relatar as condições de risco nos ambientes de trabalho e solicitar as medidas para reduzir até eliminar os riscos existentes e/ou neutralizá-los, discutindo os acidentes ocorridos e solicitando medidas que os previnam, assim como orientando os trabalhadores quanto à sua prevenção. A CIPA desempenha papel de fundamental importância na prevenção de acidentes do trabalho e doenças profissionais, como nos adverte Orlando Gomes e Elson Gottschalk 2, para os quais Segundo informes da OIT, acidentes do trabalho e doenças profissionais matam cerca de cem mil trabalhadores por ano, enquanto um milhão e meio ficam incapacitados por toda a vida. As doenças profissionais, com o desenvolvimento da tecnologia dos plásticos, aumentaram em cinqüenta e nove novas afecções depois de A prevenção se organiza, nos países industrializados, não só por controles médicos regulares, controles dos próprios trabalhadores mediante órgãos paritários, educação e formação em higiene e segurança, finalmente, a formação de um ambiente de trabalho que satisfaça o trabalhador e, se possível, lhe dê prazer. 1 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho.17ª edição. São Paulo: Atlas, 2003, p GOMES, Orlando e GOTTSCHALK, Elson. Curso de Direito do Trabalho. 14ª edição. Rio de Janeiro: Forense, 1988, p
4 Não sem razão, o legislador constituinte atribui competência ao Sistema Único de Saúde SUS para, dentre outras atribuições, colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho (art. 200, inciso VIII). O meio ambiente materializa direitos difusos e coletivos, razão pela qual o Ministério Público se titulariza como seu defensor, inclusive na vertente meio ambiente laboral. A CLT estabelece as regras diretivas para a CIPA, a saber: Art Será obrigatória a constituição de Comissão Interna de Prevenção de Acidentes CIPA -, de conformidade com instruções expedidas pelo Ministério do Trabalho, nos estabelecimentos ou locais de obra nelas especificadas. Parágrafo único. O Ministério do Trabalho regulamentará as atribuições, a composição e o funcionamento das CIPAs. Como se observa do mencionado dispositivo consolidado, é inafastável a constituição da CIPA, segundo as regras regulamentadoras do MTE. Art Cada CIPA será composta de representantes da empresa e dos empregados, de acordo com os critérios que vierem a ser adotados na regulamentação de que trata o parágrafo único do artigo anterior. 1º Os representantes dos empregadores, titulares e suplentes, serão por eles designados. 2º Os representantes dos empregados, titulares e suplentes, serão eleitos em escrutínio secreto, do qual participem, independentemente de filiação sindical, exclusivamente os empregados interessados. 3º O mandato dos membros eleitos da CIPA terá a duração de 1 (um) ano, permitida uma reeleição. 4º O disposto no parágrafo anterior não se aplicará ao membro suplente que, durante o seu mandato, tenha participado de menos da metade do número de reuniões da CIPA. 5º O empregador designará, anualmente, dentre os seus representantes, o Presidente da CIPA, e os empregados elegerão, dentre eles, o Vice-Presidente. Conclui-se que a composição da CIPA, inevitavelmente, deverá ser paritária, ou seja, com a participação de representantes patronais e empregatícios. No primeiro caso, por livre indicação, no segundo, com necessária eleição secreta. 4
5 A fixação do número de representantes na CIPA encontra-se regulamentada em norma regulamentadora do MTE (NR 5). Presidirá a CIPA o representante patronal indicado, ficando a Vice- Presidência reservada aos empregados. O mandato dos cipeiros é anual, permitida uma única reeleição. Tal regra não alcança o suplente que participou de menos da metade do número de reuniões efetivadas. Art Os titulares da representação dos empregados nas CIPAs não poderão sofrer despedida arbitrária, entendendo-se como tal a que não se fundar em motivo disciplinar, técnico, econômico ou financeiro. Parágrafo único. Ocorrendo a despedida, caberá ao empregador, em caso de reclamação à Justiça do Trabalho, comprovar a existência de qualquer dos motivos mencionados neste artigo, sob pena de ser condenado a reintegrar o empregado. O texto consolidado assegura estabilidade provisória aos cipeiros, vedando despedidas arbitrárias. Apenas ficam autorizadas as demissões fundadas em razões disciplinares, técnicas, econômicas ou financeiras. Levada a discussão ao Judiciário, impõe-se a inversão do ônus da prova, ou seja, o trabalhador não tem de provar que não houve justa causa, pelo contrário, incumbirá ao patrão demonstrar cabalmente a presença de justa causa, nas hipóteses elencadas no texto da CLT. O texto constitucional, nesse aspecto, assim se manifesta, em seu Ato das Disposições Constitucionais Transitórias: Art. 10. Até que seja promulgada a lei complementar a que se refere o art. 7º, I, da Constituição:... II fica vedada a dispensa arbitrária ou sem justa causa: do empregado eleito para cargo de direção de comissões internas de prevenção de acidentes, desde o registro de sua candidatura até um ano após o final de seu mandato; 5
6 2. MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO: NORMAS REGULAMENTADORAS No âmbito do Poder Executivo, especificamente do Ministério do Trabalho e Emprego, a matéria está disciplinada, para os trabalhadores urbanos, na Norma Regulamentadora 5 e na Portaria nº 3.214, de 1978; para os trabalhadores rurais, há a Norma Regulamentadora 31 e a Portaria nº 86, de NR 5 3 : As seguintes atribuições cometidas à CIPA estão especificadas na DAS ATRIBUIÇÕES 5.16 A CIPA terá por atribuição: a) identificar os riscos do processo de trabalho, e elaborar o mapa de riscos, com a participação do maior número de trabalhadores, com assessoria do SESMT, onde houver; (sobre elaboração de Mapa de Risco, consultar Portaria n.º 25, de 29/12/94); b) elaborar plano de trabalho que possibilite a ação preventiva na solução de problemas de segurança e saúde no trabalho; c) participar da implementação e do controle da qualidade das medidas de prevenção necessárias, bem como da avaliação das prioridades de ação nos locais de trabalho; d) realizar, periodicamente, verificações nos ambientes e condições de trabalho visando a identificação de situações que venham a trazer riscos para a segurança e saúde dos trabalhadores; e) realizar, a cada reunião, avaliação do cumprimento das metas fixadas em seu plano de trabalho e discutir as situações de risco que foram identificadas; f) divulgar aos trabalhadores informações relativas à segurança e saúde no trabalho; g) participar, com o SESMT, onde houver, das discussões promovidas pelo empregador, para avaliar os impactos de alterações no ambiente e processo de trabalho relacionados à segurança e saúde dos trabalhadores; h) requerer ao SESMT, quando houver, ou ao empregador, a paralisação de máquina ou setor onde considere haver risco grave e iminente à segurança e saúde dos trabalhadores; 3 Texto integral disponível no endereço eletrônico 6
7 i) colaborar no desenvolvimento e implementação do PCMSO e PPRA e de outros programas relacionados à segurança e saúde no trabalho; j) divulgar e promover o cumprimento das Normas Regulamentadoras, bem como cláusulas de acordos e convenções coletivas de trabalho, relativas à segurança e saúde no trabalho; k) participar, em conjunto com o SESMT, onde houver, ou com o empregador, da análise das causas das doenças e acidentes de trabalho e propor medidas de solução dos problemas identificados; l) requisitar ao empregador e analisar as informações sobre questões que tenham interferido na segurança e saúde dos trabalhadores; m) requisitar à empresa as cópias das CAT emitidas; n) promover, anualmente, em conjunto com o SESMT, onde houver, a Semana Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho SIPAT; o) participar, anualmente, em conjunto com a empresa, de Campanhas de Prevenção da AIDS. Em âmbito rural, as atribuições da Comissão Interna de Previsão de Acidentes do Trabalho Rural - CIPATR estão fixadas na NR 31 4 : A CIPATR terá por atribuição: a) acompanhar a implementação das medidas de prevenção necessárias, bem como da avaliação das prioridades de ação nos locais de trabalho (C = /I1); b) identificar as situações de riscos para a segurança e saúde dos trabalhadores, nas instalações ou áreas de atividades do estabelecimento rural, comunicando-as ao empregador para as devidas providências (C = /I1); c) divulgar aos trabalhadores informações relativas à segurança e saúde no trabalho (C = /I1); d) participar, com o SESTR, quando houver, das discussões promovidas pelo empregador, para avaliar os impactos de alterações nos ambientes e processos de trabalho relacionados à segurança e saúde dos trabalhadores, inclusive quanto à introdução de novas tecnologias e alterações nos métodos, condições e processos de produção (C = /I1); e) interromper, informando ao SESTR, quando houver, ou ao empregador rural ou equiparado, o funcionamento de máquina ou setor onde 4 Texto integral disponível no endereço eletrônico 7
8 considere haver risco grave e iminente à segurança e saúde dos trabalhadores (C = /I1); f) colaborar no desenvolvimento e implementação das ações da Gestão de Segurança, Saúde e Meio Ambiente de Trabalho Rural (C = /I1); g) participar, em conjunto com o SESTR, quando houver, ou com o empregador, da análise das causas das doenças e acidentes de trabalho e propor medidas de solução dos problemas encontrados (C = /I1); h) requisitar à empresa cópia das CAT emitidas (C = /I1); i) divulgar e zelar pela observância desta Norma Regulamentadora (C = /I1); j) propor atividades que visem despertar o interesse dos trabalhadores pelos assuntos de prevenção de acidentes de trabalho, inclusive a semana interna de prevenção de acidentes no trabalho rural (C = /I1); k) propor ao empregador a realização de cursos e treinamentos que julgar necessários para os trabalhadores, visando a melhoria das condições de segurança e saúde no trabalho (C = /I1); l) elaborar o calendário anual de reuniões ordinárias (C = /I1); m) convocar, com conhecimento do empregador, trabalhadores para prestar informações por ocasião dos estudos dos acidentes de trabalho (C = /I1); n) encaminhar ao empregador, ao SESTR e às entidades de classe as recomendações aprovadas, bem como acompanhar as respectivas execuções (C = /I1); o) constituir grupos de trabalho para o estudo das causas dos acidentes de trabalho rural (C = /I1). 3. JUSTIÇA DO TRABALHO O Judiciário, representado pelo Tribunal Superior do Trabalho - TST, enfrentou a questão através do Enunciado nº 339: 339. CIPA. Suplente. Garantia de emprego. CF/1988. (Incorporadas as orientações Jurisprudenciais ns. 25 a 329 da SDI-1). 8
9 I O suplente da CIPA goza da garantia de emprego prevista no art. 10, II, a, do ADCT a partir da promulgação da Constituição Federal de (ex-súmula 339 Res. 39/1994, DJ e ex-oj 25 inserida em ). II A estabilidade provisória do cipeiro não constitui vantagem pessoal, mas garantia para as atividades dos membros da CIPA, que somente tem razão de ser quando em atividade a empresa. Extinto o estabelecimento, não se verifica a reintegração e indevida a indenização do período estabilitário (ex-oj 329 DJ ). A Justiça do Trabalho afastou a polêmica quanto ao fato de a estabilidade provisória do cipeiro alcançar ou não o suplente, decindo pela resposta afirmativa, alertando que essa estabilidade não é um direito pessoal, mas decorre da necessidade de garantir a atividade de membro da CIPA, razão pela qual não se autoriza o pleito de verbas rescisórias indenizatórias em face de extinção do estabelecimento, muito menos a respectiva reintegração. 4. ANÁLISE CRÍTICA DA DEMANDA ENVIADA À PARLAMENTAR SOLICITANTE Pietá: A seguinte indagação foi formulada à Ilustre Deputada Janete Rocha Gostaria de saber qual a possibilidade de nos ajudar para mudar algumas leis da CIPA? Porque na empresa em que trabalho os filhos do dono da empresa é que nos representam, não houve eleição. Tirei dúvidas no sindicato e fui informada que, dependendo da empresa, pode ou não ter eleições, até mesmo é possível que o empregador indique quem ele quer para representar na CIPA. Precisamos de uma lei que obrigue a ter eleições, que não possa ser indicado pelo patrão e que filhos e parentes do dono da empresa não possam ser eleitos. Aqui na empresa não sabemos nada sobre as reuniões da CIPA. Ficamos com um sentimento ruim onde teremos eternamente o filho do patrão sempre nos representando na CIPA. Como restou demonstrado neste presente estudo, não há necessidade de elaboração legislativa para resolver a preocupação retratada no trecho anteriormente citado. 9
10 O sistema jurídico exige a eleição (CLT, art. 164, 2º), com escrutínio secreto, para a indicação de representantes dos trabalhadores na composição paritária das CIPAs, com mandatos fixados em 01 (um) ano, permitida somente uma recondução (CLT, art. 164, 3º). Apenas inexiste eleição para os representantes patronais, os quais são de livre indicação do empregador, cabendo-lhe, também, a indicação da Presidência (CLT, art. 164, 1º e 5º). Quanto à indicação de filhos ou outros parentes do empregador para a composição das CIPAs, na qualidade de representantes da força de trabalho, já que as eleições são secretas e insubstituíveis por qualquer outro processo, basta, tão-somente, caso o desejem, que os trabalhadores simplesmente não votem nessas pessoas, o controle será eleitoral, não carecendo de restrições legais para tanto. Sendo assim, a responsabilidade da indicação repousa nas decisões políticas dos próprios trabalhadores. Obviamente, o primeiro requisito a ser satisfeito pelos que pretendam representar os trabalhadores nas CIPAs é também ser trabalhador na empresa, pouco importando se tenha ou não parentesco com o patrão e desde que conquiste o apoiamento eleitoral necessário. Caso algum empregador esteja desrespeitando a Constituição da República, a CLT e as regulamentações ministeriais, o caminho adequado para a busca da solução é a solicitação de inspeção da competente Delegacia Regional do Trabalho. 10
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