PERCEPÇÃO DA IMAGEM CORPORAL DE ADOLESCENTES DE UMA ESCOLA ESTADUAL DE SANTA MARIA (RS) 1

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1 PERCEPÇÃO DA IMAGEM CORPORAL DE ADOLESCENTES DE UMA ESCOLA ESTADUAL DE SANTA MARIA (RS) 1 BOLZAN, D. 2 ; FERNANDES, P.² MEDEIROS, L. M. 2 ; SILVEIRA, R. T. 2 ; SCHREINER, J. 2 ; PICCOLO, J. 2 1 Trabalho de pesquisa desenvolvido durante estágio curricular em Nutrição no Ciclo da Vida II. 2 Curso de Nutrição do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil joana_schreiner@hotmail.com; laissa_medeiros_1@hotmail.com. RESUMO O objetivo deste estudo foi identificar a percepção satisfação da imagem corporal de adolescentes em uma escola estadual da cidade de Santa Maria (RS). Trata-se de um estudo transversal desenvolvido nos meses de agosto e setembro de A percepção da imagem corporal foi analisada pela escala de nove silhuetas, proposta por Stunkard et al. (1983), a qual representa um continuum desde a magreza (silhueta 1) até a obesidade severa (silhueta 9). A amostra do estudo foi formada por 88 adolescentes, 38 do gênero masculino e 50 do gênero feminino com idades entre 15 e 18 anos. Para o sexo masculino a silhueta 3 da Percepção da Imagem Corporal Real é a mais freqüente (28,9%), já para o sexo feminino a silhueta 4 da Percepção da Imagem Corporal Real é a mais freqüente (40%). Pode-se concluir que as meninas desejam ter o corpo mais magro enquanto os meninos desejam ter o corpo mais forte. Palavras-chave: Adolescente; Imagem Corporal; Escala de Silhueta; Auto-Percepção. 1. INTRODUÇÃO A imagem corporal pode ser considerada a forma que o corpo se apresenta para cada sujeito e sua determinação é formada, tanto em relação a si próprio, como em relação às outras pessoas. Pode ser influenciada por inúmeros fatores de origem física, psicológica, ambiental e cultural dentro da subjetividade de cada sujeito, tais como sexo, idade, meios de comunicação, crenças, raça e valores (PEREIRA et al., 2009). É importante considerar que a imagem corporal envolve representações visuais, não visuais e outras proposições relacionadas. Ou seja, toda vez que uma imagem é gerada, ela é reconstruída na memória, um processo no quais pensamentos ou sentimentos podem 1

2 afetar a imagem resultante. Nesse sentido, as distorções na imagem do próprio corpo são, em geral, acompanhadas de rejeição ou insatisfação corporal (FRIEDMAN; BROWNELL, 1995). Os meios de comunicação social e a própria cultura estimulam a preferencia por uma forma física ideal, provocando dificuldades na aceitação do próprio corpo, na medida em que transmitem imagens e padrões estéticos centralizados na magreza como ideal de beleza (LAUS, 2006). Alguns autores defendem que certo nível de insatisfação corporal pode ser benéfico em indivíduos com valores de IMC (índice de massa corporal) médios ou elevados (STEWART, 2003), uma vez que pode estimular comportamentos mais saudáveis. No entanto, quando o grau de insatisfação é muito baixo ou inexistente, o individuo pode descuidar-se em relação à alimentação e atividade física. Quando o grau de insatisfação é elevado, esta pode originar distúrbios alimentares como anorexia nervosa, bulimia ou compulsão alimentar (STEWART, 2003; COTI, 2002). As primeiras experiências do indivíduo são fundamentais para o desenvolvimento da imagem corporal. Aos dois anos, as crianças já possuem outo percepção e reconhecem sua imagem no espelho; os pré-escolares aprendem, com as pressões sociais, as características físicas ideais, estas vão se solidificando cada vez mais à medida que interioriza o que é atraente e ideal. O adolescente, estando numa fase de alterações e mudanças inconstantes a nível psicológico, emocional, somático e cognitivo, aumenta a sua preocupação com o socialmente aceite e com sua aparência física (FERNANDES, 2007). É nessa altura que se forma a identidade, e logo, maior risco de sentimentos de insatisfação, baixo autoestima, e desajuste com a imagem corporal (FERNANDES, 2007; KAKHESHITA, 2008). Todo adolescente tem em sua mente um corpo idealizado, e quanto mais este corpo se distanciar do real, maior será a possibilidade de conflito, comprometendo sua auto-estima As adolescentes, mesmo quando estão no peso adequado ou abaixo do peso ideal, costumam se sentir gordas ou desproporcionais, o que se denomina de distorção da imagem corporal (BRANCO, HILÁRIO, CINTRA, 2006). Independentemente do sexo, os adolescentes se preocupam com o peso e a aparência corporal (CONTI; FRUTUOSO; GAMBARDELLA, 2005). O objetivo deste trabalho foi identificar a percepção satisfação da imagem corporal de adolescentes em uma escola estadual da cidade de Santa Maria (RS). 2

3 2. METODOLOGIA Trata-se de um estudo transversal, realizado com adolescentes de uma escola estadual da cidade de Santa Maria (RS). Este estudo foi desenvolvido nos meses de agosto e setembro de A percepção da imagem corporal foi analisada pela escala de nove silhuetas, proposta por Stunkard et al. (1983), a qual representa um continuum desde a magreza (silhueta 1) até a obesidade severa (silhueta 9). Nessa escala, o indivíduo escolhe o número da silhueta que considera semelhante a sua aparência corporal real (Percepção da Imagem Corporal Real - PICR) e também o número da silhueta que acredita ser mais condizente a sua aparência corporal ideal (Percepção da Imagem Corporal Ideal - PICI). Para a avaliação da satisfação corporal subtraiu-se da aparência corporal real a aparência corporal ideal, podendo esse número variar de -8 até +8. Caso essa variação fosse igual a zero, o indivíduo era classificado como satisfeito com sua aparência e se diferente de zero classificava-se como insatisfeito. Caso a diferença fosse positiva considerava-se uma insatisfação pelo excesso de peso e, quando negativa, uma insatisfação pela magreza. Os dados coletados foram tabulados e avaliados no software Microsoft Excel versão 2010 através de estatística simples. 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES A amostra do estudo foi formada por 88 adolescentes, 38 do gênero masculino e 50 do gênero feminino com idades entre 15 e 18 anos. Na tabela 1 estão apresentadas as freqüências da percepção da imagem corporal, no qual pode-se perceber que para o sexo masculino a silhueta 3 da PICR é a mais freqüente (28,9%), já para o sexo feminino a silhueta 4 da PICR é a mais freqüente (40%). Tabela 1. Freqüência em porcentagem da percepção da imagem corporal real de adolescentes nos gêneros masculino e feminino da cidade de Santa Maria, RS, Percepção da imagem Silhuetas corporal Percepção da Imagem Corporal Real Masculino 0 18,4 28,9 21,1 18,4 2,6 5,3 2,6 2,6 Percepção da Imagem

4 Corporal Real Feminino De acordo com Pereira et al. (2009), as silhuetas 3 e 4 foram as mais freqüentes para o sexo masculino, enquanto as silhuetas 2 e 3 foram as mais freqüentes para o sexo feminino, ambos em relação a PICR. Branco, Hilário e Cintra (2009) verificam em seu estudo que em relação à satisfação com a imagem corporal, as meninas tenderam a apresentar maior insatisfação do que os meninos concordando com Feingold e Mazzella (1998). A prevalência de insatisfação com a imagem corporal encontrada no estudo de Corseuil et al. (2009) com adolescentes do município de Três de Maio - RS é elevada (85,0%). Quando as adolescentes insatisfeitas foram classificadas segundo o desejo de modificar a silhueta corporal, verificou-se que 71,7% delas apresentaram desejo de reduzir o tamanho corporal, enquanto 13,3% desejavam aumentá-lo. Esses dados concordam com estudos de Pinheiro e Giugliane (2006). Damasceno et al. (2005) confirmam em seu estudo utilizando a escala de silhuetas de Stunkard, que 24,4 % das mulheres e 18 % dos homens referiram satisfação com o corpo, e que os homens expressaram maior desejo em ter um corpo mais forte e volumoso, com baixo percentual de gordura. Em relação à percepção da imagem corporal ideal (PICI), pode-se observar que a silhueta apontada como ideal para o sexo masculino foi a 5 (44,7%) enquanto para o feminino foi a 3 (68%) como demonstrados na tabela 2. A silhueta ideal para o sexo masculino foi a 3 enquanto para o sexo feminino foi a 2, resultados estes encontrados no trabalho de Pereira et al. (2009). Tabela 2. Freqüência em porcentagem da percepção da imagem corporal ideal de adolescentes nos gêneros masculino e feminino da cidade de Santa Maria, RS, Percepção da imagem Silhuetas corporal Percepção da Imagem Corporal Ideal Masculino 2,6 2,6 34,2 15,9 44, Percepção da Imagem Corporal Ideal Feminino Segundo alguns autores existe uma tendência mundial a índices elevados de insatisfação corporal em adolescentes, tanto em pequenos como em grandes centros 4

5 populacionais, o que vem chamando a atenção da comunidade científica em todo o mundo (TRICHES; GIUGLIANI, 2007; JONES; FRIES; DANISH, 2007; LI et al., 2005). Na tabela 3 foram apresentados os resultados obtidos em relação à insatisfação com a imagem corporal, onde pode-se observar que no grupo masculino metade (50%) estão insatisfeitos pela magreza e a outra metade (50%) pelo excesso de peso. No grupo feminino, existiu maior insatisfação pelo excesso de peso (77,8%) como demonstrados na tabela 4. Tabela 3. Freqüência em porcentagem da insatisfação corporal de adolescentes pela magreza nos gêneros masculino e feminino da cidade de Santa Maria, RS, Gênero Insatisfação Corporal Pela Magreza (%) Masculino 50 Feminino 22,2 Geral 33,3 Tabela 4. Frequência em porcentagem da insatisfação corporal de adolescentes pelo excesso de peso nos gêneros masculino e feminino da cidade de Santa Maria, RS, Gênero Insatisfação Corporal pelo Excesso de Peso (%) Masculino 50 Feminino 77,8 Geral 66,7 A imagem corporal parece ser uma marca feminina, sobretudo na adolescência, quando o corpo estabelece seu formato segundo Branco, Hilário e Cintra (2006). Como os meninos não sofrem tanta pressão social, apresentam uma melhor aceitação (GRAHAM et al., 2000). 4. CONCLUSÃO Observou-se nesse estudo que em relação à PICR, a silhueta 3 é a mais freqüente no sexo masculino já para o sexo feminino a silhueta 4 da PICR é a mais freqüente. A silhueta apontada como ideal para o sexo masculino foi a 5 enquanto para o feminino foi a 3. 5

6 De forma geral, observou-se que meninas desejam ter o corpo mais magro enquanto os meninos desejam ter o corpo mais forte e as análises remetem a comportamentos diferenciados da percepção da imagem corporal dos jovens considerando a insatisfação corporal pela magreza e pelo excesso de peso. Verificou-se também que os meninos estão mais satisfeitos com sua imagem corporal em relação às meninas, pois estas geralmente estão em busca de um corpo perfeito com enfoque na magreza. É frequente ver pessoas mais preocupadas a tentar modificar sua aparência em vez de alterar as suas atitudes, de forma a se sentirem melhor com seu corpo. Se houver dificuldade em aceitar a sua imagem, torna-se mais difícil o indivíduo aceitar-se como pessoa. A insatisfação afeta a saúde dos indivíduos, física e psicologicamente, assim como a relação consigo e com os outros, diminuindo a qualidade de vida. Ter uma adequada percepção e interação com o corpo é fundamental para aceitar a própria imagem. REFERÊNCIAS BRANCO, L. M.; HILARIO, M. O. E.; CINTRA, I. P. Percepção e satisfação corporal em adolescentes e a relação com seu estado nutricional. Revista Psiquiatria Clínica, São Paulo, v.33, n.6, p , CORSEUIL, M. W. et al. Prevalência de insatisfação com a imagem corporal e sua associação com a inadequação nutricional em adolescentes. Revista da Educação Física, Maringá, v. 20, n. 1, p , CONTI, M. A. Imagem corporal e estado nutricional de estudantes de uma escola particular f. Dissertação (Mestrado em Nutrição) - Faculdade de Saúde Pùblica da Universidade de São Paulo, São Paulo, CONTI, M. A.; FRUTUOSO, M. F. P.; GAMBARDELLA, A. M. D. Excesso de peso e insatisfação corporal em adolescentes. Revista de Nutrição, Campinas, v. 18, p , DAMASCENO, V. O. et al. Tipo físico ideal e satisfação com a imagem corporal de praticantes de caminhada. Revista Brasileira de Medicina e Esporte, v.3, v.1, p , FEINGOLD, A.; MAZZELLA, R. Gender differences in body image are increasing. Psychological Science, v.9,

7 FERNANDES, A. E. R. Avaliação da imagem corporal, hábitos de vida e alimentares em crianças e adolescentes de escolas públicas e particulares de Belo Horizonte f. Dissertação (Mestrado em Medicina) - Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Medicina, Belo Horizonte, FRIEDMAN, M. A.; BROWNELL, K. D. Psychological correlates of obesity: moving to the next research generation. Psychological Bulletin, v. 11, n.7, p GRAHAM, M.A. et al. Relationship among body image, sex and popularity of high school students. Percept Mot Skills, v.90, p , JONES, L. R.; FRIES, E.; DANISH, S.J. Gender and ethnic differences in body image and opposite sex figure preferences of rural adolescents. Body Image, Norfolk, v.4, p , KAKESHITA, I. S. Adaptação e avaliação de escalas de silhuetas para crianças e adultos brasileiros f. Tese (Doutorado em Ciências) - Universidade de São Paulo, Faculdade de Filosofia, Ciencias e Letras de Ribeirão Preto, LAUS, M. F.et al. Percepção da imagem corporal e estdo nutricional em estudantes de nurição. Alimentos e Nutrição, Araraquara, v.17, n.1, p , LI, Y. et al. Body image perceptions among chinese children and adolescents. Body Image, Norfolk, v. 2, p , PEREIRA, E. F. et al. Percepção da imagem corporal de crianças e adolescentes com diferentes níveis socioeconômicos na cidade de Florianópolis, Santa Catarina, Brasil. Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil, Recife, v.9, n.3, p , PINHEIRO, A. P.; GIUGLIANI, E. R. J. Body dissatisfaction in Brazilian schoolchildren: prevalence and associated factors. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 40, p , STEWART, A. et al. Body image perception, satisfaction and somatotype in male and female athletes and non-athletes: results using a novel morphing technique. Journal of Sports Sciences. v.21, p , STUNKARD, A. J.; SORENSON, T.; SCHLUSINGER, F. Use of the Danish adoption register for the study of obesity and thinness. In: Kety SS, Rowland LP, Sidman RL, Mat-thysse SW, editors. The genetics of neurological and psychiatric disorders. New York: Raven; p

8 TRICHES, R. M.; GIUGLIANI, E. R. J. Insatisfação corporal em escolares de dois municípios da região Sul do Brasil. Revista de Nutrição, Campinas, SP, v. 20, p ,