POBREZA: conceitos, medidas, políticas sociais. O conceito de habitus e a pobreza intergeracional
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- Gabriella Rico Franca
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1 POBREZA: conceitos, medidas, políticas sociais. O conceito de habitus e a pobreza intergeracional
2 1.1-Discuta os conceitos de pobreza e desigualdade e caracterize a pobreza na população brasileira Desigualdade diz respeito à distância econômica, social e política entre os membros de uma sociedade. Pode ser medida pela distância entre o maior e o menor salários em um país, pelo acesso à terra e estrutura fundiária ou pelo número de membros de um determinado grupo social em certas posições valorizadas. Construção historicamente determinada os padrões sobre o que é pobreza podem variar com o tempo e o lugar. Ex: América Latina usa pobreza absoluta= privação de necessidades; Europa Ocidental usa pobreza relativa= ter um padrão de vida socialmente aceitável, mas situar-se na periferia do estado de bem-estar.
3 SILVA (2009), define pobreza em dois aspectos: a) pobreza absoluta, relacionada ao não atendimento das necessidades mínimas para reprodução biológica; e b) pobreza relativa que diz respeito à estrutura e à evolução do rendimento médio de um determinado país a concepção de pobreza relativa se fundamenta na ideia de desigualdade de renda e de privação relativa em relação ao modo de vida dominante em determinado contexto. Na pobreza relativa adota-se uma perspectiva que se refere às condições objetivas (e não subjetivas) de privação que afetam pessoas quando comparadas com outros membros da sociedade.
4 Sonia ROCHA Pobres são os indivíduos cuja renda familiar per capita é inferior ao valor necessário para atender a todas as necessidades básicas (alimentação, habitação, transporte, saúde, lazer, educação, etc.). Indigentes são os indivíduos cuja renda familiar per capita é inferior ao valor necessário para atender às necessidades básicas de alimentação. IPEA (2010a) relaciona pobreza com renda define como pobreza absoluta o rendimento médio domiciliar per capita de até meio salário mínimo mensal Introduz o conceito de pobreza extrema - rendimento médio domiciliar per capita de até um quarto do salário mínimo mensal.
5 Outros conceitos: Pobreza crônica ou pobreza estrutural provém de um déficit estrutural de capital (físico, humano, social, etc). Pobreza transitória, temporária ou conjuntural resulta de choques(doenças temporárias, desemprego) que excedem as capacidades de enfrentamento das famílias, ou de flutuações na renda, que não refletem adequadamente o padrão de vida. Conceito de pobreza multidimensional a concepção monetária está associada ao conceito de privação. América Latina,anos 1980 passou-se a medir a pobreza com base na intersecção entre os resultados obtidos com a NBI (necessidades básicas insatisfeitas)e o custo das necessidades básicas (critério da renda)
6 Nesse enfoque bidimensional os pobres podem ser classificados nos seguintes grupos: 1)pobres crônicos:são o núcleo da pobreza uma vez que não possuem renda mínima para o consumo e não satisfazem suas necessidades básicas; 2)pobres recentes: satisfazem suas necessidades básicas mas tem uma renda abaixo da linha da pobreza, de modo que a redução de renda não expressa uma deterioração imediata no atendimento de suas necessidades básicas; 3)pobres inerciais: tem renda suficiente para adquirir bens e serviços básicos, mas não conseguiram melhorar certas condições do seu padrão de vida. Essas famílias ou pessoas tem certas necessidades trazidas do seu passado, enraizadas no seu estilo de vida.
7 Pobreza na população brasileira. Brasil: (Paes de Barros et al. 2000) o principal determinante dos elevados níveis de pobreza é a estrutura de desigualdade na distribuição de renda e das oportunidades de inclusão social duas décadas de estabilidade da pobreza entre 2978 e 1998, o número de pobres e indigentes pouco mudou 33%de pobres e 14% de indigentes o crescimento econômico não era suficiente para reduzir a pobreza no Brasil. caráter estrutural: os pobres em risco de exclusão não são temporários, nem minoria extensão da pobreza e da miséria no Brasil (Cepal 2007) : 37,5% pobres (13,2% indigentes) : 33,3% pobres (9% indigentes)
8 Pobreza na população brasileira. Parte da pobreza é rural, localizada sobretudo nos estados do Nordeste e em zonas agrícolas deprimidas em Minas Gerais, Rio de Janeiro e outras regiões, e constituída por pessoas que não conseguem produzir para o mercado, sobrevivendo, no máximo, em uma economia de subsistência extremamente precária. Em sua maioria, no entanto, a pobreza é urbana, localizada na periferia das grandes cidades, e constituída por pessoas em grande parte originárias do campo, que não se integraram ao mercado de trabalho formal ou cuja integração ao mercado de consumo não tem correspondência com o mercado de trabalho.
9 Pobreza na população brasileira. Quanto à cor 60% dos pobres no Brasil são constituídos por negros. 70% das pessoas consideradas indigentes são negros. De um modo geral, 50% das pessoas negras ou pardas são pobres, enquanto que apenas 25% dos brancos apresentam a mesma condição social. PNAD, 2011: O perfil dos desocupados com 15 anos de idade ou mais de idade mostra que mais da metade dos desocupados era de mulheres, 35,1% nunca trabalharam, mais de um terço (33,9%) era de jovens entre 18 e 24 anos de idade; 57,6% pretos ou pardos e 53,6% com ensino médio incompleto.
10 1.2-Quais as diferentes formas utilizadas, no presente, para a mensuração da pobreza e suas respectivas limitações? Sergei Soares (IPEA, 2009, p.7) nem sequer instituições de pesquisa oficiais, como o IPEA ou o IBGE contam com metodologias de mensuração de pobreza usadas por todos ou quase todos os seus pesquisadores. Compêndio sobre Melhores Práticas em Medição de Pobreza, elaborado por especialistas sob os auspícios da Comissão Estatística da ONU a estimação da linha absoluta de pobreza requer a tomada de decisões sobre vários aspectos, que podem levar a diferentes procedimentos operacionais que afetarão a comparabilidade dos resultados (Expert Group on Poverty Statistics (2006), p. 147)
11 O Coeficiente de Gini é uma medida de desigualdade. consiste em um número entre 0 e 1, sendo zero a completa igualdade (no caso do rendimento, por exemplo, toda a população recebe o mesmo salário) e 1 corresponde à completa desigualdade (onde uma pessoa recebe todo o rendimento e as demais nada recebem). Ocorre que o Coeficiente de Gini não revela muito quando é aplicado em sociedades pouco diferenciadas (em generalizada situação de pobreza ou de riqueza). O índice de Gini é o coeficiente expresso em pontos percentuais (é igual ao coeficiente multiplicado por 100).
12 Linha de pobreza monetária BRASIL: Linha de pobreza= renda familiar per capita de meio salário mínimo. Linha de Indigência= renda familiar per capita de um quarto do salário mínimo referido às necessidades calóricas, usado no BPC IPEA pobreza absoluta = rendimento médio domiciliar per capita de até meio salário mínimo mensal e pobreza extrema = rendimento médio domiciliar per capita de até um quarto do salário mínimo mensal. Indigência = extrema pobreza Banco Mundial e ONU: extrema pobreza =menos de US$1,25 por dia
13 Mensuração da pobreza pelo critério multidimensional Pobreza multidimensional é mais que um baixo padrão de renda, expressa privação de capacidades, pelas dificuldades de acesso aos direitos básicos e pela negação da cidadania. Pobreza Multidimensional É uma medida de pobreza aguda, que reflete a privação em ativos humanos (educação, saúde e nível de vida). Não é um agregado de outros indicadores, mas se baseia em microdados de pesquisas domiciliares. Esse indicador multidimensional tende a produzir maiores taxas de pobreza extrema que a medida de 1,25 diários dolares per capita do Banco Mundial (PPC) nos países com menor PIB per capita Há pequenas variações entre os critérios e indicadores dobanco Mundial e do PNUD
14 Indicador Critério Frequência escolar das crianças Anos de escolaridade Saneamento básico Se alguma criança em idade escolar (7-17 anos) não está matriculada na escola Se nenhum dos membros da família tem pelo menos 8 anos de estudo Se o domicílio não tem acesso à rede de esgoto ou fossa séptica Acesso à água Se o domicílio não tem acesso à água encanada fornecida pela rede geral de abastecimento, poço ou nascente Eletricidade Se o domicílio não tem acesso à eletricidade Habitação Se o domicílio não foi construído com material de alvenaria (tijolos, pedras, etc.) Ativos Se a família não possui pelo menos 2 de 3 bens: (a)refrigerador/freezer; (b)telefone fixo/celular; (c)fogão que utilize combustível limpo (elétrico ou a gás)
15 LIMITAÇÕES: Abordagens monetárias são menos importantes em países com baixa renda per capita, população mais rural e economia de mercado menos desenvolvida nesses casos a mais indicada é a abordagem das privações. Nas sociedades com maior população urbana e economia de mercado, as abordagens monetárias parecem as mais indicadas.
16 1.3-Discuta o que é linha de pobreza e os conceitos correlatos e como esse conceito é utilizado pelas políticas públicas no Brasil. Linha de pobreza é a expressão utilizada para descrever o nível de renda (mensal ou anula) que define se uma pessoa ou uma família possui ou não as condições ou recursos necessários para viver. A linha de pobreza é, geralmente, medida em termos per capita, mas pode ser calculada tomando como referência famílias ou domicílios. Os critérios para o estabelecimento das linhas de pobreza variam, e a sua definição tem uma série de implicações.
17 Se for usado o conceito de pobreza absoluta, para definir a linha de pobreza o ideal é recorrer à abordagem tradicional das necessidades calóricas mínimas? Ou esse seria um método ultrapassado e inadequado para países onde a fome deixou de ser um problema crônico(sonia Rocha)? Se for mantido esse enfoque que ainda tem muito respaldo internacional, como estabelecer as necessidades calóricas mínimas face às diferenças de idade, sexo, atividade? E como definir a cesta de alimentos (Banco Mundial, Cepal) que garanta o acesso à quantidade mínima de calorias requeridas, para então calcular seu valor e a linha monetária resultante?
18 Se for usado o conceito de pobreza multidimensional, quais são as dimensões relevantes para configurar a situação de pobreza? Dentro de cada uma dessas dimensões, quais indicadores de necessidades básicas devem ser incluídos? Qual o critério para definir se cada uma das necessidades foi ou não foi atendida? E qual a importância relativa (peso) de cada indicador na definição de quem são os pobres? Nas políticas públicas é possível combinar os dois tipos de linha de pobreza, porém os estudos mostram que as linhas monetárias são mais objetivas e mais facilmente aplicáveis, embora menos completas.
19 No Brasil predomina, nas políticas sociais, a utilização das linhas de pobreza monetárias e a estratégia mais promissora para lidar com a pobreza tem sido a de cobrir o hiato de renda, isto é, a diferença entre os valores da renda da população situada na linha da extrema pobreza e a linha da pobreza. Esta foi a estratégia adotada, por exemplo, no Plano Brasil sem Miséria
20 1.4-Caracterize as principais políticas públicas de combate à pobreza no Brasil nos últimos 10 anos. COMBATE À POBREZA Importantes avanços no Brasil 1- estabelecimento da proteção social independentemente da contribuição 2-correspondência entre o piso previdenciário e o salário mínimo, isto é, a definição de que o valor pago a título de aposentadoria não poderia ser menor do que o salário mínimo, inclusive para os trabalhadores rurais, pescadores e garimpeiros que não haviam previamente contribuído. 3-Para os que não contribuíram à Previdência Social, que não são trabalhadores rurais, pescadores ou garimpeiros e que integram família de baixa renda, o sistema de proteção social brasileiro assegura, como um direito, um benefício, também de valor igual ao salário mínimo que toma o nome de Benefício de Prestação Continuada (BPC) e é destinado a pessoas com 65 anos ou mais, que apresentam renda média mensal familiar inferior a 25% do salário mínimo vigente.
21 O Programa Bolsa Família disciplinado pela Lei nº , de 2004 e regulamentado pelo Decreto nº 5.209, de 2004, realiza ações de transferência de renda com condicionalidades, via unificação dos procedimentos de gestão e execução das ações de transferência de renda do governo federal, especialmente as do Programa Nacional de Renda Mínima vinculado à Educação (Bolsa Escola), de 2001; do Programa Nacional de Renda Mínima vinculada à Saúde (Bolsa Alimentação), de 2001; do Programa Auxílio-Gás, de 2002; e do Cadastramento Único do Governo Federal, de 2001 (substituído pelo CadÚnico em 2007); e do Programa Nacional de Acesso à Alimentação (PNAA), de 2003 (art. 1º da Lei ). Iniciado em 2003, hoje o Bolsa Familia tem cadastrados no CadUnico cerca de74 milhões de pessoas, correspondendo a mais de 14 milhões de famílias. Seu gasto em 2014 atingiu 27,8 bilhões de reais
22 Arranjo institucional do PBF Os municípios se encarregam de identificar e cadastrar as famílias que cumprem os requisitos de elegibilidade e de lançar seus dados no CadÚnico. Com base nesses dados, o MDS seleciona, de forma automatizada, as famílias que serão incluídas no Programa. Os benefícios são pagos, mensalmente, por meio de cartão magnético bancário fornecido pela Caixa Econômica Federal, que é o agente operador do Bolsa Família. A concessão dos benefícios depende do cumprimento, no que couber, de condicionalidades na área da saúde, educação e trabalho infantil. São responsáveis pelo acompanhamento e fiscalização do cumprimento das condicionalidades o Ministério da Saúde, o MEC e o MDS, nos âmbitos de suas atuações, podendo ser auxiliados pelos entes federativos (art. 28). O controle e a participação social do Programa devem ser realizados, nos municípios e estados, por instância de controle paritária formalmente constituída para esse fim ou por conselho ou instância anteriormente existente (art. 29).
23 O Plano Brasil Sem Miséria disciplinado pelo decreto7.492, de 2011, visa superar a situação de extrema pobreza em todo o território nacional, por meio da integração interfederativa e articulação intersetorial de políticas, programas e ações (art. 1º do Decreto 7.492). Seus eixos de atuação são: a garantia de renda, pelo PBF; o acesso a serviços públicos (SUAS, Saúde, Educação e outros); a inclusão produtiva. O MDS indica que o Plano Brasil Sem Miséria teve como foco de atuação os 16 milhões de brasileiros com renda familiar per capita inferior a R$ 70 mensais. Informação disponível em: < bolsafamilia>..
24 1.5-Discuta o que vem a ser habitus e como relacionála ao conceito de pobreza intergeracional. Habitus modo de ser de um indivíduo, resultante da sua aprendizagem social, que em certa medida, condiciona suas atitudes, comportamentos, gostos e escolhas. Pierre Bourdieu...o produto de um trabalho social de nominação e de inculcação, ao término do qual uma identidade social instituída por uma dessas 'linhas de demarcação mística', conhecidas e reconhecidas por todos, que o mundo social desenha, inscreve-se em uma natureza biológica e se torna um habitus, lei social incorporada.
25 Pobreza fenômeno multidimensional, não é só renda, embora possa ser medida pela renda, envolve inclusive percepções quanto ao exercício de direitos. Reforça-se pelo habitus incorporação da pobreza como natural, nos modos de pensar, sentir e agir. Pobreza Intergeracional conceito associado ao de pobreza crônica pela permanente impossibilidade de satisfazer necessidades básicas a família fica presa em um círculo vicioso, que tende a se reproduzir de pais para filhos.
26 Ruptura da Pobreza Intergeracional oportunidades de inclusão social acesso a direitos e às oportunidades de trabalho e renda. Essa é a lógica que preside a atual política de combate à pobreza no Brasil, através de quatro políticas de desenvolvimento social: PBF Programa Bolsa Familia SUAS - Sistema Unico de Assistência Social SISAN Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional Plano Brasil Sem Miséria
27 Estudo Técnico SAGI/MDS No Pobreza multidimensional: série histórica 2001 a 2013 e caracterização dos diferentes perfis. Equipe Técnica responsável Alexander Cambraia N. Vaz Paulo de Martino Jannuzzi
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