RESUMO CONSULTA PARTICIPATIVA

Transcrição

1 1

2 OBJETIVO RESUMO CONSULTA PARTICIPATIVA Estimular a construção participativa de um diálogo sobre as percepções e atitudes das comunidades do Jardim São Luís e do Jardim Ângela sobre posse de armas e desarmamento, como parte das ações de sensibilização e mobilização pela desvalorização e entrega de armas de fogo e munições na região do M Boi Mirim. METODOLOGIA A metodologia de consulta participativa de opinião procura mobilizar os diferentes públicos envolvidos, a partir da produção de conhecimento sobre a comunidade. Construída de forma participativa por um grupo articulador composto por 10 adolescentes e jovens, a consulta estabeleceu um espaço de diálogo com o público local, possibilitando, por meio de consultas à opinião de pessoas relevantes para a questão do desarmamento, definir focos e abrir perspectivas para promover soluções. Entre março e junho de 2011, esse grupo participou de encontros de formações para qualificação no tema do desarmamento e para todas as etapas do processo de investigação, desde a formulação de hipóteses e questionários até a análise dos resultados. RESUMO DOS RESULTADOS DA CONSULTA PARTICIPATIVA DE OPINIÃO Foram entrevistados cerca de 300 homens e mulheres, com 13 anos ou mais, sendo eles alunos, mães e pais, funcionários de escolas, além de frequentadores de CEUs, CICs, núcleos, parques, igrejas e postos policiais da região do M Boi Mirim. PERCEPÇÃO GERAL DA VIOLÊNCIA A nota média atribuída à segurança na região foi 5,1. Embora um quarto dos entrevistados considere que está menor o número de casos de violência onde moram, é significativo que quase metade considere que aumentou em algum grau. Questionados sobre o contato que tem com armas de fogo, a maior parte dos entrevistados (74%) diz que já viu e pouco menos da metade (40%) diz conhecer alguém que tenha uma arma de fogo. Alta exposição dos entrevistados a armas de fogo: Todos os entrevistados que conhecem alguém que tenha arma de fogo já viram uma arma. Mas mesmo entre aqueles que não conhecem quem tenha uma arma, 65% já viram uma arma. Embora os entrevistados com 55 anos ou mais sejam os mais expostos a armas de fogo, chama atenção o fato de que os jovens entre 19 e 34 anos também têm uma elevada exposição a esses artefatos. IMAGINÁRIO DOS ENTREVISTADOS QUANTO À POSSE DE ARMA A visão geral é a de que os policiais são o público mais indicado a ter armas ou andar armado, ainda que seja reconhecido um mau relacionamento entre eles e moradores. Chama atenção também o fato de que 10% dos entrevistados considera que outro público indicado para ter ou andar com armas seriam os comerciantes. Isso pode indicar uma percepção dessas pessoas de que a arma seria um instrumento desejável e/ou legítimo para a defesa do patrimônio. 2

3 Para a maioria dos entrevistados, uma pessoa armada está colocando o outro em risco e representa uma ameaça, além de não saber resolver as coisas conversando. Para mulheres, as armas representam mais imposição de poder e medo do que para homens; para eles está mais presente a imagem de proteção e de imposição de respeito. Ainda que os entrevistados mostrem alto conhecimento sobre a existência de leis de controle de armas, eles apresentam um conhecimento mediano em relação a detalhes da campanha do desarmamento. A garantia do anonimato e a existência de indenização para quem entrega arma de fogo são exemplos de aspectos da campanha que deveriam ser mais conhecidos. A faixa dos 19 aos 24 anos é a que mostra maior conhecimento sobre a indenização na entrega da arma, apesar de não mostrar muito conhecimento sobre impossibilidade da prisão ou não obrigatoriedade da explicação sobre origem da arma no ato da entrega. A grande maioria dos entrevistados concorda em algum nível com a ideia de que a entrega de armas do chamado cidadão de bem não resolveria o problema da segurança pessoal, uma vez que ainda há bandidos armados. A maior parte dos entrevistados também acredita que homicídios são mais numerosos em casos ligados ao crime e que o tráfico de armas é o principal problema a ser enfrentado no controle de armas. 2 a cada 3 entrevistados discorda que a arma de fogo possa ser uma forma de defesa e não vê o referendo com valor decisivo. SENSIBILIZAÇÃO PARA A ENTREGA DA ARMA DE FOGO Por que não entregar? Embora as armas não sejam consideradas elementos de defesa, os entrevistados acham que os principais motivos de as pessoas não entregarem uma arma são: Proteção Medo de prisão Não saber o que será feito com a arma depois da entrega Os motivos para os diferentes públicos: Mulheres indicam como motivos para a não entrega a proteção e o poder relacionada à posse da arma. Homens consideram relevante o mau relacionamento com a polícia. Entrevistados com 55 anos ou mais indicam o desconhecimento sobre o que vai ser feito com a arma. Também para aqueles entre 19 e 34 anos, que também apontam não confiar na polícia e que não fariam a entrega a ela. O que faria entregar? Saber que a arma será destruída e que haverá indenização na entrega são elementos fortes de motivação para a entrega. Outros dois fatores são relacionados a uma sensação maior de segurança: saber que há menos armas nas ruas e que o bairro está mais seguro. Todos concordam que conhecer alguns detalhes da campanha de desarmamento seria essencial para promover o desarmamento voluntário. Assim, o argumento mais motivador seria aquele que esclarece a garantia do anonimato e o fato de que a pessoa não precisa explicar a procedência da arma. Campanhas de impacto: para estarem à frente de campanhas foram indicadas vítimas ou parentes de vítimas de casos de violência, veiculadas principalmente na televisão e na internet. 3

4 VONTADE DE PARTICIPAÇÃO Mais da metade dos entrevistados participaria de alguma ação relacionada ao desarmamento, especialmente: uso de camisetas falando sobre o tema e promoção de discussões em ambientes de estudo ou trabalho. RECOMENDAÇÕES: Seria interessante avaliar se a violência armada na região do M Boi Mirim realmente aumentou, ou se a percepção de piora deriva de questões como uma maior disponibilidade de informações sobre crimes e violência ou até mesmo um viés devido à relativa pouca idade da maior parte dos respondentes da consulta participativa (e que, por isso, não conheceriam a fundo o histórico de violência na região). Nas campanhas voltadas para a mobilização para a entrega voluntária de armas, é importante que se divulgue mais a garantia do anonimato, o fato de que a pessoa não pode ser presa ao entregar uma arma, a existência de indenização para quem entrega arma de fogo. Segundo os entrevistados, dois dos principais motivos percebidos para a não entrega de armas são reflexo do pouco conhecimento sobre a campanha: o medo de ser preso e não saber o que vai acontecer com a arma entregue. Boa parte das pessoas não sabe que o anonimato é garantido; ou ainda, não faz a associação entre a existência do anonimato e a impossibilidade de ser preso ao entregar uma arma. Além disso, não se sabe que a arma é inutilizada na entrega. Assim, a possibilidade de que a arma entregue possa voltar a circular coloca em risco a credibilidade da campanha e, portanto, desestimula a entrega. Questionados sobre o que motivaria uma pessoa que tem uma arma de fogo a entregá-la, os entrevistados levantaram como principal elemento o conhecimento sobre o que será feito com a arma depois da entrega. Por isso, é fundamental que a danificação das armas no momento da entrega seja amplamente divulgada e que aconteça de fato. Campanhas voltadas para a sensibilização do público feminino podem levar em consideração a percepção de que, para elas, as armas representam mais imposição de poder e medo do que para os homens. Segundo as entrevistas, os protagonistas mais desejáveis para as campanhas seriam vítimas ou parentes de vítimas de casos de violência. Os principais meios para essas campanhas seriam a televisão e a internet. É muito positivo que a maioria dos entrevistados considere que uma pessoa armada está colocando o outro em risco e representa uma ameaça, além de não saber resolver as coisas conversando. Entretanto, para que as pessoas estejam melhor informadas, é preciso reforçar sempre que possível o caminho das armas (mostrando que o mercado legal abastece o mercado ilegal); o fato de que a maior parte dos homicídios acontece por motivos banais; que embora as fronteiras apresentem problemas urgentes, a maior parte das armas que vitima brasileiros são nacionais e que provêm do mercado legal. Como saber que há menos armas nas ruas e que o bairro está mais seguro também são fatores relevantes para as pessoas entregarem armas, é importante que se alcance maior transparência acerca dessas informações. Para o engajamento social com a causa, foi indicado que as pessoas estariam mais dispostas a usar uma camiseta falando do tema, e promover a discussão do mesmo em seu local de trabalho ou estudo. 4

5 Ficha técnica Consulta Participativa na Região do M Boi Mirim realizada pelo Instituto Sou da Paz de março a junho de 2011, em parceria com o Instituto Paulo Montenegro. Este projeto faz parte do Plano de Controle de Armas da Cidade de São Paulo, coordenado pelo Instituto da Paz. EQUIPE DO INSTITUTO SOU DA PAZ Diretoria Luciana Guimarães Melina Risso Área de Gestão do Conhecimento Ligia Rechenberg Rebekah Hunt EQUIPE DO INSTITUTO PAULO MONTENEGRO Diretoria Ana Lucia Lima Equipe técnica Marisa de Castro Villi Área de Controle de Armas Alice Andrés Ribeiro Daniel Mack Erica Ribeiro Vanessa Abdo Benaderet Área de Comunicação Raquel Melo Janaína Siqueira Fernando Freitas atendimento@soudapaz.org Rua Luis Murat, 260, Vila Madalena CEP: São Paulo - SP Tel: