ENTRE FERAS CAPÍTULO 2 NOVELA DE: RÔMULO GUILHERME ESCRITA POR: RÔMULO GUILHERME. Personagens deste capítulo: AGRIMENSOR CORDÉLIO FERNANDA MARIANO

Transcrição

1 ENTRE FERAS CAPÍTULO 2 NOVELA DE: RÔMULO GUILHERME ESCRITA POR: RÔMULO GUILHERME Personagens deste capítulo:

2 CENA 1. CASA FAZENDA. SALA. INTERIOR. NOITE Continuação imediata da última cena do capítulo anterior. Fernanda e Argemiro aparecem assustados com o grito que Nazaré deu. Que foi mulher? Levei o maior susto, mãe! (CATANDO A SANTA) É um sinal! Um sinal! Vamos tentar colar mãe! Não tem jeito filha, não tem jeito. Eu compro outra pra você, Nazaré. Agora vamos voltar dormir... Fernanda saí de cena. Nazaré continua lamentando, chorando pela santa quebrada. Argemiro levanta Nazaré, ficando frente a frente com ela. Tudo vai dar certo, mulher. Tudo! A sombra das dívidas que paira sobre a nossa fazenda vai sumir. Nossa filha vai se casar e será muito feliz, nos dando muitos netos. E nos continuaremos com nossa vidinha simples mais feliz, criando Jaqueline até o dia que ela vai encontrar um homem bom como Mariano para se casar e sair de casa, voltando ser apenas nos dois, como foi no começo. Apenas eu e você! CENA 2. IMAGEM DA TELEVISÃO Assistimos as imagens da Zélia Cardoso anunciando o confisco da poupança e da série de outras medidas tomada pelo governo Fernando Collor. CENA 3. CASA FAZENDA. SALA. INTERIOR. DIA Agrimensor está com o jornal nas mãos, possesso de raiva. Amassa o jornal e o jogo longe. Fernanda e Nazaré estão na mesa, tomando café. Jaqueline brinca no cercadinho, com algumas bonecas. Não pode ser! Não pode ser!

3 Fernanda e Nazaré se assustam com o grito repentino de Agrimensor. O quê foi, pai? (GRITANDO) O governo nos roubou... Roubou nosso dinheiro... É o confisco! Como assim? É, pai! Explica isso melhor... Agrimensor começa a sentir falta de ar, um aperto no peito. Acalme-se pai! Respira fundo. Solta o ar bem devagar! Eu vou buscar um copo d água. Nazaré saí, indo buscar água. O governo passou a mão na minha conta, na sua poupança, na de todos que tinha um quantia superior a 50 mil cruzeiros novos. E nossas contas tinha valores superiores... E a fazenda pai? Agrimensor se levanta. Ninguém vai passar a mão no meu dinheiro não. Ninguém! Agrimensor saí como um raio. Ele esbarra em Nazaré que vem vindo com o copo na mão que caí no chão. Aonde seu pai vai Fernanda? Não sei, mãe! Não podemos deixá-los sair assim, ele está muito alterado. O coração dele pode não agüentar. Tenho medo que seu pai tenha um outro enfarte. Nazaré e Fernanda vão atrás de Argemiro.

4 CENA 4. CASA EMPREGADOR. QUARTO. INTERIOR. DIA Quarto simples, com umas cinco camas, criados ao lado delas e alguns armários. Móveis velhos, mal conservados. Mariano entra no quarto. Cordélio está logo atrás. Para onde cê vai, Mariano? Mariano tira algumas roupas do seu armário e embola tudo, fazendo sua trouxa, jogando-as dentro de uma mochila. Não posso continuar aqui. Você não leu o jornal, não ouviu o povo comentando. Tá todo mundo falando do congelamento das cadernetas de poupança. O que isso tem haver? O dote da Fernanda está depositado no banco. O governo passou a mão no dinheiro dela. Deixando só uma mixaria. Deu tudo errado, Cordélio. Tudo errado! E a Fernanda? O casamento? Que se dane casamento, que vá tudo pro inferno. Estou me lixando pra ela. Nunca gostei da Fernanda de verdade. Só estava com ela, noivando, pra passar a mão no dinheiro que ela ia receber. Por essa cê não esperava em meu amigo?! Não mesmo, Cordélio. Mas não pensa que eu desisti de mudar de vida não. Pode não ter sido dessa vez, mas minha hora vai chegar, minha estrela vai brilhar. (T) Vamo comigo, Cordélio? Essa fazenda já foi pro brejo, logo, logo, seu Argemiro vai mandar todo mundo embora... Cordélio pensa um pouco no que Mariano diz. CENA 5. ESTRADA. EXTERIOR. DIA Mariano e Cordélio estão caminhando pela estrada de terra, toda esburacada. Que bom que você veio comigo, Cordélio! Tomará que eu não arrependa...

5 Um caminhão passa, na direção do caminho que eles estão indo. Mariano e Cordélio fazem sinal pro caminhão, pedindo carona. O caminhoneiro pára, eles jogam suas mochilas na traseira do caminhão e sobem em seguida. CENA 6. BANCO. INTERIOR/EXTERIOR. DIA O gerente do banco, bem vestido, com um terno alinhado, está tentando controlar as pessoas exaltadas, nervosas que querem informações. Homens, mulheres, velhos, todos revoltados com o congelamento das contas e das poupanças. GERENTE Calma gente, eu sei que a situação é delicada, mas vamos tentar atender a todos, explicar, tirar dúvida e tudo mais o que pudermos ajudar... Agrimensor entra, seguido de Nazaré e Fernanda. HOMEM (36 ANOS) Eu quero o meu dinheiro. MULHER (50 ANOS) Passei minha vida inteira juntando esse dinheiro pra comprar minha casinha... Agrimensor entra no meio da confusão. Nazaré e Fernanda ficam na porta, olhando tudo, receosas. Ninguém vai roubar o dinheiro que vai salvar minha fazenda. Como assim? O governo de um dia para a noite resolve pegar o que é nosso, nos roubar assim descaradamente? Temos que fazer alguma coisa. Isso não pode acontecer. HOMEM (25ANOS) Não é justo. Tinha planos de comprar meu primeiro carro... (ASSUSTADA) Meu Deus, que horror! Virou um caos. Do lado de fora da agência vemos uma viatura da policia se aproximando e parando na porta do banco. Dois policiais saem e já vão entrando, tentando colocar ordem na situação que está a um passo de sair do controle. (PUXA ) Vamos embora, Agrimensor. Está muito perigoso continuar aqui! Agrimensor continua firme, sem dar ouvidos para o que Nazaré fala.

6 Todo o dinheiro que vai salvar minha fazenda está aí no banco, onde achei que era seguro. Mas vejo que também não é! Exijo meu dinheiro. Não vou deixar que o ladrão do Collor passe a mão, de a elza... GERENTE Peço calma, pessoal! Vamos manter a calma, que só assim vamos conseguir nos entender e resolver a situação de cada um de vocês. Pessoas choram, se lamentam. De repente dois homens começam quebrar o banco, depredar com os equipamentos. O ataque ganha força com a participação de mais homens e até mulheres, que quebram, jogam pedra. O gerente do banco leva uma pedrada no meio da cabeça de um homem, que saí correndo em seguida. Uma confusão generalizada tem inicio, tanto dentro como fora da agência. Os dois policiais tentam controlar a confusão, junto com o segurança do banco. Atiram pedras, quebram a vidraça do lado de fora, que se espatifa todo. No meio de toda a confusão Agrimensor começa a passar mal. Está enfartando. Nazaré e Fernanda se desesperam, quando Argemiro caí no meio da confusão, já desacordado. CENA 7. HOSPITAL. CORREDOR. INTERIOR. DIA Agrimensor está na maca, empurrada para dentro de uma sala. Fernanda e Nazaré estão seguido, uma dando força para outra. CENA 8. HOSPITAL. EMERGÊNCIA. INTERIOR. DIA O médico tenta ressuscitar Agrimensor, fazendo todos os procedimentos. Enfermeiras dando o suporte. Nazaré e Fernanda vêem tudo. Mas Agrimensor morre. As duas entram na sala, desesperadas, choram pelo morte do marido, do pai. (CHORANDO, DESESPERADA) Acorda caí, não morre... Preciso tanto do senhor... (TENTANDO ACALMAR ) Seu pai morreu, Fernanda. Agrimensor está morto, por culpa desse maldito governo que passou a perna na gente. Que destruí nossa vida!

7 CENA 9. PASSAGEM TEMPO Letreiro: DIAS DEPOIS... CENA 10. CASA FAZENDA. EXTERIOR. DIA Fernanda risca um fósforo. Joga-o no seu vestido de noivo que está num latão, encharcado de gasolina. Ela observa o vestido sendo consumido pelo fogo. Aqui termina um sonho! O Mariano me abandonou, destruiu meu sonho de um casamento feliz... Mas um dia ele me paga. O mundo dá voltas. E em uma dessas voltas, a gente vai se encontrar! Da tristeza de Fernanda, CORTA PARA: FIM DO CAPÍTULO