PROJECTO SOS RIA FORMOSA
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- Thomas Brunelli Carvalhal
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1 PROJECTO SOS RIA FORMOSA SOS RIA FORMOSA/JE SUIS ILHÉU
2 AS FAMIGERADAS DEMOLIÇÕES NA RIA FORMOSA Como o Sr. Ministro sabe, este assunto das demolições não é novo. Sempre se falou de demolições na Ria Formosa. Os mais variados argumentos eram válidos para apelar à destruição destas comunidades, desde a ilegalidade/clandestinidade até aos problemas ambientais como a erosão ou a definição de risco. Têm sido vários os argumentos lavrados por sucessivos governos, para tentar acabar com estas comunidades. Tal como aconteceu na década de 1980, e mais recentemente, nos últimos 3 anos. O anterior governo PSD/CDS-PP, empenhou-se ao máximo nessa mesma destruição, os discursos foram variando e ouvimos argumentos de todos os géneros e feitios. Ora porque as casas tinham sido construidas nos ultimos 10 anos, ora porque tinham sido feitas à revelia das autoridades, ora porque estavam em Domínio Público Marítimo, ora porque isto, ora porque aquilo. Infelizmente para as comunidades dos Ilhotes e da praia de Faro, o ministério acabou mesmo por conseguir iniciar o mega plano de demolições, deixando estas comunidades destroçadas. A verdade, é que as populações que sobraram a esta última investida, organizaram-se, Quer judicialmente, quer através da contestação pública, acabaram por conseguir iniciar uma luta sem precedentes para denunciar e para defender estas comunidades. Estamos a falar em específico das comunidades da Ilha da Culatra (Culatra, Hangares e Farol). Tem sido uma luta sem quartel, uma luta quase corpo a corpo para tentar evitar o pior e é com essa convicção que agora aqui lhe trazemos este modesto plano de intervenções e desenvolvimento de valências para a Ria Formosa. Muitas medidas foram anunciadas recentemente, desde a construção de uma nova etar, até à construção da nova ponte para a Praia de Faro, passando por noticias positivas relacionadas com o núcleo da Culatra. Tudo coisas que defendemos, com as quais concordamos e damos todo o nosso apoio. Mas não podemos ficar indiferentes quanto ao inexistente plano para os restantes núcleos da Ilha da Culatra (Hangares e Farol) É um plano apressado e mais uma vez sem ouvir as partes interessadas, com total ausencia de diálogo. E sem dar qualquer pista para o que poderá vir a seguir, sem falar em nenhum plano de legalização, apenas referindo que de três em três anos talvez se possa demolir mais umas habitações, caso o mar avance mais um pouco. São as ilhas o que importa proteger, a protecção de habitações será apenas uma consequência e não um fim. Ao longo destes anos já nos habituámos a contar apenas com nós próprios, não pretendemos nada do outro mundo, apenas que nos seja permitido um reconhecimento e também uma vivência pacífica com a lei e com o ambiente que sempre nos rodeou e o qual sempre defendemos da melhor maneira possível. É bom circular por aquelas passadeiras, é bom ver que mesmo que sejamos desconsiderados pelo nosso próprio país, haja tantas pessoas que ficam marcadas por aquelas paragens e por aquelas gentes. Essas gentes são os nossos antepassados, somo agora nós e amanhã os nossos descendentes.
3 O QUE PROPOMOS PARA A RIA FORMOSA No seguimento dos factos que aqui apresentámos anteriormente, deixamos agora as nossas propostas em três grandes áreas que consideramos de uma importância crítica e fundamental para a Ria Formosa. AMBIENTE 1. Irradicação completa de descargas poluentes e não tratadas feitas directamente para a Ria Formosa; 2. Remoção imediata dos destroços presentes na Ilha da Barreta (Deserta) e que dizem respeito às famigeradas demoliçãos da década de 1980; 3. Obras de manutenção urgentes no cais de embarque do Núcleo do Farol e no cais T em Olhão; 4. Dragagens urgentes dentro dos canais da Ria Formosa e nas barras; 5. Criação de medidas eficazes de fiscalização e aplicação efectiva de coimas a quem prevarique quanto a questões de poluição da Ria. 6. Criação de um plano integrado de combate à erosão costeira das ilhas barreira da Ria Formosa, Península do Ancão (Ilha de Faro), Ilha da Barreta (Deserta), Ilha da Culatra (Culatra Hangares e Farol), Armona, Fuzeta e Ilha da Tavira. Um plano que passe pelo estudo de novas formas de protecção da costa, como por exemplo a criação de recifes artificiais ao largo da ilhas e/ou outras soluções que comprovadamente possam constituir uma solução de longo prazo, para além dos já conhecidos enchimentos artificiais; 7. Reconstrução do quebra-mar destruído no molhe leste da barra Faro/Olhão na Ilha da Culatra, núcleo do Farol, que permitia uma defesa muito mais eficaz contra as investidas dos temporais nesta zona; 8. Reconstrução da protecção destruída no molhe oeste da barra Faro/Olhão, Ilha da Barreta (Deserta), que permitia uma defesa mais eficaz contra as fortíssimas correntes que se fazem sentir nesta zona; 9. Intervenção urgente para reposição de areia na costa do Núcleo da Culatra na Ilha com o mesmo nome; 10.Criação de um plano para protecção enchimento e consolidação das ilhas nalguns pontos na parte da Ria, dando maior consistência ao possível avanço do nível do mar nessas zonas e impedindo que as ilhas iniciem um processo de submersão irreversível. 11. Lançamento de projectos inovadores na área de energias renováveis ligadas ao mar, como por exemplo o aproveitamento da energia das correntes. Olhar também para a captação providenciada por outras fontes energéticas como a eolica e solar. Esta é uma zona privilegiada nestas três vertentes energéticas e que pode dar um
4 enorme contributo. Porque não defenirmos objectivos como a possibilidade de as ilhas serem energeticamente auto-suficientes, ou até mesmo encaminhar um possível excesso de produção para o continente? 12. Permanente diálogo com as diversas associações que se enquadram na vida da Ria Formosa, com o intuito de promover o debate e desenvolvimento de novas ideias e novos compromissos com o ambiente. Associações de Moradores, Pescadores, Mariscadores, Associações ambientalistas entre outras deverão sempre trabalhar em conjunto para uma Ria cada vez mais Formosa; 13.Desenvolvimento de parcerias com diversas entidades ligadas ao ambiente e em especial com a Universidade do Algarve. Porque não criar um núcleo de investigação por exemplo na Ilha da Culatra? É deste tipo de colaboração que podem surgir novas oportunidades e mais conhecimento. O cruzamento da teoria com a prática será sempre uma mais valia em qualquer área e os ilhéus, pescadores e mariscadores têm muito para contribuir para esse conhecimento. 14.Formação ambiental para Ilhéus, Pescadores, Mariscadores e Operadores Turisticos; NÚCLEOS HISTÓRICOS 1. Imediata paragem de todos e quaisquer planos de demolições; 2. Reconhecimento por parte do estado da importância socio-económica e histórica dos núcleos da Ilha da Culatra (Culatra, Hangares e Farol); 3. Após o reconhecimento destes três núcleos históricos, desenvolvimento de um plano que envolva as associações de moradores e as entidades estatais competentes para a definição de um verdadeiro plano de requalificação dos núcleos. 4. Para que fique bem claro, somos os primeiros a reconhecer que pelos mais variados factores, haverá com certeza que recorrer a algumas demolições. Mas, sem radicalismos e sem comprometer a presença humana nestes locais, apresentando sempre uma solução de realojamento nos mesmo núcleos, caso seja essa a vontade dos moradores, em condições a definir e a negociar conforme as diferentes situações. 5. Demolição e remoção de casas abandonadas, em adiantado estado de degradação, bem como barracões deshabitados; 6. Definição de um plano de limpeza de destroços e de reforço da protecção dos núcleos, após as intervenções que venham a ser definidas, nomeadamente com o reforço de areias junto às possíveis áreas de intervenção; 7. Legalização/concessão dos núcleos habitacionais, conferindo estabilidade às suas populações e aos seus descendentes (*); 8. Definição de um conjunto de regras que regulem a fruição dos espaços e habitações (*);
5 9. Garantia da passagem da fruição para descendentes directos (*); 10.Criação de condições e autorizações para que as habitações possam sofrer manutenções de acordo com todas as regras ambientais existentes; 11. Encetar conversações com a Marinha Portuguesa para a reabilitação, manutenção ou construção de um novo cais no Núcleo dos Hangares; 12. Regularização de carreiras fluviais para o núcleo dos Hangares; 13.Manutenção do património histórico existente no núcleo dos hangares, nomeadamente as infraestruturas de apoio que dizem respeito aos antigos Hangares e ao posto da Guarda Fiscal; 14.Manutenção e requalificação de insfraestruturas existentes no Núcleo do Farol, nomeadamente as casas da junta autónoma dos portos e criação de uma solução de utilização para estas infraestruturas, evitando assim o abandono a que as mesmas estão entregues; 15.Envolver de forma efectiva as Câmaras Municipais na concretização destes planos e porque não, pensar na concessão à semelhança do que acontece na Ilha da Armona; * à semelhança do que está já anunciado para o núcleo da Culatra. ACTIVIDADES PISCATÓRIAS 1. Criação de um diálogo perene com as associações de profissionais que exercem a sua actividade na Ria Formosa, criando condições para responder aos seus anseios e às suas preocupações de uma maneira mais efectiva, responsável e com a maior rapidez possível; 2. Análise da situação dos viveiristas e criação de mecanismos que defendam e protejam os produtores que exercem esta actividade há muitos anos na Ria Formosa; 3. Fiscalização efectiva para evitar a proliferação de espécies ilegais que têm um impacto profundo nas espécies nativas da Ria Formosa; 4. Promover debates sobre as cada vez maiores restrições aplicadas à pesca tradicional, quer geograficamente quer em termos de restrições. 5. Ter em conta uma implementação cuidade e equilibrada de áreas de aquicultura e o seu impacto nas restantes actividades de pesca, protegendo de forma mais efectiva e garantindo a subsistência e desenvolvimento da pesca tradicional; 6. Plano para a preservação efectiva das comunidades de Cavalos Marinhos, espécie em vias de extinção, e que ainda prolifera na Ria Formosa;
6 NOTAS FINAIS Este plano foi elaborado com sentimento, com noção de justiça, com preocupações ambientais, com conhecimento de causa. Foi elaborado com um enorme amor que temos pela Ria Formosa, por estas paragens e pelas nossas gentes. Foi ainda feito, pensando no passado, no presente e especialmente no futuro e no que julgamos ser o melhor para a Ria Formosa. Não nos coloquem perante pessoas e entidades que a única preocupação seja humilhar quem faz parte deste complexo ecossistema que é a Ria Formosa. Isso não aceitamos. Coloquem-nos a falar com pessoas, que como nós, têm uma visão global dos problemas da Ria Formosa e que se preocupam com todas as vertentes e com todos os intervenientes de forma integrada. Alguém que verdadeiramente queira tal como nós o melhor para a Ria. Este é um plano que defende a Ria Formosa, que defende o ambiente e que defende os que dela usufruem. Um plano justo e ambicioso que queremos que seja tido em consideração. Nós também somos a Ria Formosa, sempre a defendemos e sempre a defenderemos contra tudo e contra todos.
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