Conteúdo Programático Aula nº 3 DA SUCESSÃO EM GERAL
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- Edson Azambuja Ximenes
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1 Conteúdo Programático Aula nº 3 DA SUCESSÃO EM GERAL 1. Acepção jurídica de sucessão Juridicamente o termo sucessão indica o fato de uma pessoa inserir-se na titularidade de uma relação jurídica que lhe advém de uma outra pessoal. Realmente, ensina-nos Arthur Vasco Itabaiana de Oliveira que a sucessão é a continuação em outrem de uma relação jurídica que cessou para o respectivo sujeito, constituindo um dos modos, ou títulos, de transmissão ou de aquisição de bens, ou de direitos patrimoniais. A ideia de sucessão gira em torno da permanência de uma relação jurídica, que subsiste apesar da mudança dos respectivos titulares. Na acepção jurídica o vocábulo sucessão apresenta: a) um sentido amplo, aplicando-se a todos os modos derivados de aquisição do domínio, de maneira que indicaria o ato pelo qual alguém sucede a outrem, investindose, no todo ou em parte, nos direitos que lhe pertenciam. Trata-se da sucessão inter vivos, pois o comprador sucede ao vendedor, o donatário ao doador, tomando uns o lugar dos outros em relação ao bem vendido ou doado; b) um sentido restrito, designando a transferência, total ou parcial, de herança, por morte de alguém, a um ou mais herdeiros. É a sucessão mortis causa que, no conceito subjetivo, vem a ser o direito em virtude do qual a herança é devolvida a alguém, ou, por outras palavras, é o direito por força do qual alguém recolhe os bens da herança, e, no conceito objetivo, indica a universalidade dos bens do de cujus que ficaram, com seus encargos e direitos. Neste livro apenas trataremos da sucessão causa mortis como meio de aquisição pelo herdeiro, a título universal ou particular, do patrimônio do de cujus, passando aquele a ocupar a situação jurídica deste último, na relação de direito. 2. Espécies de sucessão Poder-se-á classificar a sucessão: 1º) Quanto à fonte de que deriva, caso em que se tem (CC, art ): a) A sucessão testamentária, oriunda de testamento válido ou de disposição de última vontade. Todavia, ante o sistema da liberdade de testar limitada, adotado pela lei pátria, se o testador tiver herdeiros necessários, ou seja, cônjuge supérstite, descendentes e ascendentes sucessíveis (CC, arts e 1.846), só poderá dispor de metade de seus bens (CC, art ), uma vez que a outra metade constitui a legítima daqueles herdeiros. Assim sendo, o patrimônio do de cujus será dividido em duas partes iguais: a legítima ou reserva legitimária, que cabe aos herdeiros necessários, a menos que sejam deserdados (CC, art ), e a porção disponível, da qual pode livremente dispor, feitas as exceções do art do Código Civil, concernentes à incapacidade testamentária passiva. A porção disponível é fixa, compreendendo a metade dos bens do testador, qualquer que seja o número e a qualidade dos herdeiros 1. É preciso não 1 W. Barros Monteíro, Curso de direito civil, 17. ed., São Paulo, Saraiva, 1981, v. 6, p. 11. Em outras legislações, a porção disponível é variável; o Código Civil português, p. ex., no art , prescreve que a legítima dos filhos é de metade da herança, se existir um só filho, e de dois terços, se existirem dois ou
2 esquecer, ainda, que, se o testador for casado pelo regime da comunhão universal de bens (CC, art ), a metade dos bens pertence ao outro consorte; assim, para calcular a legítima e a porção disponível deve-se considerar tão somente a meação do testador. Donde se infere que, em nosso direito, só haverá absoluta liberdade de testar, isto é, de dispor de todos os bens por testamento para depois da morte, quando o testador não tiver herdeiros necessários, caso em que poderá afastar de sua sucessão, se o desejar, os colaterais (CC, art ). b) A sucessão legítima ou ab intestato, resultante de lei nos casos de ausência, nulidade, anulabilidade ou caducidade de testamento (CC, arts e ). Deveras, se o de cujus não fizer testamento, a sucessão será legítima, passando o patrimônio do falecido às pessoas indicadas pela lei, obedecendo-se à ordem de vocação hereditária (CC, art ). É o que prescreve o art do Código Civil: "Morrendo a pessoa sem testamento, transmite a herança aos herdeiros legítimos e testamentários". Daí afirmarem alguns autores, como Demolombe, que a sucessão ab intestato se apresenta como um testamento tácito ou presumido do de cujus, que não dispôs, expressamente, de seus bens, conformando-se com o fato de que seu patrimônio passe a pertencer àquelas pessoas enumeradas pela lei. E, pelo art do Código Civil, também subsiste a sucessão legítima se o testamento caducar, ou for julgado nulo. O Projeto de Lei n. 276/2007 alterará a redação do art , que passará a ser a seguinte: "Morrendo a pessoa sem testamento, transmite a herança aos herdeiros legítimos; o mesmo ocorrerá quanto aos bens que não forem compreendidos no testamento; e subsiste a sucessão legítima se o testamento caducar, romper-se, ou for inválido". Essa sugestão é de Zeno Veloso, que observa: "Na sua parte final, o art estabelece que subsiste a sucessão legítima se o testamento caducar ou for julgado nulo. Neste ponto, o Código Civil incorre na erronia já verificada no Código Civil de Analisando o art do Código Civil de que equivale à parte final do art , Clóvis Beviláqua expõe que sua redação é censurável por discrepar da técnica jurídica, e por não dar ao pensamento da lei toda a extensão necessária. O pecado técnico, diz Clóvis, está em usar do vocábulo nulo, para significar nulo e anulado; a insuficiência da expressão consiste em reduzir a ineficácia do testamento aos casos da caducidade e nulidade, deixando de mencionar, como se estivessem contidas nessas palavras as ideias de ruptura e anulação (Código Civil comentado, Livraria Francisco Alves, 3ª ed., 1933, v. 6, p. 10). Realmente, o testamento pode ser nulo e anulável, e estas são espécies de invalidade. Mas o testamento pode ser ineficaz porque caducou ou em razão de rompimento. Rompe-se o testamento quando sobrevém descendente sucessível ao testador, que não o tinha ou não o conhecia quando testou, se esse descendente sobreviver ao testador (art ), ou se o testamento foi feito na ignorância de existirem outros herdeiros necessários (art ). Caducidade ocorre quando o testamento, embora válido, perde a sua eficácia em decorrência de um fato posterior, como, por exemplo, se o herdeiro nomeado falecer antes do testador, ou se for incapaz ou for excluído, ou. se renunciar (art ); se a instituição estava subordinada a uma condição e esta não se verificou; se o testador não morrer na viagem, nem nos noventa dias subsequentes ao seu desembarque, onde possa fazer outro testamento, no caso dos testamentos marítimo e aeronáutico (art ), ou se o testador estiver, depois de feito o testamento mais, e, no art , dispõe que se apenas existem ascendentes que não sejam pai e mãe, consistirá a legítima deles na terça parte dos bens da herança.
3 militar, noventa dias seguidos, em lugar onde possa testar na forma ordinária, salvo se o testamento apresentar as solenidades prescritas no parágrafo único do art (art )". O Parecer Vicente Arruda rejeitou tal sugestão ao analisar o PL n /2002 (ora substituído pelo PL n. 276/2007), alegando que: "Segundo o Vocabulário Jurídico de De Plácido e Silva, caducar, em qualquer sentido jurídico em que seja tomado, tem a acepção de: 'ficar sem efeito ou sem valor, não surtir mais efeito, seja porque não se usou o direito que se tinha, seja porque se renunciou a ele, seja porque se deixou de cumprir ato subsequente, que era de regra'. A linguagem utilizada pelo NCC é a mesma do CC/16 que, neste particular, tinha jurisprudência consolidada. Quanto à expressão 'julgar nulo', compreende ela tanto o ato anulável quanto o nulo, pois ambas pressupõem o julgamento. No primeiro caso, ação constitutiva, no segundo, ação declaratória. Por conseguinte não há a ambiguidade apontada no PL". Predomina, na tradição do nosso direito das sucessões, a sucessão legítima, em razão da marcante influência do elemento familiar na formação desse ramo do direito entre nós. A sucessão legítima é a regra, e a testamentária, a exceção. Nosso Código Civil instituiu, a par da sucessão legítima, a testamentária; assim, o elemento familiar, definido pelo parentesco, e o elemento individual, caracterizado pela liberdade de testar, são os dois fulcros em que se baseiam as normas da sucessão. O direito brasileiro admite, ainda, a possibilidade de existência simultânea dessas duas espécies de sucessão, pois, pelo Código Civil, art , 2ª parte, se o testamento não abranger a totalidade dos bens do falecido, a parte de seu patrimônio não mencionada no ato de última vontade é deferida aos herdeiros legítimos, na ordem da vocação hereditária. Os bens mencionados no testamento são transmitidos aos herdeiros testamentários e aos legatários. Igualmente prescreve o Código Civil, no art , que, quando o testador só dispõe de parte de sua metade disponível, entende-se que institui os herdeiros legítimos no remanescente. Se não houver herdeiro legítimo, arrecadar-se-á como herança jacente a fração da quota disponível não distribuída no testamento (CC, art ) 2. Do exposto verifica-se que a sucessão só pode advir de lei ou de testamento, pois nosso direito não admite sucessão contratual, já que, pelo art. 426 do Código Civil, proibidos estão os pactos sucessórios, dado que "não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva". Essa proibição é absoluta, embora alguns autores 3 apontem duas exceções ao art. 426 do Código Civil: 2 W. Barros Monteiro, op. cit., p. 12-3; Silvio Rodrigues, op. cit., p. 26; José Lopes de Oliveira, op. cit., p. 23. O direito brasileiro não seguiu a diretriz do direito romano, que não acatava a possibilidade de coexistência da sucessão legítima com a testamentária (Inst., Liv. 2, Tít. XIV, 52 - Nemo pro parte testatus et pro parte intestatus decedere potest - ninguém pode falecer em parte com testamento e em parte intestado). 3 Clóvis Bevíláqua, Comentários ao Código Civil, v. 4, p A doação estipulada no contrato antenupcial, para depois da morte do doador, aproveitava aos filhos do donatário, ainda que este falecesse antes daquele (CC de 1916, art. 314), não é mais permiti- da, sendo consentânea com o art. 426 do Código Civil vigente, apesar de no art , I, acatar a capacidade sucessória de prole eventual indica da pelo testador. Foi realizada a partilha no processo de separação amigável entre o recorrente e a recorrida. Ficou ajustado que a varoa ficaria com a totalidade do único imóvel do casal e ao varão caberia "direito sucessório" ou "doação" de parte de um terreno de propriedade de seus sogros (ainda vivos à época da partilha), que sequer participaram do acordo. Diante disso, a Turma entendeu tornar nula a partilha, pois é certo que
4 a) contrato antenupcial, em que os nubentes podem dispor a respeito da recíproca e futura sucessão, desde que não excedam a metade dos bens (CC, arts , IV, e 546) e; b) partilha de bens, entre os descendentes, feita pelos pais por ato inter vivos (CC, art ). Só a partilha por ato inter vivos pode ser considerada como exceção à norma do art. 426, por corresponder a uma sucessão antecipada, embora apresente inconvenientes, porquanto apenas pode abranger bens presentes, Os demais casos não podem ser tidos como exceções ao art. 426 porque o Código Civil, no art. 166, VI, declara como nula qualquer cláusula ou convenção que contrarie disposição absoluta de lei. 2º) Quanto aos seus efeitos, hipótese em que a sucessão pode ser: a) A título universal, quando houver transferência da totalidade ou de parte indeterminada da herança, tanto no seu ativo como no passivo, para o herdeiro do de cujus. Haverá instituição de herdeiro, se o testador deixar ao beneficiário a totalidade de seu patrimônio, ou uma porção abstrata de seus bens: meação, porção disponível, 1/3, 1/4, 1/5, etc., todos os móveis ou os imóveis existentes em certo município, etc. O herdeiro é, portanto, chamado a suceder no todo ou numa quota-parte do patrimônio do de cujus, sub-rogando-se, abstratamente, na posição do falecido, como titular da totalidade ou de parte ideal daquele patrimônio no que concerne ao ativo, e assumindo a responsabilidade relativamente ao passivo 4. b) A título singular, quando o testador transfere ao beneficiário apenas objetos certos e determinados, p. ex.: uma joia, um cavalo, uma determinada casa situada na Rua "X" etc. Nessa espécie de sucessão é o legatário que sucede ao de cujus em bens ou direitos determinados ou individuados, ou em fração do patrimônio devidamente individuada, sub-rogando-se, de modo concreto, na titularidade jurídica de determinada relação de direito, sem representar o falecido, pois não responde pelas dívidas e encargos da herança, já que sucede apenas in rem aliquam singularem. Portanto, se o testador contemplar alguém com coisa concreta, definida, singularizada, ter-se-á a nomeação de legatário. Para finalizar, é preciso lembrar que a sucessão legítima será sempre a título universal, transferindo-se aos herdeiros a totalidade ou uma fração ideal do patrimônio do falecido, ao passo que a sucessão testamentária pode ser universal, se o testador instituir herdeiro que lhe sucede no todo ou na quota ideal de seus bens, ou singular, se o testador deixar a um beneficiário uma coisa individuada, caso em que ao legatário se transmite aquele bem determinado. não se pode contratar herança de pessoa viva ou, nesses termos, obrigar quem não é parte no acordo à doação (STJ, 4ª T., REsp SP, ReI. Min. Aldir Passarinho Junior, j ). 4 Silvio Rodrigues, op. cit., p. 27; W. Barros Monteiro, op. cít., p. 19. Como lembram La- cerda de Almeida, op. cit., 6", e Lafayette, Direito de família, 141, é preciso esclarecer que a sucessão universal não transmite todos os direitos, pois alguns não podem ser transferidos, como os de família puros (pátrio poder, tutela, curatela) ou mesmo alguns de cunho patrimonial (direito a alimentos). Vide, sobre o assunto, a lição de Caio M. S. Pereira, op. cít., p. 8.
5 Assim, graficamente, temos: REFERÊNCIAS Diniz, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro; 6. Direito das Sucessões, 24ª edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2010, p
AULA 02. Etimologicamente a palavra sucessão vem da expressão sub cedere, que descreve a situação onde alguém toma o lugar de outrem (substitui).
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