Estudo da Operação de Secagem por Atomização de Pós Cerâmicos em Escala Industrial: Seu Controle e Automatização
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1 Estudo da Operação de Secagem por Atomização de Pós Cerâmicos em Escala Industrial: Seu Controle e Automatização F. Negre, J.C. Jarque, C. Feliu e J.E. Enrique Instituto de Tecnología Cerámica Asociación de Investigación de las Industrias Cerámicas Universitat Jaume I. Castellón. España Resumo: Neste trabalho estudou-se o controle e a automatização da operação de secagem por atomização. Para isso foi necessário selecionar previamente as variáveis de operação apropriadas, assim como os equipamentos de medida adequados. Da análise dos dados obtidos a partir de distintas variáveis, obteve-se uma correlação empírica entre a temperatura do gás de secagem, a vazão da suspensão de sólidos e a umidade do granulado produzido. Esta correlação permitiu o controle automático do equipamento de secagem. Palavras-chaves: secagem, atomização, granulação Introdução Na atualidade, a grande oferta existente no mercado de pisos e azulejos cerâmicos em conjunto com a crescente exigência por parte dos clientes, faz com que a qualidade final dos revestimentos seja convertida em um fator fundamental para que o produto torne-se competitivo. Um dos parâmetros que afeta a qualidade dos revestimentos é a sua estabilidade dimensional. A compactação a cru dos revestimentos cerâmicos tem uma influência marcante sobre a estabilidade dimensional do produto queimado 1. As principais variáveis que incidem sobre a compactação das peças prensadas, podem ser divididas em dois grupos: as variáveis associadas ao pó atomizado e as variáveis relacionadas com a própria operação de prensagem. Dentro do primeiro grupo destacam-se como mais significativas, as matérias primas da composição e as características físico-morfológicas do granulado (tamanho, forma, umidade, fluidez, etc.) 2,3. Dado que as matérias primas são características de cada uma das múltiplas composições utilizadas em níveis industriais, o estudo efetuado foi centrado fundamentalmente sobre as características do pó atomizado. No processo de preparação da composição por via úmida, implantado majoritariamente no setor espanhol de pisos e azulejos cerâmicos, o pó granulado é obtido na etapa de secagem por atomização da suspensão aquosa das matérias primas argilosas 4-6. Uma elevada estabilidade nas características do granulado representa uma maior uniformidade na compactação a cru das peças conformadas, tanto dentro de uma mesma peça (eliminação de problemas de esquadro) como entre peças distintas (evitando o surgimento de calibres). As exigências de qualidade, em relação à estabilidade dimensional, impostas pelos fabricantes a seus produtos, superam amplamente as exigidas pelas atuais normas de qualidade (Normas EN) 7. Assim, para pisos gresificados, considera-se habitualmente como calibre uma diferença dimensional entre peças de ± 0,5 mm. Da análise conjunta das curvas de gresificação e de compactação para uma massa típica, observa-se que esta diferença pode ser ocasionada por uma variação de densidade aparente a cru de aproximadamente ± 0,015 g/cm 3 8. No entanto, o valor deste intervalo de densidades aparentes deve ser obtido em cada caso concreto, de acordo com a composição utilizada. Esta variação na compactação pode ser causada por alterações em algumas das variáveis relacionadas com o pó atomizado, que foram comentadas anteriormente. A situação detectada a nível industrial vem refletida nas Figuras 1 e 2. Observam-se oscilações nos valores de umidade do pó granulado, obtido após a secagem no atomizador, típicas de um processo mal-controlado. Cerâmica Industrial, 5 (2) Março/Abril,
2 Ainda assim, comprovou-se que a distribuição granulométrica do pó mantém-se dentro de margens razoáveis e apropriadas para a realização correta da posterior etapa de prensagem. Deste modo, atribui-se à umidade do pó atomizado toda a responsabilidade pela modificação da compactação das peças cruas. Para ocasionar uma variação de 0,03 g/cm 3 (calibre) é necessária, para um tipo de massa padrão e no intervalo usual de umidades de trabalho, uma alteração na umidade do pó de ± 0,4%. Conseqüentemente, uma modificação de 0,8% na umidade do granulado pode supor por si só, o surgimento de calibres nos revestimentos produzidos. Dada a grande variação observada na umidade do aglomerado produzido e sua marcante incidência sobre o possível surgimento de calibres entre peças queimadas, considerou-se oportuno tomar esta variável como a principal variável de controle. As flutuações na umidade do aglomerado produzido nas instalações de secagem por atomização, podem ser devidas a algumas das seguintes causas: Alteração nas propriedades da suspensão a atomizar e/ou no equipamento de bombeamento; Modificação nas propriedades físicas do ar quente utilizado na operação de secagem; Variação nos parâmetros que regem o funcionamento do equipamento de secagem por atomização. Objetivo do Trabalho Devido às deficiências comentadas no item anterior, referentes à variabilidade na umidade do pó atomizado, considerou-se interessante realizar o presente trabalho com a finalidade de estabelecer correlações empíricas confiáveis entre distintas variáveis de operação e o conteúdo de umidade do pó resultante da atomização. As correlações encontradas serviram para obter um controle mais eficaz das condições de operação do equipamento de secagem e para sua posterior automatização. Para atingir este objetivo, planejou-se desenvolver as seguintes atividades: Seleção das variáveis de processo mais importantes a considerar e do instrumento de medida mais adequado, assim como sua aplicação na planta industrial. Realização dos testes para obter as correlações empíricas entre a umidade do pó atomizado com as seguintes variáveis: Temperatura e umidade dos gases quentes que entram na câmara de secagem. Vazão de alimentação da suspensão aquosa de argilas. Implantação de um sistema de controle automático da operação de secagem por atomização. Instalação Experimental Para a realização dos testes, utilizou-se um atomizador industrial empregado na fabricação de pisos gresificados. O equipamento de secagem possui uma capacidade de evaporação máxima nominal de 4,70 m 3 água evaporada/h. A instalação tem como característica peculiar a utilização de ar quente procedente de uma turbina de cogeração para o ar de secagem. A vazão de ar quente permanecia praticamente constante durante todo o tempo de operação do atomizador. Antes da entrada dos gases na câmara de secagem, estes devem atravessar um queimador de corrente de ar, que tem como finalidade garantir a temperatura desejada dos gases. Materiais e Procedimento Experimental O estudo foi realizado empregando-se como barbotina uma suspensão de argilas vermelhas ilítico-cauliníticas em meio aquoso, moída por via-úmida, utilizada para a fabricação de pisos gresificados. O processamento das matérias primas, até a obtenção da barbotina que alimenta o secador, foi realizado na mesma instalação industrial em que efetuou-se o estudo. A barbotina obtida através da moagem por via úmida foi armazenada em tanques convenientemente agitados, onde controlou-se a densidade e a viscosidade da mesma, de tal forma a permanecerem constantes ao longo de todo o tempo necessário para a execução dos testes. Foram realizadas quatro séries de testes correspondentes a diferentes vazões de barbotina. Para cada vazão ensaiada realizaram-se quatro testes distintos, modificando-se a temperatura dos gases de secagem. No desenvolvimento de cada teste adquiriu-se e armazenou-se os dados das distintas variáveis de operação medidas continuamente e em tempo real, por meio de um equipamento de aquisição de dados. Como precaução importante, procurou-se manter o mais constante possível a distribuição das boquilhas pul- Figura 1. Evolução diária da umidade do pó atomizado. 48 Cerâmica Industrial, 5 (2) Março/Abril, 2000
3 verizadoras de suspensão e o tamanho médio do orifício de saída, durante todo o tempo de execução dos ensaios, para que afetassem minimamente a distribuição granulométrica do pó atomizado obtido. Resultados e Discussão Seleção das Variáveis mais Importantes a Considerar na Instalação Estudada. Aplicação e Precisão dos Instrumentos de Medida As variáveis medidas continuamente ou de forma periódica, são detalhadas a seguir: Variáveis medidas periodicamente A determinação destas variáveis de operação foi realizada de forma intermitente ao longo da realização de cada teste. As variáveis controladas foram: Viscosidade da barbotina (µ). Para sua determinação utilizou-se um viscosímetro rotacional. Densidade da barbotina (ρ). Determinada por meio de uma proveta graduada, previamente tarada, pesandose um dado volume de suspensão. Variáveis medidas continuamente Continuamente, foram medidas as seguintes variáveis de operação: Vazão volumétrica de barbotina alimentada (Q). Selecionou-se para sua medição um medidor de vazão do tipo eletromagnético A escolha foi realizada levando-se em conta o campo de aplicação do equipamento e suas limitações, já que deveria-se medir vazões de fluídos com sólidos em suspensão bastante abrasivos, continuamente e em tempo real. O equipamento foi instalado na condução vertical que transporta a barbotina, uma vez superados os filtros, no interior da câmara de secagem. A precisão do equipamento é de ± 1% da velocidade de circulação da suspensão. Temperaturas de entrada na câmara dos gases de secagem e de saída dos gases úmidos. Para a medida de ambas temperaturas utilizaram-se termopares tipo K, instalados nos pontos das conduções correspondentes, onde o perfil de temperaturas era o mais estável e simétrico possível. A precisão dos termopares depende da faixa de temperaturas a medir: Para um intervalo de temperaturas a medir de 450 a 700 C a precisão do termopar é de ± 0,75 C. Para temperaturas de 90 a 110 C a precisão é de ± 3 C. Vazão mássica dos gases de secagem na entrada do secador (G 1). Para realizar a medida da vazão mássica utilizou-se um tudo de Pitot modificado tipo TORBAR. Este equipamento permite medir a altas temperaturas ( C), proporciona uma leitura contínua a partir da análise de todo perfil de pressões dinâmicas na condução e apresenta facilidades de instalação e manutenção. O equipamento foi instalado na condução vertical de entrada dos gases do secador, em um ponto em que com- Figura 2. Evolução semanal da umidade do pó atomizado. Figura 3. Localização dos instrumentos de medida: 1. Termopar tipo K; A. Equipamento de bombeamento; 2. Tubo TORBAR; B. Câmara de secagem; 3. Termopar tipo K; C. Queimador de vena de ar; 4. Medidor de vazão eletromagnético; D. Ciclones; 5. Dispositivo de infravermelhos; E. Esteira transportadora. Cerâmica Industrial, 5 (2) Março/Abril,
4 provou-se a estabilidade do fluxo de gases. Sua precisão é de ± 1% do volume de gases circulantes. Umidade do pó atomizado produzido (X 4). Para efetuar a seleção do equipamento de medida da umidade do sólido produzido, foi considerada uma série de características: a) medir a umidade de sólidos granulares, b) ser confiável para umidades compreendidas entre 3 e 7%, c) ser resistente ao pó do ambiente e às possíveis condensações de vapor de água, d) ser de fácil manuseio, e) ter nula ou baixa periculosidade, f) proporcionar uma leitura de umidade contínua e em tempo real. Tendo em vista estas considerações optou-se por um dispositivo de medida de umidade de sólidos por infravermelho. Previamente a seleção de equipamentos efetuaramse uma série de comprovações em laboratório, em colaboração com a empresa fabricante do mesmo. Os testes conduziram para a obtenção de um algorítmo e de filtros específicos para a medida da umidade de materiais cerâmicos 11. O equipamento foi instalado na esteira que transporta o pó atomizado desde a saída do secador por atomização até os silos de armazenamento e repouso. Para seu correto funcionamento foi necessário instalar também, um coletor de pó atomizado de forma que fossem tomadas frações representativas do fluxo total de sólidos. Este dispositivo assegura a confiabilidade da tomada de amostras e fornece ao sensor de umidade amostras homogêneas de forma contínua. A precisão do equipamento é de 0,1%. Na Figura 3, mostra-se a instalação na planta de secagem dos diferentes dispositivos de medida instalados. Os sinais elétricos procedentes dos sensores instalados, obtidos após a calibração do equipamento de medida, foram recolhidos em um sistema de aquisição de dados de controle digital, que permitiu realizar uma seqüência contínua e independente para cada uma das variáveis do processo comentadas. Relação entre a Temperatura e a Umidade dos Gases Quentes na Entrada da Câmara de Secagem e a Umidade do Pó Atomizado Produzido Para determinar a relação existente entre a temperatura dos gases de secagem e a umidade do pó atomizado produzido, realizaram-se quatro séries de testes para cada vazão de barbotina. Para cada vazão ensaiada, modificouse a temperatura dos gases na entrada do atomizador, de forma que a umidade do pó atomizado obtido variasse dentro de limites previamente estabelecidos (4 a 7%) (Figura 4). Verificou-se nos primeiros testes, que a umidade dos gases na entrada da câmara de secagem, permanecia invariável. Na Figura 5 representa-se os resultados obtidos para cada uma das vazões de barbotina ensaiada e para cada temperatura média dos gases de entrada, mantendo praticamente constantes as variáveis restantes de operação. Pode-se observar uma relação linear entre a temperatura de entrada dos gases e a umidade média de saída do pó atomizado, na forma X 4 = mt 1 + b. Como do ponto de vista prático, quando a umidade do pó granulado se afasta dos níveis predefinidos, é a temperatura de entrada dos gases de secagem a variável de atuação no controle do processo de atomização, ajustou-se uma equação de regressão múltipla na forma: T 1 = 352,3 + 61,14Q 4909X 4 r 2 = 0,993 Figura 4. Evolução das variáveis de processo medidas para uma vazão de barbotina de 9,5 m 3 /h. Figura 5. Relação entre a temperatura de entrada dos gases e a umidade do pó atomizado produzido, para distintas vazões de alimentação de barbotina. 50 Cerâmica Industrial, 5 (2) Março/Abril, 2000
5 Figura 8. Evolução diária da umidade do pó atomizado após a implementação do controle interativo automático. Figura 6. Relação entre a temperatura de entrada dos gases observada nos distintos ensaios e a prevista pela equação empírica de ajuste. Figura 9. Evolução semanal da umidade do pó atomizado após a implementação do controle interativo automático. Figura 7. Esquema do controle interativo implantado industrialmente. Esta equação permite predizer qual deve ser a temperatura de entrada dos gases de secagem, para obter uma umidade desejada do pó atomizado, a partir de um volume de barbotina pré-fixado. Na Figura 6 representam-se os valores experimentais das temperaturas de entrada do gases quentes frente às temperaturas determinadas pela equação ajustada. Pode-se observar que há uma boa concordância entre ambas temperaturas. Como uma conseqüência, esta correlação constitui o primeiro passo para estabelecer um sistema de controle da operação de secagem por atomização, e possibilita a automatização total desta etapa de secagem no processo de fabricação de revestimentos cerâmicos. Existem diversas alternativas para a implantação de um sistema de controle automático do processo de secagem por atomização. Uma delas é o controle representado na Figura 7, que vem sendo utilizado em escala industrial. Na realização deste controle interativo tem-se considerado as peculiaridades próprias do equipamento de secagem. Após a implantação do controle interativo da umidade do pó atomizado, as flutuações produzidas industrialmente são apresentadas nas Figuras 8 e 9, apreciando-se uma substancial melhora na estabilidade do teor de umidade do pó. Cerâmica Industrial, 5 (2) Março/Abril,
6 Conclusões Do estudo realizado podem ser extraídas as seguintes conclusões: A flutuação nos valores das variáveis de operação, anterior a realização do trabalho, indicava uma grande variação na umidade do pó atomizado produzido, para o processo analisado. Este fato, isoladamente é capaz de originar problemas de estabilidade dimensional em revestimentos cerâmicos, reduzindo-se a qualidade dos mesmos. A temperatura dos gases de secagem na entrada do atomizador e a vazão de barbotina são as variáveis de operação mais adequadas para controlar a umidade do pó granulado obtido na etapa de atomização. Isto se deve à facilidade de medida e principalmente à simplicidade e precisão com que pode-se modificar estas variáveis. Para cada uma das vazões de barbotina ensaiadas, mantendo-se constantes as propriedades físicas da suspensão e as variáveis restantes de operação do equipamento de secagem, encontrou-se correlações empíricas do tipo linear entre a temperatura de entrada dos gases de secagem e a umidade do pó atomizado produzido. A maior homogeneidade obtida na umidade do pó atomizado garante a eliminação dos problemas de estabilidade dimensional associados a esta variável, melhorando a qualidade final dos revestimentos cerâmicos. Nomenclatura G1: Vazão mássica de uma corrente gasosa (Kg/s) P: Pressão dinâmica da corrente gasosa (N/m 2 ) Q: Vazão volumétrica (m 3 /h) r 2 : Coeficiente de determinação T1: Temperatura de entrada dos gases de secagem ( C) T2: Temperatura dos gases na saída do atomizador X4: Umidade do pó atomizado (Kg água/ Kg sólido seco) - P: Depressão da câmara de secagem ρ: Densidade (Kg/m 3 ) µ: Viscosidade (Dp) p: Previsão da equação de ajuste s: Sólido seco w: Água Referências Bibliográficas 1. Amorós, J.L. y otros. Defectos de Fabricación de Pavimentos y Revestimientos Cerámicos Amorós Albaro J.L. Pastas cerámicas para pavimentos por monococción. Influencia de las variables de prensado sobre las propiedades de la pieza en crudo y sobre su comportamiento durante el prensado y la cocción. Tesis doctoral. Valencia, Dufffie J.A., Marshall JR. W.R. Factors Influencing the Properties of Spray-Dried Materials. Chem. Eng. Progress, Sept , Masters K. Spray Drying. 5rd edition McGraw Hill, Oliver R, Sherrington P.J. Granulation Ed. Heuden and Son Limited, Mujumdar A. Advances in drying. Vol.1, McGraw- Hill, Norma UNE Baldosas cerámicas. Determinación de las características dimensionales y el aspecto superficial. Primera modificación Amorós, J.L., Escardino A., Beltrán V., Enrique J.E. Control de la compactación durante el proceso de fabricación de pavimentos y revestimientos cerámicos. Técnica Cerámica n o 118, , Considine D. Process Intruments and Controls Handbook. Third edition, McGraw Hill, Raventos M. Caudalímetros. Automática e Instrumentación, n o 199., Febrero Negre F, Jarque J.C., Mallol G., Saez M. Determinación en continuo y en tiempo real de la humedad de polvo cerámico secado por atomización. Técnica Cerámica n o 200, 34-42, Cerâmica Industrial, 5 (2) Março/Abril, 2000
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