. Intervenções e pequenas cenas: Atuação na militância popular e nas ONGs;

Transcrição

1 O Grupo Teatro de Caretas desde os anos 90 desenvolve atividades relacionadas à criação, pesquisa e apresentação de espetáculos de rua. Sua trajetória percorre as nuances de um contexto sociopolítico e cultural de nosso país. Podemos dividir sua história em 3 (três) etapas, não é uma divisão estanque, até porque uma ainda perpassa a outra, mas são claros os marcos históricos, através das experimentações que conduzem suas as experimentações teatrais. Estas seriam:. Intervenções e pequenas cenas: Atuação na militância popular e nas ONGs;. Espetáculos educativos e políticos: Busca de referências no cotidiano para criações teatrais, através de um olhar político;. Espetáculos pautados em aprofundados processos de pesquisa e criação: Investigação em manifestações tradicionais observando as comunidades tradicionais e seus rituais. O Grupo se consolida numa fase onde em nosso país os movimentos populares retomam o fôlego para atuar. Estes movimentos estão em processo de articulação com diversos setores, inclusive com a arte teatral. Na época o Grupo Teatro de Caretas realiza a criação de diversas 1 / 5

2 intervenções junto aos Movimentos Populares, a partir de fóruns como o das áreas de risco, educação ambiental, saúde popular, contra violência à mulher, contra o abuso sexual de crianças e adolescentes. Construíram inicialmente intervenções, depois textos dramatúrgicos em formato colaborativo, os textos do grupo são, em maior parte, até hoje autorais. Certamente a participação no projeto Teatro de Rua Contra a AIDS (início em 1996), coordenado por Ranulfo Cardoso, vem a ser o estopim para o aprofundamento do grupo nos diversos procedimentos possíveis para a rua. Neste projeto compartilhavam experiências com diversos outros grupos de rua, além de processos formativos e de experimentação que participaram. O Caretas constrói em sua trajetória os espetáculos ACORDA ZULEIKA 1998 (Educação Ambiental), FAMÍLIA RAIMUNDO (sobre o uso da camisinha para pessoas casadas), QUEM É VOCÊ QUE VEM DE LONGE (espetáculo sobre o turismo ambiental), BARATO QUE SAI CARO (sob o uso indevido de drogas) 2002, A CASA DA MÃE JOANA 2002 (violência sexual contra crianças e adolescentes), E AGORA JOSÉ (áreas de risco); ROMPENDO O SILÊNCIO 2005 (violência contra a mulher); NAS GARRAS DO CAPA BODE 2008 (USO DA CAMISINHA e as MULHERES). Vale resaltar que em 2006 diante de seus estudos e aprendizados o grupo decide aprofundar o olhar político de sua criação artística. Decide pesquisar um texto que trate sobre as pequenas corrupções de nosso cotidiano, isso a partir do texto AUTO DA LUSITÂNIA, de Gil Vicente, e dos filmes de Sergio Bianchi, neste momento, decide também requalificar sua forma de trabalho teatral. Começa então a realizar um trabalho de criação coletiva para o espetáculo A Farsa do Pão e Circo. Dando foco a pesquisa de linguagem cênica baseada na construção da performance do ator de rua e em processos de criação em grupo. Esta peça reorienta sua pesquisa teatral e é impulsionada por uma série de cenas improvisadas na rua, tendo como base o entremeio TODO MUNDO E NINGUÉM, o texto é do século XVI, mas ainda via-se como atual por seu olhar crítico diante do homem e das desigualdades entre as classes sociais. Para este processo de criação foram realizadas diversas leituras em grupo, com o intuito consolidar uma pesquisa teórica, em especial foram lidos AUGUSTO BOAL e EUGENIO BARBA, e na área social deu-se uma maior atenção à antropologia urbana, sobre as formas de apropriação e uso do espaço urbano. A compreensão do homem em sociedade trouxe 2 / 5

3 subsídios para as construções cênicas que conduziram o grupo a reflexões significativas sobre as situações de opressão, violência e apatia dos quais homens e mulheres são induzidos nesta sociedade capitalista e excludente que vivemos. O Grupo afirma que sua opção pela rua é política e estética. O Grupo Teatro de Caretas busca com o espetáculo A FARSA DO PÃO E CIRCO ir ao encontro de espectadores (transeuntes, camelôs, trabalhadores, estudantes,...) com o intuito de aflorar um pensamento crítico, transformando o olhar sobre o papel social de cada cidadão, tendo como canal um espetáculo que promova a crítica, ao mesmo passo, que traz a reflexão sobre nossas ações em sociedade. Desnudando ao público a cena teatral. As criações de cena, tradicionalmente reservadas aos atores e diretor foram realizadas em espaços abertos. Diante deste formato de criação, resultou-se num espetáculo para se ter a plateia como participante direta da cena. Neste processo o grupo assumiu um novo procedimento: o da reconstrução da atuação para cena de rua, onde o ator dialogava com a plateia desde o momento da criação, ou adaptação de um texto até a consolidação final do espetáculo. Sendo então todo construído a partir de improvisações na rua, o texto foi criado dia-a-dia, tendo o acompanhamento do dramaturgista Henrique Didimo. O trabalho foi todo realizado na praça que o grupo ocupava na época, sua sede pública durante muito tempo, praça da Gentilândia, em Fortaleza. Em 2010 deu-se início a um conjunto de procedimentos para a consolidação do Projeto RISO BRINCANTE DO NORDESTE uma investigação sobre as máscaras tradicionais populares e a performance do ator de rua. Através de diversas viagens pelo nordeste a pesquisa teve como trajetória o encontro com o reisado de Ipueira da Vaca - cidade de Canindé/Ceará, a festa dos Karetas - cidade de Jardim/Ceará, o Cavalo Marinho Estrela de Ouro - cidade de Condado/Pernambuco e nos Boi-Bumbá - Cidade Viana/Baixada Maranhense Maranhão. O processo compreendeu o encontro do Grupo Teatro de Caretas com os grupos tradicionais em suas localidades. Em cada encontro tivemos a interação estética do grupo à manifestação, através de entrevistas, da participação no momento da brincadeira e em oficinas de máscaras com mestres ou pessoas de referência das manifestações. A ação teatral foi composta por pesquisas in loco, apresentações de intervenções nas ruas, demonstrações técnicas, trocas de saberes entre o Grupo Teatro de Caretas, os mestres e artistas populares, foram criados dois espetáculos teatrais: Uma Casa Solta no Ar e o Cortejo de Caretas. Este projeto representou o aprofundamento da linha de pesquisa do grupo. Acreditando que a tradição popular fortifica e amplia as referências para o desenvolvimento de um fazer cênico contemporâneo e de uma linguagem teatral brasileira. 3 / 5

4 A fundamentação principal para este trabalho está pautado no pensamento de Oswald Barroso onde indica que as máscaras acompanham os seres humanos desde suas mais remotas origens. Nos rituais das religiões populares como faces visíveis dos deuses, portais de abertura para o sagrado, filtros para a incorporação do divino, manifestações do invisível, umbrais de transcendência, enfim, como objetos possibilitadores da comunicação entre seres humanos e deuses. Nos rituais festivos dos povos, as máscaras são ainda móveis de encantamento, veículos de incorporação de arquétipos e figuras (tipos humanos, bichos e entidades fantásticas). Para o grupo toda essa vivência trouxe um arsenal de imagens, ideias e possibilidades que ainda reverbera em nós, com amplas possibilidades de investigação. O Grupo Teatro de Caretas é um dos grupos do Estado do Ceará que fortalece a linguagem de teatro de rua estando junto a outros grupos na articulação para a defesa de uma arte pública de rua. Participamos de forma contínua e ativa da REDE BRASILEIRA DE TEATRO DE RUA, acompanhando os diversos encontros de articulação política que acontecem virtualmente e de forma presencial, já tendo estado em Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraíba; no CONGRESSO BRASILEIRO DE TEATRO , em Osasco (SP), no 1º encontro de Reflexão dos Fazedores de Teatro de Rua (João Pessoa PB). O projeto artístico e social do grupo foi contemplados em diversos prêmios, dos quais podemos citar: O Prêmio de Sustentabilidade ao Grupo Teatro de Caretas através do Projeto Teatro de Rua contra a AIDS, o prêmio foi concedido pelo Instituto de Saúde e Desenvolvimento Social no Ceará (2004); Prêmio Ângela Borba concedido pelo Fundo Ângela Borba Para Mulheres (RJ) pelo espetáculo Rompendo O Silêncio (2005); Contemplado no Edital Artes da Fundação de Cultura, Esporte e Turismo de Fortaleza e o Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz com o espetáculo A Farsa Do Pão E Circo (2007); Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz pelo espetáculo Cortejo De Caretas (2009); Prêmio Artes de Rua com o espetáculo A Farsa Do Pão E Circo (2009). No Ceará, o Teatro de Caretas registra a sua presença no Festival Nordestino de Teatro de Guaramiranga; Mostra Cariri Das Artes nas cidades de Juazeiro do Norte e Crato; Centro Cultural Banco do Nordeste; Festival Popular de Fortaleza Cia Prisma de Artes; Festival Brasileiro de Teatro; Acampamento da Juventude na Mostra de teatro de rua em Icapui; Festival dos Inhamuns de Bonecos, Circo e Artes de Rua nas cidades; Crateús, Aiuaba, Arneiroz em diversas temporadas no Centro Cultural Dragão do Mar e no Centro Cultural Banco do Nordeste; no Festival Nacional de Teatro de Rua de Maracanaú e na 3ª Mostra de Teatro de Rua de Jaguaribe. 4 / 5

5 Tendo ainda estado presente no XIII Encontro Nacional de Teatro de Rua de Angra dos Reis; ; Semana da Brasilidade Ministério da Cultura (RJ); Mostra Lino Rojas ( SP) e nas cidades de Condado (PE) na Sede do Cavalo Marinho - Estrela de Ouro; em Natal (RN) apresentando-se no Memorial Câmara Cascudo; em Recife (PE) nas Praça da Igreja de São Pedro e na Guabiraba Estação dos Macacos e, ainda, em Maceió na Praça Marechal Deodoro em Alagoas. Veja abaixo, vídeos do Grupo Teatro de Caretas. 5 / 5