Manejos da Sucessão Aveia Branca /Milho em Sistema de Integração Lavoura Pecuária nas Características Físicas de um Latossolo Vermelho Muito Argiloso

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1 Manejos da Sucessão Aveia Branca /Milho em Sistema de Integração Lavoura Pecuária nas Características Físicas de um Latossolo Vermelho Muito Argiloso Marcos V. M. Sarto 1, Rafael de L. Lázaro 1, Cristiane C. Meinerz 2, Sidnei F. Müller 2, Deise D. Castagnara 2, Tiago Zoz 1 e Paulo S.R. de Oliveira 3 1 Acadêmicos do Curso de Agronomia da Unioeste. marcos sarto@hotmail.com 2 Alunos da Pós Graduação em Agronomia da Unioeste. deisecastagnara@yahoo.com.br 3 Docentes do Centro de Ciências Agrárias da Unioeste. paulorabelo@unioeste.br PALAVRAS CHAVE: aveia, densidade, pastejo, porosidade. INTRODUÇÃO O solo é um o principal suporte da produção agrícola, sendo seu comportamento regido por um complexo conjunto de fatores físicos, químicos e biológicos, os quais estão submetidos à ação do clima, que interagem e tendem ao equilíbrio (RICHART et al., 2005). Os atributos do solo são utilizados para o monitoramento da sua qualidade, sendo importantes para a avaliação da sustentabilidade dos sistemas agrícolas, enquanto sua qualidade é definida como a sua capacidade de manter uma produtividade sustentável (DORAN & PARKIN, 1997). KARLEN & STOTT (1994) destacaram atributos para avaliar a qualidade do solo como os atributos físicos densidade, macroporosidade, microporosidade e porosidade total. A porosidade e densidade do solo apresentaram bom desempenho como indicadores da qualidade, pois distinguem os efeitos dos sistemas de manejo adotados (BEUTLER et al., 2001). Recentemente, tem se observado crescente interesse pela integração entre a agricultura e a pecuária no que diz respeito a técnicas de cultivos que possam ser aplicadas na renovação de pastagens degradadas. Dentre as técnicas pesquisadas, destaca-se a utilização de culturas cultivadas em sistemas de sucessão, rotação ou em consórcios com espécies forrageiras (KICHEL et al., 1998; KLUTHCOUSKI et al., 2003). As forrageiras utilizadas na integração lavoura pecuária permitem a deposição de matéria orgânica na superfície do solo através da deposição de palhada e a sua incorporação no solo através do sistema radicular. As plantas forrageiras atuam na melhoria estrutural do solo, através da alta densidade e periódica renovação radicular que estimulam a atividade microbiana levando à formação e à estabilização dos agregados do solo, alterando suas propriedades físicas (SILVA, & MIELNICZUK, 1997), porém, muitos produtores relutam em adotar o sistema de integração lavoura pecuária (FLORES et al., 2007) pelo receio de que a presença do fator animal possa resultar em compactação do solo. Nesse contexto o presente estudo teve como objetivo avaliar algumas propriedades físicas de um Latossolo Vermelho eutroférrico sob Sistema de Integração Lavoura-Pecuária na região Oeste do Paraná com diferentes intensidades de manejo da forrageira de inverno. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi implantado 30 de maio de 2009, numa área experimental da Universidade Estadual do Oeste Paraná Campus de Marechal Cândido Rondon PR, cujo solo foi classificado como Latossolo Vermelho Eutroférrico de textura argilosa (EMBRAPA, 2006). O município de Marechal Cândido Rondon está localizado na região Oeste do Paraná, sob latitude 24º 33' 22'' S e longitude 54º 03' 24'' W, com altitude de 400 m. O clima local, classificado segundo Koppen, é do tipo Cfa, subtropical com chuvas bem distribuídas durante

2 o ano e verões quentes. O delineamento estatístico utilizado foi o em blocos casualizados, arranjados em faixas, com esquema fatorial 5x2, sendo cinco formas de manejo da pastagem de aveia: 1) Pastejo 15 cm: pastejo com altura do resíduo de 15 cm, 2) Pastejo 20 cm: pastejo com altura do resíduo de 20 cm, 3) Corte 15 cm: corte para a produção de feno em altura de 15 cm; 4) Corte 20 cm: corte para a produção de feno em altura de 20 cm e 5) Sem Corte: sem a realização de pastejos ou cortes; e duas profundidades de avaliações: 0-10 cm e cm e três repetições, totalizando 36 unidades experimentais. A semeadura da aveia foi realizada utilizando-se semeadora de precisão acoplada ao trator, com uma densidade de sementes de 80 kg ha -1 distribuídas em linhas espaçadas de 0,125 m, sem a utilização de adubação de base. Aos 50 dias após a semeadura (DAS) foi realizada a aplicação das formas de manejo, sendo que para o pastejo foram bovinos com peso vivo aproximado de 450 kg, que distribuídos nos piquetes realizaram pastejo durante até a obtenção das alturas de resíduo desejadas, e para o corte, foi utilizada uma ceifadeira mecânica acoplada ao trator regulada para as alturas de corte desejadas. Após o corte ou pastejo foi realizada adubação nitrogenada de cobertura com 40 kg ha -1 de Nitrogênio (N). A implantação da cultura do milho foi realizada em 29 de outubro de 2009, utilizandose o híbrido triplo CD 384, com espaçamento entre linhas de 0,70 m, e densidade populacional de 4,2 sementes por metro linear, objetivando-se uma densidade de plantas ha -1. Como adubação de base foi utilizado 400 kg ha -1 do formulado O manejo de plantas daninhas da área experimental foi realizada em 30 de outubro de 2009 utilizando-se o herbicida glifosato (1.800 g ha -1 do i.a.), com volume de calda de 250 L ha -1. A coleta das amostras de solo para a determinação das características físicas foi realizada após a colheita da cultura do milho em fevereiro de Foram coletadas duas amostras indeformadas de solo por parcela, na profundidade de 0,05 0,10 com auxílio de anéis de aço com volume conhecido. Posteriormente, em laboratório, foram determinadas a densidade do solo (Ds), pelo método do anel volumétrico, a porosidade total (Pt), pela percentagem de saturação por água do solo, e a microporosidade (Mi) e macroporosidade do solo (Ma), determinadas pela mesa de tensão (EMBRAPA, 1997). Os resultados obtidos foram analisados estatisticamente com auxílio do programa SISVAR, versão 4.2 (FERREIRA, 2008). As médias foram comparadas pelo teste Tukey ao nível de 5% de probabilidade. RESULTADOS E DISCUSSÃO Quanto às densidades do solo, houve efeito significativo apenas do manejo da forrageira (P<0,01), de forma que o manejo com pastejo a 15 cm proporcionou densidade superior ao manejo sem corte, porém, ambos não diferiram das demais formas de manejo (Tabela 02). Essa diferença pode estar associada à presença dos animais e a altura do resíduo de pós pastejo, pois segundo BRAIDA et al. (2004), o grau de compactação é fortemente influenciado pela forma de pastejo e quantidade de resíduo sobre o solo. Resultados semelhantes foram obtidos por Lanzanova et al. (2007), que avaliando a densidade do solo em ILP sob sistema de plantio direto com três tipos de pastagem de inverno sob diferentes freqüências de pastejo, encontraram valores semelhantes para a densidade restringindo-se a valores maiores na camada de 0-5 cm. Para a macroporosidade houve efeito significativo apenas dos manejos adotados (P<0,01) sem significância para as profundidades e para a interação dos fatores (P>0,05), de forma que o manejo da aveia sem cortes proporcionou macroporosidade superior em relação aos manejos com pastejo (Tabela 01). LUDWIG et al. (2009) ao avaliar sistemas forrageiros e

3 seu incremento nos valores de carbono orgânico total e atributos físicos do solo, encontraram valores de macroporosidade variando de 0,04 a 0,07 dm 3 dm -3. LANZANOVA et al. (2007) encontraram redução na porosidade total em sistema de ILP comparando intervalos de pastejo maiores com menores. A macroporosidade em todos os sistemas de manejo e nas duas profundidades avaliadas manteve-se abaixo do limite critico de 0,10 dm 3 dm -3 para o suprimento de ar para o desenvolvimento das culturas (REYNOLDS et al., 2002). Esse resultado pode ser devido às altas densidades encontradas nesse solo, e pode proporcionar à área de cultivo prejuízos à entrada de água no solo aumentando o risco de déficit hídrico e problemas de erosão. Quanto a microporosidade houve efeito significativo apenas das profundidades (P<0,01), sem efeito significativo das formas de manejo da forrageira e da interação dos fatores (P>0,05), e a maior microporosidade foi obtida com a densidade de 0-10 cm (Tabela 02). Esse resultado pode estar associado com os resíduos culturais presentes no solo, pois mesmo onde os pastejos foram mais intensos ainda restou uma quantidade considerável de material para cobertura. Segundo SILVA & KAY (1997), a microporosidade do solo e fortemente influenciada pela textura e teor de carbono orgânico, e pouco influenciada pelo aumento da densidade do solo. Tabela 01. Propriedades físicas de um Latossolo Vermelho eutroférrico sob diferentes formas de manejo da cobertura de inverno na profundidade de 0,00-0,20 m Manejos da forrageira Ds Ma Mi Pt de inverno -----Mg m dm 3 dm Pastejo a 15 cm 1,39a 0,02c 0,46a 0,48b Pastejo a 20 cm 1,37ab 0,03bc 0,46a 0,49ab Corte a 15 cm 1,37ab 0,04abc 0,46a 0,50ab Corte a 20 cm 1,37ab 0,04ab 0,46a 0,50a Sem corte 1,33b 0,05a 0,46a 0,51a Média 1,37 0,03 0,46 0,50 CV (%) 2,02 23,32 12,17 2,08 * Médias seguidas de letras diferentes na coluna diferem estatisticamente entre si pelo teste Tukey ao nível de 5% de probabilidade; Ds: densidade do solo, Ma: macroporosidade, Mi: microporosidade, Pt: porosidade total. Tabela 02. Propriedades físicas de um Latossolo Vermelho eutroférrico sob diferentes formas de manejo da cobertura de inverno Profundidades Ds Ma Mi Pt cm Mg m dm 3 dm ,36a 0,04a 0,47a 0,51a ,37a 0,04a 0,45b 0,49b Média 1,37 0,04 0,46 0,50 CV (%) 2,02 23,32 2,17 2,08 * Médias seguidas de letras diferentes na coluna diferem estatisticamente entre si pelo teste Tukey ao nível de 5% de probabilidade; Ds: densidade do solo, Ma: macroporosidade, Mi: microporosidade, Pt: porosidade total.

4 A porosidade total foi influenciada pelas formas de manejo da forrageira de inverno e pelas profundidades (P<0,01), sem efeitos para a interação. O manejo da aveia sem cortes ou com corte a 20 cm proporcionou porosidade superior ao manejo com pastejo a 15 cm, porém sem diferir estatisticamente do pastejo a 20 cm e do corte a 15 cm. Esse resultado revela a importância da presença de uma quantidade residual de material vegetal para a cobertura do solo e para a reposição da matéria orgânica e a manutenção dos estoques de carbono. A compreensão e a quantificação do impacto do uso e manejo do solo na sua qualidade física são fundamentais no desenvolvimento de sistemas agrícolas sustentáveis (MATIAS et al. 2006). Segundo COSTA et al. (2009), em áreas de plantio direto manejado sob o sistema de integração lavoura pecuária sem critérios técnicos para o manejo da pastagem os efeitos da compactação interferem na produtividade, porém dependendo do manejo adotado a presença dos animais não traz prejuízos para o solo, como confirmou o estudo de SPERA et al. (2004), no qual os autores não encontraram evidências de que o pisoteio animal tenha interferido negativamente nos atributos físicos do solo e na produtividade das culturas. CONCLUSÕES A utilização intensa das forrageiras de inverno para o pastejo animal elevou a densidade do solo e reduziu a macroporosidade e a porosidade total. Em áreas de Latossolo Vermelho eutroférrico, quando cultivadas com a cultura da aveia e utilizadas para pastejo animal devem-se respeitar alturas de resíduo pós pastejo iguais ou acima de 20 cm. REFERÊNCIAS BEUTLER, A.N. et al. Resistência à penetração e permeabilidade de Latossolo Vermelho distrófico típico sob sistemas de manejo na região dos cerrados. Revista Brasileira de Ciência do Solo, n. 25, v. 1, p , BRAIDA, J.A.; et al. Relações entre a quantidade de palha existente sobre o solo e a densidade máxima obtida no ensaio Proctor. In: REUNIÃO BRASILEIRA DE MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA, 15., Santa Maria, Anais... Santa Maria, Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, CD-ROM COSTA, B.M. et al. Estimativa da produção de forragem em pastagem de Brachiaria decumbens. Archivos de Zootecnia, v. 58, n. 211, p , DORAN, J.W. & PARKIN, T.B. Defining and assessing soil quality. In Defining soil quality for a sustainable environment. Soil Science Society of America, 1994, 244 p. EMBRAPA. Centro Nacional e Pesquisa em Solos. Sistema Brasileiro de Classificação de Solos. Brasilia: Embrapa-SPI; Rio de Janeiro: Embrapa-Solos, p. EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisas de Solos. Ministério da Agricultura e do Abastecimento. Manual de métodos de análises de solo. 2. ed. Rio de Janeiro: Embrapa CNPS, 1997, 212 p. FERREIRA, D. F. SISVAR: um programa para análises e ensino de estatística. Revista Symposium, v. 6, p , 2008.

5 FLORES, J. P. C. et al. Atributos físicos do solo e rendimento de soja em sistema plantio direto em integração lavoura-pecuária com diferentes pressões de pastejo. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v. 31, p , KARLEN, D.L.; STOTT, D.E. A framework for evaluating physical and chemical indicators of soil quality.in Defining soil quality for a sustainable environment.soil Science Society of America,1994,244 p. KICHEL, A. N., et al. Uso da cultura do milho para recuperação de pastagens degradadas de Brachiaria decumbens. In REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 35. Botucatu, SP Anais... Sociedade Brasileira de Zootecnia, Botucatu, SP. 256 p. KLUTHCOUSKI, J. et al. Integração Lavoura-Pecuária. Santo Antonio de Goiás, Embrapa Arroz e Feijão, p. LANZANOVA, M. E. et al. Atributos físicos do solo em sistema de integração lavourapecuária sob plantio direto. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v. 31, p , LUDWIG, R.L. et al. Carbono orgânico e atributos físicos de um Argissolo Vermelho submetido a diferentes sistemas forrageiros. Synergismus scyentifica UTFPR, n. 04, v.1, MATIAS, S.S.R. et al. Atributos físicos de um Latossolo Vermelho submetido a diferentes usos. Revista Ciência Agronômica, v. 40, n. 3, p , REYNOLDS, W.D. et al. Indicators of good soil physical quality: density and storage parameters. Geoderma, n.110, p , SILVA, A.P.; KAY, B.D. Estimating the least limiting water range of soils from properties and management. Soil Science Society American Journal, n. 61, p , SILVA, I.F.; MIELNICZUK, J. Sistemas de cultivo e características do solo afetando a estabilidade de agregados. Revista Brasileira de Ciência do Solo, n. 22, p , SPERA, S.T. et al. Avaliações de alguns atributos físicos de solo em sistemas de produção de grãos, envolvendo pastagens sob plantio direto. Revista Científica Rural, v.9, n.1, p.23-31, 2004.