Significação dos processos de comunicação e interação: conceitos dialógicos de idosos residentes em uma instituição de longa permanência
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- Sílvia Barroso Fortunato
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1 Significação dos processos de comunicação e interação: conceitos dialógicos de idosos residentes em uma instituição de longa permanência Jaqueline Colombo Ely; PPGEH/UPF; jcolomboely@yahoo.com.br Josemara de Paula Rocha; FEFF/UPF; 79604@upf.br Adriano Daniel Pasqualotti; FAC/UPF; adpasqualotti@yahoo.com.br Eugênio Giaretta; FAC/UPF; 75891@upf.br Felipe Keller; FAC/UPF; 85749@upf.br Lia Mara Wibelinger; FEFF/UPF; liafisio@upf.br Adriano Pasqualotti; PPGEH/UPF; pasqualotti@upf.br Resumo: Esta pesquisa teve como objetivo geral apresentar diálogos entre as concepções de processos de comunicação e interação no envelhecimento. Dentre os objetivos específicos, identificamos as representações simbólicas em relação às tecnologias e processos comunicativos, analisamos os sentimentos e significados das experiências vividas com a utilização desses dispositivos e correlacionamos os dados obtidos no GDS-15 e MMSE com as falas dos idosos. Fizeram parte do estudo os idosos com idade igual ou superior a 60 anos e que não se enquadravam nos critérios de exclusão da amostra, residentes em uma Instituição de Longa Permanência de um município do Rio Grande do Sul. O delineamento deste estudo é do tipo qualitativoquantitativo. Os dados quantitativos foram descritos por meio da estatística descritiva. Já os de cunho qualitativo foram analisados por meio do método de análise de conteúdo proposto por Bardin (2004). Com relação aos resultados, constatou-se a dificuldade dos idosos em conceituarem ferramentas tecnológicas mais modernas, bem como a frustração por não conhecerem certas delas. Apesar disso, os idosos estudados perceberam as tecnologias como sendo ferramentas importantes e extremamente úteis para o processo de interação entra as pessoas. Além disso, verificou-se uma correlação subjetiva entre os dados quantitativos e qualitativos. Palavras-chave: Idosos. Instituição de Longa Permanência. Relações Interpessoais. Comunicação. Interação. Meaning of the communication and interaction processes: dialogic concepts of old adults living in a long-term care institution Abstract: This research has as general aim present dialogs between conceptions of communication and interaction processes in aging. Among the specific objectives, we identified the symbolic representations about technology and communicative processes, analyzed the feelings and meanings of experiences livied using these devices and correlated quantitative and qualitative datas. In this study participated old adults wider or equal than 60 years old and they were not in exclusion criterion s sample, living in a long-permanence institution situated in the district of Rio Grande do Sul. This research was classified like qualitative-quantitative and descriptive. The quantitative data were described using descriptive statistics. The qualitative data using the method of content analysis by Bardin (2004). Through the results, confirmed the old adults difficulty in define more modern technology tools, also the disappointment for don t understanding some of them. Nevertheless, the old adults perceive the technologies like a useful and important device. Furthermore, were found a correlate between quantitative and qualitative datas.
2 Keywords: Old Adults. Long-Term Care Institution. Interpersonal Relations. Communication. Interaction. Introdução Nos dias atuais, os idosos são expostos a um grande volume de informações por meio das novas tecnologias de comunicação. Para Papaléo (2005), os idosos para se inserirem na nova sociedade, permeada pelos avanços tecnológicos, precisarão construir valores diferenciados. Se os jovens, por sua vez, não tiverem um culto excessivo à valorização da juventude, desenvolverão o processo de envelhecimento com melhor qualidade. Além disso, estudos sobre envelhecimento revelam que a convivência em grupos e a exposição aos processos de aprendizagens para as pessoas idosas possibilitam a descoberta de novas capacidades. Para Ramos (2002), as limitações comuns da idade avançada afetam a capacidade de manutenção das relações sociais, prejudicando diretamente as relações de saúde. No mundo ocidental a juventude é supervalorizada, pois é valorizada a produtividade e a habilidade para retribuir. Há um balanço entre a ajuda dada e recebida, o idoso não deseja tornar-se uma carga para seus familiares. Por sua vez, Alves e Lopes (2008), descrevem que o idoso teme perder o respeito social, não poder mais participar ativamente no trabalho, e se tornar um impedimento no trabalho produtivo. Já para Ferreira, Vechiato e Vidotti (2008), a construção de um ambiente colaborativo local subsidia a disseminação da informação e propicia aos idosos a acessibilidade à informação, ultrapassando culturas locais, permitindo uma inteligência coletiva mais efetiva e favorecendo a inclusão à sociedade da informação. Para Berlo (2003), a meta principal da comunicação é a persuasão, isto é, conduzir as outras pessoas ao ponto de vista de quem fala. O autor descreve, ainda, que cada sujeito se comunica de uma forma que possibilita se diferenciar de outro sujeito pela descoberta gerada pela análise das mensagens produzidas pelo primeiro. O autor define, ainda, que A organização social limita a faixa de receptores de determinado indivíduo, limita o número de pessoas com quem ele troca mensagens. O sistema também determina, em parte, que espécies de conteúdo de mensagens serão transmitidas a quem e por quem. Nós transmitimos o conteúdo conveniente a nossos próprios papéis a menos que estejamos insatisfeitos com tais papéis e dispostos a mudar-nos para nova posição (p. 155). Já para Turkle (1995, p. 68), as pessoas servem-se do contato com os objetos e ideias para se manterem a par dos seus tempos. Usam os objetos para lidarem com poderosas imagens culturais, como auxiliares para disporem essas imagens em novos padrões de mais fácil interpretação. Materiais e Métodos Trata-se de uma pesquisa do tipo quali-quantitativa e de natureza descritiva. A pesquisa foi realizada em uma Instituição de Longa Permanência para Idosos (ILPI) de um município do Rio Grande do Sul (Brasil, 2005). Fizeram parte da pesquisa idosos residentes na ILPI, com idade igual ou superior a 60 anos. Excluíram-se do estudo os idosos permanentemente acamados, idosos que não se comunicavam através da língua portuguesa e aqueles que não aceitaram participar do estudo. Para a definição de pessoa idosa, utilizamos a lei 8.842, de 4 de janeiro de 1994, que dispõe sobre a Política
3 Nacional do Idoso, que considera idoso a pessoa com 60 anos ou mais no Brasil (Brasil, 1994). Após autorização da realização da pesquisa junto ao Setor Administrativo da Instituição, a pesquisadora e os colaboradores receberam do administrador a lista dos internos da instituição. Dos 44 idosos residentes na ILPI, foram escolhidos cinco idosos de forma não-aleatória e por conveniência. Adotou-se um critério empírico para escolher que pessoas seriam selecionadas para a pesquisa. Foram selecionados somente idosos que demonstravam ter um nível de socialização conveniente para o desenvolvimento de atividades em grupo, pois evidenciavam melhores condições biopsicológicas. Inicialmente, foram coletados dados sócio-demográficos dos idosos selecionados através das informações contidas nos prontuários dos idosos. Em seguida aplicou-se a Geriatric Depression Scale (GDS-15) para o rastreamento de sintomas depressivos. A GDS-15 desenvolvida por Yesavage et al. (1982) e adaptada para a população brasileira por Almeida e Almeida (1999a, 1999b). A escala consiste de 15 categorias (indagações) a respeito do que o idoso tem sentido na última semana, incluindo o dia da entrevista. As alternativas identificam situações de desamparo, inutilidade, desinteresse, aborrecimento, felicidade, entre outros. Quando o somatório for maior ou igual a cinco indica suspeição de depressão. O idoso que obteve um escore de cinco pontos ou mais tem diagnóstico afirmativo de depressão; já aquele que obtiver um escore de até quatro pontos terá diagnóstico negativo de depressão. Após, avaliou-se o estado cognitivo dos idosos. Para avaliar a presença de déficit cognitivo aplicou-se o Mini Mental State Examination (MMSE), instrumento adaptado por Folstein, Folstein e McHugh (1975). Para definir se um sujeito da amostra apresentava déficit cognitivo, foram levados em conta a escolaridade, faixa etária e escore obtido no MMSE: i) menos de quatro anos de ensino escolar: 1) entre 60 e 69 anos e escore de até 22 pontos; 2) entre 70 e 79 anos e escore de até 20 pontos; 3) mais de 79 anos e escore de até 18 pontos; ii) ensino fundamental e escore de até 22 pontos; iii) nível médio ou superior e escore de até 23 pontos. Optou-se pela utilização da GDS-15 para o rastreamento dos sintomas de depressão, bem como do MMSE para a avaliação da presença de déficit cognitivo, pois diversas publicações em periódicos nacionais e internacionais comprovam a eficácia desses instrumentos. Apos as avaliações iniciais, deu-se seguimento às atividades através da condução da atividade dinâmica em grupo e entrevista individual. Fizeram parte do grupo os quatro idosos, a pesquisadora e três colaboradores que a auxiliavam na condução da atividade. Com o objetivo de colher informações sobre os processos de comunicação e interação, o uso das TIC e os espaços comunicativos três eixos norteadores para a analise da problemática sobre comunicação e interação foram fixados: i) significação das TCI; ii) primeiras experiências com o uso das TCI; iii) sentimentos que emergem considerando a utilização das TCI. Para atingir este objetivo, foi oferecida uma caixa de papel aos idosos, na qual continha uma séria de imagens relacionadas às tecnologias. Na primeira rodada, cada idoso escolheu a imagem e expôs sua opinião sobre ela. Na segunda rodada, cada idoso retirou uma imagem da caixa, de forma aleatória, e, novamente, solicitamos a cada idoso que discorresse sobre a imagem, de acordo com os três eixos norteadores.
4 Os dados de caráter quantitativo foram analisados utilizando-se o programa estatístico SPSS versão 10.0 para Windows. Realizou-se uma análise de estatística descritiva para caracterizar o perfil sóciodemográfico da amostra pesquisa. Os dados de cunho qualitativo foram sistematizados em diferentes categorias de análise. Na busca para atingir o significado dos depoimentos que permitissem a inferência de conhecimentos relativos aos processos comunicativos, utilizou-se a análise de conteúdo proposta por Bardin (2004). Conforme a autora, (p ), a análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de análise das comunicações, que utiliza procedimentos sistemáticos e objectivos de descrição do conteúdo das mensagens. Contudo, essa descrição não é suficiente para definir a especificidade da análise, pois o objeto de interesse não se encontra na descrição do conteúdo, mas, sim, no conhecimento gerado após estes serem tratados. O autor completa a descrição afirmando que a intenção da análise do conteúdo é a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção (ou, eventualmente, de recepção), inferência esta que recorre a indicadores (quantitativos ou não). O presente estudo iniciou-se após apreciação e aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade de Passo Fundo (CEP/UPF). Resultados e Discussões Com relação ao perfil dos idosos residentes na ILPI, dos quatro sujeitos entrevistados, dois eram homens. Em relação ao curso mais elevado que frequentou, um realizou o antigo científico, um o antigo ginásio e dois são analfabetos. A idade, em 1 de maio de 2009, apresentou M = 78,0 e DP = 8,5 anos. Com relação ao tempo, em anos, que os idosos residem na ILPI, os dados apresentam uma variação que vai desde um sujeito que está a menos de um ano na instituição até outro que mora na ILPI a mais de 28 anos. Com relação ao déficit cognitivo, três idosos apresentaram deficiência cognitiva, sendo que um desses também indicou sintomas de depressão. O escore total no MMSE obteve M = 19,0 e DP = 8,0. A pontuação na GDS-15 obteve M = 4,8 e DP = 2,2. Em todas as entrevistas, a reação do entrevistado foi considerada positiva, uma vez que as perguntas foram compreendidas adequadamente e as respostas obtidas vinham ao encontro das informações contidas nos prontuários médicos. A Figura 1 apresenta os idosos residentes na ILPI participando de uma atividade dinâmica em grupo. Figura 1 Idosos participando da atividade dinâmica. Muitos afirmam que estamos vivendo a sociedade da informação e comunicação. Segundo Boff (2001) esta sociedade esta criando cada vez mais incomunicação e solidão entre as pessoas. Neste cenário de incomunicabilidade, considera-se a instauração de novos sistemas de comunicação mediada. As tecnologias de
5 comunicação e interação (TCI) constituem instrumentos mediadores e facilitadores deste processo de interação uma vez que proporcionam o estabelecimento de uma rede de relações. A utilização das TCI possivelmente seja a grande revolução do mundo contemporâneo. A Figura 2 apresenta o esquema de percepção do significado das tecnologias de informação e comunicação de sujeitos residentes numa ILPI. Figura 2 Significação das tecnologias de comunicação e informação por idosos residentes numa instituição de longa permanência. Nesse sentido, os conceitos mais expressivos com relação à significação dos processos de comunicação e interação extraídos dos dialógicos de idosos residentes em uma instituição de longa permanência foram os seguintes: Não tinha rádio ainda, naquela época. Pela primeira vez eu escutei era a galena... Ah, não. Não lembro quantos anos eu tinha... [Senhor de 86 anos] Lembro que nosso pai comprou um rádio... Ih, eu era menor de idade ainda quando escutei rádio pela primeira vez. [Senhora de 74 anos] Quando questionados acerca das diferenças entre o passado e o mundo contemporâneo, a partir da perspectiva de utilização das TCI, os idosos foram enfáticos: Tudo agora é moderno né? No tempo que a gente se criou era fogão a lenha... Foram fazendo novidades, botando no mercado e vendendo... Agora tudo é moderno né? [Senhora de 84 anos] Mudou tudo né... Primeiro a televisão era só branca e preta... Agora tem cores né... É mais moderna assim... Colorida. Ela foi mais longe do que a gente pensava né... [Senhor de 86 anos] A gente só ouvia falar, né? Eu já tinha vontade de enxergar ele... eu disse: eu quero enxergar meu rádio. [Senhora de 74 anos]
6 Assim, não é exagero afirmar que as tecnologias de comunicação e interação modificam profundamente a relação do indivíduo consigo mesmo e com o mundo (Lévy (1998). De fato, os depoimentos mais significativos em relação às contribuições das tecnologias de comunicação e interação estão vinculados às relações com outras pessoas, com o meio e com o espaço. Tecnologia só faz bem... O rádio aproxima as pessoas porque às vezes as pessoas estão longe e depois ai pelo rádio chama... A TV tem o mesmo efeito, e o telefone também... [Senhora de 74 anos] O que eu vou dizer... Se a gente tá mal pode ligar pro hospital e transmitir né... E também pra gente falar é muito importante né... Porque a gente tá em casa e tá se comunicando com outra pessoa lá longe... Acho importante, muito importante. [Senhor de 68 anos] Apesar de não apresentarem uma idéia clara a respeito da significação da palavra computador, todos os idosos o percebem como algo positivo imerso no mundo contemporâneo. No entanto, podemos inferir a partir dos pronomes isso e essas contidos nas falas da Senhora de 84 anos certo afastamento das tecnologias, bem como a falta de experiência com as ferramentas tecnológicas. Pra quem ocupa isso aqui (o computador) é uma beleza né... Além disso: Eu não gosto muito de lidar com essas coisas. A gente não entende as tecnologias. [Senhora de 84 anos] Telefone eu nunca usei. São aparelhos de comunicação, né? O telefone é muito bom porque se comunica com as pessoas de bem longe né... É o mais importante o telefone... [Senhor de 68 anos] Segundo Morin (2005, p.55) todo desenvolvimento verdadeiramente humano significa o desenvolvimento conjunto das autonomias individuais, das participações comunitárias e do sentimento de pertencer à espécie humana. Assim, apesar de demonstrarem certa insipiência quando da atribuição do conceito, cabe ressaltar que os idosos fizeram uma tentativa de partilhar do mundo contemporâneo, uma vez que perceberam a tecnologia como algo útil e importante. Ele (computador) é importante pra que se queira né? [Senhora de 84 anos] Do computador da até pra telefonar... [Senhora de 74 anos] Por outro lado, ao verificarmos as falas dos idosos sobre o significado do rádio, televisão e livro, percebemos uma maior apropriação a respeito dos sentidos atribuídos. A maior utilização destas ferramentas em épocas anteriores e também nas rotinas diárias atuais possivelmente representa os motivos pelos quais os idosos se aproximam destas
7 tecnologias. Quando questionados sobre a importância do rádio, da televisão e dos livros na vida dos idosos atualmente, também se evidencia uma alta frequência de falas relacionadas a aspectos positivos. Especificamente na fala da Senhora de 74 anos é possível observar uma reatividade na sua fala e também uma estabilidade de humor, o que vem ao encontro do resultado obtido no GDS-15, para o qual a senhora obteve diagnostico negativo de depressão. Com relação à fala do Senhor de 86 anos, também podemos sugerir uma ausência de sintomas depressivos bem como déficit cognitivo. A coerência, discernimento e tomada de decisão verbalizada, bem como o interesse e apropriação pelo evento vem ao encontro dos resultados obtidos nos testes MMSE e GDS-15. O diagnostico negativo de depressão bem como ausência de déficits cognitivos vem ao encontro, portanto, da verbalização deste idoso. A televisão é boa porque coisa que a gente nunca conheceu na vida passa na televisão, passa ali pra gente né... Além disso, afirmou também que: Na TV eu escuto Jornal Nacional... A gente escuta as noticias de longe, dos outros países né... Tudo o que acontece... [Senhor de 68 anos] Livro é pra aprender ler... É coisa boa de saber ler... Aprende o abc, o abc... A matemática... Tudo que é coisa... Até no jornal... A gente sabe as noticias no jornal, de tudo que é lugar. Daqui e de outras cidades também. A gente sabe tudo o que é coisa boa nos livros. Além disso, afirmou também que: Eu acho muito bom... a gente sabe as noticias tudo pelo radio né... Tudo que passa no radio a gente sabe. Também no futebol, quem ganha e quem não ganha... Também as musicas, os trovador trovando, todos os relatos né... E também da pra gravar... E muito importante porque a gente fica sabendo tudo... [Senhora de 74 anos] O radio é uma coisa que traz muita noticia boa né... E a gente escuta. Além disso, afirmou também que: Eu ligo, pra parentes... Ligo pra Porto Alegre, pra minha sobrinha que é médica... Mas faz horas que não telefono, não escrevo... [Senhor de 86 anos] Apesar de expressarem suas percepções acerca da importância das tecnologias, fica claro também o temor em utilizar e interagir com as tecnologias. No caso deste Senhor de 68 anos, o receio se refletiu tanto através de verbalizações quanto através de expressões corporais. Cabe ressaltar, no entanto, que esta postura de angustia e receio pode representar um comportamento injustificado para alguém que obteve diagnostico negativo de depressão. Assim, é importante colocar que apesar do Senhor apresentar diagnostico negativo para depressão, ha a possibilidade do mesmo apresentar um importante sofrimento de ordem emocional. Na casa do meu sobrinho tem telefone, mas eu não pego porque tenho medo de estragar. [Senhor de 68 anos]
8 Em outra fala, evidencia-se a clara dificuldade de interação destes idosos com as tecnologias. De outra forma, parece que a fala reflete uma falta de entendimento e coerência entre os pensamentos. Esta senhora parece não ser capaz de seguir uma instrução simples de resposta. Além disso, a senhora hesita muitas vezes durante a fala, parece distraída e com um planejamento pobre de pensamento, o que vem corroborar os dados obtidos no MMSE, para o qual a senhora apresentou presença de déficits cognitivos. (As tecnologias) às vezes facilitam a vida, às vezes não... Às vezes a gente não, não... Entende... Às vezes eles explicam pra gente e a gente não entende... Às vezes a gente não entende o que eles dizem... [Senhora de 84 anos] Apesar desta sensação de distanciamento das TCI, alguns idosos demonstraram interesse pela aproximação com as ferramentas tecnológicas, bem como aquisição de conhecimento. Na fala do Senhor de 86 anos sugerimos um importante grau de autoconfiança, interesse pelo evento e decisão pela tomada de decisão. Além disso, o Senhor parece estar imbuído de vontade e disposição para aprender superando-se; comportamentos que vem ao encontro do resultado obtido no GDS-15, para o qual o idoso apresentou diagnostico negativo de depressão. Já na fala da Senhora de 84 anos, observamos claros sintomas depressivos. Ao se auto-referir, de forma implícita, como uma cabeça oca, o que demonstra clara desaprovação e critica de si mesma. Tais comportamentos não deixam de ser autodestrutivos e ratificam seu diagnostico afirmativo de depressão obtido no GDS-15. O professor queria me ensinar a jogar pife pelo computador... Eu quero aprender... Eu sou tricampeão no pife, tenho medalha... [Senhor de 86 anos] Aqui não temos contato com livros, nada, nada... Mas gostaria que tivesse. Pelo menos uma vez por dia né... já aprendia alguma coisa, colocava alguma coisa na cabeça da gente né... [Senhora de 84 anos] A configuração das representações descritas pelos idosos que participaram da atividade é equiparada por Franco (2004, p ) como sendo à incorporação de um conjunto abstrato de idéias, representações e valores de determinada sociedade..
9 Conclusões O presente trabalho teve como objetivo mapear as concepções de idosos a respeito de processos de comunicação e interação. Buscou-se, por meio de conceitos dialógicos, identificarem as representações simbólicas e analisar os sentimentos e significados das experiências vividas mediante a utilização de ferramentas tecnológicas. Em concordância com os objetivos propostos e os resultados deste estudo, concluiu-se que, com relação ao eixo norteador significação das tecnologias de comunicação e interação os idosos não apresentaram idéias claras a respeito da significância dos aparelhos mais modernos, como computador. Apesar de não haver um consenso quanto à definição das ferramentas, os idosos as perceberam como dispositivos úteis e importantes. Com relação ao item primeiras experiências com o uso das TCI, verificou-se a facilidade dos idosos em relatar suas primeiras experiências. Também foi possível observar a nostalgia do tempo em que os idosos viram ou se serviram pela primeira vez destas tecnologias, assim como a frustração ao revelarem que não têm conhecimentos sobre as imagens de rádio e telefone, ou até mesmo se tiveram ou não contato anteriormente, mas que hoje, por apresentarem design muito diferente dos modelos antigos, dificulta a percepção dos idosos. Assim, com relação ao eixo sentimentos que emergem considerando a utilização das TCI, observaram-se, sentimentos de frustração e nostalgia. Cabe salientar, no entanto, que apesar de emergirem tais sentimentos e também a sensação de distanciamento das TCI, alguns idosos demonstraram interesse pela aproximação com as ferramentas tecnológicas. Assim, programas de orientações e incentivo sobre os benefícios da aproximação com tecnologias de comunicação e interação são recomendados para que os idosos mantenham sua integridade cognitiva, bem como sentido de significação e senso de pertencimento na era da informação. Sobre a correlação entre os resultados obtidos no GDS-15 e MMSE e as falas dos idosos, foi observado uma convergência geral entre os dados obtidos, o que sugere uma correlação entre dados objetivos e subjetivos. Referências ALMEIDA, O. P.; ALMEIDA, S. A. Confiabilidade da versão brasileira da Escala de Depressão em Geriatria (GDS) versão reduzida. Arquivos de Neuro-Psiquiatria, São Paulo, v. 57, n. 2B, 1999a. Disponível em: < script=sci_arttext&pid=s x &lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 28 abr DOI: /S X Short versions of the geriatric depression scale: a study of their validity for the diagnosis of a major depressive episode according to ICD-10 and DSM-IV. International Journal of Geriatric Psychiatry, v. 14, n. 10, p , oct 1999b. ALVES, V. P.; LOPES, C. Idosos, inserção social e envelhecimento saudável no contexto da educação a distância nas UnATIS: um relato de experiência. Pesquisas e Práticas Psicossociais, Belo Horizonte, v. 3, n. 1, p , BARDIN, I. Análise de conteúdo. 3ª ed. Lisboa: Edições Setenta, 2004.
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