ICTR 2004 CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA EM RESÍDUOS E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Costão do Santinho Florianópolis Santa Catarina
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- Isaac Flores Araújo
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1 ICTR 2004 CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA EM RESÍDUOS E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Costão do Santinho Florianópolis Santa Catarina DEFINIÇÃO DE CRITÉRIOS PARA AVALIAÇÃO DE SISTEMAS DE DISPOSIÇÃO FINAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS NO ESTADO DE SANTA CATARINA Adriano Vitor Rodrigues Pina Pereira Sebastião Roberto Soares Sibeli Warmling Pereira PRÓXIMA Realização: ICTR Instituto de Ciência e Tecnologia em Resíduos e Desenvolvimento Sustentável NISAM - USP Núcleo de Informações em Saúde Ambiental da USP
2 DEFINIÇÃO DE CRITÉRIOS PARA AVALIAÇÃO DE SISTEMAS DE DISPOSIÇÃO FINAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS NO ESTADO DE SANTA CATARINA Adriano Vitor Rodrigues Pina Pereira, Sebastião Roberto Soares (2), Sibeli Warmling Pereira (3) Resumo Os aterros sanitários são considerados a principal forma de disposição final de resíduos sólidos urbanos. Este trabalho buscou definir critérios para avaliação da qualidade destes sistemas em operação no Estado de Santa Catarina, por meio das seguintes ações: levantamento da situação atual da gestão dos resíduos sólidos no Estado; pesquisa na bibliografia de metodologias utilizadas para avaliação da qualidade destes sistemas e, finalmente, a definição propriamente dita de critérios de avaliação que possam ser utilizados no desenvolvimento de um modelo de avaliação. Dessa forma, foi possível definir, com base nos estudos realizados, alguns dos principais critérios a serem considerados em uma avaliação da qualidade de aterros sanitários, os quais podem ser divididos em três classes: características do local (área do aterro), infra-estrutura instalada e condições operacionais. Embora o estudo tenha sido desenvolvido para aplicação no Estado de Santa Catarina, pode-se afirmar que os mesmos podem ser utilizados também para aterros de outras localidades. Palavras Chaves: resíduos sólidos urbanos, aterros sanitários, critérios de avaliação Engenheiro Sanitarista pela Universidade Federal de Santa Catarina. Mestrando em Engenharia Ambiental (PPGEA/UFSC). Engenheiro do Departamento de Meio Ambienta da empresa Prosul Projetos, Supervisão e Planejamento Ltda., Florianópolis - SC. (2) Doutor em Gestão e Tratamento de Resíduos (INSA de Lyon/França, 1994). Professor do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental (UFSC). (3) Engenheira Sanitarista pela Universidade Federal de Santa Catarina. Mestranda em Engenharia Ambiental (PPGEA/UFSC). Engenheira do Departamento de Meio Ambienta da empresa Prosul Projetos, Supervisão e Planejamento Ltda., Florianópolis - SC. 4737
3 Resumos Título Definição de critérios para avaliação de sistemas de disposição final de resíduos sólidos urbanos no Estado de Santa Catarina. Objetivo - Definir critérios para avaliação da qualidade dos sistemas de disposição final de resíduos sólidos urbanos em operação no Estado de Santa Catarina, por meio das seguintes ações: levantamento da situação atual da gestão dos resíduos sólidos no Estado; pesquisa na bibliografia de metodologias utilizadas para avaliação da qualidade destes sistemas e definição de critérios de avaliação que possam ser utilizados no desenvolvimento de um modelo de avaliação. Metodologia - composta por três etapas: Diagnóstico da situação dos resíduos sólidos em Santa Catarina - foram levantados dados referentes aos resíduos sólidos urbanos no Estado, por meio de pesquisas em órgãos públicos e empresas privadas, identificando os sistemas de disposição final em operação. Levantamento bibliográfico - através de pesquisas em artigos técnicos e outros documentos, além de consultas a órgãos de controle ambiental. Definição dos critérios de avaliação - a partir da análise técnica dos sistemas de disposição final levantados e com apoio do modelo de avaliação da qualidade em uso no Brasil (IQR/CETESB). Resultados alcançados - Foi possível definir, com base nos estudos realizados, alguns dos principais critérios a serem considerados em uma avaliação da qualidade de aterros sanitários, quais sejam: distância de núcleos populacionais; distância de recursos hídricos; profundidade do lençol freático; permeabilidade do solo; impermeabilização de base; drenagem de percolado; sistema de tratamento de percolados; drenagem de águas pluviais; equipamento para compactação dos resíduos; sistema de drenagem de gases; monitoramento de águas superficiais e subterrâneas e funcionamento dos sistemas de controle ambiental. 4738
4 1 Introdução O tratamento de resíduos sólidos urbanos é definido como uma série de procedimentos destinados a reduzir a quantidade ou o potencial poluidor dos resíduos sólidos, seja impedindo o descarte de resíduos em ambiente ou local inadequado, seja transformando-o em material inerte ou biologicamente estável (IBAM, 2001). Dentre os processos de tratamento de resíduos, destacam-se a compostagem, a reciclagem e a incineração. LUPATINI (2002) considera que somente os resíduos que não puderem ser reutilizados ou reciclados, devem ser encaminhados para unidades de disposição final. Assim, a disposição final de resíduos sólidos urbanos consiste na etapa final do ciclo de vida da maioria dos produtos. No mundo inteiro, com algumas exceções, os aterros sanitários representam a principal forma de destinação dos resíduos sólidos urbanos (JUCÁ, 2003). Além dos aterros sanitários, são consideradas formas de disposição final os aterros controlados e os lixões, sendo este último uma forma inadequada. O aterro sanitário é uma obra de engenharia que objetiva o controle ambiental da disposição final de resíduos sólidos no solo. Em geral, os aterro sanitários contam com as seguintes unidades: impermeabilização de base, sistema de coleta e tratamento de percolados, sistema de coleta, beneficiamento e queima de biogás, compactação e aterramento contínuo dos resíduos, sistemas de monitoramento ambiental, topográfico e geotécnico e plano de encerramento. Além disso, conta com unidades de apoio operacional compostas por: cerca e barreira vegetal, estradas de acesso e de serviço, sistema de pesagem e controle de resíduos, sede administrativa e oficina. Atualmente, o emprego de novos materiais como geomembranas, geocompostos, geotêxteis, tubos em polietileno de alta densidade, aliado a modernos sistemas de tratamento de líquidos percolados, compostos por tratamentos biológicos, físico-químicos e terciários, possibilita o atendimento à legislação, a preservação ambiental e a manutenção da qualidade de vida da população. A destinação final de resíduos sólidos urbanos em Santa Catarina passou por um processo de reformulação a partir de 2001, quando uma ação do Ministério Público Estadual implantou o Programa Lixo Nosso de Cada Dia, que tem como objetivo principal dar destinação adequada aos resíduos sólidos domiciliares gerados nos 293 municípios catarinenses. Os municípios assumiram o compromisso de regularizar a situação do lixo urbano, recuperar áreas degradadas por depósitos de lixo a céu aberto e implementar ações de conscientização ambiental. No entanto, a adequação legal destes municípios não é garantia de qualidade dos serviços instalados, podendo-se gerar graves impactos ambientais. Nesse sentido, este trabalho propõe a definição de critérios de avaliação da qualidade dos sistemas de disposição final de resíduos sólidos urbanos (aterros sanitários), aplicáveis ao Estado de Santa Catarina, com base em estudos que, num primeiro momento estabelecem um diagnóstico da situação do Estado com relação aos principais sistemas utilizados e, num segundo momento, buscam subsídios técnicos para desenvolvimento de critérios e parâmetros aplicáveis. 4739
5 2 Etapas metodológicas 2.1 Diagnóstico da situação dos resíduos sólidos em Santa Catarina. Nesta etapa do estudo foram levantados dados referentes à gestão dos resíduos sólidos urbanos no Estado de Santa Catarina. Por meio de pesquisas junto à FATMA (Fundação do Meio Ambiente), Ministério Público Estadual, Prefeituras Municipais e empresas privadas, foram identificados os principais sistemas de disposição final em operação no Estado. 2.2 Análise técnica dos sistemas de disposição final de resíduos sólidos A partir do levantamento dos sistemas de disposição final de resíduos sólidos, foi feita uma análise técnica dos mesmos, buscando identificar os parâmetros técnicos mais importantes. Esta análise foi realizada a partir do cruzamento de informações entre a legislação ambiental vigente, normas técnicas, consultas aos órgãos ambientais, profissionais do setor, bibliografia e experiências de sucesso. Estas informações serviram de base para a definição dos critérios de avaliação. 2.3 Levantamento bibliográfico Por meio de pesquisas em artigos técnicos, livros, periódicos e outros documentos, foram pesquisados modelos existentes no Brasil e no Exterior para avaliação da qualidade de sistemas de disposição final de resíduos. Além disso, foram feitas consultas aos Órgãos de Controle Ambiental de alguns Estados brasileiros. 2.4 Definição dos critérios de avaliação A partir da análise técnica dos sistemas de disposição final de resíduos levantados e com o apoio do modelo de avaliação da qualidade em uso no Brasil (IQR/CETESB), foram definidos os critérios técnicos. Esses critérios servirão de base para o modelo de avaliação a ser desenvolvido. 3 Resultados 3.1 Diagnóstico da situação dos resíduos sólidos em Santa Catarina A gestão dos resíduos sólidos urbanos no Estado de Santa Catarina tem passado, nos últimos três anos, por uma verdadeira revolução. No final do ano 2000, o Ministério Público Estadual, ao definir as suas políticas e prioridades para o ano 2001 na área de meio ambiente, considerou a necessidade urgente de um programa especial de recuperação das áreas degradadas pela disposição irregular de resíduos sólidos urbanos no Estado, pois, de acordo com relatório da FATMA, somente 37 municípios catarinenses depositavam os resíduos sólidos urbanos de forma adequada. Assim, em 2001, o Ministério Público Estadual, através da Coordenadoria de Defesa do Meio Ambiente, implantou o Programa Lixo Nosso de Cada Dia, que tem como objetivo principal dar destinação adequada aos resíduos sólidos domiciliares 4740
6 gerados nos 293 municípios catarinenses. Neste sentido, os Promotores de Justiça das Comarcas instauraram procedimentos administrativos que resultaram na assinatura de 193 termos de compromisso de ajustamento de conduta, nos quais os Prefeitos comprometeram-se a regularizar a situação do lixo urbano, recuperar áreas degradadas por lixões a céu aberto e implementar ações de conscientização ambiental. Hoje, passados quase quatro anos, o Estado de Santa Catarina encontra-se em uma situação privilegiada com relação ao restante do Brasil, pois atualmente 281 municípios catarinenses dão destinação adequada aos resíduos sólidos urbanos (MPSC - Maio 2004), o que equivale a 95,90%. Além disso, são significativos os resultados secundários do Programa, tais como: a divulgação das questões relacionadas com os resíduos sólidos na mídia, trazendo para o cotidiano das pessoas problemas e conceitos até então pouco conhecidos; formação de 12 consórcios Intermunicipais e a criação de empresas especializadas no ramo de resíduos sólidos. No entanto, considerando-se a destinação de resíduos em termos de peso, a porcentagem de adequação diminui para 85,48%, isto decorre do fato de estarem entre os 12 municípios inadequados, 4 dos maiores do Estado (Lages, Criciúma, São José e Içara). Esta situação contraria o restante do País, onde as estatísticas indicam uma maior adequação com relação ao peso e não ao número de municípios adequados (IBGE, 2002). A figura 1, apresenta o panorama da destinação final de resíduos sólidos em Santa Catarina. 2,73% 4,10% Aterro Sanitário Aterro Controlado Inadequado 93,17% Figura 1 Destinação final dos resíduos sólidos em Santa Catarina Com relação aos sistemas de disposição final em operação no Estado, foram identificados os 10 maiores, localizados nos seguintes municípios: Biguaçu, Brusque, Joinville, Itajaí, Laguna, Timbó, Otacílio Costa, Mafra, Chapecó e Saudades. Destes, somente o aterro sanitário de Timbó é público, os demais são gerenciados pela iniciativa privada, seja por propriedade ou concessão. Estes 10 aterros recebem o equivalente a 68,17% de todos os resíduos sólidos gerados, atendendo a 146 municípios e uma população de habitantes, o que equivale a 65,30% da população total. 3.2 Método de avaliação de sistemas de disposição final de resíduos sólidos urbanos O índice da qualidade de aterros de resíduos IQR, é o índice definido e utilizado pela CETESB desde 1997 para avaliar a qualidade das instalações de destinação de resíduos sólidos domiciliares em operação no Estado de São Paulo. 4741
7 O IQR é dividido em três itens: características do local, infra-estrutura instalada e condições operacionais. Cada item é dividido em sub-ítens, aos quais é dada uma avaliação e um peso (ponderação) que resulta em uma nota. São consideradas inadequadas as instalações com nota inferior a 6, controladas entre 6 e 8 e adequadas acima de 8. Os pesos dos sub-ítens vão de 0 até 5, sendo que os de maior importância em sua maioria estão relacionados aos controles ambientais e à localização do empreendimento. Os sub-ítens com maiores pesos são: capacidade de suporte do solo, proximidade de núcleos habitacionais, permeabilidade do solo, legalidade de localização, impermeabilização de base do aterro, drenagem de chorume, trator de esteira ou compatível, sistema de tratamento do chorume e funcionamento do sistema de tratamento do chorume Definição dos critérios de avaliação Um critério pode ser definido como a expressão qualitativa ou quantitativa de pontos de vista, objetivos, aptidões ou entraves relativos ao contexto real, permitindo o julgamento das pessoas, dos objetos ou dos acontecimentos (LUPATINI 2002, apud MAYSTRE, PICTET e SIMOS, 1994). Segundo LUPATINI (2002), na construção de critérios recorre-se à utilização de elementos estruturais denominados parâmetros e indicadores. Hierarquicamente, os parâmetros estariam na base da estrutura de construção. Em nível intermediário encontram-se os indicadores representando um conjunto de dados de natureza diferentes agregados em uma característica mais sintética seguido, em um nível superior, pelos critérios Estrutura dos critérios de avaliação Um aterro sanitário é formado por um conjunto de estruturas específicas, as quais podem ser sintetizadas de maneira a agregar os conhecimentos necessários à avaliação de sua qualidade. Na definição dos critérios de avaliação optou-se por dividílos em três grupos: critérios de avaliação segundo as características da área; critérios de avaliação segundo a infra-estrutura existente; critérios de avaliação segundo as condições operacionais. Esta definição deu-se a partir da análise de modelos de avaliação de sistemas de disposição final existentes, consultas ao Órgão de Controle Ambiental, pesquisas bibliográficas, legislação ambiental e normas técnicas. Critérios de avaliação segundo as características da área Distância de núcleos habitacionais Para este critério considera-se adequado o aterro sanitário localizado a distâncias superiores a 500 metros de núcleos populacionais ou áreas urbanas. O 4742
8 estabelecimento deste limite está de acordo com a norma NBR (ABNT, 1997), a qual recomenda uma distância mínima de 500 metros entre o limite da área útil do aterro e os núcleos populacionais. Segundo a NBR (ABNT, 1997), núcleos populacionais são localidades sem categoria de sede administrativa, mas com moradias, geralmente em torno de igreja ou capela, com pequeno comércio. Proximidade de recursos hídricos São considerados recursos hídricos os cursos d água, os lagos e lagoas, banhados, áreas alagadiças e inundáveis e as nascentes e olhos d água. Para fins de avaliação, é considerado adequado o aterro sanitário situado a distâncias superiores a 200 metros de recursos hídricos. Esta distância está em conformidade com a norma NBR (ABNT, 1997), sendo que o limite também é utilizado como referência pelo IPT/CEMPRE (2000), IBAM (2001) e LUPATINI (2002). Profundidade do lençol freático A profundidade do lençol freático corresponde à espessura da camada insaturada existente abaixo do aterro. Para um mesmo tipo de solo, quanto maior a profundidade do lençol freático, maior será o tempo necessário para que um contaminante atinja as camadas saturadas bem como o tempo de contato com o substrato, aumentando desta maneira a probabilidade de que os poluentes seja atenuados através de processos físicos, químicos e/ou biológicos (LUPATINI, 2002). A NBR (ANBT, 1997) recomenda uma zona não saturada com espessura superior a 3,0 metros, além disso indica que em qualquer caso, obrigatoriamente, entre a superfície inferior do aterro e o nível mais alto do lençol freático deve haver uma camada natural de espessura mínima de 1,50 m de solo insaturado. Portanto, é considerado adequado o aterro sanitário implantado em área com profundidade do lençol freático superior a 1,5 metros, preferivelmente maior que 3 metros. Permeabilidade do solo O coeficiente de permeabilidade (K em cm/s) é um índice da maior ou menor dificuldade que o solo opõe à percolação da água através dos seus poros. Assim, chama-se de permeabilidade a maior ou menor facilidade com que a percolação da água ocorre através de um solo (ROCCA, 1993). A NBR (ABNT, 1997) indica que aterros sanitários devem ser executados em áreas onde haja predominância de material com coeficiente de permeabilidade inferior a cm/s. Os riscos da disposição de resíduos sólidos no solo estão associados principalmente ao transporte de poluentes pela infiltração dos líquidos percolados. Essa migração é responsável pela contaminação do subsolo e das águas subterrâneas em um local de disposição de resíduos. Neste sentido, quanto menor a permeabilidade do solo, menor é o risco de contaminação dos recursos hídricos subterrâneos, pela migração de contaminantes e mais seguro é o aterro sanitário. 4743
9 Disponibilidade de material de cobertura O material de cobertura consiste em material inerte utilizado para cobrir os resíduos dispostos ao final de uma jornada de trabalho. O aterro sanitário deve possuir ou situar-se próximo a jazidas de material de cobertura, de modo a assegurar a permanente cobertura dos resíduos dispostos. Estima-se que, em média, os valores percentuais de material de cobertura variam na faixa de 20 a 25% do volume de resíduos. McBEAN, ROVERS e FARQUHAR (1995) indicam que são necessários para a cobertura intermediária 20% do volume de resíduos, já para a cobertura final, este valor diminui para 10% do volume. São considerados adequados aterros sanitários com disponibilidade de material de cobertura, compatíveis com as quantidades de resíduos dispostos. Critérios de avaliação segundo a infra-estrutura existente Impermeabilização de base A construção de sistemas de impermeabilização de base em aterros sanitários objetiva garantir um confinamento dos resíduos e líquidos percolados, impedindo a infiltração de poluentes no subsolo e aqüíferos adjacentes. Devem ter propriedades químicas compatíveis com o resíduo, com suficiente espessura e resistência. Além disso, sua execução deve ser criteriosa, passando por diversos controles tecnológicos. Dentre os materiais comumente empregados em impermeabilização destacamse as argilas compactadas, geomembranas e geocompostos. O sistema de impermeabilização de base, juntamente com o de tratamento de líquidos percolados compõem a principal medida de controle ambiental de um aterro sanitário, desta forma são considerados adequados os aterro sanitários que dispõem de eficientes sistemas de impermeabilização. Drenagem de percolado A drenagem de líquidos percolados deve ser construída com material quimicamente resistente ao resíduo e ao líquido percolado e, suficientemente resistente a pressões originárias da estrutura total do aterro e dos equipamentos utilizados, (ABNT, 1997). São estruturas constituídas por drenos de brita escavados no solo, acompanhando o terreno, com declividade mínima de 2%, (Rocca, 1993). Devem ser projetados e operados de forma a não sofrer obstruções durante o período de vida útil e pós-fechamento do aterro, além de ter dimensões apropriadas para a vazão a ser drenada, devendo ser construídos em todos os patamares de resíduos. Atualmente, tem sido comum o uso de tubos de PEAD perfurados e geotêxteis. Sistema de tratamento de percolados Segundo a ABNT (1997), o sistema de tratamento de líquidos percolados de aterros sanitários deve ser projetado, construído e operado de forma que seus efluentes atendam aos padrões de emissão e garantam a qualidade do corpo receptor. O mesmo 4744
10 deve ser dimensionado e construído com capacidade para atender as vazões e concentrações geradas. Até pouco tempo, era comum encontrar em aterros sanitários somente tratamentos biológicos por lagoas de estabilização (anaeróbias facultativas e aeradas), no entanto, com o aumento das exigências ambientais e do conhecimento, passaram a ser utilizados processos mais complexos, tais como: tratamento físicoquímico, wetlands, UASB, lodos ativados, vaporização forçada, recirculação, dentre outros. Para ser considerado adequado, um aterro sanitário deve contar com moderno sistema de tratamento de percolados que atenda às exigências ambientais. Drenagem de águas pluviais O sistema de drenagem de águas pluviais tem a finalidade de interceptar e desviar o escoamento superficial, durante e após a vida útil do aterro, evitando sua infiltração na massa de resíduos, com consequente redução do volume de percolados. Este sistema deve garantir, também, condições de operação normal mesmo em dias de chuva e evitar a ação de processos erosivos e de assoreamento. São constituídos por estruturas drenantes de meias canas de concreto (canaletas) associadas a escadas d'água, bueiros e tubulações de concreto. Equipamento para compactação dos resíduos O equipamento de compactação deve ser adequado para o porte e método de operação do aterro sanitário, devendo estar disponível permanentemente no local e ter manutenção periódica. Normalmente, são utilizados tratores de esteira providos de lâmina para espalhamento, compactação e recobrimento dos resíduos e rolos compactadores especialmente projetados para a compactação de resíduos sólidos. Sistema de drenagem de gases O aterro sanitário deve ser projetado de maneira a minimizar as emissões gasosas e promover a captação e tratamento adequado das eventuais emanações. Os drenos de biogás são constituídos por linhas de tubos perfurados, sobrepostos, envoltos por uma camisa de brita. Não existem modelos de cálculo comprovados para o seu dimensionamento, normalmente são construídos de forma empírica, normalmente com espaçamento entre 30 e 50 metros, em quantidade apropriada, além disso, devem ser interligados com o sistema de drenagem de percolados, facilitando assim a drenagem da massa de resíduos, sendo cada vez mais comum o uso de materiais e métodos modernos de drenagem. O sistema de drenagem de gases deve ser vistoriado permanentemente, de forma a manter os queimadores sempre acesos, principalmente em dias de vento forte (IBAM, 2001). Sistema de monitoramento de ambiental O sistema de monitoramento ambiental deve ser composto por uma rede de pontos capaz de abranger a área de influência direta e indireta do aterro sanitário. Os 4745
11 poços de monitoramento das águas subterrâneas devem, obrigatoriamente, interceptar o lençol freático, sendo que a localização dos pontos deve estar de acordo com as linhas de fluxo das águas subterrâneas. Já o monitoramento das águas superficiais deve ser feito à montante e jusante do ponto de lançamento dos efluentes tratados. No aterro sanitário, deve ser instalada uma rede de pontos e marcos georeferenciados, capazes de monitorar o comportamento geotécnico da massa de resíduos. Critérios de avaliação segundo as condições de operação Estabilidade do maciço de resíduos A análise da estabilidade de taludes de aterros sanitários é, atualmente, um dos grandes desafios da geotecnia ambiental, devido, principalmente, à falta de parâmetros de análise da mistura solo lixo. Atualmente, pela grande diversidade dos resíduos sólidos dispostos nos aterros sanitários, não é possível determinar com exatidão parâmetros como: coesão, ângulo de atrito interno e peso específico do lixo, além de análise da interface entre as diferentes camadas de impermeabilização e os resíduos aterrados. A estabilidade de um aterro de resíduos depende, principalmente, do projeto geométrico das células (altura do lixo e inclinação dos taludes), grau de compactação, nível de percolado (estado de saturação) e sua flutuação dentro da massa de lixo (pressão neutra e condições de drenagem de biogás e percolado), cobertura final e sua resistência à erosão, além dos parâmetros geotécnicos. Nesse sentido, é necessário que o aterro sanitário disponha de equipamentos adequados de compactação, patamares de resíduos com altura entre 3 e 5 metros em média, inclinação dos taludes de 2:1 (H:V) e recuo mínimo entre os patamares de 4 metros, além disso, o sistema de drenagem de percolados deve ser capaz de evitar a formação de lâmina de percolado superior a 30 cm sobre a impermeabilização (ABNT, 1997). Cobertura dos resíduos A área de disposição de resíduos deve permanecer com o mínimo possível de lixo descoberto, sendo que a frente de trabalho não pode ficar descoberta de um dia para o outro. Assim, além de equipamentos de compactação e cobertura adequados, o aterro sanitário deve dispor de jazida de material para cobertura em quantidade e qualidade apropriadas. Dessa forma são considerados adequados os aterro sanitários que mantêm os resíduos dispostos permanentemente cobertos. Funcionamento do sistema de drenagem de percolados Em um aterro sanitário o sistema de drenagem de percolados deve ser construído e operado de forma a não sofrer obstruções durante o período de vida útil e após o fechamento do aterro. Deve ser elaborado e executado um plano de monitoramento permanente da situação do sistema de drenagem, incluindo a instalação de piezômetros (para medição 4746
12 do nível de percolados na massa de resíduos) e vistorias constantes. Eventuais obstruções e entupimentos devem ser solucionados o mais breve possível. Dessa forma, um aterro sanitário adequado deve ter sistema de drenagem de percolados funcionando constantemente e com capacidade adequada para a área de disposição de resíduos. Funcionamento do sistema de tratamento de percolados O funcionamento do sistema de tratamento de percolados deve garantir o atendimento aos padrões ambientais de lançamento. Devem ser verificados aspectos construtivos e operacionais, tais como: erosão de taludes, funcionamento de bombas e aeradores e hidráulica de escoamento entre as lagoas, zonas mortas, curto circuitos, níveis de lodo e algas entre outros. Quando o aterro sanitário operar com sistemas de tratamento físico-químico ou de complexidade semelhante, o mesmo deve ser supervisionado diariamente por profissional habilitado. Lançamento do efluente tratado Os líquidos percolados, após passarem pelos sistemas de tratamento, devem ser descartados em corpos receptores, capazes de dispersar as concentrações de contaminantes porventura existentes. A legislação ambiental catarinense (Decreto ) define que o corpo receptor não pode ter sua qualidade alterada pelo lançamento de efluentes. Assim, características como vazão, concentrações iniciais e velocidade são fundamentais na dispersão dos poluentes. Dessa forma, são considerados adequados os aterros sanitários que lançam os efluentes tratados em corpos receptores, de maneira que seja atendida a legislação ambiental. Funcionamento do sistema de monitoramento ambiental O monitoramento ambiental de sistemas de disposição final de resíduos sólidos é fundamental para a garantia de sua qualidade. Este processo inclui monitoramento do sistema de tratamento de percolados, monitoramento das águas superficiais e subterrâneas e controle topográfico e geotécnico. A definição dos parâmetros de amostragem, periodicidade de análise, assim com a locação do pontos de coleta e monitoramento são fundamentais para sua execução. Parâmetros como: DBO5, OD, DQO, séries de sólidos, ph, Nitrogênio e coliformes, devem ter periodicidade mensal ou bimestral, já os metais pesados e a análise de toxicidade, devem ter no mínimo 4 análises por ano. O monitoramento do sistema de tratamento de percolados deve identificar possíveis problemas operacionais do mesmo, além de garantir o atendimento à legislação ambiental, devendo ser contínuo, feito por equipe técnica capacitada e com análises realizadas em laboratórios conceituados. No monitoramento geotécnico devem ser acompanhados os recalques diferenciais e possíveis escorregamentos causados pela decomposição da matéria orgânica existente. O monitoramento topográfico objetiva o acompanhamento na evolução da ocupação da área do aterro sanitário. 4747
13 4 Considerações finais Os critérios para avaliação de sistemas de disposição final de resíduos sólidos, juntamente com parâmetros de avaliação, a adoção de pesos e o procedimento de agregação, podem definir um modelo de avaliação de sistemas de disposição final de resíduos sólidos urbanos para o Estado de Santa Catarina. A aplicação de um modelo de avaliação nestes moldes pode ser utilizada na elaboração de um ranking de qualidade dos aterros sanitários. Sendo este um dos objetivos do Ministério Público Estadual, uma vez que, do ponto de vista legal, praticamente todo o Estado está adequado, no entanto, não existem dados qualitativos com relação aos sistemas em operação. Pode-se considerar também que, embora os critérios tenham sido desenvolvidos para aplicação em sistemas catarinenses, podem ser utilizados para modelos de avaliação de qualquer sistema de disposição de resíduos sólidos urbanos. 5 Referências bibliográficas 1. FERREIRA, A. L. et al. Inventário Estadual de Resíduos Sólidos. Versão 2. São Paulo: Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental CETESB, INSTITUTO BRASILEIRO DE ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL - IBAM. Manual de Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos. Rio de Janeiro, LUPATINI, G. Desenvolvimento de um sistema de apoio à decisão em escolha de áreas para aterros sanitários. Florianópolis, Dissertação (Mestrado em engenharia ambiental) Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental, Universidade Federal de Santa Catarina. 4. JUCÁ, J. F. T. Destinação Final dos Resíduos Sólidos Urbanos no Brasil. In: 5º Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental REGEO 2003, Porto Alegre, p. 5. MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL - MPSC. Programa Lixo Nosso de Cada Dia. Florianópolis, maio de ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS ABNT Aterros de resíduos não perigosos Critérios para projeto, implantação e operação; NBR São Paulo. 7. ROCCA, Alfredo Carlos C. et al. Resíduos Sólidos Industriais. 2 ed. São Paulo: CETESB, p. 8. McBEAN, E. A.; ROVERS, F. A.; FARQUHAR, G. J. Solid Waste Landfill Engineering and Design. Prentice-Hall, NJ
14 Abstract The waste landfills are considered the main final disposal of municipal solid wastes. This work tried to define criteria to evaluate the quality of these systems operating on Santa Catarina State, through the following actions: a survey on the recent management of solid wastes of that state; a research on bibliography of applied methodology used on hese systems quality evaluation; and finally, the definition of evaluation criteria that can be used on an evaluation model development. Thus, it was possible to define, based on accomplished studies, some of the main criteria to be considered in na evaluation of waste landfills, which can be divided into three classes: local characteristics (landfill area), installed infrastructure, and operational conditions. Although the study was developed to be applied on State of Santa Catarina, it can be stated that the defined criteria also apply to other landfills elsewhere. Key-words: municipal solid waste, solid waste landfill, criterion of evaluation 4749
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