O FINANCIAMENTO DOS CONSELHOS DE DEONTOLOGIA (CDEOS)
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- Ângela Cabreira Escobar
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1 O FINANCIAMENTO DOS CONSELHOS DE DEONTOLOGIA (CDEOS) A) Estatuto da Ordem dos Advogados (EOA) versão 2001: Os CDEOS foram introduzidos no ordenamento jurídico pela Lei 80/2001, de 20/07, tendo-lhes sido cometidas funções no âmbito da jurisdição disciplinar (artigo 48ºC do EOA na versão de 2001). Foram criados, então, tantos CDEOS quantos os distritos previstos no artigo 2º, nº 1 do referido EOA 2001, prevendo-se que tais CDEOS funcionariam junto do correspondente Conselho Distrital (CD) (artigo 48º-A, 3 EOA 2001). No que ao caso importa, a regulamentação do funcionamento destes órgãos quedou-se pela atribuição do poder disciplinar em primeira instância, da averiguação da conformidade deontológica dos comportamentos dos seus associados, da resolução de desinteligências entre associados e do poder de aplicar multas pelo não exercício do direito de voto. O regime contabilístico, de gestão financeira e das receitas da Ordem dos Advogados (OA) (artº 149º e 150º EOA 2001) transitou praticamente incólume para a lei vigente. Na sua génese, os CDEOS não dispunham de orçamento próprio, uma vez que tal competência se encontrava arredada do texto legal (art. 48ºC EOA 2001). B) EOA VERSÃO 2005: Com a alteração legislativa introduzida no EOA pela Lei 15/2005 de 16/01, no que a esta matéria importa, importantes inovações surgiram na disciplina legal de funcionamento destes órgãos. Assim: 1º Foi-lhes atribuída a competência (que é um dever) para elaborar um orçamento anual, contas anuais, relatório de actividades e de submeter tais documentos à aprovação dos
2 advogados do respectivo distrito, e assembleia distrital. (artº 54, c) EOA); 2º Foram atribuídas competências próprias aos Presidentes dos CDEOS, designadamente, no que ao caso importa, o poder/dever de administrar e dirigir os respectivos serviços. (artº 55º, 1 a 2 EOA). 3º Cessou a previsão de que os CDEOS funcionavam junto dos Conselhos Distritais correspondentes, passando a prever-se a existência deste órgão em cada um dos distritos referidos no artº 2º, 1 EOA. Inovações que não foram acompanhadas de qualquer alteração assinalável do regime legal previsto para as receitas da OA, para a sua disciplina contabilística, nem para a respectiva gestão financeira. Assim: 1º A aprovação das contas, a nível nacional, manteve-se inalterada (artº 34º, 3 EOA 2005 e 32º, 2 EOA 2001), por proposta do Conselho Geral (CG) (artº 45º, 1, q) do EOA 2005 e 42º, 1, n) do EOA 2001); 2º Foram alteradas as datas de aprovação dos orçamentos (artº 34º, 2 EOA 2005 e artº 32, 2 EOA 2001); 3º É hoje (artº 45º, 1, s) e t) EOA 2005), como era no passado (artº 42º, 1, p) e q) EOA 2001), atribuição do CG cobrar receitas e autorizar despesas; 4º Nada de relevante foi alterado (artº 50, 1, i) EOA 2005 e 47º, 1, h EOA 2001), quanto à aprovação das assembleias distritais das contas e orçamentos; 5º Nada foi alterado quanto ao recebimento das receitas provenientes das quotizações dos Advogados (artº 50º, 1, l) EOA e 47º, 1, m) EOA 2001) e das receitas próprias (artº 174º, 2 EOA 2005 e 149º, 2 EOA 2001); 6º Nada de relevante se alterou quanto ao regime de elaboração das contas e orçamentos das Delegações (artº 60º, 1, c) EOA 2005 e 52º, 1, c) EOA 2001); 7º As Delegações continuam com competência para receber e administrar as verbas que recebem do CD e do CG e ainda as receitas próprias (artº 60º, 1, d) EOA 2005 e 52º, 1,
3 d) EOA 2001); 8º As receitas estatutárias são as resultantes do pagamento de quotas pelos Advogados (artº 174º, 1 EOA 2005 e 149º, 1 EOA 2001), sendo o seu produto repartido em duas partes iguais, cabendo uma ao CG e outra ao CD e delegações respectivas (artº 174º, 2 EOA 2005 e 149º, 2 EOA 2001); 9º O CG pode fazer abonos aos Conselhos Distritais e Delegações, por conta daquelas receitas e prestar auxílio financeiro àqueles órgãos da OA (artº 174º, 4 EOA 2005 e 149º, 4 EOA 2001); Cumpre descortinar qual o regime do financiamento dos CDEOS, designadamente em face das alterações introduzidas a partir de 2005 que supra se referiu e que no caso importa: competência e dever de elaborar orçamento e contas próprias, submetê-los à aprovação da Assembleia Distrital e autonomia do seu Presidente em administrar e direcção dos serviços do CDEOS. E este é o cerne do problema que hoje subsiste, ou seja, face ao supra descrito regime legal, saber qual é o regime de financiamento dos CDEOS e qual ou quais os órgãos responsáveis para tal financiamento. Durante todo o triénio de 2008 a 2010, o primeiro signatário procurou incessantemente que os órgãos próprios da OA definissem a regra que permitisse o regular financiamento dos CDEOS Assembleia Geral, Bastonário, CG, Conselho Superior e CD do Porto 1. Sem qualquer sucesso, diga-se!! Esgotados quase todos os meios internos da OA que permitiam solucionar a questão, há hoje notícia que o assunto está a ser dirimido nos tribunais, com o recente deferimento duma providência cautelar requerida pelo CDPorto. Espera-se que este Congresso se pronuncie sobre o assunto para que se possa concluir, em definitivo, que nós Advogados somos capazes de encontrar uma solução interna, tal como é 1 É da mais elementar justiça ressalvar aqui a posição do C. Distrital do Porto que, em nome do princípio da solidariedade institucional, foi permitindo, através de transferências mensais, o regular funcionamento do Conselho de Deontologia do Porto.
4 próprio duma profissão auto-regulada. Do cotejo das normas legais resulta que o único aspecto que falta regular para que a autonomia dos CDEOS tenha, para além de consagração legal, uma efectividade prática, é a atribuição de receitas próprias. O que se propõe é, contudo diferente: ao invés de assegurar essa autonomia por via da atribuição de receitas próprias, melhor seria que a mesma fosse garantida através da repartição das despesas respectivas pelos diversos órgãos que estatutariamente beneficiam daquelas receitas. Isto por uma razão pragmática, não axiológica, que tem a ver com a conveniência em assegurar os meios necessários ao funcionamento dos CDEOS e apenas estes em vez de lhes atribuir uma receita a forfait. CONCLUSÕES: 1. A OA é, em larguíssima medida, financiada pelas quotizações dos Advogados, pelo que as verbas de que dispõe pertencem aos Advogados, sendo os órgãos meros administradores. 2. Os CDEOS, enquanto órgãos jurisdicionais encarregues do exercício do poder disciplinar auto-regulado, prestam um serviço essencial, indispensável e insubstituível, à Advocacia e aos Advogados. 3. A Deontologia Profissional e o exercício do poder disciplinar é uma questão de âmbito nacional e não distrital, devendo ser, por isso mesmo, criada uma só regra que defina a forma de financiamento das suas actividades. 4. Tendo em consideração as competências estatutárias dos CDEOS em matéria orçamental e administrativa, sufraga-se o entendimento que estes órgãos, depois de fazerem aprovar os seus orçamentos, os submetam ao CG, a fim de serem consolidados com autonomia em relação aos orçamentos dos Conselhos Distritais respectivos. 5. E que, uma vez aprovado o orçamento consolidado da OA, sejam alocadas à satisfação das despesas orçamentadas dos CDEOS, as verbas resultantes das quotizações dos Advogados, pela forma prevista no art. 174º do EOA para os restantes órgãos, ou seja, 50% pelo CG e 50% pelos respectivos Conselhos Distritais e Delegações.
5 6. Desta forma, todas as relações em matéria orçamental e financeira seriam estabelecidas entre o CG e os CDEOS, duma forma regrada e pré-definida, sem necessidade de se fazer apelo a subsídios extraordinários ou auxílios financeiros, pois não é disso que manifestamente se deve falar quando está em causa o regular funcionamento de órgãos no desempenho das funções estatutárias, normais e correntes. 7. Mais se propõe que esta solução seja introduzida em futura proposta da OA de alteração do EOA. Gonçalo Gama Lobo Manuela Domingues Largo de São Domingos, 14 1º LISBOA-PORTUGAL Tel congressoadvogados@cg.oa.pt
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