O APOIO JUDICIÁRIO NO ACTUAL CONTEXTO E SUAS VICISSITUDES
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- Rafael Peralta Regueira
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1 O APOIO JUDICIÁRIO NO ACTUAL CONTEXTO E SUAS VICISSITUDES I O fantasma do Defensor Público (ou equivalente): As grandes opções políticas que se avizinham sobre o Regime do Apoio Judiciário de carácter economicista,estão prestes a confirmar o que há muito invade o pensamento dos Advogados que prestam tal serviço público: o fantasma do Defensor Público. A figura de um Defensor Público apenas reduzirá os encargos do Estado com o Apoio Judiciário, mas os cidadãos mais carenciados ficarão, à mercê da justiça, feita por um corpo de Advogados contratados, pré-pagos e pré-formatados para alegarem pouco mais que um Peço Justiça.. Pugnamos pela manutenção do actual sistema de nomeações feitas pelo SinOA, em articulação com as diversas autoridades judiciárias, com as rectificações e passamos a identificar: II O Apoio Judiciário residual e não como regra É necessário proceder a uma profunda alteração estrutural, aproveitando o que está bem, e compatibilizando: - a necessidade do Estado reduzir a despesa com o Apoio Judiciário, - o previsível número crescente de procura para tal Apoio e ainda; - a qualidade mínima que deverá caracterizar tal serviço público prestado pelos Advogados. Nessa medida, e, à semelhança do que já se passa de certa forma nas nomeações
2 para as áreas do Direito Civil, também no Direito Criminal, o Apoio Judiciário deverá voltar a ser encarado de forma residual e não como a regra. Quem tiver questões criminais a resolver no Tribunal, seja como arguido, seja como ofendido, deve ser formalmente notificado pelas autoridades competentes para, num determinado prazo : - ou constituir um Advogado (outorgando-lhe a respectiva procuração forense e pagando-lhe directamente) - ou dirigir-se à instituição competente, fazer prova da sua insuficiência económica, assumindo nesse caso o Estado o pagamento dos respectivos honorários e despesas devidamente especificadas em tabela, ao Defensor Oficioso ou um Patrono Oficioso nomeado e inscrito no sistema SinOA. Deste modo julgamos que se conseguirão atingir vários objectivos: - o chamado cambão continuaria a ser controlado através da efectiva rotatividade que a plataforma SinOA proporciona nas nomeações que faz; - o Estado controlaria a concessão do Apoio Judiciário, com os critérios que entender,e assumiria na íntegra todos os encargos inerentes, isentando os carenciados das despesas processuais e assegurando o pagamento dos honorários do Defensor ou Patrono a nomear pelo sistema, no máximo, 30 dias após o trânsito em julgado da sentença; - a clientela criminal, voltaria aos escritórios dos Advogados, funcionando livremente o mercado, como sempre funcionou, e o peso dos honorários pagos pelo Estado a cada Advogado inscrito seriam em montante digno mas em menor número, deixando de haver Advogados exclusivamente dependentes das chamadas oficiosas ; - os cidadãos procurariam os Advogados e não o contrário, sob pena de continuarmos a ser responsabilizados pela completa subversão de todo o sistema, ao permitirmos que nos faltem ao respeito, desvalorizando o trabalho de quem com zelo e diligência fornece um serviço público; - só quem precisa é que terá Apoio Judiciário com critérios que respeitam apenas ao Estado, que assegurará o acesso de todos à Justiça; III A modalidade de pagamento faseado
3 de taxa de justiça : Uma das modalidades do apoio judiciário consiste no pagamento faseado da taxa de justiça e demais encargos processuais (artigo 16.º, n.º 1, al. d) da Lei n.º 34/2004, de 29 de Julho, republicada pela Lei n.º 47/2007, de 28 de Agosto),cuja regulamentação consta dos artigos 11.º e seguintes da Portaria n.º 1085-A/2004, de 31 de Agosto, alterada pela Portaria n.º 288/2005, de 21 de Março. Alguns tribunais invocando o artigo 13.º desta Portaria a contrário, exigindo ao beneficiário do apoio judiciário na modalidade de pagamento faseado da taxa de justiça e demais encargos processuais, que efectue o pagamento de prestações até o somatório das mesmas perfazerem um valor superior a quatro vezes o valor da taxa de justiça inicial. Quer dizer: o beneficiário do apoio judiciário, embora de forma faseada, faz num processo pagamentos superiores aos que são devidos a sua contraparte que não beneficia de apoio judiciário, colocando as partes em situação de desigualdade, suportando a parte beneficiária daquela modalidade um encargo maior com as custas do processo do que a sua contraparte que não beneficia de apoio judiciário. IV A modalidade de nomeação de Patrono O sistema de acesso ao direito, na sua vertente de apoio judiciário, como está concebido, implica desperdício do erário público e do dinheiro dos cidadãos. A Portaria n.º 1085-B/2004, de 31 de Agosto, que regulamente o artigo 22.º da Lei de Acesso ao Direito e aos Tribunais, aprova os formulários de requerimento de protecção jurídica e, embora da Lei não resulte a impossibilidade de a um casal que pretenda propor/contestar uma acção lhe seja nomeado um só advogado, o certo é que o formulário requerimento de protecção jurídica apenas permite um requerente, que gera um processo e uma nomeação. Numa acção em que haja litisconsórcio ou mesmo coligação, a cada um dos colitigantes com apoio judiciário é- lhe nomeado um advogado, mesmo que sejam marido e mulher, com interesses convergentes, vivam na mesma economia. No processo executivo, com a multiplicação das oposições à execução, e muitas vezes não passam de uma repetição de argumentos, não trazendo os oponentes argumentos
4 novos nem sequer em termos de prova testemunhal, implica custos avultados para os exequentes que querendo contestar a oposição se vêem obrigados a pagar uma taxas de justiça por cada contestação. Quanto ao processo crime, quando há vários arguidos cujas defesas não são incompatíveis, não faz sentido nomear um advogado para cada arguido, pois as várias nomeações, quando poderia haver uma só, importam um maior despesa Estado com o pagamento de honorários. V A formação contínua dos Advogados Estagiários e o Apoio Judiciário Aos Advogados Estagiários deverá ser permitida a inscrição na plataforma SinOA e poderem conhecer o dia a dia dos Tribunais, aprender a advogar - como nós aprendemos criando-se mecanismos de co-responsabilização dos Patronos e criar-se graus diferentes de intervenção consoante a sua progressão no estágio, começando por fazer apenas Processos Sumários e Sumaríssimos, depois, Processos Comuns Singulares e posteriormente Processos Comuns Colectivos e Civis, com critérios a definir e de acordo com a estrutura do estágio. VI - Conclusões: a) Repudiar a figura de um Defensor Público ou entidade equivalente; b) Manter todas as virtualidades que a plataforma SinOA introduziu no sistema de nomeação de Advogados para o Apoio Judiciário; c) O Apoio Judiciário deverá ser residual apenas para quem dele necessite; d) Exigir que as autoridades competentes, notifiquem todos os intervenientes processuais para que, sob prazo e sob eficaz cominação: constituam Advogado mediante procuração forense e pagando-lhe directamente ou em caso, de insuficiência económica e, só após o deferimento, lhes seja nomeado Defensor Oficioso ou um Patrono Oficioso (inscrito no sistema SinOA, controlado pela OA); e) Alterar o artigo 13.º da Portaria n.º 1085-A/2004, de 31 de Agosto, consagrando que o beneficiário de apoio judiciário na modalidade de pagamento faseado da taxa de justiça e demais encargos processuais, deverá o pagamento de prestações até o somatório das mesmas perfazer o valor igual à taxa de justiça devida no processo e
5 quanto aos demais encargos, os pagamentos em prestações cubra apenas o valor provável daqueles. f) Alterar os formulários de requerimento de protecção jurídica, permitindo que haja um ou mais requerentes conforme o caso, alterando a plataforma SinOA incluindo os vários beneficiários num só processo. g) Permitir aos Advogados Estagiários inscreverem-se no sistema em moldes progressivos de acordo com as várias fases do estágio; Paulo Amador, Barata Figueira, Sónia Maia Teixeira, Ana Margarida Cabral, Aurora Oliveira, Ana Maria Seiça Neves Largo de São Domingos, 14 1º LISBOA-PORTUGAL Tel congressoadvogados@cg.oa.pt
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