TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
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- Thereza Monsanto
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1 fls. 313 SENTENÇA Processo nº: Classe - Assunto Procedimento Comum - Rescisão do contrato e devolução do dinheiro Requerente: Sergio Calim Borges e outro Requerido: Even Sp 26/10 Empreendimentos Imobiliários Ltda. Juiz(a) de Direito: Dr(a). Maria Carolina de Mattos Bertoldo Vistos. SERGIO CALIM BORGES e TEREZINHA LISBOA BAIA BORGES, devidamente qualificados nos autos, ajuizaram a presente ação em face de EVEN SP 26/10 EMPREEDIMENTOS IMOBILIÁRIOS LTDA., alegando que em firmaram com a ré compromisso de compra e venda. Alegam que, apesar de terem horando diversas parcelas, não puderam pagar a parcela final. Afirmam que, sem recursos, procuraram a ré para rescindir o contrato e reaver os valores pagos, mas não obtiveram resposta. Alegam que à época já haviam pago o valor de R$ ,52, além de importância de R$ ,00, a título de corretagem e R$ 3.080,00 à título de taxa SATI. Pleiteiam a declaração da rescisão do contrato, a devolução de 90% das parcelas pagas e restituição integral dos valores pagos a título de comissão de corretagem e taxa SATI. A inicial veio acompanhada de documentos. Devidamente citada, a ré apresentou contestação de fls. 117/149, alegando, em preliminar, sua ilegitimidade passiva. No mérito, afirma a ausência de responsabilidade pela rescisão. Alega que o valor a ser devolvido deve estar em conformidade com o que foi previamente acordado entre as partes, impugnando a devolução de 90%. Impugna a restituição dos valores de comissão de corretagem e taxa SATI. Pugna pela rescisão por culpa exclusiva lauda 1
2 fls. 314 dos autores. Réplica às fls. 174/199. É o relatório. Decido. Trata-se de hipótese de julgamento antecipado da lide, diante da desnecessidade de dilação probatória, nos termos do art. 355, inc. I, do Código de Processo Civil. Inicialmente, rejeito a preliminar de ilegitimidade passiva arguida pela ré acerca dos valores referentes à comissão de corretagem. Observo que os autores, inegavelmente erigidos à condição de consumidores, firmaram com a ré negócios jurídicos principais e acessórios. A ré firmou avenças e prestou o serviço em conjunto com terceiras, devendo ser reconhecida sua legitimidade para figurar no polo passivo da presente demanda. Evidente a confusão causada ao consumidor face à forma de atuação de empresas imobiliárias que, agindo conjuntamente, com o escopo de atingir objetivo comum, dividem, por meio de estratégia jurídica, as diversas posições envolvidas na consecução do empreendimento. Ainda, o STJ, em julgamento do REsp nº /SP, ocorrido em 24 de agosto p.p., reconheceu a legitimidade passiva 'ad causam' da incorporadora, na condição de promitente-vendedora, para responder pela restituição ao consumidor dos valores pagos a título de comissão de corretagem e de taxa de assessoria técnico-imobiliária, nas demandas em que se alega prática abusiva na transferência desses encargos ao consumidor lauda 2
3 fls. 315 arguida pela ré. Assim, forçoso afastar a preliminar de ilegitimidade passiva No mérito, a ação é parcialmente procedente. Trata-se de ação de rescisão contratual cumulada com pedido de devolução de quantias pagas. A existência do vínculo contratual entre as partes está devidamente demonstrada nos autos, conforme documento de fls. 38/80, não sendo, ademais, impugnada pela ré. Pleiteiam os autores a devolução dos valores pagos a título de taxa de corretagem, em virtude de alegada venda casada ; a devolução dos valores pagos à título de taxa SATI; e a devolução de 90% dos valores pagos referentes à quitação do preço do imóvel. Inicio pela análise do pedido de restituição da comissão de corretagem. A simples incidência das normas consumeristas, no caso em análise, não tem o condão de, por si só, invalidar o que foi livremente pactuado. Na hipótese em apreço, não se vislumbra qualquer ilicitude capaz de retirar a validade do negócio celebrado. Observo que, em documento apresentando pelos autores, às fls. 68/70, encontra-se o Resumo da Escritura. Às fls. 69 consta, de forma discriminada, o valor total da venda (R$ ,00) e o valor total de comissões (R$ ,00), além do valor do contrato ( ,00). Assim, está devidamente discriminada e clara a quantia a ser paga pelos autores a título de comissão de corretagem. Ademais, os mesmos admitem, na inicial, ter conhecimento de lauda 3
4 fls. 316 que pagaram o valor específico de R$ ,00 a título de comissão de corretagem. Não podem, portanto, alegar desconhecimento. Verifica-se, pois, que os autores consentiram com a prestação de serviços de corretagem, reconhecendo o direito à contraprestação respectiva. Observo ainda que, embora tal taxa referente a comissão de corretagem não esteja discriminada no contrato, está presente no resumo de escritura, instrumento o qual é parte integrante do contrato. Como é cediço, cada modalidade de negócio tem os seus custos próprios e peculiares, discriminados ou às vezes até embutidos no preço ou nos juros. E, no caso em análise, o custo da taxa atacada era de conhecimento dos autores, que anuíram ao seu pagamento. Assim, tendo sido tal obrigação voluntariamente aceita pelos compradores, não há que se falar em venda casada, tampouco em ilegalidade de cobrança. Não sendo caso de nulidade, imprevisão e outras exceções taxativas e limitadas, nem tampouco estando caracterizadas as hipóteses previstas no art. 6º, V, do Código de Defesa do Consumidor, o contrato faz lei entre as partes e deve ser respeitado e cumprido. Nesse ponto, destaco: Fonte de obrigações, é tamanha a força vinculante do contrato que se traduz, enfaticamente, dizendo que tem força de lei entre as partes. O contrato deve ser executado, tal como se suas cláusulas fossem disposições legais para os que o estipularam. Quem assume obrigação contratual tem de honrar a palavra empenhada e se traduzir pelo modo a que se comprometeu (ORLANDO GOMES, Contratos, Forense, 5.ª ed., n. 125, p. 189) lauda 4
5 fls. 317 Nesse sentido, também a jurisprudência: CONTRATO - REQUISITOS - Validade - O princípio da Força Obrigatória consubstancia-se na regra de que o contrato é lei entre as partes; celebrado que seja, com observância de todos os pressupostos e requisitos necessários à sua validade, deve ser executado pelas partes como se suas cláusulas fossem preceitos legais imperativos. Cada qual que suporte os prejuízos provenientes do contrato; se aceitou condições desvantajosas, a presunção de que foram estipulados livremente impede que se socorra da autoridade judicial para obter a suavização ou libertação. PACTA SUNT SERVANDA (Apelação Cível nº /3, Primeiro Tribunal de Alçada Civil, Rel. ADAIL MOREIRA). No Universo do Direito Privado, podem as pessoas pactuarem como lhe aprouverem, sem que necessário seja a intervenção do Judiciário. Se, após pacto firmado espontaneamente, houver interesse de uma das partes em desobrigar-se do pactuado, necessário se torna a demonstração de que o contrato afronta os princípios de direito. (STJ - RESP nº 30590/SP, Rel. Min. Claudio Santos) Ademais, a legalidade de cobrança da taxa de Comissão de Corretagem restou assentada, quando expressa no contrato, conforme julgamento do REsp nº /SP, submetido à sistemática dos recursos repetitivos. Desta feita, e não se verificando qualquer vício de consentimento por ocasião da celebração do instrumento contratual, de rigor a declaração da validade da cobrança da Comissão de Corretagem, a qual, lauda 5
6 fls. 318 portanto, não deve ser restituída. Quanto à rescisão do vínculo contratual e à restituição dos valores pagos a título de quitação do preço do imóvel, observo que é direito dos autores, alçados na qualidade de consumidores, a rescisão do contrato e a devolução das quantias pagas. Nesse sentido: O comprador que deixa de cumprir o contrato alegando insuportabilidade da obrigação tem o direito de promover a ação para receber a restituição das importâncias pagas (Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, Apelação Cível nº /9, OSWALDO BREVIGLIERI, Relator). No caso sub judice, pretendem os autores a extinção do compromisso de compra e venda de imóvel, face à impossibilidade de efetuar o pagamento do preço. Tem-se, assim, a resolução do negócio, que deve acarretar a restituição das partes à situação anterior, nela incluída a devolução das parcelas recebidas pela vendedora. De acordo com o contrato firmado entre as partes (cláusula VIII), em caso de rescisão, o comprador tem direito à devolução da quantia paga, feitas diversas deduções (fls. 49). Nesse ponto, observo que a mencionada cláusula, tal como redigida, não é válida, visto que abusiva, uma vez que valida descontos sobre descontos, e em desconformidade com o entendimento jurisprudencial dominante. Desta forma, é inadmissível o cumprimento da cláusula contratual referente à hipótese de rescisão contratual, o que implicaria enriquecimento ilícito por parte da ré. Ademais, sendo proprietária do imóvel, obviamente poderá a ré repassá-los a terceiros, que pagarão integralmente o preço, mediante um novo lauda 6
7 fls. 319 contrato. Contudo, deve-se considerar as despesas que a parte ré teve com a celebração do contrato. Deve-se ter em mente, ainda, que, no presente caso, os autores sequer chegaram a possuir o imóvel objeto do contrato. A jurisprudência vem entendendo que... para evitar enriquecimento injusto, a solução é determinar que as perdas das quantias pagas se limite aos prejuízos sofridos pela vendedora. (JTJ-LEX-149/45 e 130/78). Verifico que o percentual de 10% (dez por cento) para perda pela ré das quantias pagas, em razão das despesas tidas pela ré com o contrato, é o aceito pela jurisprudência: Rescisão contratual Cláusula penal que prevê o decaimento das importâncias pagas pelo compromissário-comprador Nulidade Direito de a promitente-vendedora reter apenas 10% das parcelas pagas a título de despesas que realizou para a feitura do contrato Inteligência dos arts. 924, do CC e 53, da Lei 8.078/90 (TJSP) RT 771/214. Cumpre ressaltar, ainda, que tal percentual deve incidir não sobre o preço atualizado do contrato, mas sobre as parcelas pagas, corrigidas monetariamente. A devolução deverá ser imediata e em única parcela. Assim, desfeito o contrato, deve a ré devolver as quantias pagas, corrigidas monetariamente, assegurando-se o direito de fazer a retenção do valor pago, tão somente, ao correspondente a dez por cento, a título de ressarcimento pelo prejuízo sofrido com o desfazimento dos negócios, sem que haja culpa de sua parte. Por fim, cabe ressaltar que, em se tratando de contrato de adesão, não foi dada oportunidade à parte autora de questionar as cláusulas contratuais. Logo é imprescindível a observância das normas estabelecidas pelo Código de Defesa do Consumidor. Nesse sentido, destaco decisão proferida em caso lauda 7
8 fls. 320 semelhante: Por isso, no que tange à compra e venda de imóveis incorporados, eventual previsão de antecipação de perdas e danos em contrato firmado com empresa incorporadora, à guisa de cláusula penal, não poderá exceder a 10% do total já pago pelos compromissárioscompradores, com as devidas atualizações (RT - 771/215). (grifo nosso) Por fim, quanto à taxa SATI, observo que o STJ, no já citado julgamento do REsp nº /SP, reconheceu a abusividade da cobrança pelo promitente-vendedor do serviço de assessoria técnico-imobiliária (taxa SATI), ou atividade congênere, posto que é prática abusiva transferir tais custos ao consumidor. Assim, de rigor a integral devolução da quantia paga pelos autores referente à taxa SATI, no valor de R$ 3.080,00 (conforme documento de fls. 69), e de 90% da quantia paga referente à quitação do preço do imóvel, devendo tais quantias serem atualizadas desde o desembolso de cada parcela e acrescidas de juros a contar da citação. Assim, impõe-se a parcial procedência da presente ação. Ante o exposto, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE a ação que SERGIO CALIM BORGES e TEREZINHA LISBOA BAIA BORGES movem em face de EVEN SP 26/10 EMPREEDIMENTOS IMOBILIÁRIOS LTDA., para declarar rescindido Instrumento Particular de Promessa de Venda e Compra de Imóvel e Outras Avenças firmado entre as partes, descrito na inicial, e condenar a ré a devolver as quantias efetivamente pagas referente ao preço do imóvel pelos autores, corrigidas monetariamente desde o desembolso, com o lauda 8
9 fls. 321 acréscimo dos juros de mora de 1% ao mês, a partir da citação, até o efetivo pagamento, assegurado o direito à vendedora de reter, tão somente, a quantia correspondente a 10% do total pago pela compradora, nos termos acima expostos. Condeno, ainda, a ré na devolução do valor integral pago pelos autores a título de taxa SATI, no montante de R$ 3.080,00 (três mil e oitenta reais), corrigido monetariamente desde o desembolso, com o acréscimo dos juros de mora de 1% ao mês, a partir da citação, até o efetivo pagamento. Tendo os autores decaído de parcela mínima do pedido, arcará a ré com o pagamento das custas e despesas processuais, corrigidas do desembolso, bem como com honorários advocatícios, que arbitro em 10% do valor da condenação, com base no art. 85, 2º c/c art. 86, caput, do Código de Processo Civil. P.R.I. São Paulo, 8 de novembro de MARIA CAROLINA DE MATTOS BERTOLDO Juíza de Direito Pleiteiam os autores a devolução dos valores pagos a título de taxa de corretagem e SATI, em virtude de alegada venda casada. A simples incidência das normas consumeristas, contudo, não tem o condão de, por si só, invalidar o que foi livremente pactuado. Na hipótese em apreço, não se vislumbra qualquer ilicitude capaz de retirar a validade do negócio celebrado. Ao firmar a proposta de compra do imóvel, a autora avençou o pagamento de montante pelo serviço de assessoria prestado, discriminado no lauda 9
10 fls. 322 relatório de pagamento (fls. 53/54). Verifica-se, pois, que a autora firmou contrato de prestação de serviços de corretagem e assessoria técnico imobiliária, reconhecendo o direito à contraprestação respectiva. Como é cediço, cada modalidade de negócio tem os seus custos próprios e peculiares, discriminados ou às vezes até embutidos no preço ou nos juros. E, no caso em análise, o custo das taxas atacadas era de conhecimento da autora, que anuiu ao seu pagamento. Assim, tendo sido tal obrigação voluntariamente aceita pela compradora, não há que se falar em venda casada, tampouco em ilegalidade de cobrança. Desta feita, e não se verificando qualquer vício de consentimento por ocasião da celebração do instrumento contratual, o princípio da força obrigatória dos contratos impede o acolhimento da pretensão inicial. Não sendo caso de nulidade, imprevisão e outras exceções taxativas e limitadas, nem tampouco estando caracterizadas as hipóteses previstas no art. 6º, V, do Código de Defesa do Consumidor, o contrato faz lei entre as partes e deve ser respeitado e cumprido. Nesse ponto, destaco: Fonte de obrigações, é tamanha a força vinculante do contrato que se traduz, enfaticamente, dizendo que tem força de lei entre as partes. O contrato deve ser executado, tal como se suas cláusulas fossem disposições legais para os que o estipularam. Quem assume obrigação contratual tem de honrar a palavra empenhada e se traduzir pelo modo a que se comprometeu (ORLANDO GOMES, Contratos, Forense, 5.ª ed., n. 125, p. 189) lauda 10
11 fls. 323 Nesse sentido, também a jurisprudência: CONTRATO - REQUISITOS - Validade - O princípio da Força Obrigatória consubstancia-se na regra de que o contrato é lei entre as partes; celebrado que seja, com observância de todos os pressupostos e requisitos necessários à sua validade, deve ser executado pelas partes como se suas cláusulas fossem preceitos legais imperativos. Cada qual que suporte os prejuízos provenientes do contrato; se aceitou condições desvantajosas, a presunção de que foram estipulados livremente impede que se socorra da autoridade judicial para obter a suavização ou libertação. PACTA SUNT SERVANDA (Apelação Cível nº /3, Primeiro Tribunal de Alçada Civil, Rel. ADAIL MOREIRA). No Universo do Direito Privado, podem as pessoas pactuarem como lhe aprouverem, sem que necessário seja a intervenção do Judiciário. Se, após pacto firmado espontaneamente, houver interesse de uma das partes em desobrigar-se do pactuado, necessário se torna a demonstração de que o contrato afronta os princípios de direito. (STJ - RESP nº 30590/SP, Rel. Min. Claudio Santos) Por outro lado, ainda que a praxe seja o pagamento das despesas atinentes à alienação pelo vendedor do bem, tais como comissão de corretagem e taxa SATI, nada obsta que a compradora arque com tal ônus, como se depreende ter ocorrido no caso presente. Em consequência, as alegações constantes na inicial não são suficientes para embasar a pretensão da autora. Ademais, o contrato de serviços de corretagem e técnico lauda 11
12 fls. 324 imobiliário tem como finalidade viabilizar a celebração da venda. Essa mediação se consuma no momento em que aparece o acordo de vontades entre os contratantes, e o direito à remuneração nasce com a aproximação e conclusão do negócio, independente de sua execução. Assim, o direito à comissão de corretagem e à taxa SATI decorre da realização da aproximação das partes e a formalização do contrato. Eventual rescisão posterior do negócio, contudo, não afasta a exigibilidade da comissão. No caso dos autos, tem-se que o contrato dos serviços de corretagem e técnico-imobiliário se aperfeiçoou. A posterior rescisão, portanto, não retira o direito à devida comissão. Porém, no tocante aos demais pedidos, é direito da autora, alçada na qualidade de consumidora, a rescisão do contrato e a devolução das quantias pagas, sem os limites estabelecidos no compromisso de compra e venda. Nesse sentido: O comprador que deixa de cumprir o contrato alegando insuportabilidade da obrigação tem o direito de promover a ação para receber a restituição das importâncias pagas (Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, Apelação Cível nº /9, OSWALDO BREVIGLIERI, Relator). No caso sub judice, pretende a autora a extinção do compromisso de compra e venda de imóvel, face à impossibilidade de efetuar o pagamento do preço. Tem-se, assim, a resolução do negócio, que deve acarretar a restituição das partes à situação anterior, nela incluída a devolução das parcelas recebidas pela vendedora. Determina o contrato firmado entre as partes: lauda 12
13 fls Rescindido o contrato, fica estabelecido que, das quantias pagas pelo ADQUIRENTE à VENDEDORA, serão deduzidas as verbas que se seguem: a) O valor das despesas comerciais (comissão, publicidade e outras), originadas por este instrumento, já incluídas no preço, desde já fixadas em 12% (doze por cento) do preço total da venda monetariamente atualizado; b) Juros moratórios e compensatórios e multas de mora, pagos quando da eventual purgação de mora; c) Taxa mensal de ocupação, desde já prevista e acertada em 1% (um por cento) por mês ou fração calculadas sobre o preço da venda corrigido pelos índices aqui pactuados, e devida desde a data em que o imóvel se encontre disponível para entrega ao COMPRADOR, assim entendido, o dia da expedição do Auto de Conclusão ( Habitese ) emitido pela Municipalidade, até a efetiva devolução do imóvel; d) O valor de IPTU, luz, gás e condomínio de utilização existentes até a data da desocupação, caso houverem; e) Os valores necessários à reposição ao idêntico estado do imóvel de quando foi entre ao ADQUIRENTE; f) Despesas com PIS, COFINS, bem como todos os demais tributos e leis sociais pagos em decorrência do recebimento das parcelas do preço; g) Despesas com seguro prestamista; lauda 13
14 fls. 326 advogado eventualmente incorridos. h) Custas judiciais e honorários de 32 Efetuado os descontos e deduções supra citados, ficará a disposição do ADQUIRENTE o valor correspondente a 70% (setenta por cento) do saldo apurado, perdendo o restante a título de reembolso de despesas e indenização desde já pré-fixada. Em aplicação da referida cláusula, tem-se, conforme documento de fls. 56: Valor atual da unidade: R$ ,19 Valor pago até 01/02/2014: R$ ,96. DESCONTOS A SEREM ABATIDOS: 12% valor da venda R$ ,46 6% valor pago R$ 5.013,66 Condomínio R$ XX,XX IPTU R$ XX,XX TOTAL R$ ,12 Valor pago, abatendo os descontos acima descritos: R$ ,84 70% do cliente: R$ ,00 VALOR TOTAL DA DEVOLUÇÃO: R$ , lauda 14
15 fls. 327 Nesse ponto, observo que as mencionadas cláusulas, tal como redigidas, não são válidas, visto que abusivas, uma vez que validam descontos sobre descontos, e em desconformidade com o entendimento jurisprudencial dominante. Desta forma, é inadmissível o cumprimento da cláusula contratual referente à hipótese de rescisão contratual, o que implicaria num enriquecimento ilícito por parte da ré. Ademais, sendo proprietária do imóvel, obviamente poderá a ré repassar o imóvel a terceiros, que pagarão integralmente o preço, mediante um novo contrato. Contudo, deve-se considerar as despesas que a parte ré teve com a celebração do contrato. Deve-se ter em mente, ainda, que, no presente caso, a autora sequer chegou a possuir o imóvel objeto do contrato, que somente lhe seria entregue com o pagamento integral do preço acordado, mas pagou as parcelas pré-chaves, propiciando à ré a disponibilidade de tal quantia, a ser utilizada conforme suas necessidades. A jurisprudência vem entendendo que...para evitar enriquecimento injusto, a solução é determinar que as perdas das quantias pagas se limite aos prejuízos sofridos pela vendedora. (JTJ-LEX-149/45 e 130/78). Verifico que o percentual de 10% (dez por cento) para perda pela ré das quantias pagas, em razão das despesas tidas pela ré com o contrato, é o aceito pela jurisprudência: Rescisão contratual Cláusula penal que prevê o decaimento das importâncias pagas pelo compromissário-comprador Nulidade Direito de a promitente-vendedora reter apenas 10% das parcelas pagas a título de despesas que realizou para a feitura do contrato Inteligência dos arts. 924, do CC e 53, da Lei 8.078/90 (TJSP) RT 771/214. Cumpre ressaltar, ainda, que tal percentual deve incidir não lauda 15
16 fls. 328 sobre o preço atualizado do contrato, mas sobre as parcelas pagas, corrigidas monetariamente. A devolução deverá ser imediata e em única parcela. Deve-se ressaltar, ainda, que a comissão de corretagem e a Taxa SATI não se incluem nos valores a serem considerados como base de cálculo da importância a ser restituída, uma vez que, como já visto, houve um contrato autônomo de serviço de corretagem e técnico-imobiliário, sendo tais taxas as devidas contraprestações a esses serviços. Assim, desfeito o contrato, deve a ré devolver as quantias pagas, corrigidas monetariamente, assegurando-se o direito de fazer a retenção do valor pago, tão somente, ao correspondente a dez por cento, a título de ressarcimento pelo prejuízo sofrido com o desfazimento do negócio, sem que haja culpa de sua parte. Por fim, cabe ressaltar que, em se tratando de um contrato de adesão, não foi dada oportunidade à autora de questionar as cláusulas contratuais. Logo é imprescindível a observância das normas estabelecidas pelo Código de Defesa do Consumidor. Nesse sentido, destaco decisão proferida em caso semelhante: Por isso, no que tange à compra e venda de imóveis incorporados, eventual previsão de antecipação de perdas e danos em contrato firmado com empresa incorporadora, à guisa de cláusula penal, não poderá exceder a 10% do total já pago pelos compromissárioscompradores, com as devidas atualizações (RT - 771/215). (grifo nosso) Assim, impõe-se a procedência parcial da presente ação, para reconhecer à autora o direito à devolução das quantias pagas corrigidas monetariamente, desde o desembolso, assegurando-se à ré o direito, tão só, da lauda 16
17 fls. 329 retenção do total pago pela compradora ao correspondente a 10% a título de reparação do prejuízo sofrido pelo desfazimento do negócio, independentemente de sua culpa, ex-vi do art. 53, do Código de Defesa do Consumidor, excluindo-se do montante pago os valores referentes à comissão de corretagem e Taxa SATI. Ante o exposto, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE a ação que IRAMAIA RODRIGUES ALVES move em face de INPAR PROJETO 33 SPE LTDA, para declarar rescindido Instrumento Particular de Promessa de Venda e Compra de Imóvel e Outras Avenças firmado entre as partes descrito na inicial, e condenar a ré a devolver as quantias efetivamente pagas pela autora, corrigidas monetariamente desde o desembolso, com o acréscimo dos juros de mora de 1% ao mês, a partir da citação, até o efetivo pagamento, assegurado o direito à vendedora de reter, tão somente, a quantia correspondente a 10% do total pago pela compradora, nos termos acima expostos. Diante da sucumbência recíproca, dividirão as partes as custas e despesas processuais, arcando cada qual com os honorários advocatícios dos respectivos patronos. P.R.I. São Paulo, 8 de novembro de MARIA CAROLINA DE MATTOS BERTOLDO Juíza de Direito DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE NOS TERMOS DA LEI /2006, CONFORME IMPRESSÃO À MARGEM DIREITA lauda 17
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