Palácio Assembleia Nacional, 13 de Janeiro de 2018

Transcrição

1 DISCURSO DE SUA EXCELÊNCIA O PRESIDENTE DA ASSEMBLEIA NACIONAL, ENG. JORGE SANTOS, NA SESSÃO SOLENE ESPECIAL COMEMORATIVA DO 13 DE JANEIRO DIA DA LIBERDADE E DA DEMOCRACIA Palácio Assembleia Nacional, 13 de Janeiro de 2018 Senhor Presidente da República e digníssima esposa Senhor Primeiro-Ministro Senhor Presidente do Tribunal Constitucional Senhora Presidente do Supremo Tribunal da Justiça Senhoras e senhores Deputados Nacionais Senhoras e senhores Membros do Governo Senhor Presidente do Tribunal de Contas Senhor ex-presidente da República, Comandante Pedro Pires e digníssima esposa Senhor Presidente do Conselho Superior da Magistratura Judicial Senhores Representantes do Corpo Diplomático e de organismos internacionais Senhores Presidentes de Câmara e Assembleias Municipais Senhores Combatentes da Liberdade da Pátria Senhores Representantes das Confissões Religiosas Senhores Representantes das organizações da sociedade civil Senhores Jornalistas Minhas senhoras e meus senhores 1

2 A Assembleia Nacional reúne-se, pelo segundo ano consecutivo, neste renovado Palácio, para, em Sessão Solene Especial, assinalar mais um aniversário do 13 de Janeiro o Dia da Liberdade e da Democracia em Cabo Verde. Dizia o saudoso e ilustre Nelson Mandela: "Tudo parece impossível até que seja feito. Os cabo-verdianos conseguiram, verdadeiramente, com trabalho e resiliência, realizar o 13 de Janeiro. Permitam-me, em nome da Casa Parlamentar, saudar a todos vós que honrais com a vossa presença esta sessão solene. Saúdo, de igual modo, os milhares de cabo-verdianos espalhados pelos quatro cantos do mundo, que nos acompanham, através dos mais diversos canais de comunicação que, hoje, graças ao 13 de Janeiro, temos à nossa disposição. Esta sessão solene conta, mais uma vez, com a honrosa presença de Sua Excia, o Presidente da República, Doutor Jorge Carlos Fonseca, o Mais Alto Magistrado da Nação. A forma como V. Excia tem exercido, a função presidencial desde 2011, tem sido uma exaltação e promoção permanente dos ideais do 13 de Janeiro. 2

3 Senhor Presidente Caros Deputados Ilustres convidados A história acabou por dar razão à luta secular do povo destas ilhas, que a geografia colocou no cruzamento do Atlântico. O 13 de Janeiro não foi apenas um grito de liberdade. Foram sonhos e abraços, foram sorrisos, foram lágrimas de alegria, de explosão de felicidade que se emanou das entranhas deste povo. Podemos afirmar que o 13 de Janeiro assume-se, incontornavelmente, como um marco histórico de grande lastro social, político e económico, que está para além das nossas legítimas diferenças. O grande obreiro do 13 de Janeiro é o povo cabo-verdiano, que apontou o caminho da democracia e das liberdades, como ferramenta e estado de alma para a sua realização individual e colectiva. Todo esse percurso valeu a pena. O 13 de Janeiro não foi apenas o grito pela liberdade, mas foi também um grito que mudou as nossas vidas e o nosso destino, praticamente em todos os domínios e sectores da sociedade. 3

4 O vasto catálogo de direitos, liberdades e garantias dos cidadãos plasmado na Constituição de 1992 foi das primeiras conquistas do 13 de Janeiro, consagrando um Estado de Direito Democrático. As conquistas da liberdade e democracia mudaram pela positiva o nosso relacionamento com o mundo. De um país fechado, passamos a pertencer, em pé de igualdade, à família mundial dos países democráticos e livres; a pessoa humana ganhou o estatuto do centro das políticas públicas e de todas as atenções. A liberdade passou a ser o hino, cantado e vivido por todos os cidadãos, não importando a sua origem, a sua condição, a sua orientação politica ou religiosa. E por estes e outros motivos, ganhamos mais respeito e consideração por parte da comunidade internacional. Nestes 27 anos de democracia, realizámos tarefas importantes e essenciais para o país, contando com o concurso e engajamento de todas as forças sociais e políticas e com o apoio dos nossos parceiros de desenvolvimento: Edificação do Estado de Direito Democrático, com realização de eleições regulares e livres, com alternâncias de poder a todos os níveis; 4

5 Instalação do Poder Local e reforço da autonomia e descentralização dos Municípios; A iniciativa privada como motor do desenvolvimento; Um sistema de justiça independente e uma imprensa livre; Redução drástica da pobreza, das desigualdades e das assimetrias regionais. O país que temos hoje, fundado na matriz da Constituição de 1992, difere substancialmente do país que o antecede. Mudou quase tudo, mas sobretudo mudou a atitude do homem cabo-verdiano, mudou a cultura política. Hoje temos uma cultura de liberdade, uma atitude muito crítica em relação ao poder, e a sociedade civil funciona. Funciona sim senhor! Eram estes os sonhos de 13 de Janeiro, uma sociedade liberta, forte, autónoma, crítica e sobretudo, um homem livre, no pensamento, na expressão e na acção. Senhor Presidente Caros Deputados Ilustres convidados Mas, a realidade de hoje não altera os desafios que ainda temos que enfrentar e vencer. 5

6 Nós mudámos mas também o mundo mudou. As expectativas são outras, o ambiente que nos envolve é outro, os recursos disponíveis são outros, as necessidades e exigências são diferentes. A nossa aspiração é atingir parâmetros de país desenvolvido. As comparações devem ser, obrigatoriamente, feitas com aqueles povos e aqueles países que se encontram num estádio de desenvolvimento superior ao nosso. É por isso, que em todos os documentos programáticos e de orientação estratégica, já elaborados nesta legislatura e legitimados por este Parlamento, apontam para a necessidade de, num horizonte muito próximo, atingirmos níveis de bemestar substancialmente superiores: Um país com uma democracia consolidada e avançada, apostado num novo modelo de exercício do poder; Um Estado moderno, com instituições fortes, credíveis e perenes, focado na transparência e governação aberta; Um contexto politico e institucional capaz de criar um bom ambiente económico e social; Uma administração pública substancialmente desburocratizada e ao serviço do desenvolvimento, com Tolerância zero à corrupção activa ou passiva; 6

7 Uma sociedade civil esclarecida, organizada, autónoma, participativa e forte; Projecta-se um Cabo Verde com um novo modelo de desenvolvimento económico baseado no investimento privado, na actividade empresarial, na eficiência do Estado e na coesão social e territorial; com crescimento a taxas compatíveis com a necessidade de criar emprego e atingir os objectivos do desenvolvimento sustentável. São metas possíveis e realizáveis, mas que requerem esforço e trabalho permanentes e desafia a nossa capacidade de inovação e realização. Serão precisas reformas profundas na nossa sociedade e no nosso sistema de governação: - Que põem à prova a nossa capacidade de decidir, rápida e oportunamente; - Que demandam reformas profundas do Estado: no sistema de governação das ilhas e na regionalização, na administração pública, no sistema judicial, no sistema fiscal, no sistema de educação/formação, na saúde, na segurança e nas nossas relações com o mundo. 7

8 São metas que determinam uma urgente reapreciação das nossas alianças internacionais, dos nossos espaços de inserção histórica, cultural e económica. A nossa actuação na frente externa deve ser um instrumento potenciador do nosso desenvolvimento. É primordial construirmos os consensos nacionais necessários sobre esta temática e trabalhar com uma visão de longo prazo, para um desenvolvimento sustentável. Relações privilegiadas e especiais têm que, forçosamente, trazer benefícios para o país e para os cabo-verdianos, têm que fortalecer a imagem de Cabo Verde e serem postas ao serviço das nossas comunidades emigradas. Foi com satisfação que, recentemente, recebemos a notícia segundo a qual somos a primeira democracia em África, avaliação da conceituada Freedom House. Mas também no mais famoso ranking das democracias no mundo Cabo Verde ocupa, numa lista de 167 países, a 24ª posição. Essas avaliações de insuspeitos organismos internacionais só aumentam a nossa responsabilidade no sentido de garantirmos a irreversibilidade das conquistas proporcionadas pelo 13 de Janeiro. 8

9 Senhor Presidente Caros Deputados Ilustres convidados Os jovens são o motor da nossa Nação. Precisamos crescer a níveis mais sustentáveis no tempo e gerar empregos qualificados para essa importante e decisiva camada da nossa população. Precisamos transformar essa aparente preocupação que é a elevada pressão juvenil disponível no sistema de ensino e no mercado de trabalho em uma oportunidade para o futuro do país, aproveitando o dividendo demográfico de Cabo Verde, apostando numa educação de qualidade e num quadro de valores que privilegie o trabalho decente, o mérito e elevado sentido de serviço público. Deveremos continuar a apostar em políticas assertivas conducentes a uma maior igualdade e equidade de género, garantindo iguais oportunidades para homens e mulheres, na política, na administração pública, nas empresas e nas organizações da sociedade. Uma atenção redobrada, deverá ser dispensada às políticas de protecção e promoção dos direitos da criança. 9

10 A violência sexual contra crianças e adolescentes é uma das mais graves violações dos direitos fundamentais e uma das grandes preocupações a nível mundial. Aqui mostra-se necessário fazer-se uma profunda analise no sentido de fazer reflectir adequadamente no sistema sancionatório cabo-verdiano os valores caros à sociedade caboverdiana. Nunca é, demais recordar, o papel do Parlamento cabo-verdiano na adopção da Lei sobre a Violência Baseada no Género e na adopção do dia 4 de Junho como Dia Nacional contra o abuso e exploração sexual de Menores. Senhor Presidente Caros Deputados Ilustres convidados Tenho-o dito e repito, que a abertura do Parlamento à sociedade é prioridade das prioridades para o sistema político e de representação. A Reforma do Parlamento, assume-se assim, como uma das questões e objectivos centrais da nossa agenda política e parlamentar. 10

11 Enquanto Sede do Poder, o Parlamento deve poder acompanhar as mudanças económicas e sociais do Pais. Reafirmo, que temos tempo suficiente para, com ampla participação de todos os atores políticos, parlamentares e sociedade civil, nos questionarmos sobre um conjunto de soluções adoptado há mais de vinte e cinco anos, soluções que hoje tendem a revelar-se desajustadas e obsoletas com relação à nova realidade e dinâmica social, política, económica e tecnológica do País. Quer isto dizer, por outras palavras, que as forças políticas devem abrir espaços de diálogo para, se poder proceder nos próximos tempos, e no quadro das reformas globais e inerentes dinâmicas institucionais, à revisão do Código Eleitoral e da própria Constituição da República, com vista ao aperfeiçoamento e melhor adaptação à nossa realidade. A sociedade, não raras vezes, tem emitido sinais e alertas à classe política. Temos que prevenir situações que possam por em causa a sobrevivência do sistema político e de representação. Por outro lado, há que combater o nefasto fenómeno do populismo, distanciando dos anseios meramente eleitoralistas, envidando todos os esforços para uma concertação estratégica 11

12 entre os cidadãos, as instituições democráticas e o poder politico em relação aos principais assuntos de Cabo Verde. Volvidos 27 anos, e com todos os ganhos inerentes, falar hoje em liberdade e democracia, implica, inevitavelmente, falar da importância da diminuição do distanciamento entre a sociedade civil e as instituições democráticas. Por isso apostar no Governo aberto e no Parlamento aberto devem ser reflexos evidentes da consolidação do Estado de Direito democrático. Senhor Presidente Caros Deputados Ilustres convidados Estamos firmemente convictos e alegremente convencidos de que comemorar o dia 13 de Janeiro, é sobretudo, prestar uma honrosa homenagem ao povo cabo-verdiano, quer os residentes e os que vivem no estrangeiro, pela sua reconhecida sabedoria de nos ter trazido a liberdade e a democracia. Sendo uma conquista de todos os cabo-verdianos, o 13 de Janeiro deve ser encarado, vivido e comemorado por todos os que acreditam na liberdade, na democracia, na caboverdianidade e no futuro da nossa terra. 12

13 Um bem-haja ao 13 de Janeiro Muito obrigado pela vossa atenção e presença. 13