O Comércio e a Hotelaria de Luxo nas Metrópoles de São Paulo e Buenos Aires

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1 O Comércio e a Hotelaria de Luxo nas Metrópoles de São Paulo e Buenos Aires

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4 Conselho Editorial Av. Carlos Salles Block, 658 Ed. Altos do Anhangabaú, 2º Andar, Sala 21 Anhangabaú - Jundiaí-SP contato@editorialpaco.com.br Profa. Dra. Andrea Domingues Prof. Dr. Antonio Cesar Galhardi Profa. Dra. Benedita Cássia Sant anna Prof. Dr. Carlos Bauer Profa. Dra. Cristianne Famer Rocha Prof. Dr. Fábio Régio Bento Prof. Dr. José Ricardo Caetano Costa Prof. Dr. Luiz Fernando Gomes Profa. Dra. Milena Fernandes Oliveira Prof. Dr. Ricardo André Ferreira Martins Prof. Dr. Romualdo Dias Profa. Dra. Thelma Lessa Prof. Dr. Victor Hugo Veppo Burgardt 2014 Carlos Henrique Costa da Silva Direitos desta edição adquiridos pela Paco Editorial. Nenhuma parte desta obra pode ser apropriada e estocada em sistema de banco de dados ou processo similar, em qualquer forma ou meio, seja eletrônico, de fotocópia, gravação, etc., sem a permissão da editora e/ou autor. Si381 Silva, Carlos Henrique Costa da. O Comércio e a Hotelaria de Luxo nas Metrópoles de São Paulo e Buenos Aires/Carlos Henrique Costa Da Silva. Jundiaí, Paco Editorial: p. Inclui bibliografia. ISBN: Turismo 2. Hotelaria 3. Ostentação 4. América Latina I. Silva, Carlos Henrique Costa da. CDD: Índices para catálogo sistemático: Turismo Comércio Viagens Turismo IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL Foi feito Depósito Legal

5 SUMÁRIO APRESENTAÇÃO...7 INTRODUÇÃO...11 CAPÍTULO 1 METODOLOGIA E UNIVERSO DA PESQUISA...17 CAPÍTULO 2 COMÉRCIO, HOTELARIA E CONSUMO DO LUXO NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA...29 CAPÍTULO 3 ENTENDENDO SÃO PAULO A PARTIR DOS HOTÉIS E DO COMÉRCIO DE LUXO A Hotelaria de Luxo na Dinâmica da Centralidade Paulistana...62 CAPÍTULO 4 ENTENDENDO BUENOS AIRES A PARTIR DOS HOTÉIS E DO COMÉRCIO DE LUXO Caracterização Geral de Buenos Aires Caracterização do Comércio e dos Hotéis de Luxo de Buenos Aires CAPÍTULO 5 CONSIDERAÇÕES SOBRE A HOTELARIA E O COMÉRCIO DE LUXO DE SÃO PAULO E DE BUENOS AIRES CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS...209

6 Dedico este trabalho ao Mariano, amor e companheiro para toda a vida.

7 APRESENTAÇÃO O presente livro é fruto de dezoito meses de trabalho que incluem: seis meses de conversas e encontros com o Prof. Dr. Rodolfo Bertoncello do Instituto de Geografia da Universidade de Buenos Aires, antes da aprovação para realização de Estágio Pós-Doutoral, em 2011, pelo CNPq; e doze meses de trabalho efetivo na Argentina em Nosso contato e reconhecimento da contribuição da produção bibliográfica do referido docente para a Geografia iniciou-se em 2003, após a obtenção do título de Mestre em Geografia e minha vinculação direta com os cursos de Bacharelado em Turismo em nível de Graduação. Desde 2003, venho trabalhando diretamente nos cursos de graduação em Turismo ministrando a disciplina Geografia do Turismo. Desde 2006, sou docente permanente em regime de dedicação exclusiva da UFSCar, o que me permite dedicar-me a estudos, orientação, ensino e extensão na área da Geografia e sua relação direta com o Turismo. Como a área de atuação do professor Bertoncello é a interface entre a Geografia, o Turismo, a Cultura e o Patrimônio, comecei a utilizar e a reconhecer a sua metodologia e linha teórica de investigação, fato que pode ser comprovado através dos planos de ensino que desenvolvi nas diferentes Instituições de Ensino que trabalhei e mesmo nas referências bibliográficas de minha Tese de Doutorado defendida em Após a conclusão do Doutorado em Geografia, quando pesquisei o reforço da centralidade paulistana através da hotelaria de alto padrão localizada no vetor sudoeste da metró- 7

8 Carlos Henrique Costa da Silva pole, diversos novos questionamentos me foram apresentados sobre essa temática, pela qual continuei buscando novos desafios teóricos e empíricos. Nesta direção, comecei a pesquisar as redes de comércio de artigos de luxo no Brasil, em uma perspectiva de análise que engloba as problemáticas da sociedade de consumo, a reprodução do espaço urbano através do ciclo de reprodução ampliada do capital e o papel do comércio e dos serviços na produção de novas áreas de centralidade nas cidades. Deste modo, começamos a participar e debater estes temas junto a um grupo de pesquisadores das Universidades de Barcelona, Lisboa, Catânia, Milão, Porto, Istambul, Toulousse e Buenos Aires em nível internacional e com a UERJ, USP, UNESP e UFPel em nível nacional, devido ao meu vínculo como pesquisador do Núcleo de Estudos sobre o Comércio e o Consumo, coordenado pela Profa. Dra. Silvana Maria Pintaudi da UNESP/Rio Claro. Assim, consideramos este livro como um avanço em relação ao que estamos pesquisando sobre o comércio e a hotelaria de luxo, já que apresenta questões novas que tratam de pensar em nível internacional alguns processos socioespaciais já observados aqui no Brasil, acrescentados de um desafio metodológico que é examinar a dinâmica socioespacial da hotelaria e do comércio de luxo em São Paulo e em Buenos Aires. Nossa análise considera que a localização e funcionamento das grandes cadeias hoteleiras de luxo se dão de forma integrada aos estabelecimentos comerciais de luxo. No plano do espaço urbano, esta proposta de análise nos leva a pensar sobre a constituição e dinâmica de novas áreas de centralidade na metrópole, advindas de novas articulações entre os planos local e mundial. Neste sentido, o presente livro percorre um caminho que apresenta considerações sobre a questão da centralidade que os artigos de luxo possuem na estruturação da sociedade contemporânea, uma análise sobre o lugar do comércio, do consumo e 8

9 da hotelaria de luxo no processo de formação e desenvolvimento territorial e econômico de ambas as cidades em análise e traz um debate sobre a questão do turismo e o consumo do espaço urbano a partir do processo de valorização do patrimônio cultural no caso de Buenos Aires e da valorização do sempre renovar-se no caso de São Paulo. A tentativa de um estudo comparativo foi superada no decorrer do desenvolvimento deste livro, já que as variáveis selecionadas nos permitiram enxergar novos matizes para o estudo em questão, possibilitando realizar uma análise muito mais integrada entre ambas as cidades. Deste modo, destacamos características do mercado hoteleiro e do comércio de luxo em ambas as cidades por meio de suas próprias características, produto da formação socioterritorial de cada país. A análise conjunta realizada nos permitiu construir um quadro explicativo muito mais amplo do que o previamente pensado, a partir da realidade de apenas uma metrópole, no caso São Paulo. A dupla analítica Buenos Aires e São Paulo nos possibilitou verificar melhor a dimensão socioespacial do setor hoteleiro e comercial de luxo no espaço urbano. O Comércio e a Hotelaria de Luxo nas Metrópoles de São Paulo e Buenos Aires 9

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11 INTRODUÇÃO A perspectiva de uma leitura do espaço urbano a partir das transformações nas formas comerciais, nos serviços e nas relações de consumo que permita compreender o mundo e o modo de reprodução da vida ao qual estamos submetidos e que desperte e ilumine o entendimento desse espaço, nos impele permanentemente a aprofundar e sistematizar o estudo sobre as formas comerciais, os serviços e o consumo na sociedade atual. Muitos geógrafos, ao pesquisarem o comércio, os serviços e o consumo, têm se centrado na articulação de conceitos e metodologias que auxiliem na compreensão dos espaços de reprodução da vida que são os lugares da materialização da realidade social. Nesta direção, as formas do comércio, os serviços e o consumo tornam-se elementos da realidade que auxiliam a compreensão do movimento geral de reprodução do espaço geográfico. Em outras palavras, destacamos que no âmbito das pesquisas em geografia, a análise do comércio, dos serviços e do consumo não deve centrar-se apenas no fator econômico como elemento central para pesquisar. A dimensão social contida no estudo dessas formas, para além do econômico, permite revelar o movimento de reprodução do espaço geográfico. Deste modo, o caminho que se propõe percorrer nesta pesquisa é o de realizar uma análise sobre as cidades de Buenos Aires e de São Paulo a partir de seus hotéis de luxo na atualidade, com o propósito de entender de que maneira os serviços da hotelaria participam do processo de reprodução do espaço urbano. No entanto, vinculamos o estudo da hotelaria de luxo com o de comér- 11

12 Carlos Henrique Costa da Silva cio e consumo de artigos de luxo, porque vislumbramos, nesta relação, um meio para se aprofundar no debate mais amplo sobre as formas comerciais, os serviços, mas, principalmente, na centralidade que o consumo desempenha na sociedade contemporânea. As formas comerciais, os serviços vinculados à hotelaria e o consumo apresentam ao pesquisador múltiplas possibilidades de leituras do espaço urbano, porque estes permitem a reprodução de relações específicas que são produzidas em determinados momentos da história na medida em que novas sociabilidades, novos padrões de consumo, novos modos de vida e de estrutura social vão se formando. É, portanto, válido afirmar que as formas comerciais, os serviços e o consumo dialogam com as demais formas do processo de reprodução do espaço geográfico, enquanto processo maior de produção da vida humana. Por esta razão, é interessante destacá-las como elementos para o estudo do espaço geográfico. É praticamente impossível pensar no modo de vida urbano contemporâneo, no qual as relações sociais são mediadas por uma série de elementos que se fundamentam no padrão capitalista de produção, em que lucro, imagem, virtualidade, informação e fluidez são considerados os principais conceitos que reproduzem o sistema e conduzem a vida cotidiana, sem também imaginar algumas formas espaciais que se tornaram referência para as cidades no século XXI. Dentre estas formas, podemos destacar os hipermercados, supermercados, shopping centers, hotéis, lanchonetes de fast food, aeroportos, restaurantes, discotecas, clínicas de estética, hospitais, escritórios, sedes empresariais, unidades fabris, ainda que em menor quantidade a cada dia nas grandes cidades, mas ainda são facilmente visualizadas na área urbana das metrópoles, etc. São uma infinidade de formas espaciais que expressam as diversas funções que uma cidade desempenha na rede urbana regional, nacional ou mundial. Este par dialético forma-função só 12

13 tem sua materialidade em uma estrutura urbana capitalista contemporânea presente, mas não exclusivamente, nas cidades do ocidente. A tríade forma-função-estrutura, conforme Lefèbvre (1973), fundamenta um modo de pensar que possibilita entender a cidade como obra humana construída ao longo da história que é produto e condição do processo de reprodução da sociedade em seu contínuo movimento de produção do espaço geográfico através da sua relação direta com a natureza através do trabalho. A cidade contemporânea, principalmente a metrópole, possui uma expressividade global através de seu nível de inserção na economia internacionalizada, medida pelas relações de troca de informações e riquezas com todas as demais que formam uma rede mundial de cidades, onde o comércio internacional fundamenta uma série de funções e formas espaciais que estruturam seu espaço e são visíveis, mais claramente, apenas nestas cidades, ainda que não exclusivas a elas. No caso da hotelaria de luxo voltada para os negócios que se estabelecem nestas cidades, sua existência está vinculada, principalmente, ao aumento do fluxo de trocas comerciais que o atual período de desenvolvimento do sistema capitalista de produção exige como forma de se reproduzir e expandir. Ou seja, nas principais cidades que se apresentam como centros financeiros de pujança internacional, há a notável presença de redes de hotéis de luxo que servem como referência para a hospedagem e o trabalho dos executivos e funcionários que devem circular pelo mundo para efetivar contratos comerciais. Neste caso, estamos considerando, fundamentalmente, as maiores e principais empresas do mundo, que têm condições de pagar a seus trabalhadores hospedagem nestes locais, bem como a ocorrência de eventos e reuniões que fomentam os acordos comerciais em escala nacional e internacional. Entretanto, para entender o lugar da hotelaria de luxo consideramos, também, que estas cidades devem ser compreendidas como importantes locais para a prática do lazer e ócio O Comércio e a Hotelaria de Luxo nas Metrópoles de São Paulo e Buenos Aires 13

14 Carlos Henrique Costa da Silva urbano contemporâneo. Devido ao crescimento da prática do turismo a partir dos próprios negócios que aí se praticam, bem como de sua centralidade como destino turístico que deve ser visitado e consumido a partir da valorização de seu patrimônio cultural ou natural de existência material ou imaterial, tem-se as condições para o desenvolvimento do mercado de hotéis de luxo. As redes hoteleiras de luxo procuram estar vinculadas aos bairros que concentram a maior parte dos estabelecimentos do setor de serviços e do comércio que conduzem os negócios da cidade. Elas buscam estar localizadas nas áreas da cidade com forte presença dos chamados homens de negócios. Os bairros e regiões mais valorizadas pela prática do turismo em suas diferentes dimensões e tipologias, mas principalmente nos locais de riqueza cultural, como bairros históricos e pitorescos, e áreas verdes ou com acidentes geográficos destacados, são locais que apresentam as principais condições locacionas para a hotelaria de luxo. A análise das redes hoteleiras de luxo nos possibilita pensar a cidade a partir de suas características mais contemporâneas onde a dialética do novo e do velho se confrontam, ou seja, os hotéis de luxo se localizam nas partes das cidades que garantem a reprodução do lucro e de sua localização, seja esta em um bairro de negócios, seja esta em um bairro com construções tradicionais e históricas ou em frente a uma praia, a um lago ou numa montanha. O principal elemento nesta perspectiva de análise fundamenta-se na maneira que a hotelaria vai se utilizar dos locais da cidade para se reproduzir, auxiliando no processo de produção e reforço da centralidade urbana. O ambiente dos chamados bairros de negócios apresenta- -se com construções igualmente encontradas nas mais diversas cidades do globo e as infraestruturas se parecem, conduzindo a um movimento de homogeneização do padrão de construção das cidades. Há formas que se repetem nas mais diferentes cidades do mundo, entre as quais destacamos estações de trem, metrô, 14

15 serviços de táxi, serviços de apoio aos negócios, lojas, centros culturais, shopping centers, restaurantes, bancos, lojas de serviços de telecomunicações, escritórios de serviços públicos, etc, na maior parte dos casos, estão presentes nestas áreas das cidades, configurando bairros muito parecidos apesar das realidades nacionais serem muito diversas. O que se verifica hoje no padrão de localização dos hotéis das metrópoles contemporâneas é fruto da centralidade que as funções políticas, econômicas e culturais produzem no processo de reprodução do espaço urbano. No caso das cidades onde há forte concentração das decisões no âmbito da política e da economia, a hotelaria se desenvolve com rapidez e grande capacidade de adaptação às mudanças que vão se processando nestas cidades, a fim de oferecer serviços de hospedagem aos viajantes que necessitam circular pelo mundo para trabalhar. Vale destacar que esta ligação entre meios de hospedagem, centralidade de atividades econômicas e funções políticas não é um processo urbano contemporâneo. A história dos meios de hospedagem em geral, e mais precisamente dos hotéis independentes e posteriormente dos hotéis de rede, mostra claramente a forte vinculação entre estes três elementos acima citados, mas, claro, com diferentes ritmos e padrões de interação, pois em cada tempo as condições socioespaciais são diferentes. O turismo e seus negócios, ou melhor, os negócios que têm impulsionado o desenvolvimento do turismo nas mais importantes cidades do mundo, deve ser visto como um importante fator para o levantamento e discussão de assuntos que consideram esta prática socioespacial para além do lazer. O turismo hoje não é mais uma atividade subjugada às demais, pois muitas vezes se apresenta como uma das poucas saídas para a geração de certo nível de riqueza para alguns lugares. Pela análise dos empreendimentos hoteleiros de luxo, o turismo pode ser entendido como uma atividade que tem se desenvol- O Comércio e a Hotelaria de Luxo nas Metrópoles de São Paulo e Buenos Aires 15