Panorama do mercado do vinho no Brasil

Transcrição

1 1 Panorama do mercado do vinho no Brasil Os dados desta pesquisa traduzem o olhar da Wine Intelligence s Vinitrac, empresa inglesa responsável pela pesquisa sobre o mercado brasileiro de vinhos. Nesta pesquisa desenvolvida no Brasil, foram entrevistados 707 (em outubro 2014) e 717 (em outubro de 2016) consumidores brasileiros que beberam vinhos importados tintos, brancos ou rosés pelo menos duas vezes por ano. A amostra é representativa em termos de idade, gênero, cidade e região de residência. A maior parte das entrevistas ficou concentrada em São Paulo e interior de São Paulo e a idade predominante é de consumidores que tem entre 25 e 54 anos, sendo 54% homens e 46% mulheres. LANDSCAPE REPORT MARCH 2017 WINE INTELLIGENCE Brasil, o país mais populoso e com a maior economia da América do Sul, passou por um período complicado, com queda do Produto Interno Bruto (PIB), alta taxa de desemprego e incerteza política e econômica entre os anos 2014 e Embora a indústria do vinho pareça não ter sofrido tanto impacto quanto o esperado, a verdade é que houve um declínio do consumo anual de vinho no longo prazo (aproximadamente de 4 milhões para 3,8 milhões, em litros, entre 2011 e 2015), mas isso mascarou uma recuperação de curto prazo no ano de Outro dado significativo a longo prazo foi o crescimento da população que bebe vinho, conforme pode-se observar na Tabela 1, que em 2016 contabilizava cerca de 8 milhões a mais de consumidores em comparação com o ano de 2010, totalizando quase 30 milhões de consumidores de vinho. Tabela 1 População total de consumidores de vinho População total de consumidores de vinho Consumidores de vinho 22,4% 29,7% Consumidores de vinhos importados 17,9% 23,8%* Consumidores semanais de vinhos importados 9,3% 12,1%* Amostra para este relatório* Contudo os especialistas da indústria do vinho estão confiantes que o mercado vinícola deverá se expandir nos próximos 3 a 5 anos, já que economicamente o impacto sobre o vinho não foi tão ruim quanto o esperado. Observando a Tabela 2, verifica-se que, o Brasil compartilha nível semelhante de maturidade de mercado com outras economias emergentes, como a China, o México e Hong Kong, nas quais o mercado vinícola está em fase de crescimento. Tabela 2 Consumo per capta de vinhos em litros/ano Top 5 Mercado França % -2.94% 2 Portugal % 3.68% 3 Eslovênia % 1.30% 4 Itália % -2.91% 5 Suíça % -1.42%

2 2 Tabela 2 Continuação Mercado Austrália % -1.51% 18 Bélgica e Luxemburgo % -4.69% 19 Países Baixos % -1.27% 22 Nova Zelândia % -0.69% 23 Suécia % -1.10% 24 Reino Unido % -0.70% 27 Espanha % -1.48% 33 Chile % 2.37% 35 Irlanda % 1.12% 39 Noruega % -3.14% Mercados adicionais Vinitrac 46 Canadá % 1.11% 50 Finlândia % -0.67% 52 Estados Unidos % -0.09% 54 África do Sul % 5.95% 59 Coreia do Sul % -3.33% 62 Japão % -0.80% 67 Rússia % -8.73% 70 Polônia % 1.08% 71 China % 0.67% 73 Hong Kong % 3.57% 90 Brasil % -0.63% 94 Cingapura % -1.36% 109 México % 5.83% Avaliando o consumo per capita de vinho, o Brasil representa um dos maiores mercados inexplorados para o consumo de vinhos, possuindo apenas 2,56 litros per capita. Apesar do crescimento estagnado em termos de consumo, os gastos mais altos no off-trade sugerem que seria prudente manter um olhar atento sobre o desenvolvimento lento, mas constante, do panorama do vinho brasileiro. Observando a frequência de consumo de vinho, houve uma mudança: em comparação com o ano de 2014, em 2016 constatou-se que os consumidores beberam um pouco menos, mas as estimativas são de que a frequência aumente a curto prazo, à medida que a economia volte aos trilhos. Após um período de incerteza política e crise econômica, a expectativa é de que o Brasil se recupere, e algumas evidências já estão presentes na categoria de vinho. Informações recentes sugerem que o mercado de vinhos está de volta ao caminho do crescimento, uma vez que os consumidores brasileiros de vinhos importados gastaram mais em 2016 do que no ano de Os vinhos produzidos nacionalmente continuaram a dominar o mercado brasileiro, com apenas 25% de vinhos importados, sendo que a proporção de vinhos importados e nacionais no mercado brasileiro é semelhante à dos Estados Unidos e da Nova Zelândia, com cerca de 75% do consumo representado por vinhos nacionais (TABELA 3).

3 3 Tabela 3 Participação de mercado do vinho nacional e importado por país Ações de consumo de vinho importado e doméstico por mercado País Consumo vinho importado Consumo vinho nacional Reino Unido 100% - Coreia do Sul 84% 16% Canadá 72% 28% Japão 69% 31% Alemanha 57% 43% Rússia 30% 70% China 29% 71% Brasil 25% 75% EUA 25% 75% Nova Zelândia 24% 76% Austrália 17% 83% França 2% 98% Entretanto, ainda existe uma parcela de consumidores que acredita que os vinhos nacionais não se equiparam aos vinhos importados, embora o recente sucesso das marcas brasileiras de espumantes está mudando gradualmente essa percepção. Os espumantes produzidos no mercado interno são bem conhecidos no Brasil e estão no mesmo nível das marcas francesas em termos de níveis de percepção/consciência. No que diz respeito aos vinhos importados, Chile, Portugal, Espanha, e Uruguai são os países mais bem-sucedidos, crescendo consistentemente ano após ano, sendo os dois primeiros reconhecidos como os mais ativos no mercado em relação às atividades promocionais. O Chile e o Brasil são os países de maior sucesso em relação a consciência e consumo, sendo que o Chile avança no Brasil de maneira mais ativa e eficiente. Por outro lado, a Argentina, a Itália e a França perderam participação no mercado brasileiro nos últimos anos. Na pesquisa de 2016, a maioria dos consumidores brasileiros de vinhos importados classificou o conhecimento da marca, a harmonização com alimentos, as variedades de uvas, recomendações de amigos e familiares e informações contidas nos rótulos dos vinhos como os principais fatores-chaves observados no momento da escolha dos vinhos. O trabalho em nível regional tem aumentado nos últimos anos, embora a região de procedência dos vinhos ainda não tenha tanto destaque quanto as variedades de uvas como critério de escolha para os consumidores. Em termos de região de procedência, o Vale dos Vinhedos foi a segunda região de origem mais reconhecida e a mais comprada, num top 10 dominado por quatro regiões francesas. Mesmo que as regiões de Bordeaux, Vale dos Vinhedos e Champagne tenham sido citadas como as três principais em termos de conscientização, todas estavam, em 2016, em níveis de reconhecimento menores desde 2014, o que reforça que para o consumidor os critérios mais importantes de escolha são marca e variedade de uva. Em relação às uvas, foram as variedades de origem francesa que dominaram o repertório de uvas favoritas citadas. A cepa mais falada foi Malbec, seguida pelas castas Cabernet Sauvignon e Merlot. As variedades brancas Pinot Grigio e Albariño e as varietais tradicionalmente alemãs ou austríacas Gewürztraminer e Grüner Veltliner, bem como a tinta Zinfandel, registraram queda no consumo em 2016 em comparação com o ano de Já as três castas de uvas brancas que apareceram no topo foram Chardonnay, Sauvignon Blanc e Moscato. No geral, em 2016 o consumo de vinho mostrou níveis semelhantes ao ano de 2014, caindo apenas o consumo do vinho rosé. O vinho tinto continuou a ser a bebida alcoólica preferida, seguido pela cerveja e depois pelo vinho branco. Cabe ressaltar que um grande número de consumidores brasileiros de vinhos importados também bebe vodka e espumante nacional, sendo que este último tem representado 85% do mercado total e está tomando parte do mercado que antes era dominado pelo Prosecco e pelo Champagne. No entanto, notou-se, na pesquisa de 2016, níveis mais baixos de consumo de espumante (63%) em relação ao ano de 2014 (70%), supostamente devido à incerteza política e econômica, já que os produtos considerados mais sofisticados foram menos consumidos (GRÁFICO 1).

4 4 Gráfico 1 Consumidores x não consumidores de espumante % 63% 30% 37% Consumidores de espumante Não consumidores de espumante Quanto aos canais de compra, no ano de 2016 os brasileiros adquiriram vinho principalmente em hipermercados e supermercados (vide Tabela 4). É digno de nota que as compras em lojas especializadas em vinhos ou bebidas alcoólicas caíram de 41% na pesquisa de 2014 para 32% na pesquisa realizada em 2016, enquanto as compras de vinho via Internet se mantiveram constantes em 25%. 41% loja 32% internet 25% 25% Tabela 4 Canais de compra de vinho Uso do canal: acompanhamento % que compraram vinho dos seguintes canais nos últimos 6 meses Base = Todos os bebedores de vinho importados brasileiros (n> 707) Rank Canal de compra Hipermercados 51% 50% 2 Supermercados 50% 49% 3 Loja especializada em vinho ou álcool 41% 32% 4 Na Internet 25% 25% 5 Lojas de conveniência 21% 14% 6 Duty free 16% 13% 7 Direto da vinícola 12% 6% Outros 2% 2% Eu não compro vinho para beber em casa 1% 0.3% Número respondentes

5 5 Em relação ao envolvimento com o vinho, percebeu-se um alto envolvimento por parte dos consumidores entrevistados em ambos os anos (62% em 2014 e 58% em 2016), sendo que obter prazer bebendo vinho e ter boa relação qualidade/preço foram citados como fundamentais para os respondentes. A atitude em relação ao vinho permanece inalterada, com a maioria dos consumidores ainda em modo de descoberta, visto que entre 2014 e 2016 houve um aumento de 71% para 74% entre os que gostam de experimentar novos e diferentes estilos de vinhos, enquanto baixou de 12% para 8% o percentual dos que não se importam com o que estão comprando, desde que o preço seja justo. Já a percepção dos consumidores em relação ao tipo de fechamento das garrafas ainda se mostra um tanto conservadora, uma vez que a cortiça natural continua dominante, enquanto que a adesão à cortiça sintética diminuiu e a resistência ao screw cap aumentou, passando de 32% (em 2014) para 37% (em 2016). Em síntese, é possível constatar que o mercado brasileiro de vinhos apresenta um amplo potencial de crescimento, afinal a recente crise econômica não impediu que o número de consumidores da bebida no país aumentasse e, consequentemente, o interesse por ela também. Contudo, em um Brasil que se recupera do período mais turbulento da sua história recente e com eleições gerais por vir, não se pode mensurar com precisão o impacto que as indefinições políticas que perduram terão sobre a indústria como um todo, inclusive a vinícola. É fato que o mercado de vinhos do país, sobretudo no que diz respeito aos rótulos nacionais, tem ampla possibilidade de ser melhor explorado, mas tornar isso uma realidade será consideravelmente menos árduo com a contribuição das forças macroambientais e por meio de estratégias para aliar a crescente curiosidade do brasileiro por vinho a um consumo mais frequente da bebida. Para acessar a pesquisa completa clique aqui