Décimo Oitavo Boletim de Física e Espiritualidade

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1 Décimo Oitavo Boletim de Física e Espiritualidade Evangelho no lar, acaso e probabilidade

2 BOLETIM 18 FÍSICA E ESPIRITUALIDADE Prof. MARCUS VINÍCIUS AMEABC produpar1022@uol.com.br Março/2013 Oi meus queridos irmãos. O tema do boletim desse mês parece um pouco estranho. Sempre me chamou a atenção o fato de, ao abrirmos um livro da codificação, muitas vezes em busca de consolo, encontrarmos sempre a exata lição que nos serve ao coração. Sempre me perguntei o motivo disso? Na verdade, qual seria o mecanismo disso? Como a busca sempre responde pelas necessidades do indivíduo? Como conciliar o aparente "acaso"da abertura do livro com a escolha certa do ensinamento que toca o coração? Isso é apenas uma tentativa de tentar compreender esse mecanismo. Devo admitir que é simples e um tanto vacilante, visto não ter muita clareza. De qualquer forma, espero que todos possam compartilhar dessa tentativa de compreender que tudo, absolutamente tudo no Universo remete à lei e acaso é coisa de gente de pouca fé. Que Jesus nos abençoe! EVANGELHO NO LAR, ACASO E PROBABILIDADE O Espiritismo, enquanto doutrina moral, impõe a seus praticantes pouquíssimas regras de conduta. Em verdade, a única máxima da doutrina é viver em conformidade com os ensinamentos do Cristo. Não existe uma liturgia, como em outros credos. Casamentos, batismos etc são momentos importantes da vida do ser humano, mas que a doutrina vê como passíveis de bênção e confiança do Alto, na medida em que os envolvidos se comprometem, encarnatoriamente, a reparar (quando falamos de expiação) ou a trabalhar com afinco (para os poucos que já possuem condições de assumirem responsabilidades perante o Cristo). Uma das poucas diretrizes da doutrina é a realização do Evangelho no Lar. Trata-se de um momento sublime, em que a família, reunida em nome do Cristo, estuda Seus ensinamentos e discute seus preceitos, procurando colocar em voga a aplicação desses valiosos ensinamentos dentro daquele núcleo.

3 Figura 35: Família realizando o evangelho ( A presença da Espiritualidade superior é auxílio importante, pois, ao mesmo tempo em que orientam intuitivamente a todos os presentes na reunião, realizam uma maravilhosa limpeza fluídica do ambiente, higienizando o locam em que o Evangelho é realizado dos miasmas deixados pelas atitudes e pensamentos menos elevados que nós, Espíritos ainda bastante atrasados, deixamos em função de nosso descontrole. "Organizemos o nosso agrupamento doméstico do Evangelho. O Lar é o coração do organismo social. Em casa, começa nossa missão no mundo." Scheilla (do livro Luz no Lar) Este pequeno texto é uma reflexão de um fato que chama bastante a atenção durante as leituras do Evangelho: quando abrimos o livro aleatoriamente, o fazemos dessa forma mesmo? A mensagem que é lida é, na maioria das vezes, perfeitamente adequada a nossas necessidades. Muitos podem dizer que se trata de um mecanismo do cérebro: todas as mensagens parecem adequadas simplesmente porque trazem mensagens que se encaixam em qualquer situação. Outra forma de criticar a ideia de que as mensagens têm um objetivo pré-determinado é que nós, munidos da crença na doutrina, automaticamente dirigimos a interpretação daquele texto para aplacar nossas dores, o que torna a mensagem adequada em qualquer situação.

4 São, sem dúvida, formas respeitáveis de entender o problema, mas que, ao nosso ver, carecem do mesmo problema que as críticas que são dirigidas às pessoas ligadas a algum estudo espiritual: a de que a religião é uma criação humana, cheia de dogmas, diferentemente da ciência, que é livre e busca a verdade com provas. Não exporemos aqui as limitações desse último ponto de vista, isso será feito em texto adequado para isso, mas o fato é que crer no acaso como explicação de tudo que não consigo dar conta tem o mesmo grau de fervor que crer em uma "entidade"não justificada empiricamente. Figura 36: Sistemas caóticos ( Falo isso porque a ciência transformou o acaso em um ser de poderes sobrenaturais. Tudo ocorre ao acaso. Isso vai de encontro aos estudos modernos de teoria de caos, que procuram encontrar padrões de organização em sistemas altamente desorganizados. Tais estudos desconsideram essa crença no acaso como algo impassível de ser descrito por leis naturais, dada sua aleatoriedade. Aprendermos, no fim do século XIX e começo do XX, que sistemas macroscópicos podem ser descritos em termos mais simplificados, usando estatística. Quando tratamos de um gás, o fazemos, não em termos de suas variáveis microscópicas, mas de suas macroscópicas. Falamos de temperatura, pressão e volume, e não de movimentos de "zilhões" de partículas microscópicas, seus átomos constituintes. Tudo isso serve para, de uma forma bem superficial, criticar o recurso ao acaso. A doutrina espírita afirma categoricamente que não existe acaso e que ele só o é dessa forma porque lida com a realidade em um nível que ainda não podemos captar. O que chamamos de "bala perdida" num desses muitos acidentes tristes que vemos todos os dias na TV não é perdida como parece. A lei de Deus é perfeita e imutável e lida com um grau de causalidade que nós, em nossa finitude, ainda não podemos sequer imaginar. Assumimos, portanto, que acaso não existe. O que existe é a realidade ocorrendo num tal nível de sofisticação que nossos melhores sistemas descritivos de realidade ainda não conseguem captar a ordem implícita. Posto isso, podemos perguntar: como se dá o fato de abrirmos o Evangelho e recebermos, sempre, uma mensagem que serve para nós? Nesse pequeno modelo de descrição, retomemos um pouco alguns conceitos de MQ.

5 Vimos que podemos descrever um sistema físico, a partir de suas múltiplas potencialidades, a partir da função de onda. Ela descreve todos os estados possíveis, em qualquer espaço e tempo, que aquele sistema ocupou, ocupa e pode ocupar. Figura 37: Função de Onda ( A função matemática que descreve algum ente físico desses estados é a equação de Schröedinger. A realidade é, num certo sentido, a soma de todos esses estados possíveis descritos pela função e regidos pela equação acima. Esses estados existem enquanto realidades potenciais, mas de fato não o são até o momento em que o observador participe do processo. Experimentos como o da fenda dupla (ler capítulo sobre experimento da fenda dupla) mostram que a realidade parece responder à ação do observador que interage com o sistema físico. Figura 38: Experimento da fenda dupla (

6 Quando o observador decide observar um fenômeno físico, o simples ato de observar interage no sistema, produzindo o resultado observado. Um experimento famoso, o do gato de Schröedinger, ilustra bem isso. Enquanto o observador não abrir a caixa e olhar o que se passa dentro dela, nada se pode afirmar sobre o estado de vida do gato na caixa. Sem observador, o gato está vivo e morto ao mesmo tempo. Os dois estados coexistem. Figura 39: Experimento do gato de Scrödinger ( Quando, no entanto, o observador abre a caixa, ele colapsa um dos estados possíveis, tornando-o realidade e, portanto, tendo acesso à informação privilegiada do estado do gato. Como este breve explicação, passemos à tentativa de entendimento de como a abertura "aleatória"do Evangelho conduz à lição necessária. Quando abrimos o livro, muito provavelmente estamos imbuídos de um estado qualquer, angústia, apreensão, tristeza, alegria (esse estado não precisa ser ruim). O livro que estamos abrindo possui, em termos quânticos, todos os estados possíveis (aqui esses estados são os ensinamentos preciosos). Quando o abrimos, fazemos algo muito semelhante ao homem que abre a caixa no experimento do gato para ver se ele está vivo ou morto. Nossa ação sobre o sistema escolhe um dos estados possíveis e o torna realidade. Assim, quando abro, meu estado subjetivo, de algum modo conectado ao sistema, (essa conexão é um desafio para o entendimento, pois é ela quem interliga todos os estados subjetivos, de modo a evitar que esse ou aquele estado seja privilegiado) 1 colapso a função de onda de uma forma muito específica (determinada por minha vontade e necessidades pessoais) e crio uma realidade que é a necessária para mim naquele momento, ou seja, o trecho do Evangelho que tem o remédio necessário para meu pronto-estabelecimento. 1 Não devemos nos esquecer que estamos mergulhados no fluido cósmico universal e que esse mesmo fluido, manipulado por nossa vontade, tem a potencialidade de criar ou destruir, de modo que tudo que fazemos ou escolhemos fazer se conecta a essa grande rede e responde automaticamente em todo o sistema).

7 Figura 40: Evangelho ( Sabemos ser muito complexo aceitar essa forma de ver a realidade. Cremos que o mundo existe independentemente de nossas vontades. Minha casa existe independentemente de eu vê-la ou estar lá. Sei que, quando estiver no meu trabalho, a casa estará lá. Mas isso não é tão simples assim. Cremos que a casa se encontra lá porque cremos na existência do mundo objetivo e de um mundo subjetivo que vivem desconectados. Mas será que estão? Será que existe esse tal mundo objetivo e subjetivo? Berkeley, há cerca de 4 séculos, já havia se deparado com esse problema: seu lema Esse est percipi 2 colocava uma condição para a existência: ser percebido. Como credor da existência do mundo, Berkeley resolveu o problema de uma forma muito engenhosa: afirmou que Deus garantia a existência do mundo, pois era onisciente e, portanto, ao perceber tudo ao mesmo tempo, garantia que tudo existia. Nossa materialidade ainda nos coloca sérias limitações para a compreensão de certos fenômenos. Não há problemas: sempre levantaremos explicações, mas sempre condizentes com nossas condições intelectuais e morais. O mundo da criação de uma realidade que reponde diretamente à nossas escolhas ainda é estranho, mas a vasta literatura espírita coloca exemplos ricos de que, no mundo espiritual, a realidade é o que escolhemos que ela seja. Espíritos que se encontram mentalmente preso a celas, quando desencarnados, mesmo que estejam num salão da casa, de modo a receberem auxílio fluídico, são exemplos de que a cada escolha que fazemos, criamos uma realidade e esta realidade é uma resposta direta a nossas necessidades e anseios. O Evangelho, portanto, é uma resposta direta a nossas necessidades e corresponde à realidade (remédio) necessário para o tipo de colapso que provocamos na função de onda. É o que pedimos, não o que mandaram para nós. Quando tomarmos consciência disso, veremos, cada vez mais, que somos responsáveis por tudo que temos, pois se o temos é porque pedimos. Lembremos da máxima do Mestre: "Pedi e obtereis!" 2 Ser é perceber

8 CONCLUSÃO Espero que a leitura tenha sido edificante. Tal mecanismo faz sentido? Como compreender a unidade existente entre cada Espírito e o todo, que responde automaticamente a qualquer escolha do ser. Ainda há muitas questões a serem respondidas. Se você tiver alguma explicação complementar ou mesmo distinta desse mecanismo, ficaria muito grato em poder compartilhar. Pontos de vista sempre nos auxiliam a calibrar nossas posições. Mas, completo ou incompleto, continuemos estudando, nos instruindo, seguindo. E não esqueçamos, em hipótese alguma, de servir. Amar e se instruir, os dois braços de nosso desenvolvimento. Que o Mestre continue nos amparando, hoje e sempre. Prof. Marcus Vinícius Russo Loures Bibliografia Luiz, André. Mecanismos da Mediunidade: a vida no mundo espiritual. 26ª edição. Rio de Janeiro: FEB, Ferreira, Paulo Antonio. Universo dual: a estrutura da matéria segundo os espíritos. Apostila psicografada. Guitton, Jean. Deus e a ciência. 5a impressão. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 76a ed, Denis, Leon. O problema do ser, do destino e da dor. Rio de Janeiro: FEB, Pires, Herculano. Pesquisa sobre o amor Xavier, Chico. Nosso Lar Pereira, Yvonne. Memórias de um Suicida