O IMPACTO DA LEI DE INOVAÇÃO SOBRE O REGISTRO DE PROPRIEDADE INDUSTRIAL NO BRASIL, NO PERÍODO DE 2005 E 2015

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1 O IMPACTO DA LEI DE INOVAÇÃO SOBRE O REGISTRO DE PROPRIEDADE INDUSTRIAL NO BRASIL, NO PERÍODO DE 2005 E 2015 João Guilherme Pereira Chaves (jgpchaves@hotmail.com) Nayara Sidulovicz João Irineu de Resende Miranda Professor orientador: João Irineu de Resende Miranda Universidade Estadual de Ponta Grossa Resumo: Este trabalho tem como principal objetivo entender os efeitos da Lei de Inovação brasileira de 2004 no cenário inovador do Brasil. Para tanto, conceitua-se os principais marcos jurídicos dentro da matéria, desenvolvendo o que é inovação, propriedade intelectual e industrial, assim como patentes, marcas e desenhos industriais. Após, analisa-se bancos de dados do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), buscando dados concretos a respeito do número de depósitos de patentes no Brasil nos anos anteriores à legislação em tela, comparando-a com o ano de 2014, o ano mais recente na base de dados do INPI. Também é estudado onde o Brasil está inserido no contexto internacional, utilizando-se dados da Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI) a respeito de índices de inovação dos países-membro da referida organização. Conclui-se que o arcabouço jurídico criado pela Lei de Inovação de 2004 não cumpriu com as expectativas dos legisladores da época, tendo em vista os pífios resultados no que diz respeito à dados concretos. Acredita-se que, apesar de juridicamente regulamentada, a inovação brasileira sofre alguns gargalos no que diz respeito, principalmente, à interação entre Universidades e Empresas. Palavras-chave: inovação, INPI, Lei de Inovação. Introdução: A economia brasileira, atualmente em crise, tem enfrentado, nos últimos anos, um processo de desindustrialização (OREIRO; FEIJÓ, 2009). Dentre os muitos fatores deste processo destaca-se a falta de competitividade do setor industrial brasileiro em relação a seus concorrentes externos, o que pode ser relacionado ao baixo investimento do país em inovação (VILAVERDE, 2014). Em 2015, Lei de Inovação Federal - a qual estabeleceu um novo paradigma jurídico sobre a matéria - completa dez anos de vigência. Este trabalho busca analisar o impacto que a promulgação desta Lei teve para o aumento da competitividade da indústria brasileira, sob o prisma do registro da propriedade industrial no país entre os anos de 2005 e O registro de propriedade industrial é um índice aceitável para se avaliar a inovatividade de um setor econômico, tendo em vista que a realização bem sucedida de um processos inovadores em uma economia geralmente é acompanhado pela proteção e negociação de bens da propriedade industrial, tais como patentes, desenhos industriais e marcas (BUAINAIM, 2013). Assim, tem-se o problema de se inferir a que ponto os incentivos à introdução de produtos ou adoção de novos processos industriais no mercado, geralmente veiculados por meio de propriedade industrial (patentes e registros) trazidos pela Lei de Inovação Federal resultaram em crescimento no registro de propriedade industrial no Brasil. Para responder a esta

2 questão será realizada uma revisão nos conceitos basilares presentes na Lei Federal de Inovação e na Lei de Propriedade Intelectual brasileiras relativos ao tema. Em seguida, serão analisados os dados relativos aos depósitos de patentes, ao registro de marcas e desenhos industriais perante o Instituto Nacional da Propriedade Industrial - INPI - entre os anos de 2005 e Objetivos: O principal objetivo do trabalho foi estabelecer uma relação entre o novo marco jurídico da Inovação e o registro de Propriedade Industrial no Brasil. Para tanto, foram objetivos específicos aprender os conceitos jurídicos básicos relacionados à inovação no Manual de Oslo de 1990, assim como na Lei de Inovação brasileira (Lei Federal nº ); compreender o arcabouço jurídico da Lei brasileira de inovação; descrever os principais instrumentos de incentivo à inovação presentes na referida Lei; classificar e conceituar os principais bens de propriedade industrial relacionados à inovação; mapear os principais bancos de dados de Propriedade Industrial existentes no Brasil; e, por fim, analisar o crescimento do registro de Desenho Industrial e depósitos de patentes no Brasil no período entre 2005 e Método e Técnicas de Pesquisa: Esse trabalho parte do método dedutivo e utiliza como técnica a pesquisa bibliográfica para analisar a trajetória da propriedade industrial no Brasil no período de A pesquisa bibliográfica se deu em legislações e documentos importantes na área, assim como análise de dados encontrados no site do Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI) para se verificar com maior precisão os efeitos da Lei de Inovação no cenário brasileiro de inovação. Resultados: Com o intuito de viabilizar a propriedade industrial uma disciplina abrangente dos campos do Direito e da Economia as nações buscam, à luz dos aspectos jurídicos, atualizar seus códigos relativos a matéria (DI BLASI, et al,1996). A Constituição Federal de 1988 traz, em seu art. 3º, II, como um dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, a garantia do desenvolvimento nacional. Os artigos 218 e 219 informam que cabe ao Estado tomar medidas de incentivo à inovação e à pesquisa científica e tecnológica. De acordo com o Manual de Oslo (ORGANIZAÇÃO PARA COOPERAÇÃO ECONÔMICA E DESENVOLVIMENTO, 2004), fonte principal de diretrizes para o uso e a coleta de informações a respeito de atividades inovadoras, esta inovação engloba diversas atividades tecnológicas, científicas, financeiras, organizacionais e comerciais. Ao referir-se a produtos, o Manual define bens e produtos, e podem assumir a forma de um produto tecnologicamente novo ou um produto tecnologicamente aprimorado. Para gerar inovação, além da ideia é necessário o investimento. Contudo, a economia de mercado, por si só, não garante o fluxo suficiente de recursos para novos produtos e processos. Deste modo, para estimular a inovação, é necessária a intervenção do Estado, através da socialização dos riscos e dos custos para o desenvolvimento de novos processos e produtos. (BARBOSA, 2006).

3 Com o intuito de estimular e incentivar a inovação no país, foi criada a Lei Federal de Inovação, de número , aprovada pela Mesa Diretora da Câmara e 2 de dezembro de A Lei de Inovação é Federal por ter sido produzida pela União, portanto, enquanto norma de empoderamento, válidas preferencialmente para as pessoas jurídicas de direito público na esfera federal, como universidades e institutos de pesquisa federais. A Lei de Inovação Tecnológica busca promover e incentivar o desenvolvimento científico, a pesquisa e a capacitação tecnológicas de forma a viabilizar o desenvolvimento a partir de instrumentos de incentivo à inovação. Para os objetivos deste trabalho é necessário trabalhar-se com os conceitos de inovação, propriedade industrial, patentes, marcas e desenhos industriais toda "da Lei de Inovação Tecnológica Inovação é toda "introdução de novidade ou aperfeiçoamento no ambiente produtivo ou social que resulte em novos produtos, processos ou serviços;" (BRASIL, 2015). Os bens jurídicos relacionados à inovação são protegidos pela Propriedade Industrial, a qual é uma divisão da Propriedade Intelectual. Segundo BOCCHINO et al (2011) "conjunto de direitos imateriais que incidem sobre o intelecto humano e que são possuidores de valor econômico". A Propriedade Intelectual está dividida em Direito Autoral (regulamentada pela Lei nº 9610/98) e Propriedade Industrial (regulamenta pela Lei nº 9279/96). O principal bem da Propriedade Industrial são as patentes, as quais podem ser definidas como "um título de propriedade industrial sobre invenção ou modelo de utilidade" (BOCCHINO et al, 2011). Embora a invenção não seja conceituada pela Lei de Propriedade Industrial uma análise dos artigo 8º da Lei permite-nos deduzir que invenção é algo novo, que possua atividade inventiva e seja passível de aplicação industrial (BRASIL, 2015). Já o modelo de utilidade, tem seu conceito no art. 9º: modelo de utilidade é o objeto de uso prático, ou parte deste, suscetível de aplicação industrial, que apresente nova forma ou disposição, envolvendo ato inventivo, que resulte em melhoria funcional no seu uso ou em sua fabricação. Podemos considerar o modelo de utilidade como como uma pequena invenção, algo que foi criado para trazer uma utilidade maior para um invento já existente. Ele traz uma melhoria funcional para um ato inventivo, para algo que já é considerado invenção. O art. 95 da Lei de Propriedade Industrial define desenho industrial como "a forma plástica ornamental de um objeto ou o conjunto ornamental de linhas e cores que possa ser aplicado a um produto, proporcionando resultado visual novo e original na sua configuração externa e que possa servir de tipo de fabricação industrial" (BRASIL, 2015). Os contratos cujo objeto seja a exploração econômica de propriedade industrial são registráveis no INPI como contratos de transferência de tecnologia e representam um importante indicador para a inovação (INPI, 2015). Discussão: Apesar de ser um grande passo no que diz respeito à positivação nacional da matéria e buscar ampliar o escopo da inovação no país, dados fornecidos pelo INPI - Instituto Nacional da Propriedade Industrial - mostram que, ao menos no que diz respeito a depósito de patentes, desenho industrial e contratos relacionados à tecnologia, não houve um aumento realmente efetivo depois da Lei de Inovação. Em 2000, ano mais antigo com dados liberados pelo INPI, foram depositados pedidos de desenhos industriais, pedidos de patentes e requisições de averbação de Contratos de Tecnologia. Em 2005, ano seguinte da Lei de Inovação, foram depositados desenhos industriais, pedidos de patentes e 994

4 requisições de averbação de Contratos de Tecnologia. Em 2014, último ano com dados fechados no site do INPI (no caso de 2015, constam apenas dados até o mês de maio), foram depositados pedidos de desenhos industriais, pedidos de patentes e 1710 requisições de averbação de Contratos de Tecnologia. Da mesma forma, a Lei de Inovação Tecnológica não parece ter contribuído para a melhoria da posição do Brasil em relação aos demais países membros da Organização Mundial da Propriedade Intelectual no que concerne à inovação. Em dados fornecidos pela Organização Mundial de Propriedade Intelectual, o Brasil aparece em ranking mundial de inovação na 61ª posição em 2014 (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE PROPRIEDADE INTELECTUAL, 2014). Nos dados mais antigos revelados pela Organização, no ano de 2007 o Brasil apareceu na 40ª posição mundial (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE PROPRIEDADE INTELECTUAL, 2007). A queda do país nos últimos sete anos mostra claramente que apesar da legislação atualizada, ainda existem gargalos no espectro jurídico da área. Considerações Finais: Deste modo, pode-se concluir que a promulgação da Lei de Inovação Tecnológica na esfera federal não foi suficiente para melhorar a inovatividade da indústria brasileira nem, até agora, para aumentar seus índices de registro de propriedade industrial, tanto em termos absolutos, conforme os dados do INPI citados comprovam, quanto em termos relativos, considerando a posição brasileira no ranking da inovação da OMPI. Dentre motivos possíveis para o ocorrido encontram-se a lentidão do processo de adensamento da cooperação entre as Universidade e o Setor Produtivo, o que poderia ser relacionado com uma maior necessidade de regulamentação jurídica na área e com o fato de que a Lei de Inovação Tecnológica tem natureza de Lei Federal e alguns dos principais centros de pesquisa do país estão ligados a governos estaduais - como por exemplo a USP e a UNICAMP - que apenas a partir do marco jurídico federal puderam estabelecer suas leis estaduais, em um processo de política legislativa que ainda não se completou em todos as unidades federativas. Referências: BARBOSA, Denis Borges. Direito da Inovação. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2006 BRASIL. Lei Nº de 2 de Dezembro de Brasília, Disponível em: < Acesso em: 13 jul Lei Nº de 14 de maio de Brasília, Disponível em: < Acesso em: 13 jul BOCCHINO, Leslie de Oliveira et al. Propriedade Intelectual: conceitos e procedimentos. Brasília: Escola da AGU, 2010

5 BUAINAIN, Antônio Márcio. Propriedade intelectual e inovação. O Estadão. São Paulo, jan Disponível em: < DI BLASI JUNIOR, Clesio Gabriel, et al. A propriedade Industrial. Rio de Janeiro: Editora Forense, INSTITUTO NACIONAL DE PROPRIEDADE INDUSTRIAL. Estatísticas. Disponível em: < Acesso em: 15 jul OREIRO, José Luis; FEIJÓ, Carmen. Desindustrialização: conceituação, causas, efeitos e o caso brasileiro. Revista de Economia Política, São Paulo, v. 30, n. 2, p , abr Disponível em: < ORGANIZAÇÃO PARA COOPERAÇÃO ECONÔMICA E DESENVOLVIMENTO. Manual de Oslo: Proposta de Diretrizes para Coleta e Interpretação de Dados sobre Inovação Tecnológica. Brasília: Finep, Disponível em: < Acesso em: 13 jul ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE PROPRIEDADE INDUSTRIAL. Global Innovation Report Disponível em: < Acesso em: 16 jul Global Innovation Report Disponível em: < Acesso em: 16 jul SERPA, Flávia de Araújo. Propriedade industrial: conceitos básicos. Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 18, n. 3536, 7 mar Disponível em: < VILLAVERDE, João. Investimento em inovação equivale a 1,2% do PIB do País. O Estadão. São Paulo. jan Disponível em: <