21º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental
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- Pietra Barroso Alves
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1 II UTILIZAÇÃO DA IMAGEM MICROSCÓPICA NA AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE OPERAÇÃO UMA APLICAÇÃO DA EXPERIÊNCIA DA ALEMANHA EM ESTAÇÕES DE TRATAMENTO DE ESGOTOS DO BRASIL Heike Hoffmann (1) Bióloga, Doutora em Microbiologia pela Universidade de Rostock/Alemanha. Pósdoutoranda no Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade FOTO Federal de Santa Catarina (UFSC). Bolsista DAAD/Alemanha. NÃO Alessandra Pellizzaro Bento Bióloga e Mestre em Engenharia Ambiental pela Universidade Federal de Santa Catarina DISPONÍVEL (UFSC). Funcionária da Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (CASAN). Luiz Sérgio Philippi Professor Titular do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Paulo Belli Filho Professor do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Endereço (1) : Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) - Trindade - Florianópolis - SC - Brasil - Tel: (48) heikehoffmann@altavista.com.br. RESUMO Neste estudo, apresenta-se os resultados preliminares do projeto envolvendo a Universidade de Rostock na Alemanha e a Universidade Federal de Santa Catarina, no Brasil. O objetivo deste, consiste na comparação entre a experiência adquirida durante anos de aplicação na Alemanha e experiências iniciais no Brasil, na utilização da imagem microscópica em lodos ativados como instrumento de avaliação das condições depurativas e a otimização da operação. O estudo baseia-se na comparação entre métodos de avaliação microscópica empregada durante um ano na ETE Insular de Florianópolis/SC (lodos ativados com aeração prolongada) e o monitoramento microscópico comumente empregado na Alemanha. Além da comparação dos métodos, analisa-se, também, problemas operacionais típicos em ETE s brasileiras e discute-se formas de prescindir tais problemas através do emprego das análises microscópicas. A aplicação do método alemão evidenciou que este não pode ser transportado para o Brasil sem adaptações direcionadas ao clima e as características dos sistemas. Verificou-se que as espécies que causaram intumecimento do lodo em duas estações brasileiras, não eram comuns nas estações da Alemanha. A diversidade de organismos também constitui num fator diferencial entre os dois países. Observou-se nas estações monitoradas, espécies nunca presentes em ETE s da Alemanha. A análise quantitativa da microfauna, utilizada na ETE Insular, foi suficiente para estabelecer relações entre as características microbiológicas do lodo e as condições físicoquímicas e operacionais do sistema, no entanto, para sua realização periódica necessita-se pessoal capacitado. Os resultados deste estudo são os primeiros passos para o desenvolvimento e a padronização de métodos práticos da análise microscópica em sistemas aeróbios de tratamento de esgotos no Brasil, objetivando a utilização dessas análise pelos operadores dos sistema de tratamento. PALAVRAS-CHAVE: Análise Microscópica, Lodo ativado, Métodos de análise. INTRODUÇÃO A utilização da imagem microscópica como instrumento de controle em sistemas aeróbios de tratamento de esgotos, constitui-se num modo eficaz e rápido para diagnosticar as condições depurativas no reator e estimar a qualidade do efluente produzido. Na Alemanha, a interpretação periódica da imagem microscópica é prescrita legalmente para ETE's que atendam ou mais habitantes, sendo estas fiscalizadas pelo orgão ambiental competente. Para o cumprimento da legislação naquele país, foram padronizados protocolos ABES Trabalhos Técnicos 1
2 especialmente direcionados aos operadores dos sistemas, os quais recebem treinamento freqüente sobre sua utilização e interpretação. Com a observação microscópica contínua os operadores podem avaliar as seguintes características: Composição do esgoto e suas alterações; Estabilidade de funcionamento ; Carga de lodo; Sobrecargas ou afluentes tóxicos; Suprimento de oxigênio; Ocorrência de lodo intumescido ou lodo flutuante. No Brasil, a análise microscópica não integra o monitoramento periódico das ETE's, o qual baseia-se apenas em parâmetros físico-químicos e operacionais. Os trabalhos relacionados com análises microscópicas no Brasil, geralmente fazem parte de pesquisa aplicada com duração limitada. Alguns dos estudo mais recentes são os de Jordão et al. (1997) que controlaram a operação de um sistema de lodos ativados em escala piloto a partir da investigação microscópica do lodo, no Rio de Janeiro; Jardim et al. (1997) avaliaram a eficiência do tratamento da ETE Fonte Grande, em Contagem, MG, com base na identificação e quantificação da microbiota presente no lodo; Cibys & Pinto (1997) investigaram os protozoários e metazoários relacionando com o processo de nitrificação em reatores em batelada; Bento et al. (2000) avaliaram e implantaram parâmetros microscópicos para os sistemas de lodos ativados operados pela Companhia Catarinense de Água e Saneamento CASAN. A observação periódica da imagem microscópica seria um importante instrumento para garantir uma melhor qualidade do efluente das ETE's do Brasil. Apesar das avaliações microscópicas entre Alemanha e Brasil serem similares, as condições de clima e de operação dos sistemas mostram que não é possível transportar o modelo utilizado na Alemanha para o Brasil. O principal objetivo deste estudo consiste na avaliação da experiência da Alemanha na utilização da imagem microscópica em ETE's do Brasil e a comparação com o método empregado na ETE Insular/SC/BR. Foram examinados a estrutura do floco do lodo, a freqüência e ocorrência de protozoários e micrometazoários e o aspecto e identificação das espécies de microrganismos filamentosos. Sabe-se que a análise microscópica normalmente é realizada por métodos subjetivos, necessitando de conhecimentos teóricos e prático para sua utilização adequada. REPRESENTAÇÃO DA METODOLOGIA EMPREGADA NA ALEMANHA A metodologia empregada consiste na retirada da amostra do tanque de aeração, sendo esta acondicionada em uma garrafa de plástico, deixando um espaço sem amostra para suprimento de oxigênio aos microrganismos. No laboratório, coloca-se uma gota de lodo ativado (com menos de 2 h após a coleta) em uma lâmina. A amostra deve ser coberta com uma lamínula de 10x10 mm, sem incluir bolinhas de ar. Em seguida, a lâmina é colocada sob o microscópico óptico para o exame. São avaliados o tamanho dos flocos, a abundância de organismos filamentosos e a identificação e contagem dos protozoários. Conta-se 3 lâminas de área de 10x10mm. Essa metodologia é utilizada internacionalmente para observação de lodo ativado em sistemas aeróbios, porém, a base metodológica é normatizada por parâmetros alemães. AVALIAÇÃO DA ESTRUTURA DOS FLOCOS DE LODO ATIVADO E GRAU DE FORMAÇÃO DE FIOS Para esta verificação, o preparado fresco é observado no microscópio com uma ampliação de 100 vezes. Os flocos do lodo são classificados segundo os seguintes critérios subjetivos (Tabela 1), sem classificação quantitativa: 2 ABES Trabalhos Técnicos
3 Tabela 1: Classificações dos flocos CARATERÍSTICA DOS FLOCOS Tamanho Forma Estrutura e Estabilidade Composição AVALIAÇÃO QUALITATIVA grande(> 500µm), médio, pequeno(< 100µm) arredondada, irregular compacta, aberta, ou seja com uma rede de fios contenção de partículas inorgânicas As caraterísticas dos flocos dependem do tipo de aeradores, da eficiência do mistura da massa líquida nos reatores biológicos, da composição do esgoto afluente, da carga de lodo e da atividade dos protozoários e metazoários no lodo ativado. Geralmente, os flocos grandes (> 500µm) ocorrem em estações altamente sobrecarregadas (carga de lodo > 0,5 kg DBO 5 / (kg SST x d)) e flocos pequenos (< 100µm), em estações com baixa carga. Entretanto, flocos pequenos também podem originar-se em tanques com turbulência elevada ou ainda, serem uma conseqüência de intoxicação do lodo ativado por afluentes tóxicos. Todo o lodo ativado em condições normais, contém microorganismos filamentosos. Eles têm importância primordial na sustentação, formando "o esqueleto do floco" e oferecendo possibilidades a outras bactérias se aderirem e crescerem (Jenkins et al., 1993). Flocos com poucos fios apresentam, geralmente, uma estrutura compacta e têm uma forma mais ou menos arredondada. A figura 1 mostra alguns exemplos de flocos de ETE s do Brasil (SC). Os problemas de lodo intumescido ou flutuante são provocados pelo crescimento massivo de microorganismos filiformes. Para o diagnóstico desses problemas, utiliza-se uma classificação subjetiva de grau 1 (poucos) até 7 (somente microorganismos filiformes). Para a detecção das causas das problemas do lodo intumescido/ flutuante são necessárias diferenciações das espécies dos microorganismos filiformes presentes. Figura 1: Da esquerda para a direita: (a) Flocos grandes, arredondados/ (b) Flocos pequenos (c) uma formação média de fios/ (d) Lodo ativado com forte formação de fios AVALIAÇÃO DO NÚMERO DAS BACTÉRIAS LIVRES E DOS FLAGELADOS As bactérias do lodo ativado, com exceções das formas maiores, não podem ser classificadas pelo microscópio óptico. Reconhecem-se bactérias livres a partir de uma ampliação de 400 vezes. Bactérias que não estão ligadas aos flocos de lodo não se podem sedimentar no decantador secundário e pioram a qualidade do efluente produzido. Um grande número de bactérias livres podem indicar uma perturbação na estação de tratamento, por exemplo, através de uma intoxicação. Durante os períodos de início de funcionamento dos sistemas, surgem com freqüência conglomerados de bactérias com a forma de uma pequena árvore ou de uma esfera, as Zooglea (figura 2a). O aparecimento grande de espécies de Zooglea durante o funcionamento normal da estação de tratamento é sempre indício de uma alta sobrecarga de lodo e/ou de uma sobrecarga ABES Trabalhos Técnicos 3
4 unilateral. Também as Spirillum ou Spirochaeta (e Leptospira) são fáceis de diferenciar morfologicamente, devido às suas grandes dimensões e formas características. Os protozoárias de menores dimensões são as Zooflagelados (figura 2b). Algumas espécies são pouco maiores que as bactérias, e por isso, apenas reconhecíveis com segurança a partir de uma ampliação de 400 vezes. Muitos Zooflagelados indicam condições instáveis de funcionamento, sobrecargas em forma de descarga ou início de funcionamento da estação. O aparecimento dos organismos de pequeno tamanho pode ser muito alto, por isso, no protocolo usa-se uma avaliação dos graus de 0-4 (avaliação por lâmina, Tabela 2). Tabela 2 - Classificação as bactérias livres e os flagelados APARECIMENTO DOS ORGANISMOS PEQUENOS AVALIAÇÃO DO GRAU raros 1 alguns 2 mais 3 Muitos 4 AVALIAÇÃO DO TIPO E FREQÜÊNCIA DOS PROTOZOÁRIAS E METAZOÁRIOS Os protozoários e os metazoários constituem um grupo muito heterogêneo de organismos. No lodo ativado aparecem organismos celulares que se agarram aos flocos e formas livres, dispersas entre os flocos. Eles alimentam-se, principalmente, de bactérias, e também de substâncias orgânicas e outros organismos pequenos. Através do seu comportamento na alimentação, os protozoários rejuvenescem a população de bactérias na estação de tratamento. As diversas relações entre os grupos de organismos existentes e a importância dos protozoárias na composição do lodo está longe de ter sido completamente estudado. O aparecimento dos protozoários e metazoários por lâmina é contado e avaliado com o grau 0-3 (Tabela 3). Tabela 3 - Classificação os protozoárias e metazoários APARECIMENTO DOS ORGANISMOS MAIORES NA AMOSTRA AVALIAÇÃO DO GRAU > 10 3 Os organismos unicelulares e pluricelulares simples desempenham um papel importante para a apreciação microscópica do lodo ativado, devido ao seu grande tamanho corpóreo, esses microrganismos podem ser utilizados como indicadores da características predominantes no sistema. Especial importância têm os organismos, cuja ocorrência permite concluir quanto às condições específicas de funcionamento da estação de tratamento. Figura 2: (a) Zooglea (b) Zooflagelado (c)ameba nua (d)tecameba 4 ABES Trabalhos Técnicos
5 As Rhizopodas (amebas) são maiores do que os zooflagelados, mas movem-se muito lentamente, não sendo com freqüência detectadas pelo observador sem experiência. Têm um corpo gelatinoso com o qual deslizam sobre o suporte, mudando constantemente de forma. Faz-se a distinção entre Amoebida (amebas nuas, figura 2a) e Testacea (amebas com casca, figura 2d), cujo corpo se encontra dentro de um invólucro rígido. As amebas com casca indicam, geralmente, condições estáveis de funcionamento e uma baixa carga de lodo. A aparição de aglomerados de amebas nuas pode ser observada no início de funcionamento das estações de tratamento. Também pode, indicar grandes sobrecargas, sobrecargas unilaterais e sobrecargas devido à descargas e condições instáveis. Os Ciliados constituem a organismos unicelulares, com grandes variações morfológicas. Possuem grande importância como indicadores do estado de funcionamento do sistema. Podem ser distinguidas, basicamente, Ciliados fixos e Ciliados livres. Fáceis de reconhecimento são as espécies do Ciliado fixo Vorticella, os quais vivem isoladamente. Os diferentes tipos têm sensibilidade diferentes ao oxigênio, algumas espécies só aparecem em estações de tratamento com ótimo suprimento de oxigênio. Ciliados fixos que formam colônias, como o Charchesium e Epistylis (figura 3c), são sempre indicadores de condições média de funcionamento e carga de lodo média, às vezes podem ser encontrados em estações com uma sobrecarga. Pequenos organismos que se movem livremente e apresentam a configuração de uma pestana (cirros), movendo-se entre os flocos do lodo. Alimentam-se de bactérias livres ou à superfície dos flocos, como por ex. a Aspidisca ou o Euplotes (figura 3a). Estes organismos ocorrem em condições estáveis de funcionamento. Outros tipos, como o Paramecium caudatum ou Dexiostoma encontram-se em estações altamente sobrecarregadas ou com baixa concentração de oxigênio. Figura 3: (a) Euplotes (b) Vagnicolla (c)epistylis (d)rotífero Os Metazoários têm um período de geração mais longo que os organismos unicelulares e aparecem apenas em lodo mais velho e em condições estáveis de funcionamento. Os Rotíferos (Figura 3d) e os Nematóides pertencem aos organismos pluricelulares presentes no lodo ativado. REPRESENTAÇÃO DA METODOLOGIA EMPREGADA EM SANTA CATARINA/BR A análise microscópica utilizada na ETE Insular em Florianópolis/SC baseia-se na identificação e quantificação da microfauna (protozoários e micrometazoários) presente no tanque de aeração. As amostras são coletadas no vertedor de saída do reator e em seguida examinadas em laboratório. A identificação dos organismos foi efetuada em amostra pura, disposta em lâmina simples e visualizada em microscópico óptico aumento de 100 a 400 vezes. Para a quantificação, a amostra foi diluída dez vezes em água destilada, disposta em Câmara de Sedwick- Rafter reticulada (APHA-AWWA-WEF, 1995), volume útil de 1 ml e examinada em aumento de 100 vezes. Preparou-se e examinou-se três lâminas e como resultado final, utilizou-se a média aritmética das três leituras. Os organismos foram classificados em grupos, conforme seus aspectos morfológicos e fisiológicos (tabela 4). ABES Trabalhos Técnicos 5
6 Tabela 4: Classificação utilizada para agrupar os componentes da microfauna GRUPO CLASSIFICAÇÃO GERAL CILIADOS - Ciliados Predadores de Flocos CPF - Ciliados Livre-natantes CLN - Ciliados Fixos ou pedunculados CF AMEBAS - Tecamebas AMB - Amebas nuas FLAGELADOS - Zooflagelados ZFL ou FLG - Fitoflagelados MICROMETAZOÁRIOS - MTZ - Rotíferos, Nematóides, Anelídeos e Tardígrafos outros - Fungos, algas, bactérias Os parâmetros microscópicos foram comparados com parâmetros físico-químicos e operacionais para a identificação das relações existentes entre os organismos presentes e as características do processo. RESULTADOS DO AVALIAÇÃO EM SANTA CATARINA Através da tabela 3 evidencia-se a ocorrência e freqüência média dos grupos componentes da microfauna, verificados na ETE Insular, durante o estudo. Observa-se que os micrometazoários, os ciliados livre-natantes e os ciliados fixos ocorreram em menores proporções, 4%, 7% e 10%, respectivamente. As amebas e os ciliados predadores de flocos apresentaram as maiores ocorrências e freqüências ao longo do período. As primeiras, apareceram em todas as amostragens (100% de freqüência), compondo cerca de 40% da microfauna. Os ciliados predadores de flocos apresentaram freqüência de 87% e ocorrência de 23%. Tabela 2: Freqüência e Ocorrência média dos grupos da microfauna, nos tanques de aeração da ETE Insular, durante o estudo. GRUPOS DA MICROFAUNA FREQUÊNCIA (%) OCORRÊNCIA (%) Ciliados predadores de flocos CPF Ciliados livre-natantes CLN 67 7 Ciliados fixos CF Zooflagelados FLG Amebas AMB Micrometazoários - MTZ 55 4 Nas amostragens em que a densidade dos organismos foi mais elevada, observou-se maiores reduções da concentração de DQOt, DBOt e E. coli no efluente. Nos sistemas de lodos ativados, o reduzido tempo de detenção hidráulico não favorece o declínio bacteriano, portanto, os fatores preponderantes na remoção das bactérias, incluindo-se E. coli, se dão devido a predação exercida pelos protozoários, e também, a aderência destas aos flocos biológicos. Curds (1975), após inúmeros experimentos, concluiu que os sistemas que contém protozoários, reduzem mais que 99% das bactérias do grupo coliformes fecais. Através da correlação de Pearson (tabela 3) verificou-se as relações positivas e negativas entre a densidade dos vários grupos da microfauna e parâmetros físico-químicos e bacteriológicos. As correlações verificadas na remoção de DQOt e DBOt e a densidade de organismos coincidem para os CPFs, CFs e FLG, significando que as maiores reduções de DQOt e DBOt ocorreram quando os organismos pertencentes a esses três grupos foram mais abundantes. A densidade de AMB e MTZ apresentou proporcionalidade positiva com a remoção de DQOs no sistema. Estes organismos ocorrem em ambientes bem oxigenados, com baixa relação A/M, longo tempo de detenção celular sendo, portanto, indicadores de efluente de boa qualidade. 6 ABES Trabalhos Técnicos
7 As concentrações de sólidos em suspensão (SS) e a turbidez do efluente foram diretamente proporcionais a densidade de CLNs. Relações semelhantes foram, também, evidenciadas no trabalho de Madoni (1993). Os FLGs são os protozoários mais citados como indicadores de efluente com elevada concentração de SS e DBO. Estes, foram os únicos protozoários que apresentaram correlações significativas com o índice volumétrico do lodo (IVL), podendo-se sugerir sua indicação para sistemas com problemas na sedimentação do lodo. A ocorrência de densidades de MTZ esteve diretamente relacionada com o IVL. Essa constatação pode inferir que em maiores idades do lodo, têm-se maiores valores de IVL. Tabela 3: Correlação entre a densidade dos grupos da microfauna e os parâmetros físico químicos, operacionais e bacteriológicos. Valores maiores que 0,200 correlações positivas e, valores menores que - 0,200 correlações negativas. PARÂMETROS CPF CLN CF AMB FLG MTZ DQOt (% remoção) 0,445-0,021 0,340 0,083 0,464 0,231 ph no tanque de aeração -0,359 0,284-0,229-0,159-0,539-0,190 Temperatura da amostra -0,639-0,052-0,386 0,030-0,536 0,093 N-NH 4 no efluente 0,474 0,186-0,011-0,082 0,037-0,016 DQOs (% remoção) -0,136 0,106-0,009 0,523 0,068 0,396 DBOt (% remoção) 0,599 0,280 0,565-0,578 0,515-0,449 SS no efluente 0,344-0,259 0,145 0,429 0,407 0,133 Turbidez no efluente 0,043-0,305-0,017 0,362 0,196-0,103 SSV no tanque de aeração 0,546 0,374 0,295-0,391 0,166-0,144 IVL -0,037 0,122 0,107 0,085 0,322-0,353 E. coli no efluente -0,285-0,352-0,201-0,060-0,427 0,125 ST no efluente 0,054 0,072-0,061-0,0134-0,251-0,208 SSd 2 0,266 0,290 0,235-0,219 0,267-0,401 Cloretos no tanque de aeração -0,009-0,212-0,054-0,158-0,244-0,213 N-NO 3 no efluente -0,234-0,361-0,155-0,108-0,164-0,146 AVALIAÇÃO DA METODOLOGIA EMPREGADA NA ALEMANHA NAS ETE S DO BRASIL (SC) Foram investigadas 7 estações de lodos ativados de Santa Catarina (CASAN) com a metodologia da Alemanha. Os resultados mostram, que a metodologia é mais simplificada para os operadores dos sistemas realizarem, mas, a tranferência generalizada do método empregado na Alemanha para o Brasil não é possível, devido às diferentes condições climáticas e variações nas técnicas empregadas para o tratamento de esgotos entre os dois países. Por exemplo: As espécies de organismos presentes nos sistemas são muito parecidas, mas, existem algumas só encontradas aqui no Brasil, como o ciliado fixo Vagnicolla (Figura 3b) visualizado em duas das sete estações monitoradas. A indicação desse organismos ainda não é bem conhecida. Por outro lado alguns organismos, principalmente os pluricelulares (especialmente os rotíferos, figura 3d), os quais têm baixa taxa de crescimento, quando em altas temperaturas, como no Brasil, desenvolvem-se com maior velocidade, surgindo em ETE s operando com baixa idade (7 dias) do lodo. Já na Alemanha, a presença desses organismos poderia caracterizar, comparativamente, alta idade de lodo. Outro aspecto contrastante diz respeito aos organismos causadores do lodo intumescido; na Alemanha o gênero Microthrix é o principal causador do fenômeno, enquanto no Brasil, os casos de intumecimento freqüentemente estão relacionados com Nocardia (Figura 4a), Sphaerotilus (Figura 1c; 4b), ou sulfobactérias. Em duas das sete estações monitoradas, ocorreram problemas devido ao excesso de Nocardia e, em três estações, ocorreram problemas com Sphaerotilus. De fato parece que as principais causas de problemas operacionais em ETE s de lodo ativados, estão relacionados com a baixa oxigenação nos tanques de aeração. Isto poderia causar problemas de escuma pelo crescimento intensivo de Epistylis, observada em duas estações do tipo aeração prolongada (Figura 3c; 4d) com baixa concentração de oxigênio (O 2 <0,5 mg/l). ABES Trabalhos Técnicos 7
8 O uso de águas superficiais para o abastecimento público, tanto no Brasil como na Alemanha, acarreta num esgoto afluente com baixa alcalinidade. Em sistemas onde ocorre a nitrificação, um grande consumo da alcalinidade pode ocasionar a queda do ph nos tanques de aeração, conduzindo a destruição dos flocos biológicos e consequentemente a redução da eficiência do processo. Além disso, este fato propicia o desenvolvimento excessivo de fungos (figura 4c) que também podem causar problemas de intumecimento do lodo. Figura 4: Problemas de decantação com crescimento intensivo e unilateral no lodo ativado Da esquerda para a direita: (a) Nocardia (b) Sphaerotilus (c) fungos (d) troncos dos protozoários Epistylis CONCLUSÕES Os resultados apresentados são os primeiros passos para o desenvolvimento e a padronização de métodos práticos da análise microscópica em sistemas aeróbios de tratamento de esgotos, objetivando a utilização dessas análise pelo operador do sistema. A aplicação do método alemão em sete estações brasileiras, evidenciou que este não pode ser transportado para o Brasil sem adaptações direcionadas ao clima e as características dos sistemas. Verificou-se que as espécies que causaram intumecimento do lodo em duas estações brasileiras, não eram comuns nas estações da Alemanha. A diversidade de organismos, também, constituiu num fator diferencial entre os dois países. Observou-se nas estações de Santa Catarina, a ocorrência de espécies nunca presentes em ETE s da Alemanha. A análise quantitativa da microfauna, utilizada na ETE Insular, foi suficiente para estabelecer relações entre as características microbiológicas do lodo e as condições físico-químicas e operacionais do sistema, no entanto, para sua realização periódica necessita-se pessoal capacitado. A análise microscópica constituiu num instrumento rápido para verificação das características biológicas do tratamento; entretanto, necessita-se de uma padronização para realização dessas análises no Brasil. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. APHA AWWA WEF. Standard methods for the examination of water and wastewater. 19 th ed. Washington: APHA BAYRISCHES LANDESAMT FÜR WASSERWIRTSCHAFT (1999): Das mikroskopische Bild bei der aeroben Abwasserreinigung Informationsberichte, München, Heft 1/99 3. Erweiterte und überarbeitete Auflage 3. BENTO, A.P. Caracterização da microfauna no sistema insular de tratamento de esgotos de Florianópolis / SC: Um instrumento de controle operacional e avaliação da eficiência do processo. Florianópolis, Dissertação de Mestrado Engenharia Ambiental - Universidade Federal de Santa Catarina, ABES Trabalhos Técnicos
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