26 JUL 01 AGO Evangelho - um estilo de vida

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1 Pág. 1 Comunidade Evangélica no Rio de Janeiro Evangelho - um estilo de vida (28) O Pai Nosso Perdoa as nossas dívidas 1 Nesta semana, dando continuidade ao estudo do Pai Nosso, vamos examinar com detalhes a expressão perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores. O assunto perdão é um tema crítico para os discípulos de Cristo. Tão crítico que, dependendo de como lidam com ele, a vida é livre e desembaraçada, ou embaraçada, não sai do lugar. Leia o texto e responda: 1) Quais são as quatro fases do processo do perdão? 2) Por que é necessário passar pelo processo do perdão? Quais são os propósitos do processo? 3) Quais são as lições do perdão? α Ω Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome; venha o teu reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu; o pão nosso de cada dia dános hoje; e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores; e não nos deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal, [pois teu é o reino, o poder e a glória para sempre.] Amém! 1 Referências: 1. KIVITZ, Ed René. Áudio de série de mensagens intitulada A Oração do Pai Nosso, proferida na Igreja Batista da Água Branca, São Paulo, SP, no ano de WILLARD, Dallas. A conspiração Divina. Editora Mundo Cristão

2 Pág. 2 Dia 26 JUL Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome; venha o teu reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu; o pão nosso de cada dia dá-nos hoje; e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores; e não nos deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal, [pois teu é o reino, o poder e a glória para sempre.] Amém! Mt Perdoa as nossas dívidas assim como perdoamos aos nossos devedores. O ensino de Jesus a respeito do perdão, explicitado e ampliado na parábola de Mateus 18, nos dá o processo do perdão, os seus propósitos e as suas lições. As quatro fases do processo do perdão são: confrontação, arrependimento, confissão e perdão. O Senhor Jesus inclui a experiência do perdão na essência da oração. Inclusive, na narrativa que Mateus faz da oração do Pai Nosso, são incluídas as palavras que Jesus teria dito a respeito do perdão ao encerrar o ensino da oração. No verso 14 ele diz pois, se perdoarem as ofensas, uns dos outros, o Pai celestial também lhes perdoará. Mas, se não perdoarem uns aos outros, o Pai celestial não lhes perdoará as ofensas. A experiência de perdão é colocada pelo Senhor Jesus na essência da oração e é explicada, expandida, ilustrada de maneira mais clara no capítulo 18 do mesmo evangelho de Mateus no texto que é conhecido como a parábola do credor incompassivo, ou do servo impiedoso. Em Mateus 18.21, quando Pedro pergunta a Jesus Senhor, quantas vezes deverei perdoar a meu irmão, quando ele pecar contra mim? Até sete vezes? Jesus respondeu Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete. Por isso, o reino dos céus é semelhante a um rei que resolveu ajustar contas com os seus servos. E, passando a fazê-lo, trouxeram-lhe um que lhe devia dez mil talentos. Não tendo ele, porém, com que pagar, ordenou o senhor que fosse vendido ele, a mulher, os filhos e tudo quanto possuía e que a dívida fosse paga. Então, o servo, prostrando-se reverente, rogou: Sê paciente comigo, e tudo te pagarei. E o senhor daquele servo, compadecendo-se, mandou-o embora e perdoou-lhe a dívida. Saindo, porém, aquele servo, encontrou um dos seus conservos que lhe devia cem denários; e, agarrando-o, o sufocava, dizendo: Paga-me o que me deves. Então, o seu conservo, caindo-lhe aos pés, lhe implorava: Sê paciente comigo, e te pagarei. Ele, entretanto, não quis; antes, indo-se, o lançou na prisão, até que saldasse a dívida. Vendo os seus companheiros o que se havia passado, entristeceram-se muito e foram relatar ao seu senhor tudo que acontecera. Então, o seu senhor, chamando-o, lhe disse: Servo malvado, perdoei-te aquela dívida toda porque me suplicaste; não devias tu, igualmente, compadecer-te do teu conservo, como também eu me compadeci de ti? E, indignando-se, o seu senhor o entregou aos verdugos, até que lhe pagasse toda a dívida.

3 Pág. 3 Assim também meu Pai celeste vos fará, se do íntimo não perdoardes cada um a seu irmão. Mateus Perdoa as nossas dívidas assim como perdoamos aos nossos devedores. O ensino de Jesus a respeito do perdão, explicitado e ampliado na parábola de Mateus 18, nos dá o processo do perdão, os seus propósitos e as suas lições. As quatro fases do processo do perdão são: confrontação, arrependimento, confissão e perdão. O Senhor Jesus diz que o reino dos céus é como um rei que desejava acertar contas com seus servos. E então o rei vai cobrar aquilo que lhe é devido. O rei faz um exercício extremamente difícil, que é cobrar o que lhe é devido. Em geral, as pessoas tem grande dificuldade em cobrar dívidas. Chamar uma pessoa, olhar bem dentro dos olhos dela e dizer você me ofendeu, você me feriu, você me magoou, você falhou para comigo e eu quero dizer onde você me ofendeu, porque me magoou, onde falhou, o que foi que você fez. E dizer claramente o nome do pecado cometido contra mim. Isto é confrontação, a primeira etapa do processo de perdão. Confrontar é ir até o ofensor e dizer: você me deve um trilhão de reais e eu vim aqui para deixar isto muito claro pra você, e pra lhe dizer que quero que você me pague. Depois vem o arrependimento. A melhor definição para arrependimento é expansão da consciência. O que é arrepender-se? É ter a consciência expandida. É quando aquele que foi confrontado enxerga, percebe, realiza, consegue ver o que não estava conseguindo ver, ou o que não estava querendo ver, antes da confrontação. Quando se confronta, se ilumina uma postura, uma palavra, um comportamento, uma atitude, e esta iluminação faz com que a consciência daquele que é confrontado se expanda. A origem da palavra arrependimento é metanóia. Meta significa está além, transcende (por exemplo: metafísica significa o que está além da física ). E nóia significa mente. O arrependimento é a transcendência da mente, ou a expansão da consciência. Quando se confronta, a pessoa enxerga, sua consciência se dilata e ela vê a realidade como ela de fato é. Não mais de acordo com a sua conveniência, não mais apenas do seu próprio ponto de vista, não mais apenas da sua perspectiva. Ela enxerga mais. Ela consegue perceber o que o outro percebeu e consegue perceber o que causou ao outro, então, sua consciência se expande. Ela identifica o seu erro. Isso é arrependimento. Depois vem a confissão. Confissão é literalmente homologação; eu homologo, eu confirmo, eu assino essa dívida, eu digo você tem razão, eu lhe devo um trilhão de reais. Isto é confessar. Confesso. Devo, não nego. Quando você me confrontou a minha consciência se expandiu e eu enxerguei. E eu admito, eu assumo, que fiz isso mesmo; eu agi assim, eu falei isso, eu tive mesmo essa intenção que você percebeu, eu quis fazer isso a você. Ou então a pessoa diz assim Eu lamento, eu não quis gerar em você isso que gerei. Mas eu admito que com a minha palavra, minha postura, meu comportamento, meu ato, eu contraí uma dívida para com você. Eu admito, eu devo um trilhão de reais. Essa quantia de um trilhão de reais é difícil de ser imaginada. E dificilmente alguma pessoa teria condição de pagá-la. Jesus exemplifica o valor da dívida como um trilhão de reais, uma quantia absurda, com o objetivo de ensinar que a dívida é impagável. Por fim vem o perdão. Então a pessoa diz assim: eu admito que eu tenho para com você uma dívida impagável. E o credor diz: pois eu libero você da dívida impagável, você está livre da sua dívida para comigo, eu te perdôo.

4 Pág acha que, não falando nada, consegue superar. E às vezes até consegue mesmo. Mas há coisas que não se consegue superar. Quais são elas? As dívidas impagáveis. No relacionamento saudável, a gente não cobra todas as dívidas. Às vezes a gente assume o prejuízo e não fala nada. Só que quando a dívida é impagável a gente não pode assumir o prejuízo, porque a gente também não tem como pagar. Dia 27 JUL O processo, então tem quatro fases: confrontação, arrependimento, confissão e perdão, nessa ordem. Ocorre que, em geral, não se segue esta sequência. Normalmente, a reação inicial das pessoas ofendidas é murmurar. Expressam coisas tais como eu não te aguento mais, você vai ver, um dia eu ainda vou fazer alguma coisa pra você, um dia isso volta na sua cabeça, pensa que eu tô aqui e que isso não tá custando nada, mas um dia você vai ver, esse teu pai, viu, vou te falar, esse teu pai..., eu não aguento mais não sei o que passa na cabeça dele, eu não aguento teu pai. Isso se chama murmuração, não é confrontação. Olha, eu sempre tenho que aturar você, isso se chama murmuração. Ou eu já te falei mil vezes, não deixa essa toalha aí, isso é murmuração. A murmuração se dá quando se fala o que o outro faz e que não agrada, mas não se pára, olhos nos olhos, coração com coração para lhe dizer você me deve um trilhão de reais. Pior que murmurar é adotar uma postura de omissão: a pessoa se ofende e não fala nada, mas fica remoendo a ofensa, iniciando um processo lento de gestação de uma úlcera, de um câncer, de um enfarto, de um rompimento abrupto da relação, de um divórcio. Fica-se remoendo na alma, nas entranhas. A pessoa acha que, não falando nada, está evitando problemas. Se eu falar vai gerar um clima, então é melhor não falar. Ela acha que, não falando nada, consegue superar. E às vezes até consegue mesmo. Mas há coisas que não se consegue superar. Quais são elas? As dívidas impagáveis. No relacionamento saudável, a gente não cobra todas as dívidas. Às vezes a gente assume o prejuízo e não fala nada. Só que quando a dívida é impagável a gente não pode assumir o prejuízo, porque a gente também não tem como pagar. E se a gente não tem como pagar, nós vamos morrer por causa daquilo. Ou aquilo se dissolve ou aquilo nos mata, porque a gente não tem como pagar. Outro desvio do processo de perdão que pode ocorrer é que, após a confrontação, não haja arrependimento e sim remorso. Qual é a diferença entre arrependimento e remorso? Remorso é quando o confrontado fica triste e só. Não é pra isso que se confronta. Você sabia que você amassou a porta do meu carro? Puxa fiquei triste, amassei o seu carro, fiquei muito triste! Eu não queria deixar você triste, eu queria a porta do meu carro consertada, amigão! Ficar triste não resolve nada. Nós achamos que arrependimento é o mesmo que remorso, pesar, lamento: lamento muito ter feito isso, se eu pudesse voltar atrás eu não faria. Isso não significa que houve arrependimento. Isso só significa que a pessoa viu a enrascada em que se meteu. E a tristeza não significa muita coisa. Pode significar, inclusive, que se está triste porque foi desmascarado, porque a sua imagem foi manchada, porque ficou decepcionado consigo mesmo. Tristeza não resolve nada. Apenas lamentar o que foi feito não é arrependimento, é remorso. Arrependimento é expansão da consciência, eu enxerguei, eu vi, eu sei o que fiz. É diferente.

5 Pág. 5 Já a confissão não é uma mera concordância. Confissão implica assumir responsabilidades pelo ato. Como é que você sabe que alguém está confessando ou apenas está concordando? Quando a pessoa diz assim É verdade, eu amassei a porta do seu carro. Ela está concordando, mas no íntimo está dizendo Mas também você passou atrás de mim e nem buzinou!, Mas, também estava chovendo!, Mas também, eu fiquei sem freio!, Mas também, é ladeira!. Ela concorda que amassou a porta do seu carro, mas ela não assume responsabilidades. Na parábola, o servo diz o seguinte Eu devo mesmo e se o Senhor tiver paciência, eu pago tudo! Eu assumo a responsabilidade, eu arco com o ônus dessa situação. Eu pago! Isto é confissão. Há comprometimento, há uma disposição de fazer todo o possível para remediar a situação criada, eu pago. Nesta situação, o credor diz: Você não vai conseguir pagar, então eu te libero dessa dívida. Eu quero crer que a sua consciência sai daqui expandida e fico satisfeito de perceber que você é uma pessoa responsável. E eu gostaria de te ensinar mais uma coisa, meu objetivo não é apenas que você enxergue mais a realidade, não é apenas levar você a assumir as suas responsabilidades, mas que você aprenda a lição da gratuidade. Então eu te perdôo, pode seguir o seu caminho, está perdoado. Perdoar é diferente de relevar. Relevar é tudo bem, deixa assim, vamos deixar isso pra lá. No perdão, não se deixa para lá. No perdão encerra-se o caso. Quando se deixa pra lá, relevando, tentando passar por cima, tentando esconder, abrindo uma gaveta e colocando dentro, cria-se bomba relógio, que, cedo ou tarde, explode. Pode demorar dez anos pra explodir, mas explode. Porque fica guardado na gaveta, no coração, de quem relevou. Quem releva tem mágoa na gaveta, quem perdoa não tem mais. Se está perdoado, quando abre a gaveta não tem nada dentro. Quem releva, guarda na gaveta, fecha e diz o seguinte Eu vou deixar pra lá, por enquanto, mas daqui a cinco anos, se você falhar comigo de novo, eu cobro a falha de cinco anos e a nova juntas. Por quê? Porque não está perdoado, só está relevado, foi deixado pra lá por um tempo. Não é de admirar que muitos relacionamentos sejam tão conflitantes, que as pessoas firam constantemente umas às outras, se omitam, sentem sobre um barril de pólvora, fiquem tristes por um breve período de tempo, passem a conviver murmurando e resmungando, e desenvolvam a capacidade de se justificar o tempo inteiro. Então, não é de admirar que de fato os relacionamentos sejam tão tensos e complicados. O processo do perdão é confrontar, para que o outro se arrependa, para que confesse e então receba perdão. É diferente de resmungar ou se omitir, para que o outro fique triste, ou para que o outro concorde e continue fazendo e sendo a mesma pessoa numa relação doente que vai durar um breve espaço de tempo, até explodir e ferir todos que estão na casa. Dia 28 JUL O processo do perdão é confrontação, arrependimento, confissão e perdão. Mas por que é necessário passar por esse processo? Quais são os propósitos desse processo de perdão? Em terceiro lugar, o processo de perdão visa dar continuidade a um relacionamento entre pessoas livres. Livres! Primeiramente, é para resguardar a dignidade do ofendido. Os pseudo-humildes, os vaidosos, os orgulhosos, os soberbos, os que querem pousar de pessoas acima dos mortais, costumam dizer assim Não foi nada, deixa pra lá, não, não foi nada! Você me

6 Pág. 6 deve um trilhão de reais, mas isso não é nada. Deixa isso pra lá, não vai me fazer falta. Isso não causou nada dentro de mim, deixa pra lá. Quando o ofendido adota essa postura, o ofensor passa a acumular dívidas. No primeiro mês a dívida é de 1 trilhão e alguns milhões de reais. Mais alguns meses e ela será de dois trilhões, porque o ofendido foi dizendo deixa pra lá e a dignidade foi para o ralo. Uma pessoa gritou com ela, e ela disse deixa pra lá ; outra pessoa levantou a mão contra ela, e ela mais uma vez deixou pra lá ; foi cuspida, e deixou pra lá. Então as pessoas passam a tratá-la como se não tivesse valor nenhum; e a culpa disso é da própria pessoa ofendida, porque deixou tudo pra lá. Não definiu limites; não resguardou a sua dignidade. Quando uma pessoa diz para a outra me perdoa, eu te magoei, a pessoa ofendida deve dizer é verdade, você me magoou muito, mas eu quero te perdoar. E isso não é deixar pra lá. Se Deus não nos cobrasse pelos nossos pecados, Ele sacrificaria a Sua santidade porque Ele se tornaria cúmplice e conivente com o erro. Deixar o pecado para lá, sacrificar a própria dignidade em face a uma agressão, nos faz cúmplices e coniventes com o pecado. O saudável é dizer a maneira como você está vivendo é destrutiva pra você, pra mim e para o nosso relacionamento, eu não posso deixar pra lá porque eu não posso sacrificar a minha dignidade. Eu não posso permitir que você me destrua, eu não posso permitir que você me sacrifique, não posso. Por isso é que eu quero dizer pra você que há um limite e é por isso que eu estou confrontando você. A segunda razão pela qual nós precisamos passar pelo processo de perdão é que este processo concede ao ofensor a oportunidade da transformação e a oportunidade de começar de novo. A Bíblia afirma que o Pai repreende ao filho a quem quer bem, disciplina ao filho a quem Ele ama (Hb 12.7). Por que Deus faz isso? Porque Ele não consegue ver Seus filhos em caminhos de destruição, caminhos de autodestruição, e ficar quieto. E Deus age assim não apenas para não ferir a Sua dignidade e não ser conivente com as racionalizações e desculpas dos homens. Ele age assim, porque não pode se omitir ao perceber alguém se destruindo. Eu estou enxergando o que você está fazendo com a sua vida e eu não posso me omitir, eu tenho que dizer pra você Meu amigo, minha amiga, meu irmão, minha irmã, marido, esposa, filho, eu não posso ficar calado enquanto eu vejo você viver dessa maneira. Você vai se destruir! Passar pelo processo de perdão é também um ato de amor pela pessoa que nos ofende e nos agride. Resguardamos a nossa dignidade, mas damos ao próximo a oportunidade de começar de novo, de ser transformado. Em terceiro lugar, o processo de perdão visa dar continuidade a um relacionamento entre pessoas livres. Livres! É comum que pessoas ao fazerem um favor fiquem com crédito junto ao favorecido. Assim, em uma determinada oportunidade, aproveitando-se do fato de estar por cima, pede um favorzinho carinhoso. O devedor, constrangido pela sua dívida, diz sim aos pedidos. Caso o devedor, por algum motivo, não faça o favor, o credor diz Lembra quando...?. Em outras palavras, o devedor está escravizado pela dívida que tem. Quem não perdoa, não convive com seres livres. Como resultado das cobranças de dívidas, a relação entre as partes deixa de ser de amizade, deixa de ser prazerosa, para se tornar uma obrigação, um dever bastante desagradável.

7 Pág. 7 Quando nós perdoamos, quando nós rasgamos o escrito de dívida do ofensor para conosco, quando rasgamos a nota promissória, permitimos a continuidade de um relacionamento entre pessoas livres. Existem coisas pelas quais a gente não consegue pagar nunca. Com Deus é fácil lidar porque Deus é espírito. Uma ferida no coração de Deus é uma ferida invisível e insensível. Mas pessoas são finitas, e pessoas finitas não conseguem pagar dívidas eternas. As feridas emocionais que causamos nos nossos semelhantes implicam em dívidas impagáveis. A única forma de se pagar essa dívida seria nós darmos a nossa vida em troca e em preço de resgate. Dia 29 JUL Finalmente, quais são as lições do perdão? Em primeiro lugar, o perdão desmascara a nossa pretensão de pagar tudo e, principalmente, nos diz que quando nós ferimos pessoas, contraímos dívidas impagáveis. Nós conseguimos pagar por uma janela que o nosso filho quebrou com a bola, nós conseguimos pagar por uma porta de carro que amassamos por acidente, mas nós não conseguimos pagar pelas feridas na alma, não temos como pagar. Existem coisas pelas quais a gente não consegue pagar nunca. Somos homens, somos finitos, e por isso não conseguimos pagar dívidas eternas. As feridas emocionais que causamos nos nossos semelhantes implicam dívidas impagáveis. A única forma de se pagar essa dívida seria darmos a nossa vida em troca e em preço de resgate; seria abrirmos mão da existência e nós não podemos fazer isso. Nós temos que conviver com o fato de que somos limitados e não conseguimos pagar tudo. É possível repor danos materiais, mas não se consegue apagar as feridas que se abriu no coração das pessoas. Não importa se essas feridas são pequenas ou grandes, porque a dívida não é do tamanho da ferida, é do tamanho da pessoa. Então, quando dizemos tenha paciência comigo que eu tudo te pagarei, estamos dizendo uma tolice. É igualmente tola a pessoa ofendida que diz para a ofensora: Você vai me pagar centavo por centavo disso aí. Eu vou te perseguir o resto da tua vida, e você vai me pagar centavo por centavo. Tolice, estupidez, loucura! Não há como pagar. Tanto uma quanto a outra ficarão escravizadas a uma dívida impagável. Uma é credora e o outra é devedora, mas as duas são escravas de uma dívida impagável. O processo do perdão visa nos trazer o esclarecimento de que há coisas na vida que jamais seremos capazes de pagar. Em segundo lugar, quando se passa pelo processo do perdão, temos a oportunidade de reconhecer, de redimensionar, o valor de cada uma das pessoas com quem convivemos. Se formos deixando para lá as ofensas que sofremos ou não adimitimos as nossas ofensas quando somos confrontados, mais cedo ou mais tarde, mas inevitavelmente, nossos relacionamentos se desfarão quando acabar a confiança ou a paciência. O processo do perdão é uma forma de dizermos para o outro o seguinte: Cuidado! Cuidado com o que você está fazendo com essa riqueza que está na sua mão. Essa riqueza que atende pelo meu nome e que é o nosso relacionamento. Cuidado, porque um dia nós podemos perder isso. Cuidado!.

8 Pág. 8 Em terceiro lugar, o processo de perdão nos ensina que relacionamentos só sobrevivem na base da gratuidade. Não continuamos amigos porque há virtudes em ambas as partes em jogo. Somente podemos continuar sendo amigos, esposo, esposa, pai, ou filhos, porque entendemos que para nos relacionarmos dependemos da graça e não das virtudes e das capacidades. Todo relacionamento de amor é um relacionamento de risco. E todo comportamento de defesa é uma rejeição de amor. Quem não quer sofrer, se tranca, se fecha, não se arrisca, não se dá, não se doa, não acredita nas lágrimas, não perdoa. Não perdoa porque se eu perdoar, ela vai fazer de novo e eu vou sofrer de novo, e se esquece dos setenta vezes sete (Mt 18.22). Delegados, advogados, psicólogos, policiais rodoviários, juízes, carcereiros, e outras profissões afins, têm por ofício a responsabilidade de desconfiar do possível arrependido. Mas, os cristãos, os discípulos de Jesus, vão perdoar sempre que lhe pedirem perdão, vão sempre correr o risco de sofrer de novo, porque relacionamentos só sobrevivem na base da gratuidade, relacionamentos só continuam com lágrima e sangue. Se não quer sangrar, que fique sozinho; se não quer chorar, que fique sozinho; se não quer ser traído, que fique sozinho; se não quer ser magoado, passar por injustiça, que fique sozinho. Só que vivendo sozinhos nos tornamos uma torre congelada que nos mata muito mais do que a dor de sermos injustiçados, de sermos traídos, de ter que perdoar de novo. Essas dores todas são infinitamente menores do que as dores da solidão, do que as dores do ódio alimentado, da mágoa guardada, das notas nas gavetas. É por isso que passamos pelo processo de perdão. Por isso é que Deus inventou esse negócio chamado perdão. Perdoa as nossas dívidas como nós perdoamos aos nossos devedores. Se não perdoamos é porque não passamos pela experiência de sermos perdoados. O perdão que Deus nos dá não pode ser em vão. Ele tem que ter consequência, e a consequência do perdão que recebemos é o perdão que concedemos. Deus não deixa os seus processos de perdão pra lá. Eu te perdoei, mas você não perdoou. Mas deixa pra lá, Deus destruiria tudo o que Ele fez antes. É por isso que Jesus diz que a evidência do perdoado é a capacidade de perdoar. Portanto, perdoe, porque quem não perdoa, se encastela na solidão. E quem se encastela na solidão, morre. Então, viva e viva amando e perdoando. Porque é impossível amar sem assumir o ônus de perdoar. Uma das grandes mentiras contemporâneas é a frase amar é não ter que pedir perdão. Trata-se de uma grande besteira, porque amar é perdoar sempre; amar é pedir perdão sempre; amar é correr o risco sempre; amar é nunca desistir de sofrer porque nós estaremos sempre dizendo Você e o nosso relacionamento são mais importantes do que a minha mágoa do que o meu ressentimento, do que a minha dor, do que a minha ferida. A minha ferida não é maior do que você, a minha ferida não é maior do que o nosso relacionamento e a única forma de continuarmos juntos é com perdão. Então, que se apague a dívida e caminhemos no amor, no perdão e na graça de Deus. Dia 30 JUL Oração Deus, nosso Pai, nós Te agradecemos pelo perdão que recebemos de Ti, e Te agradecemos porque o Teu Espírito Santo não cansa de trazer à luz o nosso pecado. Nós Te agradecemos porque na Tua graça, Tu não Te cansas de nos perdoar. Nós

9 Pág. 9 confessamos a nossa dívida e até queríamos, no nosso orgulho, conseguir pagar ao Senhor, mas nós confessamos o nosso tamanho e admitimos que não há nada que possamos fazer para merecer o Teu amor, por isso Te agradecemos o perdão e o preço pago na cruz do calvário para que fôssemos livres das nossas dívidas e das nossas culpas. Te pedimos que o Teu Espírito Santo traga o preço de sangue pago por Jesus e o derrame sobre nossas consciências e nos liberte dos nossos pecados e das nossas culpas. Nós Te pedimos que esse sangue derramado sobre nós, transborde de nós e liberte dos seus pecados e de suas culpas aqueles que pecaram contra nós. E Te pedimos que esse sangue derramado sobre nós nos liberte também dos pecados, das culpas e das dívidas que contraímos com os nossos irmãos, com as pessoas que amamos. Te pedimos que Tu nos dê esse privilégio de vivermos em liberdade, todos mergulhados na Tua graça, aproveitando a oportunidade de sempre começar de novo. Visita-nos agora, Senhor, pelo Teu Espírito Santo e perdoa as nossas dívidas assim como temos perdoado aos nossos devedores. Te pedimos assim em nome de Jesus, para a glória do Senhor. Amém. α Ω Na próxima semana: O Pai Nosso Livra-nos do maligno. α Ω