Relatório de Viagem Freie Universität Berlin Júlio Cezar Monteiro de Barros

Transcrição

1 Relatório de Viagem Freie Universität Berlin Júlio Cezar Monteiro de Barros

2 A minha escolha relativa a universidade no intercâmbio teve de ponderar alguns pontos importantes: meus objetivos pessoais, a qualidade do ensino e o custo de vida. À época, eu estava cursando o 4º período de Economia na PUC-Rio e já havia estagiado com políticas públicas e macroeconomia. Eu gostaria de escolher uma universidade que me oferecesse exatamente boas cadeiras nesses tópicos e por isso escolhi a a Freie Universität Berlin. O primeiro passo antes de ir para um país na Europa é a preocupação com visto. Na época que viajei, brasileiros não precisavam de visto para entrar na Europa com fins de turismo (isto é, com período de viagem menor de 3 meses). Caso o motivo da viagem fosse intercâmbio acadêmico, necessita-se de um visto anterior adquirido no Brasil. Entretanto, caso o destino seja Alemanha e o voo de partida seja direto (sem escalas ou conexões) Brasil Alemanha, o estudante não precisa se preocupar com o visto no Brasil, e deve faze-lo na Alemanha num prazo de três meses. Já se houver alguma escala ou conexão, o estudante deve providenciar uma autorização de viagem junto ao consulado alemão no Brasil e mais o visto na Alemanha em até no máximo 3 meses. Esse foi um fator muito importante na compra do voo, e os próprios funcionários do consulado alemão no Rio de Janeiro, indicam voos diretos. Uma funcionária me indicou a companhia Condor, nova no Brasil e operando voos diretos com custo baixo. Após uma longa pesquisa, escolhi por esta companhia. Eu cheguei em Berlin no dia 21 de setembro de Muito perdido em relação a como as coisas aconteciam em outro país, me aventurei em - depois de uma ponte aérea de quase 14 horas com a Condor nos trechos Rio > Salvador, Salvador > Frankfurt - pegar um ônibus de mais 10h de Frankfurt am Main em direção a Berlin. Eu optei por assim fazer pois escolhendo Berlin como destino final de aeroporto, a passagem ficava 1000 reais mais cara em relação a Frankfurt e a passagem de ônibus entre as duas viagens custou apenas 12 euros. Para pesquisar passagens de ônibus eu aconselho o site GoEuro, que compara valores de passagens de trem, avião e ônibus. A ida do aeroporto até o local onde partia o ônibus me exigia pegar um metrô do aeroporto até a estação central de trem de Frankfurt (toda cidade na Alemanha tem uma Hauptbahnhof). Na Frankfurt Hauptbahnhof não foi muito difícil encontrar o local de saída do ônibus, mesmo sendo do lado de fora da estação. Tudo é muito bem localizado, limpo e tem locais de informação onde as pessoas falam inglês. Após a viagem, cheguei ao Zentral Omnibusbahnhof Berlin (ZOB) e de lá peguei o metrô para casa. Geralmente universitários moram em Wohnheime ou em WGs. Há uma entidade (acredito que sem fins lucrativos) que controlam a maioria das Wohnheime em Berlin que é a Studentenwerk. Os dormitórios da Studentenwerk geralmente são os mais baratos (ca euros por mês), mas eles só são disponibilizados por intermédio da universidade e geralmente ficam em locais muito distantes da cidade. Depois de ser aceito na universidade, a FU me ofereceu uma vaga na Wohnheim Goerzallee. O local é muito distante do centro da cidade, e mesmo com o sistema de transporte robusto de Berlin, Goerzallee fica a quase 1h

3 de tudo que acontece em Berlin e de madrugada esse tempo duplica. Por isso, eu decidi não aceitar essa vaga. Logo, eu teria outras duas opções: buscar um dormitório particular ou correr atrás de uma WG. WGs são apartamentos compartilhados, e é a opção que a maioria das pessoas faz. Mas como as WGs são mais caras e eu tinha um orçamento limitado, eu escolhi morar numa Wohnheim particular (Fördererkreis Junge Politik, 260 euros/mês). No site da FU, estão listadas todas as opções de dormitórios privados e com muita antecedência (assim que soube da aceitação), mandei para todas as possíveis e que ficavam em locais bons. Nesse dormitório, eu tinha meu próprio quarto, mas e cozinha era uma cozinha bem grande e coletiva. O ponto negativo era o banheiro, que era como um vestiário, dividido com todo o corredor. Eu morava em Charlottenburg, um bairro único em Berlin. No meio termo entre Dahlem e o centro de Berlin. Charlottenburg é um bairro muito aconchegante, calmo, muito bonito e dependendo do lugar, é bastante caro. Por ter sido da Berlin britânica, tem um clima família totalmente diferente dos lugares mais próximos do centro ou dos bairros de Berlim Oriental. Era um bairro que eu particularmente gostava muito uma vez que eu podia chegar na faculdade rapidamente (30 a 40 minutos) ao mesmo tempo que não estava isolado de toda diversão de Berlin e demorava o mesmo tempo (30 a 40 min) pra chegar nos bairros mais agitados de noite. O primeiro passo quando se chega em Berlin é entender o sistema de transporte. São muitas linhas de S e U-Bahn, Tram e os ônibus, o que pode deixar tudo meio confuso, mas é questão de costumo. O sistema é extremamente eficiente, pontual e interligado. Com um único ticket você pode usar qualquer trem, ônibus e bonde pelo tempo de 2h (exceto se estiver indo na direção de onde se validou o ticket). Não há cobrador no ônibus, catracas no trem ou qualquer controle. Mas a fiscalização é muito forte, então valide sempre seu ticket. Após o pagamento da matricula da faculdade (cerca de 240 euros), a FU disponibilizou um ticket semestral, onde eu podia usufruir de todo o sistema de transporte publico Berlin- Brandemburgo gratuitamente. Até pegar o Semesterticket no entanto, a melhor opção é comprar 4 tickets de uma vez nas maquinas do metrô, o que torna as passagens um pouco mais baratas. Outro ponto muito importante logo quando chega-se em outra cidade é conseguir um chip de celular. Existem diversas operadoras em Berlin, e até os mercados vendem pacotes de ligação e dados próprios. Existem muitas combinações de planos pré e pós-pagos. No meu caso, eu não necessitava de ligações, uma vez que todo o meu contato era por Whatsapp/Skype, então comprei um chip pré-pago da Lycamobile numa loja turca perto de casa. Contratei uma promoção que me dava um plano de internet de 1GB por 10 euros. Morar na Alemanha envolve dois momentos de extrema burocracia: o registro da moradia e o visto já explicado acima. Ambos os serviços são realizados

4 pela prefeitura de Berlin e devem ser agendados online com 3 a 4 meses de antecedência. Por isso, recomenda-se fortemente a marcar-se esses serviços assim que o futuro intercambista souber que foi aprovado para evitar qualquer stress. O primeiro chamado Anmeldung einer Wohnung ou em tradução direta Registro de um Apartamento é o passo principal, necessário para tudo que você for fazer na cidade (abrir uma conta no banco, dar entrada no visto, etc.). O registro de uma moradia é feito para todas as pessoas que acabaram de se mudar para uma cidade na Alemanha. Esse serviço eu já tinha agendado pela internet antes de sair do Brasil, então no dia marcado fui ao local com todos os documentos e tudo correu tranquilamente mesmo eu falando pouco alemão e a funcionaria falando pouco inglês. Mas era clara a fila de pessoas que não tinham conseguido agendamento na internet e precisavam urgentemente do documento e fazem plantão de madrugada para tentar conseguir algo. Foi o que ocorreu comigo para emissão do visto. Eu não sabia que era necessário marcar com antecedência tal qual o Anmeldung einer Wohnung, então tive que ir até o escritório de atendimento ao estrangeiro em Berlin pegar uma fila desde madrugada. O visto foi emitido no mesmo dia. Acordei as 3h para chegar no local por volta das 4h e quando cheguei já havia uma fila de 36 pessoas. A faculdade tem um serviço próprio que facilita muito esse operacional, mas como eu já estava estourando meu limite do tempo que podia ficar sem visto, precisei passar por essa experiência. Ao final do período de intercambio também é necessário realizar o Abmeldung einer Wohnung, feito por correio, onde envia-se um documento para a prefeitura avisando da sua saída. Não sei se esse procedimento é relevante, mas eu o fiz. Meus gastos mensais não eram muito elevados. Em Berlin não há a cultura de super ou hiper-mercados. Geralmente são mercados pequenos de algumas cadeias principais. Perto da minha casa havia dois mercados de duas cadeias diferentes, uma muito barata e outra mais cara. O mais barato, Lidl, é conhecido pelos seus preços baixos mas por produtos que não são de marca muito conhecida. O mercado mais caro Kaiser s, se assemelha aos mercados da Zona Sul do RJ, com muita variedade, organizado e limpo, apesar do preço mais alto. Como meu consumo semanal não era muito elevado, eu geralmente ia nos dois, comprava algumas coisas mais básicas baratas no Lidl e outras de mais qualidade no Kaiser s. A faculdade também possui um restaurante próprio, o Mensa, também administrado pelo Studentenwerk Berlin. O preço era bom e eu conseguia almoçar por 3,5 a 4 euros no prato mais barato e 7 a 10 euros no prato mais caro. Mas os melhores lugares de Berlin para se comer são as lojas de kebab. Kebab é um sanduiche turco, levando geralmente carne molho e salada. Existe a opção vegetariana que ao invés de carne, usa falafel. É uma refeição que salva em muitos momentos, especialmente de madrugada. Berlin está em uma posião central na Europa, então é muito barato viajar para o leste europeu, como para a Europa Oriental e também para a Escandinávia.

5 Aconselho buscar preços de passagem com antecedência uma vez que há muitas promoções boas quando consegue-se programar bem. As vezes eu não conseguia planejar com muita antecedência uma viagem, mas mesmo assim o preço das passagens não saia tão caro se eu optasse por ônibus. Uma das primeiras viagens que fiz foi para Praga. A viagem entre Berlin e Praga é de cerca de 4 horas, fomos de ônibus e a passagem não custou mais de 20 euros. Como a República Checa não utiliza o Euro, e a Coroa Checa é muito desvalorizada, é uma viagem muito barata. Os ônibus da empresa que fomos, Student Agency, são muito bem equipados, com televisão individual, maquina de café, revistas e comissária de bordo. Praga apesar de todos os seus pontos turísticos belíssimos, tem adquirido uma cultura mais underground tal qual Berlin, por isso é preciso sair um pouco do circuito turístico tradicional. Na internet há diversas opções de roteiros mais alternativos. Os preços no circuito tradicional, embora baratos, são muito caros para o padrão checo. Eu cheguei a notar diferenças de preços de restaurantes turísticos e restaurantes tradicionais de 10 vezes. Além de Praga, também fomos para Amsterdã. A cidade é muito bonita, e o Rijksmuseus é simplesmente imperdível, principalmente pelo Night Watch Gallery onde estão obras de Rembrandt e Frans Hals. O passeio mais legal por Amsterdã é de bicicleta, onde consegue-se sentir muito bem o padrão de vida da cidade. Entretanto, a cidade é muito turística e acaba-se perdendo um pouco do clima de cidade por conta do elevado turismo. Por isso, uma dica é pegar a bicicleta e conhecer os arredores da cidade, muito diferentes do centro turístico. Conheci também outros países. Na Espanha fui para Madrid e Toledo, sendo esta última incrivelmente bonita pelo estado de preservação. A viagem dura cerca de 40 minutos entre as duas cidades e Toledo conhece-se em um dia. Em Madrid, a noite é animada, mas o Museo del Prado e o El Retiro são ótimos passeios. De Madrid, segui de trem para Coimbra, onde passamos umas duas noites hospedados por brasileiros que estudam na Universidade de Coimbra. Em Portugal também conheci o Porto e Lisboa. Depois de Portugal segui para Dublin e depois de volta para Berlin. Berlin é uma cidade muito vibrante, muito bonita e com uma vida noturna muito forte. Muitas vezes, os alemães me aconselharam a nunca conhecer outras cidades da Alemanha, uma vez que Berlin é sem dúvidas a cidade mais legal do mundo.

6 Viagem a Amsterdam (acima) e Memorial do Holocausto de Berlin (abaixo)