JORNALISMO EM TEMPO DE TRANSFORMAÇÃO. desafios de produção e de ação

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1 JORNALISMO EM TEMPO DE TRANSFORMAÇÃO desafios de produção e de ação

2 Conselho Editorial Alex Primo UFRGS Álvaro Nunes Larangeira UTP André Parente UFRJ Carla Rodrigues PUC-Rio Ciro Marcondes Filho USP Cristiane Freitas Gutfreind PUCRS Edgard de Assis Carvalho PUC-SP Erick Felinto UERJ Francisco Rüdiger PUCRS Giovana Scareli UFSJ J. Roberto Whitaker Penteado ESPM João Freire Filho UFRJ Juremir Machado da Silva PUCRS Marcelo Rubin de Lima UFRGS Maria Immacolata Vassallo de Lopes USP Michel Maffesoli Paris V Muniz Sodré UFRJ Philippe Joron Montpellier III Pierre le Quéau Grenoble Renato Janine Ribeiro USP Rose de Melo Rocha ESPM Sandra Mara Corazza UFRGS Sara Viola Rodrigues UFRGS Tania Mara Galli Fonseca UFRGS Vicente Molina Neto UFRGS

3 JORNALISMO EM TEMPO DE TRANSFORMAÇÃO desafios de produção e de ação Dulcilia Schroeder Buitoni (Org.) Edson Capoano Egle Muller Spinelli Enio Moraes Júnior Fabiano Rodrigues Felipe Mendes Borini João Canavilhas Magaly Prado Maria Elisabete Antonioli Pollyana Ferrari Renato Essenfelder Ricardo Gandour Vanessa Teixeira de Barros

4 Copyright Autores, 2018 Capa: Like Conteúdo Editoração e projeto gráfico: Vânia Möller Revisão: Simone Ceré Editor: Luis Antônio Paim Gomes Dados Internacionais de Catalogação na Publicação CIP Bibliotecária Responsável: Denise Mari de Andrade Souza CRB 10/960 J82 Jornalismo em tempo de transformação: desafios de produção e de ação / organizado por Dulcilia Schroeder Buitoni. Porto Alegre: Sulina, p. ISBN: Jornalismo. 2. Comunicação Social - Meios. 2. Comunicação de Massa. I. Buitoni, Dulcilia Schroeder. CDU: 070 CDD: Todos os direitos desta edição reservados à Editora Meridional Ltda. Rua Leopoldo Bier, 644, 4 andar Santana CEP: Porto Alegre-RS Tel: (0xx51) sulina@editorasulina.com.br {Setembro/2018} IMPRESSO NO BRASIL/PRINTED IN BRAZIL

5 Sumário 7 11 Apresentação Dulcilia Schroeder Buitoni Prefácio Elizabeth Saad JORNALISMO: TEMPO E TRANSFORMAÇÕES Novos desafios para o jornalista: qualidade da apuração em tempos de velocidade de produção Maria Elisabete Antonioli e Enio Moraes Júnior Fact-checking: o jornalismo regressa às origens João Canavilhas e Pollyana Ferrari Para onde vamos: o método jornalístico irá sobreviver à transformação digital? Ricardo Gandour INOVAÇÃO: GESTÃO, CIDADES INTELIGENTES, REDES Pensamento estratégico e trade-offs na indústria informativa Fabiano Rodrigues, Felipe Mendes Borini e Edson Capoano Conectar pessoas às cidades inteligentes Magaly Prado Redes informativas e colaborativas: empreendedorismo e inovação social Egle Muller Spinelli Quem roubou meu espectador?: reflexões sobre a transformação da audiência pós-millennial Edson Capoano e Vanessa Teixeira de Barros JORNALISMO: NARRATIVA E IMAGEM Jornalismo e literatura: confluências na grande reportagem contemporânea Renato Essenfelder Por imagens jornalísticas pensativas, complexas e transitivas Dulcilia Schroeder Buitoni Sobre os autores

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7 Apresentação Tempo, vivências profissionais, apuração velocidade, origens, jornalismo transformação digital, inovação, redes colaborativas mutações, jornalismo audiência, confluências, multimídia leitor, espectador, usuário, jornalismo imagens pensativas, gestão, métricas, cliques Para onde vamos? Estas palavras fluem pelos textos deste livro e dizem da nossa ecologia midiática. Dizem muito do jornalismo e do fluxo contemporâneo de informações. Um mestrado profissional em jornalismo necessariamente precisa considerar o tempo. O tempo do fazer jornalístico, o tempo do jornalista, o tempo dos usuários consumidores e coautores. Se o tempo sempre esteve impregnado na rotina da produção jornalística, agora, em aceleração, como podemos pensar e praticar a produção jornalística? Os mestrados e doutorados em comunicação já refletiam sobre as transformações das mídias e do jornalismo; no entanto, era preciso ir além, aproximar mais ainda reflexão e práticas jornalísticas contemporâneas. Surge então uma forma nova de fazer mestrado stricto sensu: juntar reflexão com a possibilidade de planejar, produzir e organizar novos produtos e processos jornalísticos. É um novo formato de mestrado que vem sendo implantado no Brasil: o mestrado profissional. Integrado no sistema de pós-graduação brasileiro, seus alunos podem apresentar dissertações e/ou produções: livros, documentários, sites, propostas de novos negócios. Se quiserem continuar na carreira de pesquisador, têm o direito de se inscrever em um doutorado acadêmico. 7

8 8 O Mestrado Profissional em Produção Jornalística e Mercado (MPPJM) da ESPM-SP, iniciado em 2016, é um programa de pósgraduação dentro dessa proposta de produzir conhecimento alinhado com o que está acontecendo no mundo do jornalismo e das mídias. Foi pensado para profissionais e pesquisadores que pretendam aumentar o potencial interno de geração, difusão e utilização de conhecimentos científicos nos processos de produção jornalística e de gestão. Seu corpo docente, dividido em duas linhas de pesquisa: Lógicas e Modelos de Gestão em Jornalismo; e Produção de Conteúdo, é formado por professores que unem experiência acadêmica e vivência de mercado. Em março deste ano de 2018, foram defendidas as primeiras sete dissertações do Mestrado Profissional em Produção Jornalística e Mercado, que mostram a relação com temas contemporâneos e a vinculação com processos de produção. A perspectiva de inovação está presente em todos os trabalhos: Adrian de Alexandri (Desafio: transformar Gonçalves (MG) em uma cidade conectada); Antonio da Rocha e Silva Filho (Jornalismo popular na era da comunicação digital: um estudo dos jornais Extra e Agora São Paulo); Cleber Stevani (Snapdoc: usos do Snapchat na cobertura das eleições municipais de São Paulo pelo UOL); Clesio Henrique de Oliveira Souza (Plano de negócios: SP para 2. Plataforma jornalística para a curadoria de roteiros para casais); Jonas Gonçalves da Silva (Reorganização das redações no Brasil: análise dos processos de produção do Estadão e Huff Post); Mariana Crosio Benvenido (Novos modelos de negócio nas organizações jornalísticas: o processo de inovação e criação de valor da revista Exame); Ricardo Fotios Hatzigeorgiou (Reportagem orientada pelo clique: audiência enquanto critério de seleção da notícia on-line). Todas as pesquisas e/ou projetos desenvolvidos mantêm grande proximidade com as realidades do mercado. A formação e a atuação profissional dos docentes do Mestrado Profissional em Produção Jornalística e Mercado contribuem para a interação entre reflexão teórica e aplicação prática na gestão e na criação de produtos jornalísticos impressos, digitais e/ou audiovisuais. Assim,

9 alguns atuaram e outros ainda atuam em grandes veículos, há colunistas de sites, especialistas em rádio, televisão, imagem, mídias digitais, em produtos audiovisuais, há gestores e especialistas em administração. Aulas, seminários, laboratórios, grupos de pesquisa se articulam em clima de interdisciplinaridade e convergência de saberes. Este primeiro livro produzido pelo MPPJM da ESPM-SP apresenta resultados de pesquisas empreendidas pelos professores em textos que reforçam a interação entre academia e mercado. Também traz um texto de dois professores convidados: o pesquisador português João Canavilhas e a brasileira Pollyana Ferrari, professora do Programa de Estudos Pós-Graduados em Tecnologias da Inteligência e Design Digital (TIDD), da PUC-SP. As contingências, as vicissitudes e as inúmeras possibilidades tecnológicas e humanas do fazer jornalismo permeiam estes textos que querem semear ideias e criação. Dulcilia Schroeder Buitoni 9

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11 Prefácio Prof.ª Dr.ª Elizabeth Saad, Professora Sênior da ECA-USP e coordenadora do grupo de pesquisa COM+ O jornalismo de nosso tempo: transformador, inovador e sempre necessário Seria uma redundância iniciar este prefácio discorrendo sobre as transformações produzidas pela digitalização vivenciada em todos os campos de sociabilidade relativos à economia, à política, à cultura, às subjetividades, aos relacionamentos coletivos, à vida privada e assim por diante. Por outro lado, é inevitável considerar todo este cenário contemporâneo quando nosso tema está fortemente vinculado à produção, acesso e consumo de informações de qualquer tipo, e mais diretamente, aos processos de informação jornalística. No momento atual, os processos de transformação do comportamento e da ação coletivos são pautados por mutações que ocorrem em velocidades planetárias, em sua maioria decorrentes de inovações vinculadas às tecnologias digitais de informação e comunicação, as famosas TICs. A intervenção digital aqui considerada sem determinismos ou juízos de valor nos coloca diante de um protagonismo informacional que permeia os diferentes dispositivos de nosso cotidiano. A ubiquidade da rede provoca mudanças comportamentais no indivíduo e no coletivo, nos espectros público e privado, nos processos de mobilidade urbana e comunicacional, nos processos de consumo de todo tipo e nos processos de produção, seja de bens duráveis, seja de bens e valores intangíveis que agem continuamente na rotina de todos. Temos como contexto de sociabilidades dispositivos móveis configurados em celulares e tablets, sistemas ubíquos de geolocalização e consequente vigilância, plataformas sociais de relacionamento e 11

12 12 trocas simbólicas, aplicativos (os apps) instalados nesses dispositivos e sistemas que assumem as affordances de mídias e/ou espaços interativos para trocas econômicas, sociais, políticas e todo um imensurável conjunto de bites que se acumulam em bases de dados globais o Big Data cuja governança é conduzida por algoritmos concebidos pelo humano, mas atuando em função da automatização, uniformização e massificação dos comportamentos na sociedade. É neste cenário que o jornalismo está posicionado. É deste cenário que o jornalismo necessita extrair o norte de uma atuação contemporânea e ao mesmo tempo de sustentação de sua legitimidade social, de seu papel central nos processos de formação e alimentação propositiva da opinião pública. Mudam os processos de produção noticiosa, muda a audiência, muda a tecnologia, mudam os empreendimentos informativos, mas o jornalismo em sua essência não deve e nem pode mudar, necessita, sim, adaptar-se, assumir uma postura resiliente à transformação global, às ampliadas demandas informativas da audiência, à diversidade de fontes de informação e à complexa interatividade dos relacionamentos que ocorrem nas plataformas e dispositivos sociais digitais. Assistimos a deslocamentos contínuos daquilo que denominamos poderes institucionalizados jornalismo incluído em conformidade às mutações que apontamos. E é neste ponto que destacamos a importância da proximidade quase que irrestrita entre o campo acadêmico de estudos do jornalismo e sua prática num contexto de indústria-mercado-consumo. A importância que decorre da necessidade de compreensão das mutações para que estas possam ser absorvidas de forma coerente aos usos e públicos. Um dos incentivos a tal proximidade foi a instalação de mestrados profissionais no campo dos estudos de jornalismo no Brasil, possibilitando, graças ao seu formato focado na produção de conhecimento associada às práxis, o desenvolvimento de uma formação profissional fundamentada, atualizada e inovadora. Tenho o privilégio de prefaciar o livro Jornalismo em Tempo de Transformação: desafios de produção e de ação, organizado pela Prof.ª

13 Dr.ª Dulcilia Buitoni, reunindo a pesquisa docente do MPPJM Mestrado profissional em Jornalismo e Mercado da ESPM Escola Superior de Propaganda e Marketing. Seu conteúdo retrata de forma muito objetiva a reciprocidade entre academia e mercado configurada nos temas de cada texto e respectivas proposições de aplicação no cotidiano jornalístico. A proposta de conteúdo apresentada no livro toca em três pontos fundantes do processo de trocas entre o jornalismo enquanto campo de estudos acadêmicos e o jornalismo praticado nos diferentes empreendimentos focados na produção informativa. São eles: a relação entre tempo e transformação das práticas em função da própria mutação e aceleração vivenciada pelos profissionais; os aspectos determinantes da inovação em suas abordagens tecnológica, social, mercadoló g ica e organizacional; e a trans formação das formas n ar r ativ as o storytelling como canal de conexão entre demandas mutantes da audiência, os dispositivos e sistemas disponíveis para o processo de produção, e as formas de consumo resultantes. As escolhas temáticas deste livro também refletem o caráter flexível e resiliente da pesquisa aplicada, apresentando desde formatos narrativos academicamente formais até propostas mais autorais e opinativas em primeira pessoa. Todos os textos focam claramente na aplicação, oferecendo ao leitor uma miríade de casos e exemplos e respectivas fundamentações teóricas. As relações de tempo o tão necessário timing informativo e os processos consolidados na ontologia da produção noticiosa são discutidos no texto dos professores Maria Elisabete Antonioli (coordenadora do MPPJM) e Enio Moraes Júnior, Novos desafios para o jornalista: qualidade da apuração em tempos de velocidade de produção, que reflete sobre o encurtamento de uma etapa relevante para uma produção noticiosa baseada nos preceitos básicos do campo de precisão, acuidade, veracidade e transparência. Na sequência desta corrida das redações contra o tempo da notícia e as necessidades da audiência, temos o texto dos professores João Canavilhas e Pollyana F er r ar i, que, apes ar de não atuarem diretamente no M P P J M, ap r es entam 13

14 14 Fact-checking: o jornalismo regressa às origens, um tema que atualmente preocupa a rotina das redações e altera a relação de legitimidade informativa. Ainda vinculado às questões transformadoras decorrentes de novos tempos e novos timings, tem-se o texto do professor Ricardo Gandour, Para onde vamos o método jornalístico irá sobreviver à transformação digital?, colocando em discussão certo embate ontológico entre procedimentos redacionais clássicos e o ritmo quase que automatizado de produção noticiosa em tempos de plataformas sociais. O tema inovações no jornalismo permeia a grande maioria das preocupações de publishers e estudiosos do campo jornalístico. Mundo afora a inovação tem sido considerada ponto focal para sua sustentabilidade como instância social legitimada e para a sustentabilidade do próprio negócio. Os docentes do MPPJM apresentam o tema sob os diferentes ângulos de entendimento e colocam luzes sobre as possibilidades inovadoras de aplicação à produção informativa. Assim, os professores Fabiano Rodrigues, Felipe Mendes Borini e Edson Capoano discutem a inovação sob o ponto de vista da gestão e das estratégias. O texto Pensamento estratégico e trade-offs na indústria informativa propõe olhares para além da rotina redacional e apresenta a empresa informativa como um sistema amplo e agregado; já Magaly Prado, no texto Conectar pessoas às cidades inteligentes, foca nos processos de inovação vinculados a uma paisagem urbana contemporânea na qual mobilidade, ubiquidade e informação localizada, relevante e oportuna à audiência configuram novas possibilidades de atuação do jornalismo. A professora Egle Muller Spinelli aborda a inovação sob pontos de vista vinculados ao zeitgeist atual em Redes informativas e colaborativas: empreendedorismo e inovação social, e foca nos processos de produção jornalística colaborativos em que a participação e o conteúdo são resultantes de colaborações intersociais e não hierarquizadas conforme os padrões costumeiros das redações clássicas. Por último, o professor Edson Capoano e Vanessa Teixeira de Barros, em Quem roubou meu espectador?: reflexões sobre a transformação da audiência millennial, discutem como inovar na produção informativa

15 em um cenário de audiência rejuvenescida, altamente envolvida com dispositivos midiáticos e de comunicação digitalizados, e que espera por um conteúdo que reflita seus olhares. O terceiro bloco temático deste livro aborda os diferentes aspectos narrativos que permeiam a produção jornalística contemporânea, abrindo possibilidades de aprofundamento e/ou amplitude do conteúdo, além de um crescente protagonismo de narrativas imagéticas como forma de proximidade a uma audiência cada vez mais em mobilidade, cada vez mais visual. O professor Renato Essenfelder, em Jornalismo e literatura: confluências na grande reportagem contemporânea, propõe o desenvolvimento de narrativas em que o chamado longform e sua ancoragem em ferramentais audiovisuais nativos do espaço digitalizado resultam em conteúdos de proximidade com a audiência e de maior adesão às proposições dos mesmos. Dulcilia Schroeder Buitoni fecha a temática com Por imagens jornalísticas pensativas, complexas e transitivas, no qual enfatiza as formas mais eficazes de leitura e absorção de conteúdos jornalísticos por meio do uso de imagens com sentido e significado. Todo o conteúdo deste primeiro livro do MPPJM da ESPM, Jornalismo em Tempo de Transformação: desafios de produção e de ação, representa para seus leitores, tanto acadêmicos como especialmente para os profissionais em atuação no mercado, um conjunto de assuntos e abordagens com um valioso caráter de utilidade, aplicação e ampliação da eficiência e eficácia da prática jornalística contemporânea. Mais do que apresentar e recomendar este volume, sugiro que os leitores o tenham como uma referência cotidiana em suas atividades. Boas leituras. 15