UMA NOVA HUMANIDADE - Ef. 2: 11-22 Rev. Henrique de Almeida Lara



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Transcrição:

UMA NOVA HUMANIDADE - Ef. 2: 11-22 Rev. Henrique de Almeida Lara Alienação é uma palavra popular na cultura contemporânea. Foi muito usada, principalmente na segunda metade do século passado. Com menos frequência, ainda é usada atualmente, embora com alguma evolução semântica. Karl Marx é considerado o pai dessa palavra, embora ele a tenha tomado emprestada do teólogo alemão Ludwig Feuerbach. Significa, primeiramente, o indivíduo que se encontra desajustado ao status quo prevalecente. Significa, também, alienação econômica, isto é, quando o empregador se apropria de grande parte do lucro do trabalho do empregado. Atualmente, refere-se à grande massa social que se encontra fora do exercício do poder e, consequentemente, da tomada de decisões. Ex: Os índios da região amazônica foram trazidos de avião, com despesas pagas pelo governo, para serem ouvidos sobre problemas relativos à construção das hidroelétricas na região. Mas nós, os cidadãos que pagam impostos, dificilmente somos consultados sobre os nossos mais cruciais problemas. Somos alienados. Assim, o termo passou a ser mais político do que econômico. Stott, em seu comentário a Carta aos Efésios diz: A alienação é um pouco de desgosto com o que existe, e também um senso de incapacidade para mudá-lo. Este é um sentimento generalizado nos países democráticos do ocidente, e os cristãos seriam insensatos se não o levassem em conta. Porém, muito tempo antes de Feuerbach e Marx, a Bíblia já falava da alienação humana. Descreve duas outras alienações, mais profundas do que a alienação política e econômica. Uma delas é a alienação de Deus, nosso Criador, e a outra alienação é a de nós mesmos em relação ao nosso próximo. Nada é mais desumano do que este colapso no relacionamento entre os homens. E, assim, nos tornamos estranhos num mundo em que nos deveríamos sentir à vontade. É por isso que escolhemos a Carta aos Efésios porque ela fala dessas duas alienações. O verbo grego é apallotrioô e significa desafeiçoar, excluir ou alienar. No Novo Testamente ocorre somente nestes textos de Efésios 2: 12, 13, e 4: 18-19, juntamente com o paralelo a um deles em Colossenses 1: 20-21. A substituição desta dupla alienação pela reconciliação é o tema de Efésios 2. Na primeira parte do capítulo (vs. 1 a 10) os seres humanos são retratados como estando alienados de Deus. O verbo não chega a ser usado ali como o é em 4:

18, mas é isto sem dúvida o que significa quando os homens são retratados como estando mortos nos... delitos e pecados e por natureza filhos da ira (vs.1, 3). Na segunda metade de Efésios 2 (vs. 11-22) os seres humanos são retratados como estando alienados uns dos outros. O vs.12 descreve os gentios como separados da comunidade de Israel. É quase impossível para nós, em pleno século 21, imaginarmo-nos de volta àqueles dias em que a humanidade era profundamente dividida entre judeus e gentios. Devemos, no entanto, lembrar que, ao chamar Abraão, Deus prometeu, através da sua posteridade, abençoar todas as famílias da terra e que, ao escolher Israel, pretendia que esta nação se tornasse luz para as nações (Gn. 12:1-3; Is. 42: 1-6; 49: 6). A tragédia é que Israel se esqueceu da sua vocação, interpretou mal seu privilégio, achando-se o favorito de Deus, e acabou desprezando, e até mesmo detestando os pagãos, tratando-os como cachorros. Stott se serve de uma contribuição de William Barclay que é a seguinte: O judeu tinha desprezo imenso pelo gentio. Os gentios, diziam os judeus, foram criados por Deus para serem combustível para o fogo do inferno. Deus, diziam eles, ama somente a Israel entre todas as nações que fez... Não era nem se quer lícito prestar ajuda a uma mãe gentia na sua necessidade mais urgente, porque isto seria apenas trazer outro gentio para o mundo. Até a vinda de Cristo, os gentios eram um objeto de desprezo para os judeus. A barreira entre eles era total. Se um rapaz judeu se casasse com uma moça gentia, ou uma moça judia se casasse com um rapaz gentio, era realizado o enterro simbólico da moça ou do rapaz judeu. Semelhante contato com um gentio era equivalente à morte. O muro ou a parede de separação (vs. 14) era o símbolo dessa dupla alienação dos gentios de Deus e de seu povo. Vamos pensar um pouco nessa realidade, a partir de uma descrição resumida do Templo edificado em Jerusalém por Herodes, o Grande: O prédio do templo propriamente dito era construído sobre uma plataforma elevada. Ao redor dele havia o pátio dos sacerdotes. A leste havia o pátio de Israel e, mais além, o pátio das mulheres israelitas. Estes três pátios estavam no mesmo nível do templo. Deste nível descia-se, por cinco degraus, a uma plataforma murada. No outro lado do muro, havia uma descida de mais de 14 degraus para uma parede; do outro lado da qual estava o pátio externo, ou o pátio dos gentios. Este era um pátio espaçoso localizado ao redor do templo e de seus pátios internos. De qualquer parte desse pátio externo, os gentios podiam olhar para cima e ver o templo,

mas não tinham licença de aproximar-se dele. Eram impedidos pela parede que o cercava, uma barreira de pedra de 1,5m de altura, na qual estavam fixadas, em intervalos regulares, notificações de advertência em grego e latim, nos seguintes termos: os que ultrapassarem a barreira serão mortos. Paulo conhecia bem o fato, não só por ser judeu, mas também por ele mesmo quase ter sido linchado por uma turba judaica furiosa que pensou ter ele levado um gentio para dentro do templo, e é interessante que este era um efésio, com o nome de Trófimo (At. 21: 27-31). Esta era a situação histórica, social e cultural de Efésios 2. Embora todos os seres humanos estivessem alienados de Deus por causa do pecado, os gentios também estavam alienados do povo de Deus. E pior, até mesmo do que esta dupla alienação (da qual a parede do templo era um símbolo), era a inimizade e a hostilidade. O grande tema de Efésios 2, é que Cristo destruiu as duas inimizades (Ef. 2: 14 e 16). Lado a lado com a destruição dessas duas inimizades, Jesus conseguiu criar, de fato, uma nova sociedade, uma nova humanidade, em que a alienação cedeu lugar à reconciliação, e a hostilidade, à paz. E esta nova união humana em Cristo é o penhor e uma antevisão daquela união final sob a soberania de Cristo (Ef. 1: 9-10). O conteúdo do texto que estamos examinando pode ser dividido em três partes: 1. Em certo tempo, estáveis alienados de Deus e de seu povo, Israel; 2. Mediante a morte na cruz, Cristo Jesus reconciliou judeus e gentios entre si, e eles com Deus, criando um só Homem Novo ; 3. Já não estão alienados, mas, sim, são membros integrais, com Israel, do povo e da família de Deus. Notar as expressões: outrora, naquele tempo, mas, agora e assim, já. Aqui, no nosso texto básico que é Ef. 2: 11-22, podemos ver que o plano de Deus se desdobra da seguinte forma: 1. O retrato da humanidade alienada, ou o que éramos outrora, 2: 11-12; 2. O retrato de Cristo que faz a paz, ou o que Cristo fez, 2: 13-18; 3. O retrato da nova sociedade de Deus, ou o que agora viemos a ser; 2: 19-22.

1. Em 2: 1-3 Paulo retratou a totalidade da raça humana (judeus e gentios) no pecado e na morte. Aqui nos versículos 11 e 12, ele faz referência particularmente ao mundo gentio ou pagão antes de Cristo, àqueles aos quais os judeus (a circuncisão) chamavam, com desprezo, de incircuncisão. Com a expressão circuncisos na carne por mãos humanas, Paulo quis expressar a insignificância de nomes e etiquetas, em comparação com a realidade por trás, e dá a entender que, por trás daquilo que é chamado a circuncisão que é feita na carne por mãos humanas, há outro tipo, a circuncisão do coração, espiritual e não física, que é necessária tanto aos judeus quanto aos gentios, e que está disponível a todos eles (Jo. 3: 3; II Cor. 5: 17). As incapacitações dos gentios podem ser condensadas em cinco expressões: sem Cristo, separados da comunidade de Israel, estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança, sem Deus no mundo. Não é exagero, portanto, descrever o mundo antigo não-judaico como sendo sem esperança e sem Deus. A era áurea dos gregos já se passara; não havia, portanto, nenhum futuro promissor a ser esperado. As pessoas eram sem Deus, não no sentido de que descriam. Pelo contrário, tinham deuses em excesso. Mas os deuses da Grécia, de Roma e da Pérsia deixaram totalmente de satisfazer a fome dos corações humanos. Eles não tinham qualquer conhecimento verdadeiro de Deus tal qual Ele era conhecido em Israel. Esta era a terrível situação do mundo antigo gentio antes de Cristo. Nós mesmos, em nossos dias, antes de convertermos a Cristo, é necessário que se diga, estávamos exatamente nessa mesma situação desalentadora. Os homens ainda edificam muros de separação e divisão como o histórico e terrível muro de Berlim. Levantam cortinas invisíveis de ferro ou de bambu, ou constroem barreiras de raça, de cor, de casta, de tribo ou de classe econômica. A tendência para discriminação é uma característica constante de toda a comunidade sem Cristo. Nós mesmos temos experiência dela. Dentro da igreja pode haver discriminação! O Apóstolo diz: Portanto, lembrai-vos.... Há, portanto, algo de que não nos devemos esquecer nunca. É o que éramos antes do amor de Deus se estender para baixo e nos alcançar. 2. Depois de declarar os incrédulos mortos (vs. 1-3) e alienados (vs. 11-12). O Apóstolo apresenta importantes adversativas e expressões adverbiais: Mas Deus (v. 4) e Mas agora (v. 13), Outrora (v. 11), Naquele tempo (v. 12), Assim, já (v. 19).

Expressa, enfim, a diferença que Cristo fez: Vós, que antes estáveis longe, fostes aproximados pelo sangue de Cristo. Nosso Deus não mantém distância nem se esconde atrás de sua dignidade. Mediante Jesus Cristo e pelo Espírito Santo temos imediato acesso a Ele como nosso Pai (v. 18; Mc. 14: 36; Rom. 8: 15; Gál. 4: 6). O princípio divino de integração para unir os seres humanos é espiritual (pela redenção por Cristo, que envolve a união entre judeus e gentios, entre homem e Deus e, finalmente, entre o céu e a terra). Efésios provavelmente foi escrita entre 60 e 62 d. C. Por isso, esta proclamação que Paulo faz da derrubada da parede (muro) por Jesus Cristo é extremamente notável. Falando de modo literal e histórico, a parede não foi derrubada até as legiões romanas entrarem em Jerusalém, em 70 d. C. Portanto, ainda estava em pé, ainda cercava o templo, enquanto Paulo escrevia esta carta. Mas, embora permanecesse materialmente, espiritualmente já fora destruída em 30 d. C., aproximadamente, quando Jesus morreu na cruz. É importante perceber a maneira como Paulo avança do negativo para o positivo, da abolição de alguma coisa velha a tendência separadora da lei para a criação de alguma coisa nova a única humanidade sem divisões (vs. 15). A lei fizera uma profunda divisão na humanidade. Cristo eliminou essa divisão mediante um ato soberano da criação. Criou dos dois um só homem novo, fazendo a paz. O homem novo aqui é o homem plenamente desenvolvido conforme Ef. 4: 13, que é a comunidade cristã vista em conjunto. Em Col. 3: 11 e Gl. 3: 28, Paulo fala também da abolição das distinções sexuais e sociais. O vs. 17 diz que Cristo vindo, evangelizou a paz. O vs. 14 diz que Ele é nossa paz; e o vs. 15 diz que Ele criou uma nova humanidade fazendo a paz. Mas agora Ele evangelizou a paz, publicando as boas novas da paz que fizera na cruz (Is. 52: 7). Primeiro realizou a paz; depois, anunciou a paz. Esta proclamação deve referir-se aos seus aparecimentos após a ressurreição, em que a primeira de todas as palavras que falou aos discípulos foi: Paz seja convosco! (Jo. 20: 19-21). Deve referir-se, também, à proclamação do Evangelho da Paz para o mundo através dos apóstolos e das gerações subseqüentes de cristãos (At. 10: 36 e Ef. 6: 15; Is. 52: 7). Hoje, Jesus Cristo ainda está pregando a paz no mundo, através dos lábios e vida dos seus seguidores. É verdadeiramente um fato maravilhoso que, sempre que proclamamos a paz, é Cristo quem proclama através de nós. Ler vs. 19. Qual é o resultado da realização de Cristo e da sua proclamação da paz? É o seguinte: vós (os gentios) já não sois aquilo que éreis, estrangeiros e peregrinos. Pelo contrário, vossa condição mudou dramaticamente. A

nova comunidade de judeus e gentios é o reino de Deus, a família de Deus e o templo de Deus. O reino de Deus (vs. 19) não é uma jurisdição territorial nem se quer uma estrutura espiritual. O reino de Deus é o próprio Deus regendo o seu povo e outorgando-lhe os privilégios e as responsabilidades que o seu domínio subentende. Então, nos vs. 20-22, Paulo passa a falar de um novo templo que é o templo de Deus. O templo em Jerusalém primeiro de Salomão, depois de Zorobabel e depois de Herodes, o Grande tinha sido, por quase mil anos, o ponto central da identidade de Israel como povo de Deus. Agora, havia um novo povo. O novo povo não era uma nação, mas uma nova humanidade, inter-racial e de alcance mundial. Um centro geograficamente localizado, portanto, já não mais seria apropriado para esse povo. Então, nesses vs. Paulo explana a sua visão do novo templo com maiores detalhes do que em outro trecho. À medida que ele desenvolve a sua figura de linguagem, refere-se ao fundamento e à pedra angular do edifício, à estrutura como um todo, a suas pedras individuais, sua coesão e seu crescimento, sua função presente e (pelo menos implicitamente) seu destino futuro. Em que rocha, pois, a igreja está edificada? Paulo responde: ver vs. 20. Apóstolos e profetas parecem reunir o V e o N Testamentos. Homens e mulheres cujo ensino era derivado de revelação (3: 5). Assim sendo, seu ensino não deve ser alterado como tem acontecido com os falsos mestres. (Jer. 29: 8-9; Ez. 13: 9-10; Mat. 24: 23-24; Mc. 13: 32). A igreja fica em pé ou cai, conforme sua dependência leal às verdades fundamentais que Deus revelou aos apóstolos e profetas e que agora são preservadas nas Escrituras. A pedra angular do novo templo é ele mesmo, Jesus Cristo. Pedro também desenvolve um quadro da igreja como um edifício, onde ele descreve os membros individuais da igreja como pedras vivas, as quais chegando-se para ele (Jesus Cristo) são edificados casa espiritual (I Pd. 2: 4-5). É aqui que Deus habita. Ele não está vinculado a edifícios sagrados, mas sim a pessoas santas, à sua própria sociedade. Deus vive nesse povo, individualmente e na comunidade. Em I Cor. 3, Paulo fala da igreja como Lavoura de Deus onde Seus servos e servas semeiam e regam, mas o crescimento vem de Deus. Também é o Edifício de Deus, onde seus servos e suas servas edificam, porém o fundamento é Cristo. Ou, ainda, Santuário de Deus, onde Deus habita nos corações dos crentes e no seio da comunidade. O edifício ainda não está completo: Cresce para santuário dedicado ao Senhor. Somente depois da criação do novo céu e da nova terra é que a voz do trono

declarará com ênfase definitiva: Este é o tabernáculo de Deus com os homens (Ap. 21: 1-5). Seria difícil enxergar a grandeza desta nova visão. A nova sociedade que Deus fez existir é nada menos que uma nova criação, uma nova raça humana, cuja característica já não é a alienação, mas, sim a união e a paz. Deus reina sobre esta nova sociedade, ama-a e vive nela. Já que a velha criação não deu certo, Deus providenciou uma nova criação pelo sangue de seu Filho conjugado com a ação do Espírito Santo. Esta é a visão. Quando, porém, voltamos do ideal retratado nas Escrituras para as realidades concretas experimentadas na igreja, a história é muita diferente e muito trágica. Porque até mesmo nela há frequentemente alienação, desunião e discórdia. E os cristãos levantam novas barreiras no lugar das antigas que Cristo demoliu: ora, uma barreira de cor, ora o racismo, o nacionalismo ou o regionalismo, ora as animosidades pessoais engendradas pelo orgulho, pelo preconceito, pelo ciúme e pelo espírito que não perdoa; ora um sistema discriminatório de castas ou de classes, ora um clericalismo que separa o clérigo dos leigos como se fossem espécies diferentes de seres humanos, e ora um denominacionalismo (mentalidade de aldeia) que transforma as igrejas em seitas e contradiz a união e a universalidade da Igreja de Cristo. Isso forma um grande embaraço para o mundo crer em Cristo. Deus pretende que seu povo seja um modelo visual do Evangelho, a fim de demonstrar diante dos olhos das pessoas as boas novas da reconciliação (Jo. 17: 20-21). Forte expressão das boas novas da reconciliação é a comunhão. A palavra comunhão é a tradução de koinonia. É um termo grego que descreve aquilo que temos em comum. O que temos em comum como crentes em nosso Senhor Jesus Cristo? O que partilhamos como tais? Compartilhamos a graça de Deus e a sua salvação (Ef. 2: 7-9). Compartilhamos a comunhão com Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo (I Cor. 1: 9-10; II Cor. 13: 13; Fil. 2: 1-4; I Jo. 1: 3, 5 e 6). Comungamos a mesma fé em Cristo (Fm. 6). Pode-se afirmar que comunhão autêntica é o compartilhamento da comunidade trinitária. Os crentes participam em comum no Pai, no Filho e no Espírito Santo. Há teólogos que vêem em Deus uma comunidade: Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo, subsistindo em um só Deus. É o mistério da Trindade. O que mais temos em comum? Outro aspecto da koinonia é o que damos e o que recebemos. É o aspecto ao qual Lucas e Paulo dão ênfase (At. 2: 44-47; II Cor. 8: 3-5; 9: 12-14).

Koinonikos é a palavra para generoso, liberal (At. 2: 44-45). Somos chamados à generosidade. Nosso Pai Celeste é generoso (misericordioso). Entre as muitas referências sobre a misericórdia de Deus estão: II Cron. 30: 9; Nee. 9: 17; Sal. 103: 8 e Lc. 6: 36, onde está escrito: Sede misericordiosos, como também é misericordioso vosso Pai. O primeiro fruto do Espírito Santo é o amor (Gál. 5: 22-23). Também fica claro que a plenitude do Espírito Santo não é malabarismo emocional, mas domínio próprio (Gál. 5: 23). Deus dá mandamento para amar o próximo (Lev. 19: 18) e o conceito errado que os judeus tinham de próximo é corrigido pelos mandamentos para amar o estrangeiro (Deut. 10: 19) e o inimigo (Mat. 5: 44 e Lc. 6: 27). Todavia, convém levar a sério o peso do mandamento incondicional para que os cristãos amem uns aos outros (Jo. 13: 34; 15: 12, 17; Rom. 12: 10). Em I João o amor aparece como o meio indispensável para provar se a pessoa é cristã ou não (I Jo. 2: 9-11; 4: 8, 16, 20-21). Por isso, o propósito de Deus não é salvar o indivíduo e perpetuar o seu isolamento. Portanto, a igreja deve evitar ser uma comunidade ocupada de si mesma para não correr o perigo de abandonar o mundo necessitado que está do lado de fora. Quando o homem ouve a voz de Deus e volta-se para Ele, Deus força o seu olhar para o mundo e suas necessidades. Deus se propôs a edificar a Igreja como uma comunidade nova e redimida. Por isso, a Igreja precisa ser cheia do Espírito para que seja uma igreja generosa. A generosidade tem sido uma característica do povo cristão, porque o Deus da Igreja é um Deus generoso (misericordioso). Também, vive adoração exuberante, prazerosa e cheia de alegria e gozo. É entusiasmada pelas boas obras. Esta atitude deve caracterizar a igreja em todos os tempos (Rom. 5: 5).