Walter Vetillo RONDON O desbravador do Brasil
Em maio de 1865, por meio de um acordo conhecido como Tríplice Aliança, Argentina, Brasil e Uruguai uniram suas forças para deter o presidente paraguaio Francisco Solano López. Ele queria aumentar o território paraguaio para obter uma saída para o oceano Atlântico* com a finalidade de aumentar o comércio através da Bacia do rio da Prata, o que o obrigava a atravessar uma parte do espaço territorial dos três países. Os paraguaios iniciaram a guerra invadindo o sul de Mato Grosso, aproveitando-se da fraca defesa brasileira naquela região. As autoridades do Rio de Janeiro, então capital do Brasil na época, só tomaram conhecimento da invasão seis semanas mais tarde. O próximo alvo dos paraguaios foi o Rio Grande do Sul, mas, para atingi-lo, era necessário passar pela Argentina. Solano então invadiu a província argentina de Corrientes, governada por Bartolomeu Mitre. Decididos a não serem mais ameaçados por Solano López, os três países lutaram juntos em diversas batalhas para deter o ditador, vencido após seis anos na Batalha Naval do Riachuelo (uma das mais importantes guerras da Tríplice Aliança, travada em 11 de junho de 1865 às margens do rio Riachuelo, um afluente do rio Paraguai, na província de Corrientes). *O Paraguai e a Bolívia são os únicos países da América do Sul que não têm saída para o mar. 4
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Se o Sul do Brasil pegava fogo com a chama Guerra do Paraguai, nascia, na pequena cidade de Mimoso, em Mato Grosso, no dia 5 de maio do mesmo ano de 1865, Cândido Mariano da Silva, um brasileiro que seria totalmente avesso ao momento bélico que marcava seu nascimento. Já trazendo nas veias o sangue indígena que iria pautar sua ação pela defesa e preservação de várias tribos, uma vez que era descendente dos índios Terena e Bororo por parte de mãe, Cândido Mariano perdeu seus pais muito cedo e foi criado por um tio em Cuiabá, cujo sobrenome Rondon adotaria mais tarde. O menino Candinho, que teve uma infância muito pobre, desde pequeno ficava deslumbrado com o esplendor e o desafio das matas, seus animais exóticos e a beleza dos pássaros que coloriam os céus. 7
Ainda jovem, licenciou-se como professor primário pelo Liceu Cuiabano. Como muitos brasileiros, ele não tinha como custear seus estudos e sua única opção para continuar a instruir-se foi entrar para o Exército. Transferido para o Rio de Janeiro, em 1884, aos 19 anos, matriculou-se na Academia Militar da Praia Vermelha. Em 1886, foi encaminhado à Escola Superior de Guerra. Já integrado nos ideais do positivismo, assumiu um papel ativo no movimento pela Proclamação da República e na promulgação da Lei Áurea, em 1888, que abolia a escravidão no Brasil. Formou-se engenheiro militar em 1890, graduando-se como bacharel em Matemática e em Ciências Físicas e Naturais. Aluno de Benjamin Constant, Rondon adotou definitivamente a ideologia positivista que o guiaria por toda sua vida. 8
Desde pequeno, Candinho gostava de ficar olhando a exuberância das matas e de imaginar o que havia por trás delas. Seus animais exóticos e a beleza dos pássaros que coloriam os céus provocavam naquele garoto órfão e pobre, nascido no Estado de Mato Grosso na segunda metade do século XIX, verdadeiro encanto. Essa sedução iria marcar o homem Cândido Mariano da Silva Rondon, um brasileiro extraordinário que dedicou a vida para preservar a sobrevivência e a cultura dos indígenas, os primeiros habitantes da floresta que tanto fascínio provocava no menino Candinho. EDIÇÕES