1. São elementos essenciais de uma relação de trabalho a prestação do trabalhador, a retribuição e a subordinação jurídica.



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Transcrição:

Processo nº 134/2011 Data do Acórdão: 14JUN2012 Assuntos: contrato de trabalho irrenunciabilidade do direito descansos semanais descansos anuais feriados obrigatórios compensações do trabalho prestado em dias de descansos semanais e anuais e de feriados obrigatórios gorjetas salário justo salário diário salário mensal SUMÁ RIO 1. São elementos essenciais de uma relação de trabalho a prestação do trabalhador, a retribuição e a subordinação jurídica. 2. mesmo que houvesse acordo entre o trabalhador e a entidade patronal, nos termos do qual aquele renunciou o direito de gozo a aos descansos e feriados obrigatórios, o certo é que, por força da natureza imperativa das normas que confere ao trabalhador direito a compensações e nos termos do disposto no artº 6º da Lei nº 101/84/M e no artº 6º do Decreto-Lei nº 24/89/M, a um tal acordo da natureza convencional nunca poderia ser reconhecida qualquer validade legal, dado que resulta nitidamente um regime menos favorável para o

trabalhador. 3. Admitindo embora que variam as opiniões sobre o que se deve entender por salário justo e adequado, mesmo com referência ao parâmetro das exigências do bem comum, o certo é que podemos afirmar, com a razoável segurança, que salário justo e adequado nesse parâmetro deve ser aquele que, além de compensar o trabalhador, é capaz de prover um trabalhador das suas necessidades de vida, garantindo-lhe a subsistência com dignidade e até permitir-lhe assumir compromissos financeiros pelo menos de curto ou até médio prazo. O relator Lai Kin Hong

Processo nº 134/2011 Acordam na Secção Cível e Administrativa do Tribunal de Segunda Instância da RAEM I A, devidamente identificado nos autos, instaurou no Tribunal Judicial de Base acção de processo comum do trabalho, contra a SOCIEDADE DE TURISMO E DIVERSÕ ES DE MACAU, devidamente identificada nos autos, doravante abreviadamente designada STDM. Citada a Ré, contestou deduzindo excepção de prescrição e pugnando pela improcedência da acção. Proferido o despacho saneador, pelo qual foi julgada parcialmente procedente a invocada excepção da prescrição no sentido de que ficaram prescritos os créditos reclamados anteriormente a 16MAR1990. Continuando a marcha processual na sua tramitação normal, veio a final a acção julgada parcialmente procedente e condenada a Ré a pagar ao Autor a quantia de MOP$6.298,13, acrescida de juros moratórios a taxa legal a contar da data da sentença. Inconformado com a decisão final, recorreu o Autor alegando em síntese que: A) Conforme o Ponto (b) dos Factos Provados da Sentença (fls.186v), durante a relação contratual existente entre o A. e a R., aquele sempre auferiu uma remuneração, composta por uma parte fixa e outra variável, dependendo esta última parte do valor global recebido a título de "gorjetas". B) Por sua vez, as gorjetas que se discutem não pertencem aos trabalhadores a quem não são entregues pelos clientes dos casinos, mas sim à R. que distribuía segundo

critério por ela fixado a todos os trabalhadores dos casinos e não apenas aos que tinham contacto directo com os clientes nas salas de jogo. C) Por isso o A. sempre entendeu que o seu salário era integrado por duas quantias: uma fixa e outra variável composta pelas "gorjetas", correspondendo esta última à parte mais significativa do rendimento do A., o qual sempre teve a expectativa do seu recebimento com continuidade periódico (vide Ponto (b) dos Factos Provados, a fls.186v). D) Ademais, face à desproporção do montante variável pago a título de "gorjetas" em relação à remuneração fixa estabelecida no contrato (somente HKD$12.80 por dia), nunca ninguém teria aceitado estabelecer qualquer relação de trabalho com a R., caso a sua quota-parte no valor daquelas não fizesse parte do vencimento. E) Por outro lado, importa dizer que foi justamente a soma destas duas quantias que durante toda a relação laboral serviram para retribuir a sua prestação de trabalho. F) De onde se retira que as gorjetas eram, afinal, usadas para retribuir o A. pela prestação da sua actividade profissional. G) Do exposto, conclui-se que as "gorjetas" não podem deixar de ser consideradas como sendo parte da remuneração variável devida ao A. enquanto contrapartida da sua actividade profissional prestada para a R., pelo que nesta parte a douta Sentença deve ser alterada com as legais consequências, designadamente no que respeita ao cômputo do valor da indemnização pelo trabalho prestado nos períodos nos dia de descanso, anual e feriados obrigatórios. H) Neste mesmo sentido, e para casos de todo idênticos ao presente, vd. entre muitos outros os Acórdãos do Tribunal de Segunda Instância n.sº 255, 262 e 509, para cuja fundamentação se remete. I) Sem necessidade de maiores considerações também por aqui se retira que a quantia variável auferida pelo A. não poderá deixar de ser considerada como sendo parte variável do seu salário. J) No caso sub judice não há dúvida que a prestação relativa à parte variável da remuneração do A. seguiu uma regra constante (para isso basta ver os Pontos (b), (c), (d), (e), (j) e (k) dos Factos Provados, não podendo de forma alguma considerar-se arbitrária, dado que o direito a ela pressupôs a prévia vinculação do empregador. K) Esta parte variável (ou seja gorjetas) era, pois, uma parcela retributiva com que o A. contava regularmente para o seu orçamento pessoal e familiar, porque previsível e de cadência constante, sendo, nesta medida, indissociável da noção de salário justo e adequado, plasmada no RJRL. L) Por outro lado, por "salário justo" deve entender-se aquela prestação que,

recompensando o serviço prestado (e não podemos esquecer que o trabalho prestado pelo A. era por turnos), permita ao trabalhador suportar as despesas mínimas com as necessidades básicas, seja a alimentação, vestuário, saúde e alojamento (neste sentido o Acórdão do Tribunal de Segunda Instância, nomeadamente, de 23 de Março de 2006, proferido no processo 241/2005, e ultimamente o Acórdão de 12 de Outubro de 2006, Proc. nº 272/2006, do mesmo Tribunal). M) Ora, salvo o devido respeito por contrária opinião, afigura-se líquido que a quantia diária fixa referida no Ponto (i) dos Factos Provados (HKD$12.80 por dia) nunca permitiria ao trabalhador suportar aquelas despesas mínimas e, como tal nunca se poderia entender como salário justo. N) Ora, considerar a diminuta importância de HKD$12,80 por dia como salário para um trabalho a tempo inteiro prestado em turnos rotativos, diurnos e nocturnos, mostra-se manifestamente injusto e desadequado (no mesmo sentido, vide Acórdãos do TSI de 26 de Janeiro de 2006, Processo 255/2005; 8 de Junho de 2006, Processo 169/2006, 15 de Junho de 2006, Processo 270/2006; 15 de Junho de 2006, Processo, 271/2006, 15 de Junho de 2006, Processo 334/2005, 22 de Junho de 2006, Processo 76/2006 e 29 de Junho de 2006, Processo 264/2006).» O) De onde se conclui que, caso o salário do A. não seja composto pelas duas partes, o mesmo será injusto - porque intoleravelmente reduzido ou manifestamente diminuto - e em caso algum preenche ou respeita os condicionalismos mínimos fixados no RJRL da RAEM. P) Com efeito, ao decidir como decidiu no que diz respeito à exclusão das gorjetas do salário do A., a douta Sentença ora recorrida terá violado, designadamente, tanto o próprio conceito de "salário" como de "salário justo". Q) Isto é: a douta Sentença do Tribunal de Primeira Instância, na parte em que não aceita que a quantia variável auferida pelo A. durante toda a relação de trabalho com a R. seja considerada como sendo parte variável do salário do A., terá feito uma interpretação incorrecta do consagrado nos artigos 5. ; 7., n.º 1, al. b); 25. ; 26. e n.º do art. 27. todos do Decreto-lei n.º 24/89/M, de 3 de Abril. R) Termos em que deve a Sentença visada ser alterada nesta parte, com consequências legais, designadamente no que respeita ao cômputo do valor da indemnização pelo trabalho prestado nos períodos de descanso e feriados obrigatórios, mantendo-se consequentemente o pedido da quantia de indemnização de MOP$197.126,.17, com juros legais, vencidos e vincendos, a contar da data do termo da relação laboral entre o ora A. e ora R., como foi feito na p.i. Temos em que, nos melhores de Direito, sempre com mui Douto suprimento de V. Exas., Venerando Juízes, deverá ser declarada nula a Sentença proferida quanto à não integração das

gorjetas no salário do recorrente, devendo ainda computar-se correctamente as indemnizações devidas pelo trabalho prestado em dias de descanso semanal, anual e feriados obrigatórios, assim se fazendo a esperada e mais sã JUSTIÇ A! Ao que respondeu a Ré pugnando pela improcedência do recurso. Por sua vez, a Ré, não se conformando com o decidido em relação aos juros moratórios, veio interpor recurso subordinado dessa parte, alegando e concluindo que: 1- Com o devido respeito, a R., ora Recorrente Subordinada, entende que não se encontra em mora relativamente a quaisquer compensações enquanto o crédito reclamado não se tomar líquido, com o trânsito em julgado da decisão condenatória, e que ainda que "apenas pela ré [fosse] interposto [recurso] e [este] [viesse] a ser julgado improcedente ou não a [viesse] a condenar a pagar quantia inferior", os juros só seriam devidos a partir do trânsito em julgado de uma eventual decisão condenatória que a final viesse a ser proferida. 2 - É que, como se sabe, nos termos do disposto no artigo 794º, n.º 4 do Código Civil, se o crédito for ilíquido não há mora enquanto não se tomar líquido e, no entendimento da ora R., tal iliquidez não lhe é imputável. 3 - Quanto à natureza ilíquida do crédito não restam dúvidas, pois logo na Petição Inicial e na Contestação, A. e R., respectivamente, deixaram bem patente que não estão de acordo quanto ao quantum de um montante indemnizatório eventualmente devido. Quanto à origem de tal iliquidez, resulta claro que a mesma reside na diferente interpretação que as partes (e o próprio Tribunal a quo) fazem das normas jurídicas aplicáveis ao caso dos autos, não devendo a R. ser prejudicada por fazer uso do direito de defesa jurisdicional que lhe assiste, salvo mais douto entendimento. 4 - Assim, em qualquer caso, considerando que a R., aqui Recorrente Subordinada, e o(a) A., ora Recorrido(a) Subordinado(a), não estão de acordo quanto ao quantum indemnizatório eventualmente devido, este apenas se toma líquido com o trânsito em julgado da decisão condenatória. 5 - E porque o montante da indemnização apenas foi definido no âmbito da presente acção, aquele só poderá ser considerado líquido com trânsito em julgado da decisão que lhe ponha termo. Nestes termos, e nos melhores de direito aplicáveis que V.

Exas. doutamente suprirão, deve o presente Recurso Subordinado ser julgado procedente, deste modo, fazendo V. Exas. a habitual e costumada JUSTIÇ A! Foram colhidos os vistos legais, cumpre decidir. A fim de nos habilitar a apreciar as questões levantadas nos recursos, passam-se a transcrever infra os factos que ficaram provados na primeira instância: a) O Autor trabalhou para a Ré entre 01.12.1986 e pelo menos 27.01.1996 como empregado de casino. b) Como contrapartida da actividade que exercia na Ré, o Autor, durante o período referido em A), recebeu, uma quantia fixa diária e outra variável resultante das gorjetas entregues pelos clientes da R. c) As gorjetas eram distribuídas por todos os trabalhadores da Ré e não apenas pelos que tinham contacto directo com os clientes nas salas de jogo. d) Entre os anos de 1986 e 1996, a Autora recebeu, ao serviço da Ré, os seguintes rendimentos anuais: 1986 MOP$ 4.414,00 1987 MOP$ 45.392,00 1988 MOP$ 50.775,00 1989 MOP$ 70.868,00 1990 MOP$ 79.109,00 1991 MOP$ 80.198,00 1992 MOP$ 81.218,00 1993 MOP$ 76.822,00 1994 MOP$ 74.748,00 1995 MOP$ 80.493,00 1996 MOP$ 2.433,00 e) Sobre os valores referidos supra foi liquidado e pago imposto profissional, tudo conforme consta no documento de fls. 14 o qual aqui se dá por integralmente reproduzido para todos os efeitos legais. f) O Autor prestou serviços em turnos, conforme os horários fixados pela entidade patronal. g) A ordem e o horário dos turnos são os seguintes:

- 1º e 6º turnos: das 7 às 11 horas e das 3 às 7 horas. - 3º e 5º turnos: das 15 às 19 horas e das 23 às 3 horas; - 2º e 4º turnos: das 11 às 15 horas e das 19 às 23 horas. h) O A. podia pedir à R. o gozo de dias de descanso nos quais não auferia qualquer remuneração. i) A quantia fixa diária referida em b) era de HK$12,80. j) As gorjetas sempre integraram o orçamento normal do A. k) O Autor sempre teve a expectativa do recebimento das gorjetas com continuidade periódica. l) O A. nunca gozou de descansos semanais. m) Sem que, por isso, a Ré lhe tenha pago qualquer compensação salarial ou disponibilizado outro dia de descanso por cada dia em que prestou serviço. n) O A. trabalhou para a R. nos feriados obrigatórios de 1 de Janeiro, 3 dias do ano novo chinês, 1 de Maio e 1 de Outubro dos anos de 1989 a 1995, 1 dia de 1 de Janeiro do ano de 1996. o) Sem que a R. lhe tenha pago qualquer compensação salarial. p) O A. trabalhou6 dias de descanso anual nos anos de 1990 a 1995 e meio dia de descanso anual de 1996. q) Sem que a R. lhe tenha pago qualquer compensação salarial. r) No momento em que contratou o Autor, a Ré disse-lhe que não poderia gozar descanso semanal, feriados obrigatórios nem descanso anual. Recurso principal do Autor II De acordo com o alegado nas conclusões dos recursos, as questões levantadas que delimitam o thema decidendum na presente lide recursória são a de saber se as chamadas gorjetas são ou não parte integrante do salário para efeitos de compensações ora reclamadas pelo Autor. Da materialidade fáctica assente resulta que:

o trabalhador recebia uma quantia fixa (HKD$12,80 por dia), desde o início até à cessação da relação de trabalho estabelecida com a entidade patronal STDM; e recebia uma quantia variável proveniente das gorjetas dadas pelos clientes, as quais são contabilizados e distribuídas segundo um critério fixado pela entidade patronal STDM de acordo com a categoria dos beneficiários. Tanto o Decreto-Lei nº 101/84/M como o Decreto-Lei nº 24/89/M, a lei impõe que o salário seja justo. Diz o artº 27º do Decreto-Lei nº 101/84/M que pela prestação dos seus serviços/actividade laboral, os trabalhadores têm direito a um salário justo. Ao passo que o D. L. nº 24/89/M de 03ABR estabelece no seu artº 7º, como um dos deveres do empregador, que o empregador deve, a título da retribuição ao trabalho prestado pelo trabalhador, paga-lhe um salário que, dentro das exigências do bem comum, seja justo e adequado ao seu trabalho. A este dever da entidade patronal, o mesmo decreto faz corresponder simetricamente o direito do trabalhador de auferir um salário justo artº 25º do mesmo decreto. A retribuição pode ser certa, variável ou mista consoante seja calculada em função do tempo, do resultado ou daquele e deste (artº 26º do Decreto-Lei nº 24/89/M). E pode ser paga em dinheiro e, ou, em espécie (artº 25º, nº 3, do Decreto-Lei nº 24/89/M); mas apenas pode ser constituída em espécie até ao limite de metade do montante total da retribuição, sendo a restante metade paga em dinheiro (idem, artº 25º, nº3) vide Augusto Teixeira Garcia, in Lições de Direito do Trabalho ao alunos do 3º ano da Faculdade de Direito da Universidade de Macau, 1991/1992, Capítulo III, ponto 1 e 2.

In casu, o trabalhador era remunerado em dinheiro. Se levássemos em conta apenas a quantia fixa que o trabalhador recebia da entidade patronal STDM, esta quantia tão diminuta (HKD$12,80 por dia) ser-nos-ia obviamente muito aquém do critério imperativamente fixado na lei que impõe o dever ao empregador de pagar ao trabalhador um salário que, dentro das exigências do bem comum, seja justo e adequado ao seu trabalho. Admitindo embora que variam as opiniões sobre o que se deve entender por salário justo e adequado, mesmo com referência ao parâmetro das exigências do bem comum, o certo é que podemos afirmar, com a razoável segurança, que salário justo e adequado nesse parâmetro deve ser aquele que, além de compensar o trabalhador, é capaz de prover um trabalhador das suas necessidades de vida, garantindo-lhe a subsistência com dignidade e até permitir-lhe assumir compromissos financeiros pelo menos de curto ou até médio prazo. Na esteira desse entendimento, a parte da quantia fixa do rendimento que o trabalhadora auferia está muito longe de ser capaz de prover o trabalhador das suas necessidades mínimas, muito menos garantir-lhe a subsistência com dignidade ou permitir-lhe assumir compromissos financeiros. Só não será assim se o salário do trabalhador estiver composto por essa parte fixa e por uma outra parte variável que consiste nas quantias denominadas gorjetas, que tendo embora a sua origem nas gratificações dadas pelos clientes, eram primeiro colectadas e depois distribuídas periodicamente pela entidade patronal ao trabalhador, segundo os critérios por aquele unilateralmente definidos, nomeadamente de acordo com a categoria e a antiguidade do trabalhador.

Ora, para qualquer homem médio, se o salário não fosse o assim composto, ninguém estaria disposto a aceitar apenas a quantia fixa tão diminuta como seu verdadeiro e único salário, para trabalhar por conta da entidade patronal STDM, que como se sabe, pela natureza das suas actividades e pela forma do seu funcionamento exige aos seus trabalhadores, nomeadamente os afectados a seus casinos, a trabalhar por turnos, diurnos e nocturnos. Pelo que, as denominadas gorjetas não podem deixar de ser consideradas parte integrante do salário, pois de outro modo, a entidade patronal STDM violava o seu dever legal de pagar ao trabalhador um salário justo e adequado. O Tribunal decidiu fixando em X 1, X 3 e X 2 os multiplicadores para efeitos do cálculo da compensação do trabalho prestado pelo Autor nos dias de descansos semanal e anual e de feriado obrigatório remunerado, o que é de manter pura e simplesmente não foi impugnado por via de recurso. Em face do acima concluído, há que revogar a sentença recorrida na parte que diz respeito aos quantitativos do salário diário médio para efeitos do cálculo da compensação do trabalho prestado pelo Autor nos dias de descansos semanal e anual e de feriado obrigatório remunerado e passar a condenar a Ré no pagamento da compensação ao Autor conforme os mapas infra: Trabalho em descanso semanal Ano Retribuição Número de Quantia Fórmula de diária média dias não indemnizatória em cálculo em MOP$ gozados MOP$ 16/03/1990-31/12/1990 MOP219,75 52 219,75 x 52 x 1 MOP11.427,00 1991 MOP222,77 52 222,77 x 52 x 1 MOP11.584,04 1992 MOP225,61 52 225,61 x 52 x 1 MOP11.731,72 1993 MOP213,39 52 213,39 x 52 x 1 MOP11.096,28

1994 MOP207,63 52 207,63 x 52 x 1 MOP10.796,76 1995 MOP223,59 52 223,59 x 52 x 1 MOP11.626,68 01/01/1996-27/01/1996 MOP90,11 4 90,11 x 4 x 1 MOP360,44 TOTAL: MOP68.622,92 Trabalho em descansos anuais Ano Retribuição Número de Quantia Fórmula de diária média dias não indemnizatória em cálculo em MOP$ gozados MOP$ 16/03/1990-31/12/1990 MOP219,75 6 219,75 x 6 x 3 MOP3.955,50 1991 MOP222,77 6 222,77 x 6 x 3 MOP4.009,86 1992 MOP225,61 6 225,61 x 6 x 3 MOP4.060,98 1993 MOP213,39 6 213,39 x 6 x 3 MOP3.841,02 1994 MOP207,63 6 207,63 x 6 x 3 MOP3.737,34 1995 MOP223,59 6 223,59 x 6 x 3 MOP4.024,62 01/01/1996-27/01/1996 MOP90,11 0,5 90,11 x 0,5 x 3 MOP135,17 TOTAL: MOP23.764,49 Trabalho em feriado obrigatório Ano Retribuição Número de Quantia Fórmula de diária média dias não indemnizatória em cálculo em MOP$ gozados MOP$ 16/03/1990-31/12/1990 MOP219,75 6 219,75 x 6 x 2 MOP2.637,00 1991 MOP222,77 6 222,77 x 6 x 2 MOP2.673,24 1992 MOP225,61 6 225,61 x 6 x 2 MOP2.707,32 1993 MOP213,39 6 213,39 x 6 x 2 MOP2.560,68 1994 MOP207,63 6 207,63 x 6 x 2 MOP2.491,56 1995 MOP223,59 6 223,59 x 6 x 2 MOP2.683,08 01/01/1996-27/01/1996 MOP90,11 1 90,11 x 1 x 2 MOP180,22 TOTAL: MOP15.933,10

III Recurso subordinado da Ré Pelo que ficou decidido, é de julgar procedente o recurso subordinado interposto pela Ré passando os juros moratórios a ser contados a partir do trânsito em julgado do presente Acórdão, de acordo com a forma definida pelo TUI no seu douto Acórdão de 02MAR2011, tirado no processo nº 69/2010. IV Pelo exposto, acordam em julgar procedentes o recurso principal do Autor e o subordinado da Ré, passando a condenar a Ré no pagamento ao Autor do somatório das quantias apuradas nos mapas supra (MOP$68.622,92 + MOP$23.764,49 + MOP$15.933,10 = MOP$108.320,51), com juros moratórios a calcular de acordo com a forma definida pelo TUI no seu douto Acórdão de 02MAR2011, tirado no processo nº 69/2010. Custas pelas partes na proporção de decaimento em ambas as instâncias. RAEM, 14JUN2012 Lai Kin Hong João A. G. Gil de Oliveira Choi Mou Pan (Subscrevo a decisão da parte que não estão em desconformidade com a nova posição assumida após o acórdão proferido no processo nº 780/2007.)