PARÂMETROS HEMATOLÓGICOS E BIOQUÍMICOS DE CATETOS (TAYASSU TAJACU) CRIADOS EM CATIVEIRO NO MUNICÍPIO DE TERESINA, PI. VIEIRA, R.M. 1 ; CARDOSO, J.F.S. 2 ; OLIVEIRA, W.A. 3 ; ARAÚJO, E.K.D. 1 ; ALVES, T.S. 1 ; DANTAS, S.S.B. 1 ; NUNES, L.S.F.L. 4 ; ARAÚJO, L.L. 4 ; VIANA, F.D.A. 4 ; PRADO, A.C. 5. Médico(a) veterinário(a), residente no Hospital Veterinário Universitário (HVU), Universidade Federal do Piauí. 1 Prof. Dra. Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinária (DCCV), Universidade Federal do Piauí. 2 Médico veterinário no Hospital Veterinário Universitário (HVU), Universidade Federal do Piauí. 3 Médica veterinária, Universidade Federal do Piauí. 4 Técnico em análises clínicas no Hospital Veterinário Universitário (HVU), Universidade Federal do Piauí. 5 RESUMO A hematologia de animais selvagens, especialmente os da fauna brasileira, ainda é um campo de trabalho científico pouco explorado. São poucos os estudos realizados com espécies do gênero Tayassu, fazendo com que haja certa carência em relação a fontes que descrevam perfis sanguíneos destas espécies. Este estudo busca descrever os parâmetros hematológicos e bioquímicos de catetos (Tayassu tajacu) sob as condições territoriais do município de Teresina, Piauí. Foram utilizados 20 catetos adultos, criados no Núcleo de Estudo e Preservação de Animais Silvestres (NEPAS) da Universidade Federal do Piauí, na cidade de Teresina, Piauí. A realização do hemograma seguiu a metodologia descrita por FERREIRA NETO et al. (1981). Para a realização dos testes bioquímicos, foram utilizados kits comerciais em analisador bioquímico automatizado (ChemWell-t, Awareness Technology, Inc. Palm City, FL USA). A metodologia utilizada para os exames supracitados foi empregada de acordo com THRALL et al. (2007) e KANECO et al. (2008). Os valores resultantes das análises hematológicas e bioquímicas demonstraram valores dentro da normalidade quando comparados aos valores de referência já descritos para a espécie. As informações deste estudo podem ser utilizadas para avaliar o estado de saúde de animais desta espécie e para estabelecer relações entre os parâmetros sanguíneos e o desenvolvimento de doenças. Palavras-chave: hematologia; Tayassuídeos; silvestre. _ ABSTRACT The hematology wildlife, especially the Brazilian fauna, it is still a relatively unexplored scientific field. Few studies have been carried out with species of the genus Tayassu, causing some lack in relation to sources that describe hematological and biochemical profiles of the species of this genus. This study aims to investigate
the hematological and biochemical profile of collared peccaries (Tayassu tajacu) under the territorial conditions of the city of Teresina, Piauí. 20 collared peccaries were used, created at the Center for the Study and Conservation of Wild Animals (NEPAS) of the Federal University of Piauí, in the city of Teresina, Piauí. The complete blood count followed the methodology described by FERREIRA NETO et al. (1981). For the realization of biochemical tests, commercial kits were used in automated biochemical analyzer (chemwell-t, Awareness Technology, Inc. Palm City, FL - USA). The methodology used for the above tests was employed according to Thrall et al. (2007) and KANECO et al. (2008). The resulting values of hematological and biochemical analyzes showed values within the normal range when compared to the reference values already described for the species. The information in this study can be used to evaluate the health status of animals of this species and to establish relationships between blood parameters and the development of diseases. Keywords: hematology; Tayassuids; wild. INTRODUÇÃO O Tayassu tajacu, conhecido como cateto ou caititu, é um mamífero da família Tayassuidae pertencente à ordem Artiodactyla que se divide em dois gêneros: o Tayassu, com duas espécies, Tayassu tajacu (cateto) e Tayassu pecari (queixada), e o Catagonus, com Catagonus wagneri (SOWLS, 1984). No Brasil, os estudos realizados com espécies do gênero Tayassu são ainda restritos. E em sua maioria, os trabalhos elaborados com estes animais descrevem a espécie Tayassu pecari (queixada), fazendo com que haja certa carência em relação a estudos de perfis hematológicos e bioquímicos da espécie Tayassu tajacu (cateto). Assim, este estudo busca descrever o perfil hematológico e bioquímico de catetos criados nas condições territoriais do município de Teresina, Piauí. MATERIAL E MÉTODOS Foram utilizados para compor este estudo 20 catetos (Tayassu tajacu) adultos, sendo dez machos e dez fêmeas, criados no Núcleo de Estudo e Preservação de Animais Silvestres (NEPAS) da Universidade Federal do Piauí, na cidade de Teresina, Piauí. Para análises hematológicas e bioquímicas foram obtidas amostras de sague através de punção da veia radial de cada animal. As análises foram realizadas no laboratório de Patologia Clínica Veterinária do Hospital Veterinário Universitário (HVU), no Centro de Ciências Agrárias, da Universidade Federal do Piauí. Realizaram-se as contagens de hemácias, leucócitos totais e de plaquetas, além da contagem diferencial de leucócitos seguindo a metodologia descrita por FERREIRA NETO et al. (1981).
Para a realização dos testes bioquímicos, foram utilizados kits comerciais em analisador bioquímico automatizado (ChemWell-t, Awareness Technology, Inc. Palm City, FL USA). A metodologia utilizada para os exames supracitados foi empregada de acordo com THRALL et al. (2007) e KANECO et al. (2008). RESULTADOS E DISCUSSÃO Tabela 1. Parâmetros hematológicos (média ± desvio padrão) de Tayassu tajacu. Os valores médios encontrados de hemácias, hemoglobina, volume globular médio (VCM) e concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM) (Tabela 1) revelaram-se menores que as médias encontradas por Aparício (2004), Almeida et al. (2011) e por Jorge et al. (2015). Assim como ocorre nas demais espécies, verificaram-se neste estudo menores valores médios de leucócitos como monócitos (419,5 ± 349,186 /µl), eosinófilos (148,75 ± 178,022 /µl), e basófilos (27,75 ± 52,111 /µl). Esses achados condizem com os resultados obtidos pelos autores supracitados. Tabela 2. Parâmetros bioquímicos séricos (média ± desvio padrão) de Tayassu tajacu.
Cardoso et al.(2007) realizou um estudo com catetos criados no Parque Zoobotânico de Teresina, mesmo município de realização do presente estudo, no ano de 2007. Quando comparados os valores médios encontrados para as enzimas alanina aminotranferase, ou ALT, (44,615 ± 37,621 UI/L) e para aspartato aminotransferase, ou AST, (69,305 ± 52,900 UI/L) são maiores do que os valores encontrados pelo referido autor. Os níveis séricos de ALT e AST encontrados neste estudo apresentaram-se superiores aos valores médios relatados por Centeno (2007), o qual avaliou as dosagens séricas em queixadas (Tayssu pecari). No presente trabalho foram encontrados valores séricos de AST e ALT em maiores concentrações em fêmeas do que em machos, resultado este similar ao apresentado por Lochmiller et al.(1984). Na avaliação dos valores encontrados para a enzima fosfatase alcalina (FA), a qual é considerada uma enzima de indução utilizada para avalição da presença de colestase, os valores apresentaram-se normais quando comparados aos valores de referência considerados para a espécie suína. Os valores médios analisados de albumina (3,62 ± 0,411 g/dl), globulina (2,71 ± 0,950 g/dl) e proteína total (6,33 ± 1,015 g/dl) diferem daqueles encontrados por Cardoso et. al.(2007) e por Lochmiller et al.(1984), apresentando-se de menor valor. Se comparados aos valores de referência descritos para a espécie suína, os resultados apresentam-se como hipoproteinemia e hipoglobulinemia. De acordo com Lochmiller et al.(1984), pecarídeos juvenis possuem significante aumento da concentração de glicose, triglicerídeos, fosfatase alcalina, ALT e de cálcio. O valor médio encontrado para a glicose (153,415 ± 49,096 mg/dl) mostrou-se menor quando comparado ao valor apresentado por Lochmiller et al.(1984), uma vez que não foram encontradas outras pesquisas que apresentassem valores para este parâmetro. Ao se verificar o valor de referência considerado para a espécie suína, a glicose apresentou-se moderadamente aumentada neste estudo. Centeno (2007), ao avaliar os níveis séricos de colesterol de queixadas (Tayssu pecari) relatou maiores valores séricos de fêmeas quando comparadas aos machos, as quais possuíam uma dieta mais rica em gordura. Resultado semelhante foi encontrado por Lochmiller et al.(1984) e também no presente estudo. CONCLUSÃO Os parâmetros hematológicos e bioquímicos de catetos (Tayassu tajacu) criados em cativeiro no município de Teresina, Piauí, apresentam valores dentro da normalidade quando comparados aos valores já descritos para a espécie. As informações deste estudo podem ser utilizadas para avaliar o estado de saúde de animais desta espécie e para estabelecer relações entre os parâmetros sanguíneos e o desenvolvimento de doenças.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, A. M. B.; NOGUEIRA-FILHO, S. L. G.; NOGUEIRA, S. S. C.; MUNHOZ, A. D. Aspectos hematológicos de catetos (Tayassu tajacu) mantidos em cativeiro. Pesquisa Veterinária Brasileira. V. 3, n.2, p.173-177, 2011. APARÍCIO, P.M.G. Fisiología reproductiva y desarrolo de métodos diagnósticos del estado reproductivo de la hembra de pecari de collar (Tayassu tajacu Linnaeus, 1758) de la Amazônia. 2004. 160f. Tese (Doutorado em Sanidade Animal) - Faculdade de Veterinária, Universidade Autônoma de Barcelona, Barcelona. CARDOSO, F.T.S.; LUCENA, L.U.; SOUSA, A.F.S. Valores de referência para níveis séricos de ureia, creatinina, AST, ALT e proteínas de catetos (Tayassu tajacu - Linnaeus, 1758) criados em cativeiro em Teresina Piauí, 2007. CENTENO, D. G. Valores de referência para química sérica del pecarí de lábios blancos (Tayassu pecari): efectos del sexo, edad y población. Revista Electrónica de Cínica Veterinaria. V.2, n.8, 2007. FERREIRA NETO, J.M.; VIANA, E.S.; MAGALHÃES. L.M. Patologia clínica veterinária. Belo Horizonte: Rabelo, 1981. 293 p. JORGE, E. M. et al. Hematological markers and biochemical profiles in terms of gender and age of captive collared peccaries (Tayassu tajacu) in eastern Amazon. Genetics and Molecular Research. V.14, n.4, 2015. KANEKO, J.J.; HARVEY, J.W.; BRUSS, M.L. Clinical biochemistry of domestic animals. 6 ed. San Diego: Academic Press Inc., 2008. 916 p. LOCHMILLER, R.L.; GRANT, W.E. Serum chemistry of the collared peccary (Tayassu tajacu). Journal of Wildlife Diseases. V.20, n.2, p.134-140, 1984. SCHETTINI, Z. L. et al. Perfil bioquímico sanguíneo hepático y renal en el sajino (Tayassu tajacu) criado en cautiverio en la Amazonía peruana. Revista de Investigaciones Veterinarias del Perú. V.16, n. 2, p.175-179, 2012. Disponível em: <http://revistasinvestigacion.unmsm.edu.pe/index.php/veterinaria/article/view/1572>. Acesso em: 24 nov. 2016. SOWLS, L. K. Javelinas and other peccaries: their biology, management, and use. 2 ed. Texas A & M University Press. College Station, 1997. 325 p. THRALL, M.A.; BAKER, D.C.; CAMPBELL, T.W.,et al. Hematologia e bioquímica clínica veterinária. 1 ed. São Paulo: Roca, 2007. 592 p.