DIREITOS HUMANOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS NAS



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Transcrição:

DIREITOS HUMANOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS NAS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS Dorian Wagner Graduada em Administração de Empresas e Direito Especialista em Direito Público Ocupante do cargo de Técnico Administrativo do Conselho Nacional do MP No início do século XX já se pensava na defesa dos direitos e garantias fundamentais na sociedade, entretanto, após a Segunda Guerra Mundial este pensamento ganhou força, pois, com as atrocidades vistas durante as duas grandes guerras, ficou claro que os direitos humanos deveriam ser protegidos pelo direito internacional. A Carta das Nações Unidas, tendo Hans Kelsen como um de seus mentores, espelha esta preocupação em seu preâmbulo. Nós, os povos das Nações Unidas, resolvidos a preservar as gerações futuras do flagelo da guerra, que por duas vezes, no espaço de nossas vidas, trouxe sofrimentos indizíveis à humanidade, e a reafirmar a fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor do ser humano, na igualdade dos direitos dos homens e das mulheres, assim como das nações grandes e pequenas. A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi assinada solenemente em Paris em 10.12.1948. Tem-se que Constituição é o conjunto de normas e princípios de maior força hierárquica dentro do ordenamento jurídico, com o intuito de organizar e estruturar o poder político, além de definir seus limites, inclusive pela concessão de direitos fundamentais ao cidadão. Deve-se ter sempre em mente que a Constituição tem, também, o ideal de limitar o poder estatal, para que os direitos e garantias fundamentais dos cidadãos não sejam usurpados por governantes inescrupulosos, ou seja, o poder estatal deve sofrer limitações para que a defesa dos cidadãos esteja garantida. Com a volta da família real para Portugal, iniciou-se um movimento no sentido de produzir uma Constituição para o Brasil. Em 1823 já estava constituída a Assembleia que, por desavenças com o Imperador, foi dissolvida. Foi criado, então, o Conselho de Estado, incumbido de elaborar um novo projeto, baseado no pensamento liberal, que tem por alicerce do sistema social o homem, como indivíduo. Segundo Rousseau, o homem vive em estado de natureza, onde são livres, e irão pactuar um contrato para poderem conviver em sociedade. Daí se depreende que todo poder emana do povo e que o Estado só deve exercer aquelas

funções que os indivíduos não conseguirem gerenciar. Estes pensamentos implicaram em duas grandes revoluções: a francesa e a norte-americana. As ideias liberais se opunham à monarquia absoluta existente e esse poder que o povo estava reivindicando batia de frente com as monarquias existentes. O Brasil, contudo, resistiu a essa mudança mediante concessões ao princípio da soberania popular. Faremos a seguir um comparativo entre as Constituições Brasileiras e como os direitos humanos fundamentais foram inseridos em cada uma delas. Constituição de 1824 Esta Constituição foi marcada por um grande liberalismo, sobretudo nos direitos individuais e na separação tripartite dos poderes concebido por Montesquieu: Executivo, Legislativo e Judiciário. Além dos três clássicos, havia mais um, o poder Moderador - como ensina Gilmar Mendes, a chave de toda a organização política. Criação jurídica de Benjamin Constant era um poder que, se fosse utilizado por um monarca autoritário, levaria a um poder quase absoluto, por outro lado, se fosse um monarca moderado, cônscio de suas responsabilidades, levaria o país a um alto nível de organização constitucional. As ideias liberais que dominaram no fim do século XVIII e início do século XIX produziram efeitos em nosso país, mormente na Constituição do Império de 1824, elaborada por um Conselho de Estado e outorgada por Dom Pedro I, que consagrou a filosofia liberal da Revolução Francesa, não tratando dos direitos sociais do trabalhador, pois imaginavam que assim seria uma intervenção estatal. Cabe reconhecer que esse constitucionalismo liberal, apesar de ser consoante com as ideias da época, e mesmo dentre a elite do País, encontrou muitas dificuldades para se tornar eficaz devido ao pequeno desenvolvimento econômico do País, a falta de participação política, as grandes distâncias e a precariedade das comunicações e transportes. Constava na Constituição do Império extenso rol de direitos e garantias fundamentais, entre eles: princípios da igualdade e legalidade, livre manifestação do pensamento, impossibilidade de censura prévia, liberdade religiosa, liberdade de locomoção, inviolabilidade de domicílio, possibilidade de prisão somente em flagrante delito ou por ordem da autoridade competente, fiança, princípio da reserva legal e anterioridade da lei penal, independência judicial, princípio do juiz Natural, livre acesso aos cargos públicos, abolição dos açoites, da tortura, da marca de ferro quente e todas as mais penas cruéis, individualização da pena, respeito à dignidade do preso, direito de propriedade, liberdade de profissão, direito de invenção, inviolabilidade das correspondências, responsabilidade civil do Estado por ato dos funcionários públicos, direito de petição, gratuidade do ensino público primário.

Constituição de 1891 Com a Constituição de 1891, o Brasil implanta a Federação e a República, as autoridades tornam-se representativas do povo e investidas de mandato por prazo certo. Para não haver perigo de ruptura do País, a União era perpétua e indissolúvel. Quanto aos poderes, volta-se à teoria de Montesquieu, com um Judiciário fortalecido. A primeira Constituição Republicana (1891) resultou do projeto que o governo submeteu ao Congresso Nacional dotado de poderes constituintes. Nele prevaleceu o espírito liberal de Ruy Barbosa, influenciado pelas teses cardeais da Constituição Norte-americana que, segundo Afonso Arinos, escrevia para o Brasil traduzindo do inglês. Por isso mesmo também não cogitou dos direitos sociais do trabalhador, limitando-se a garantir o livre exercício de qualquer profissão moral, intelectual e industrial, pois achavam que a legislação trabalhista infringia o princípio da liberdade contratual e que, ainda que fosse permitida, seria de competência dos Estados. Concernentes às garantias constitucionais, além de repetir o rol de direitos e garantias fundamentais existentes na Constituição de 1834, ainda foram acrescentados: gratuidade do casamento civil, ensino leigo, direito de reunião e associação, ampla defesa, abolição das penas das galés e do banimento judicial, abolição da pena de morte, reservadas as disposições da legislação militar em tempo de guerra, habeas corpus, propriedade de marcas de fábrica, Instituição do Júri. Constituição de 1934 A reforma constitucional de 1926 estava fadada ao insucesso. A crise econômica mundial, bem como movimentos sociais pleiteando melhores condições de vida, trabalho e distribuição de renda, geraram controvérsias quanto à validade da democracia liberal e do liberalismo econômico. Soma-se a isso o desgaste da política café com leite e o aumento da pregração tenentista. Depois da Revolução de 1930, todas as constituições brasileiras dispuseram sobre os direitos sociais do trabalhador; a criação da Justiça Eleitoral; o sufrágio feminino; o voto secreto e o mandato de segunraça. E não poderia deixar de fazê-lo, seja em virtude da legislação decretada por Getúlio Vargas, como chefe da revolução vitoriosa, seja porque esses direitos já haviam sido consagrados pelo Tratado de Versailles (1919) e por algumas constituições de relevo. A partir da Constituição de 1934 e nas demais que a sucederam, os direitos sociais tinham os seguintes enfoques: variaram consideravelmente as diretrizes e os preceitos concernentes ao direito coletivo do trabalho; a Justiça do Trabalho, a princípio de natureza administrativa, teve ampliada sua competência e se integrou ao Poder Judiciário; os direitos individuais do trabalhador cresceram a partir do elenco consagrado pela Constituição de 1934.

Quanto às diretrizes doutrinárias e direito coletivos do trabalho, a Constituição de 34, elaborada e promulgada por uma Assembleia Nacional Constituinte, além de ter sepultado a velha democracia liberal, procurou conciliar filosofias antagônicas emanadas das Cartas Magnas de Weimar (social-democrática) e dos EUA (liberalindividualista), além de mesclar a representação política resultante de voto direto com a escolhida pelas associações sindicais (representação corporativa). Foi-lhe, por isso, vaticinada vida efêmera, o que aconteceu no Golpe de 1937. A ordem econômica deveria ser organizada conforme os princípios da justiça e as necessidades da vida nacional, de modo que possibilite a todos existência digna. A lei deveria promover o amparo da produção e estabelecer as condições de trabalho, tendo em vista a proteção social do trabalhador e os interesses econômicos do país. Caberia, ainda, à lei dispor sobre o reconhecimento dos sindicatos e das associações profissionais; mas teria de assegurar a pluralidade sindical e a completa autonomia dos sindicatos, assim como o reconhecimento das convenções coletivas de trabalho. Com relação aos direitos individuais, assegurou o salário mínimo capaz de satisfazer, conforme as condições de cada região, às necessidades normais do trabalhador, sendo também acrescentado ao texto constitucional: ato jurídico perfeito e coisa julgada, impossibilidade de prisão civil por dívidas, multas ou custas, mandado de segurança, ação popular, entre outras. Constituição de 1937 A carta Magna, outorgada em 1937, de índole corporativa, inspirada no modelo fascista, de cunho autoritário, previu que o Parlamento Nacional teria a colaboração do Conselho da Economia Nacional, constituído esse de representantes dos empresários e dos trabalhadores, designados pelas respectivas entidades sindicais. Outorgada por Getúlio Vargas, com o apoio das Forças Armadas, ela sublinhou que o escopo da intervenção do Estado no domínio econômico era, não apenas, o de suprir as deficiências da iniciativa individual, mas também o de coordenar os fatores da produção, de maneira a evitar ou resolver os seus conflitos e introduzir, no jogo das competições individuais, o pensamento dos interesses da Nação, representado pelo Estado. O trabalho dizia a seguir como meio de subsistência do indivíduo, constitui um bem que é dever do Estado proteger, assegurando-lhe condições favoráveis e meios de defesa. No campo do direito coletivo do trabalho, depois de enunciar que a associação profissional ou sindical é livre, deu ao sindicato reconhecido pelo Estado: a) o privilégio de representar a todos os que integram a correspondente categoria e de defender-lhes os direitos; b) a prerrogativa de estipular contratos coletivos de trabalho; c) o poder de impor contribuições e exercer funções delegadas do poder público. A greve e o lock-out foram declarados recursos anti-sociais, nocivos ao trabalho e ao capital e incompatíveis com os superiores interesses da produção nacional.

Os contratos coletivos de trabalho passaram a ser aplicados a todos os trabalhadores representados pelas associações sindicais convenentes. No que concerne aos direitos e garantias fundamentais, o texto constitucional de 1937 mostrou-se retrógrado à Carta anterior, retirando alguns preceitos democráticos ali existentes: irretroatividade da lei e mandado de segurança, em seu lugar foram colocados a pena de morte para os crimes políticos, censura prévia da imprensa, tudo isso em prol da garantia da paz, da ordem e da Segurança Pública. Constituição de 1946 Com a intenção de pôr fim ao Estado autoritário que havia no país após a queda de Getúlio Vargas, a Constituição de 1946, decretada e promulgada por uma Assembleia Constituinte, refletiu o sopro democrático emanado da vitória das Nações Aliadas na guerra mundial de 1939-1945. Foi uma Constituição tecnicamente correta, de caráter Republicano, Federativo e Democrático, procurou recuperar da Carta de 1934 aspectos sociais. Em matéria de direitos individuais, retomou o rol da Constituição de 1934, inserindo diversos direitos sociais relativos aos trabalhadores e empregados, assegurando aos brasileiros e estrangeiros residentes no país a inviolabilidade dos direitos concernentes à vida, à liberdade, à segurança individual e à propriedade, contraditório, plenitude de defesa e soberania dos veredictos do tribunal do Júri, direito de certidão, entre outras. No capítulo Da Ordem Econômica e Social asseverou que A ordem econômica deve ser organizada conforme os princípios da justiça social, conciliando a liberdade de iniciativa com a valorização do trabalho humano proclamação que refletiu, acertadamente, o intervencionismo básico da nossa legislação trabalhista e acabou por inspirar a parte inicial da declaração de princípios consubstanciada no art. 157 da Carta Magna de 1967. No tocante à organização sindical, afirmou a liberdade de associação e atribuiu à lei regular a forma da constituição dos sindicatos, a sua representação legal nas convenções coletivas de trabalho e o exercício de funções delegadas pelo poder público. Assim dispondo, não criou incompatibilidade com a legislação sindical então vigente. Já a greve e as convenções coletivas de trabalho foram reconhecidas como direito dos trabalhadores, cabendo também à lei regular o exercício. Constituição de 1967 A Constituição de 1967 foi decretada e promulgada pelo Congresso Nacional, nos termos da convocação restrita que lhe fez o Presidente Castello Branco. Visando assegurar a continuidade do Golpe de 1964 na conformidade da doutrina da segurança nacional desenvolvida pela Escola Superior de Guerra, o Presidente

encaminhou ao Congresso o projeto do estatuto fundamental e foi ouvido sobre as emendas apresentadas. O texto aprovado em 24.02.1967 sofreu, porém, rude golpe em 17.10.1969, quando a Junta Militar que assumiu o poder impôs-lhe ampla revisão através da Emenda Constitucional nº 1. Essa revisão não alterou o elenco dos direitos sociais trabalhistas, mas introduziu modificação de relevo quanto à finalidade da ordem econômica. O texto de 1967 sublinhou que ela teria por fim realizar a justiça social com base nos princípios que enumerou; o texto de 1969 referiu que a ordem econômica e social tem por fim realizar o desenvolvimento econômico e a justiça social, esteada nos princípios a seguir mencionados. Relativamente ao direito coletivo do trabalho, a Carta Magna de 1967/1969 repete as disposições da Constituição de 1946 sobre a organização sindical; mas torna obrigatório o voto nas eleições sindicais e inclui, desde logo, entre as funções públicas que podem ser delegadas aos sindicatos, a de arrecadar contribuições para o custeio das atividades de seus órgãos e para a execução de programas de interesse das categorias por ele representadas. Legitimou, assim, a arrecadação, pelos sindicatos, da contribuição anual compulsória (conhecida como imposto sindical) tributo que só a União Federal pode instituir. A grave foi incluída entre os direitos dos trabalhadores, salvo em relação aos serviços públicos e às atividades essenciais definidas por lei. As convenções coletivas do trabalho estão reconhecidas como instrumento de negociação entre empregados e empregadores. O capítulo de direitos e garantias individuais visava à melhoria da condição social dos trabalhadores, constando artigos semelhantes à Constituição anterior e acrescentava: sigilo das comunicações telefônicas, dentre outras. Constituição de 1988 Presidida pelo Deputado Ulysses Guimarães, foi promulgada pela Assembleia Nacional Constituinte em 05.10.1988. Nessa Constituição, os direitos e garantias fundamentais foram divididos em cinco capítulos: direitos individuais e coletivos, que correspondem aos direitos ligados ao conceito de pessoa humana e de sua personalidade: vida, dignidade, honra e liberdade; os direitos sociais são as liberdades positivas, onde um Estado Social de Direito intervencionista presta serviços ao indivíduo com o intuito de melhorar as condições de vida dos hipossuficientes, visando à igualdade social; nacionalidade, sendo o vínculo que liga um indivíduo a um determinado Estado; direitos políticos são direitos públicos subjetivos, permitindo ao indivíduo o exercício concreto da liberdade de participação na política do Estado e partidos políticos, como instrumento necessário para preservação do Estado Democrático de Direito. Sabemos que 90% da população brasileira sofre com a falta de escolas públicas, saneamento básico e salário digno, entretanto, a democracia é, de todas as formas de

governo que existem, de longe a melhor opção. O autoritarismo, apresentado por meio da ditadura, não é a solução, pois os direitos fundamentais do indivíduo, se hoje não estão sendo contemplados, nos governos ditatoriais muito menos o serão, porque o que vai resolver os problemas da sociedade é o equilíbrio economia do país, se os governantes que dirigem o país têm competência para gerenciar crises. No regime democrático, a população tem, ao menos, a possibilidade de votar (errando e acertando) nos seus representantes. Os direitos humanos fundamentais relacionam-se diretamente com a garantia de não ingerência do Estado na esfera individual e a consagração da dignidade humana, caracterizando-se pela imprescritibilidade, inalienabilidade, irrenunciabilidade, inviolabilidade, universabilidade, efetividade, interdependência e complementariedade. BIBLIOGRAFIA BASTOS, Celso Ribeiro. Comentários à Constituição do Brasil, 1º volume, 2ª. ed., São Paulo/SP, Ed. Saraiva, 2001. FRANCO, Afonso Arinos de Melo. Direito Constitucional, Rio de Janeiro/RJ, Editora Forense, 1986. MENDES, Gilmar Ferreira. Curso de Direito Constitucional, São Paulo/SP, Editora Saraiva, 2008. MORAES, Alexandre de. Direitos Humanos Fundamentais, Coleção Temas Jurídicos, 3ª. ed., São Paulo/SP, Editora Atlas S/A, 2000. MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional, 15ª. ed., São Paulo/SP, Editora Atlas S/A, 2004. SUSSSEKIND, Arnaldo. Direitos Sociais na Constituição, São Paulo/SP, Editora Atlas S/A, 1986.