Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo Homilias Meditadas Lectio Divina para a Família Salesiana P. J. Rocha Monteiro, sdb Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo - Ano B Mc 14, 12-16-22-26 1. Introdução Esta viva fonte que desejo, em este pão de vida, aí o vejo, embora à noite (S. João da Cruz). Esta é uma festa introduzida na Igreja a partir do século XIII a fim de renovar a afirmação na presença real, de celebrar com todo o esplendor e alegria o mistério da Eucaristia e poder testemunhar publicamente Cristo como sinal de unidade e transformação do mundo. Nos últimos decénios melhoramos enormemente a celebração eucarística mas diminuiu a atenção à adoração. 2. Cristo como nosso alimento Enquanto comiam, Jesus tomou o pão, recitou a bênção e partiu-o, deu-o aos discípulos e disse: «Tomai: isto é o Meu Corpo». Depois tomou um cálice, deu graças e entregou-lho. E todos beberam dele. Disse Jesus: «Este é o Meu Sangue, o Sangue da nova aliança, derramado pela multidão dos homens. Jesus quis ser nosso alimento que nos dá forças e nos transmite a vida como novidade de amor. Deus entrega-se, por amor, a cada um de nós que ousamos celebrar com Ele o mistério da vida.
3. Tomai como exigência de amor Tomai para serdes transformados. Tem que estar no vosso íntimo, no vosso coração. Essa comida transformará as vossas vidas. Teremos necessidade dela para ultrapassar os obstáculos da vida, as deceções, os fracassos. É uma nova energia. Jesus sabia que nós iríamos precisar dela para as nossas atitudes comportamentais. Essa energia coloca-nos em comunhão com Ele e com os irmãos. É geradora da vida da fraternidade. É fonte da própria igreja como testemunha na sociedade. Tomai, significa ide e testemunhai este amor que acabais de receber. A relação que tendes comigo deveis tê-la com os vossos irmãos, crentes ou descrentes, fiéis ou ateus, agnósticos ou teístas. A humanidade inteira é o corpo de Cristo. «Sempre que fizestes isto a um destes Meus irmãos mais pequeninos, a Mim mesmo o fizestes» (Mt 25,40). A humanidade é a carne de Deus. Por conseguinte, a ceia pascal constitui uma ceia de frater-nidade que não apenas congrega os participantes, mas que os compromete a fundo na luta contra tudo o que discrimina os indivíduos e os grupos humanos. 4. Cristo como alimento de vida eterna É expressivo o simbolismo da comida e da bebida. No discurso do pão da vida, Jesus diz expressamente que o que come a Minha carne e bebe o Meu sangue tem a vida eterna. Diz mais: o que come a Minha carne e bebe o Meu sangue habita em Mim e Eu nele. Jesus explicará melhor em Jo 15, ao falar da parábola da videira. No Prefácio I da Eucaristia afirmamos: a Sua carne, imolada por nós, é alimento que nos fortalece; o Seu sangue, derramado por nós, é bebida que nos purifica.
Ex 24,3-8 5. Compromisso do povo de Israel O povo respondeu: «Faremos quanto o Senhor disse e em tudo obedeceremos». Então, Moisés tomou o sangue e aspergiu com ele o povo, dizendo: «Este é o sangue da aliança que o Senhor firmou convosco, mediante todas estas palavras». Deus cumpre a Sua promessa e todos dizem sim à promessa: jovens e adultos. 6. Deus fiel espera pelo homem O texto bíblico é admirável, pois faz-nos ver Deus a tecer sucessivos cenários de amor e de beleza para o Seu povo, para nós. Mas o texto bíblico é ainda admirável, quando nos mostra que Deus, que é Deus, não quer fazer as coisas sozinho e fica tantas vezes à nossa espera, suspenso da nossa resposta. «A Sua Palavra é digna de fé» (ITm 4,9), porque «Deus é fiel» (ICor 1, 9). É a nossa palavra que não é muito de fiar. Vale-nos, «oh, abismo da riqueza, da sabedoria e da ciência de Deus!» (Rm 11,33), que «Deus permanece fiel, mesmo quando nós Lhe somos infiéis» (2Tm 2,13). Aí está, então, o dizer e o fazer novo de Jesus a refazer o nosso dizer e o nosso fazer tão depressa abandonados, aliança rompida: «Eu vim, ó Deus, para fazer a Tua vontade», declara Jesus, verdadeiro sumo-sacerdote na Carta aos Hebreus 10,7; cf. Salmo 40,8-9. E «Não se faça a Minha vontade, mas a Tua», reza Jesus no Getsémani (Mc 14,36). (A. Couto)
Heb 9, 11-15 7. Cristo com a Sua morte na cruz deu-nos a salvação Cristo veio como sumo sacerdote dos bens futuros. Atravessou o tabernáculo maior e mais perfeito que não foi feito por mãos humanas, nem pertence a este mundo, e entrou de uma vez para sempre no Santuário. Não derramou sangue de cabritos e novilhos, mas o Seu próprio Sangue, e alcançou-nos uma redenção eterna. Por isso, Ele é mediador de uma nova aliança. A carta aos Hebreus quer ajudar os leitores cristãos a compreender como Jesus supera os sacrifícios do templo de Jerusalém. Ele é o mediador de uma nova aliança, o Sumo Sacerdote que Se entregou de uma só vez por nós. Reconciliou-nos com Deus, não com sangue de animais, mas com a Sua própria morte, na cruz, dando-nos a todos a salvação. A Eucaristia é a ceia memorial da cruz. Por isso, na Eucaristia celebramos o memorial da morte e ressurreição de Cristo, participando na Sua força salvadora. 8.«A nossa participação no corpo e sangue de Cristo não tende para mais nada senão para nos transformar naquilo que recebemos.» São Leão Magno Encontrar-me com Cristo, meu desejo, nadador louco à procura de mergulhos audazes; Encontrar-me com Cristo com o Cântico dos Cânticos: é dom e júbilo, é intensidade e ternura, é fecundidade e fidelidade; Encontrar-me com Cristo, é uma humilde e magnífica viagem, nos caminhos da minha cidade, ou com os imigrantes dos barcos que sulcam o mar;
Encontrar-me com Cristo é abraçar Cristo na cruz, pôr a mão no Seu lado e partir sem destino; Encontrar-me com Cristo é descobri-lo no altar do mundo de quem sofre, desamparado, prisioneiro, incompreendido...
Oh, precioso e admirável banquete! Na ceia se tornou nosso alimento, Na morte se ofereceu como resgate, Na glória será nossa recompensa. (Liturgia) Vinde ao banquete de Cristo imortal, Entrega de amor na Sua paixão. Comei a flor de trigo, memorial, Pão e vinho, penhor de salvação. Maná do céu aberto no deserto, Pão do céu, santa ceia do amor, Pão dos anjos no meu caminho incerto, Meu Cristo Senhor, Bom Belo Pastor. Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo Dado aos fracos, débeis, esfomeados. Aos pecadores errantes abandonados, Do Pão da vida serão saciados. Tapetes coloridos de brancura, De ursulinas, pétalas a esvoaçar; Passa o corpo de Deus para adorar, Presente na Hóstia santa do altar. Eu Te adoro, Senhor, em oração, Som de trompetes leva a procissão; Aliança, fascínio em Teu olhar, Fazes, Jesus, da rua Teu altar.
Quisera comer sempre deste pão, Quisera saciar-me desta sede; Quisera amanhecer com este sol, No banquete de Deus adormecer. (J. Rocha em Solilóquios diante do Tabernáculo )