RECICLAGEM DE EMBALAGENS UMA QUESTÃO AMBIENTAL. Resumo



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Transcrição:

RECICLAGEM DE EMBALAGENS UMA QUESTÃO AMBIENTAL EDCARLOS DO NASCIMENTO Prof. do IESRV - Instituto de Ensino Superior de Rio Verde - Faculdades Objetivo. E-mail: edc_nascimento@hotmail.com RENAN BILLA Prof. Titular da FEMEC - Faculdade de Engenharia Mecânica, UFU. Email: rbilla@mecanica.ufu.br Resumo O objetivo deste estudo é compreendermos a questão da reciclagem de embalagens de agrotóxicos como uma necessidade premente para a sociedade brasileira. Com este intuito, identificaremos o que tem sido feito a respeito, o impacto ambiental de procedimentos inadequados no manuseio das embalagens e possíveis soluções que venham a ser adotadas como forma de minimizar o problema. O descarte inadequado de embalagens de agrotóxicos, pode levar a contaminação do solo e a ocupação de áreas agricultáveis, à contaminação de nascentes de rios e lençóis freáticos que podem causar às gerações futuras danos irreparáveis. O setor agropecuário é um dos mais importantes da nossa economia, não apenas do ponto de vista das exportações, mas também da produção para o mercado interno de um país com proporções continentais, cuja produção agrícola vem crescendo expressivamente nos últimos anos. E para sustentar a produtividade necessária ao crescimento do setor, são utilizados agroquímicos e esta atividade é responsável pela enorme quantidade de embalagens rígidas e flexíveis que acondicionam estes produtos. Na realização deste estudo, percebemos a necessidade de uma atuação mais intensa dos órgãos fiscalizadores e um maior comprometimento dos agricultores, principalmente os pequenos e médios quanto aos procedimentos adequados de manipulação, armazenamento e encaminhamento das embalagens às unidades de recebimento. Palavras chave: Reciclagem, agroquímicos, preservação ambiental, destino final de embalagens, agricultura. 1. INTRODUÇÃO Há alguns anos, temos percebido a crescente preocupação dos governos de vários países em relação ao meio ambiente, a preservação da natureza e a exploração sustentável das riquezas naturais. Entretanto, nosso país por muitos anos sofreu o descaso de autoridades e setores da iniciativa privada. É bem verdade que foram tomadas algumas iniciativas no sentido de solucionar o problema, mas percebemos que a questão é demasiada importante e demanda esforços ainda mais contundentes, de forma a engajar toda sociedade na solução do problema. O surgimento de ONG's (Organizações Não Governamentais) para defesa da natureza, constitui fator importante, quanto ao esforço que deve ser empreendido no sentido da disseminação da cultura de valorização da natureza. Acreditamos que os benefícios para toda população, advindos de uma cultura onde a natureza é respeitada são significativos e a convivência equilibrada entre homem e a natureza na busca da

exploração sustentável dos recursos naturais e de novas tecnologias de produção menos agressivas ao meio ambiente, são condições relevantes para a existência humana e diminui o risco para saúde das pessoas e de contaminação para o meio ambiente. A destinação final das embalagens vazias de agrotóxicos é um procedimento complexo, que requer a participação efetiva de todos os envolvidos desde a fabricação e monitoramento das atividades relacionadas com o manuseio, transporte, armazenamento e processamento dessas embalagens. Mesmo assim, acreditamos que mediante o engajamento efetivo de todas os envolvidos no processo, possamos alcançar a adequação necessária à nova legislação existente. 2. A PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA BRASILEIRA E O CONSUMO DE EMBALAGENS O setor agropecuário brasileiro é um dos mais importantes e competitivos da economia, tendo alcançado um crescimento expressivo, no período de 89/90, da ordem de 30,7% conforme tabela 1: Tabela 1. Índices de Produção Física na Agropecuária Brasileira Período 1989 / 1999 (1989=100) (*) ANOS TOTAL VEGETAL ANIMAL POPULAÇÃO 1989 100 100 100 100 1990 95.6 90.6 109 101.4 1991 98.4 92.5 114.4 102.4 1992 105.5 98.5 124.3 104.2 1993 104.3 97 124 105.6 1994 111.6 105 129.2 107.1 1995 117.1 105.3 148.8 108.6 1996 117.7 104.8 152.3 110.1 1997 121.9 108.9 156.7 111.6 1998 121.5 107.8 156.6 113.1 1999 130.7 116.6 168.4 114.7 * Fonte: IBGE/Safras e Mercados/Agroanalysis - Set.00 Esta atividade utiliza grande quantidade de agrotóxicos com o objetivo de aumentar a sua produtividade e como conseqüência do significativo aumento da produção física na agropecuária brasileira, percebemos o aumento proporcional na produção de embalagens rígidas e flexíveis para as empresas produtoras de agroquímicos. Na safra de 87/88 as embalagens de vidro e de metal correspondiam a 74,8% das embalagens que acondicionavam produtos líquidos, enquanto 25,2% eram de embalagens plásticas. Percebemos uma inversão nestes percentuais, na safra de 95/96 quando o percentual de embalagens plásticas utilizadas para acondicionar produtos líquidos correspondiam a 88,5% do total de embalagens enquanto as de vidro e metálicas eram apenas 11,5%. Este aumento se deu principalmente após a publicação da Lei 7.082 de 11/07/89 e do decreto 98.816 de 11/01/90, pois foi estabelecido que a utilização de embalagens de vidro só seria permitido caso não houvesse outra alternativa técnico viável. Em 97/98 a participação das embalagens plásticas para acondicionamento de produtos líquidos subiu para 96,3% do total e em 1999 ocorre um aumento de 20,2% em relação à quantidade de embalagens plásticas de 97/98 o que corresponde a 58.117.868 unidades de embalagens plásticas comercializadas no Brasil para defensivos agrícolas em 99/00. A tabela 2 nos mostra as quantidades de embalagens de defensivos agrícolas comercializadas no Brasil em 1999. Em 2002, no período de Março a Julho, segundo dados do INPEV (Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias), a retirada de embalagens vazias que envolveu os Estados de: MT, MS, PR. BA, SP, MG, RS, GO, PE e SC, corresponde a 1.891.179 Kg que representa, apenas 8,01% do total em Kgs comercializados no Brasil em 1999.

Tabela 2 - Levantamento de embalagens de defensivos agrícolas comercializadas no Brasil ANO BASE - 1999 TIPOS DE EMBALAGENS UNIDADES PESO (KG) PLÁSTICAS PEAD 30.254.857 7.901.854 PET 7.124.140 377.394 COEX 20.738.871 2.194.945 TOTAL 58.117.868 10.474.193 METÁLICAS 2.450.999 2.373.058 TOTAL 2.450.999 2.373.058 FLEXÍVEIS SACOS PLÁSTICOS 22.809.442 548.670 SACOS DE PAPEL 1.538.358 319.292 SACOS ALUMINIZADOS 10.595.932 1.237.013 TOTAL 34.943.732 2.104.975 CARTUCHOS DE CARTOLINA 1.826.862 824.545 CAIXAS COLETIVAS DE PAPELÃO 10.164.189 7.794.595 CAIXAS COLETIVAS DE PLÁSTICO 316.051 29.681 TOTAL 12.307.102 8.648.821 TOTAL GERAL 107.819.701 23.601.047 Fontes: ANDEF - AENDA - SINDAG 3. O QUE ESTÁ SENDO FEITO QUANTO AO DESCARTE DAS EMBALAGENS? A questão da proteção ao meio ambiente, traduz-se numa preocupação mundial. A água é um bem finito e o Brasil possui a maior reserva de água potável do planeta, isto faz de nós brasileiros, guardiães desta preciosidade e desperta-nos para a grande responsabilidade que temos nas mãos. Há alguns anos, o que víamos era o profundo descaso para com a natureza. Será que mudou alguma coisa? No setor agropecuário, um dos mais importantes da nossa economia, víamos o descarte inadequado das embalagens de agroquímicos no campo, na beira dos rios, córregos e nascentes e até mesmo em aterros impróprios que contaminavam os lençóis freáticos. Hoje, constatamos um avanço significativo no Brasil quanto ao uso, descarte e destino final das embalagens de agroquímicos com a aprovação da Lei 7802 de 11 de julho de 1989, regulamentada pelo decreto 4.074 de 04 de janeiro de 2002, que faculta ao usuário de agrotóxicos a devolução de embalagens vazias a qualquer unidade de recebimento (figura 1) ou centro de recolhimento licenciado por órgão ambiental competente e credenciado por estabelecimento comercial. As unidades de recebimento de embalagens estão presentes nos Estados: BA (2), ES (1), GO (4), MA (1), MT (7), MS (7), MG (7), PR(14), PE (2), RS (2), SC (2) e SP (12). Estes, são responsáveis pelo recebimento das embalagens, encaminhando-as posteriormente às unidades recicladoras. A unidade de recebimento de Rio Verde/GO, recebe em média, 40 t /mês e ainda, está aquém do que realmente deveria estar recebendo. O percentual de embalagens vazias retiradas no Estado de Goiás, representa 3% do total comercializado no Estado em 1999, segundo dados da ANDEF (Associação Nacional de Defesa Vegetal) e ainda existe grande resistência, principalmente por parte dos pequenos e médios produtores rurais em não entregar suas embalagens vazias aos postos de recebimento, preferem mantê-la em sua propriedade, armazenadas em locais inadequados e ou abandonadas no campo, oferecendo risco de contaminação. Segundo a unidade de recebimento de Rio Verde, ainda existem muitas embalagens estocadas no Campo.

Percebemos então, que há necessidade de uma fiscalização mais intensa por parte dos órgãos responsáveis para que se cumpra as determinações previstas na Lei 7802, tornando mais eficiente o sistema proposto. Figura 1. Unidade de recebimento 3.1. Projetos de destino final de embalagens Projeto Guariba - São Paulo: Este projeto que teve início em 1993, é o que representou maior esforço conjunto já realizado no Brasil com o intento de centralizar e dar destinação adequada às embalagens vazias de produtos fitossanitários. Trata-se de um programa pioneiro no Brasil e na América Latina. O projeto é composto de: Unidades de recebimento de embalagens, unidades de beneficiamento do plástico (figura 2) (DINOPLAST) e estação de tratamento de efluentes, cujos níveis de resíduos são monitorados pela CETESB. Figura 2. Unidade de beneficiamento do plástico Projeto Terra Limpa (PR) - Teve início em 1995 por iniciativa do governo do Estado. Foram implantadas unidades de recebimento distribuídas nas principais regiões agrícolas do Estado. Estas unidades encaminham as embalagens de metal para siderurgia Rio Grandense S/A e as embalagens de vidro, após moagem são encaminhadas à Cia Industrial de São Paulo e Rio-CISPER.

4. ALTERNATIVAS PARA O DESTINO FINAL DAS EMBALAGENS DE FITOSSANITÁRIOS 4.1. Incineração A incineração é um processo bastante usado nas grandes metrópoles com o objetivo de destruir resíduos sólidos e líquidos industriais e hospitalares. Os resíduos são incinerados em instalações apropriadas capazes de promover a combustão completa e controlada, de modo a assegurar a total transformação do material e dos resíduos em cinzas inertes e em gases de natureza conhecida e ambientalmente aceitáveis. Apesar de ser uma alternativa técnica e ambientalmente viável para a eliminação de embalagens contaminadas, apresenta limitações de ordem econômica, pelos elevados custos do processo e do transporte, já que a maioria dos incineradores existentes no Brasil estão instalados em São Paulo ou proximidades e as embalagens dispersas por todo o país. Além disso, existem legislações estaduais que nem sempre permitem a movimentação de lixo tóxico de um Estado para outro. Existem no mercado modelos de incineradores compactos para resíduos industriais e de saúde, que operam com baixa capacidade e que apresentam custos menores do que os incineradores convencionais. Estes equipamentos podem ser uma alternativa a nível regional, nas regiões mais distantes das áreas industriais do País. 4.2. Co-processamento em fornos de clinquer (queima com recuperação de energia) A prática do co-processamento consiste na utilização de matéria prima ou sucata combustível com alto poder calorífico para produção de clínquer, utilizado na fabricação do cimento, com aproveitamento da energia calorífica gerada e dos resíduos de incineração incorporados ao clínquer. A queima destes resíduos sólidos para recuperação de energia é controlada com o objetivo de não gerar emissões prejudiciais. Os plásticos são ótimos combustíveis, possuindo praticamente o mesmo poder calorífico do óleo combustível, de outros derivados de petróleo ou do gás natural. Para as embalagens plásticas de produtos fitossanitários o co-processamento em fornos de cimento é plenamente compatível com a política mundial de conservação dos recursos ambientais e energéticos, apresentando-se como uma das opções mais seguras para destruição térmica e inertização dos resíduos. Segundo a EPA8 (Environmental Protection Agency-Agência de Proteção Ambiental, norteamericana), citado pela Ambiência - Engenharia de Recursos Ambientais Ltda., o co-processamento é uma das tecnologias disponíveis mais viáveis para o gerenciamento de resíduos energéticos, além de contribuir para a economia de recursos naturais. No Brasil, há uma enorme quantidade de fornos de cimento espalhados pelo país que podem ser aproveitados para eliminar as embalagens "descontaminadas" de produtos fitossanitários. Outra vantagem, diz respeito aos resíduos da combustão ou cinzas, que são totalmente incorporadas à matriz do clínquer, promovendo a imobilização de eventuais metais pesados e, desta forma, a eliminação da necessidade de descartá-los em aterros industriais. Segundo a Ambiência, a eficiência de destruição em forno de cimento normalmente excede às de um incinerador convencional, tornando-o mais eficiente, capaz de destruir 99,9999% dos contaminantes, além do menor custo operacional. Embora apresente uma série de vantagens, esta alternativa não é auto-sustentável, exigindo permanente dispêndio de recursos por parte dos envolvidos no co-processamento, devido ao custo da movimentação das embalagens. 4.3. Queima a céu aberto A queima de embalagens adequadamente lavadas de produtos fitossanitários deve ser vista como uma alternativa com muitas restrições. Só poderá ser realizada com autorização dos órgãos ambientais competentes e com a recomendação do fabricante do produto, quando não houver uma outra alternativa disponível de menor impacto ambiental.

As embalagens não contaminadas, como cartuchos de cartolina, caixas coletivas de papelão e fibrolatas podem ser queimadas em fornalhas de agro-indústrias rurais, principalmente quando não houver uma outra opção ambientalmente mais correta. 4.4. Enterro na propriedade Embora esta alternativa seja trabalhosa e apresente uma série de adversidades, é a recomendação que consta atualmente nos rótulos e bulas dos produtos fitossanitários. Atualmente, o IBAMA não está recomendando o enterro na propriedade. No Estado do Paraná, por exemplo, a SUDERHSA (Superintendência de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental) tem orientado os produtores rurais a realizar a tríplice lavagem, inutilizar as embalagens e armazena-las em local seguro até que sejam levadas a um ponto de recebimento para o destino final adequado. A construção de fosso para enterro de embalagens não-contaminadas poderá ser uma alternativa para embalagens biodegradáveis, como as de cartolina, de papelão, de metais oxidáveis e de madeira, desde que autorizada pelos órgãos ambientais estaduais competentes. Materiais com longa sobrevida, como as embalagens plásticas e de vidro, não são indicados para enterro, devido ser impraticável para grandes quantidades de embalagens nas propriedades, a ocupação de áreas agricultáveis, o risco de contaminação do lençol freático quando utilizadas embalagens contaminadas e a operação trabalhosa e de custo significativo. 4.5. Aterro sanitário licenciado Esta alternativa apresenta praticamente as mesmas características citadas no item anterior. Diferencia-se, no entanto, por tratar-se de uma operação normalmente realizada de forma mais técnica e planejada, onde os riscos são controláveis, todavia, acaba concentrando o problema em uma área restrita. 4.6. Reciclagem controlada As matérias-primas normalmente utilizadas nas embalagens que acondicionam produtos fitossanitários são potencialmente recicláveis. Todavia, deve-se considerar que o contato do produto tóxico com a embalagem torna necessário um estudo mais detalhado para cada caso, considerandose as etapas de lavagem e redução de resíduos, preparação e destinação do artefato reciclado final. Dentre os materiais utilizados na confecção de embalagens, o plástico apresenta maiores limitações, pois a temperatura necessária para fusão é baixa (aproximadamente 150 a 170ºC), insuficiente para desativar as moléculas dos princípios ativos e dos componentes da formulação que são absorvidos pelas paredes da embalagem. Por esta razão, o plástico reciclado não poderá ser utilizado para fabricação de produtos que possam expor a saúde das pessoas e de animais a riscos de contaminação, como embalagens para alimentos, brinquedos, utensílios domésticos, etc. A reciclagem controlada é uma das alternativas mais viáveis para o destino final de embalagens de produtos fitossanitários, pois possui a característica de ser uma opção lucrativa para o reciclador. 4.6.1. Embalagens de metal As embalagens de metal são facilmente recicladas pois podem ser encaminhadas para pontos de coleta, prensadas e encaminhadas para siderúrgicas como sucata metálica. No Brasil, há um número significativo de siderúrgicas espalhadas pelo país e que compram a sucata mista metálica a preços que normalmente variam entre trinta e cinqüenta reais a tonelada. A sucata metálica é utilizada como matéria prima nos fornos para fabricação de tarugos de aço. Estes tarugos podem originar produtos como os vergalhões utilizados em construção civil. Os fornos das siderúrgicas trabalham a temperatura de acima de 1600ºC e asseguram a total degradação de moléculas dos princípios ativos e ingredientes inertes das formulações de produtos fitossanitários.

4.6.2. Embalagens de vidro As embalagens de vidro adequadamente lavadas podem, de uma forma geral, ser facilmente recicladas. Para tanto, basta moê-las ou triturá-las os vasilhames e transportá-las às unidades recicladoras, onde serão aquecidas e fundidas à temperatura acima de 1.300ºC, suficiente para degradar moléculas de produtos fitossanitários. Os cuidados básicos antes do envio para a reciclagem são: - Separação dos vidros por cor (âmbar, verde e branco); - Cuidado para evitar mistura com impurezas como areia, pedra e terra. 4.6.3. Embalagens de papelão, cartolina e de papel Embalagens de papelão, cartolina ou material semelhante usadas para acondicionar outras embalagens (Ex: caixas coletivas) podem ser incineradas em fornalhas de agro-indústrias rurais. As embalagens de papel, contaminadas, devem ser incineradas em incineradores industriais. 4.6.4. Embalagens plásticas rígidas As embalagens plásticas rígidas acondicionam o maior volume e peso de produtos fitossanitários atualmente comercializados. Após a entrada em vigor da Lei dos agrotóxicos e do Decreto regulamentador, o percentual de embalagens plásticas rígidas vem aumentando significativamente no Brasil. Basicamente, a reciclagem mecânica é a forma como a indústria converte os resíduos plásticos em grânulos, que são transformados em diversos produtos de uso prolongado e que não exija uma nova reciclagem ou descarte a curto ou médio prazo, como conduítes para fios de eletricidades, tubulações de esgoto, mourões de cerca, postes de iluminação, placas de sinalização, pallets, etc. 5. O PROCESSO DA RECICLAGEM DE EMBALAGENS RÍGIDAS DE AGROTÓXICOS Este processo inicia-se quando os usuários imediatamente após o esvaziamento da embalagem, procedem a tríplice lavagem ou lavagem sob pressão, para evitar que o produto resseque no interior da embalagem. Segundo análises de resíduos realizadas pelo Prof. Casadei de Baptista (ESALQ/USP) - Piracicaba/SP, comprovam que os níveis de resíduos encontrados na 4ª água de lavagem de embalagens de produtos fitossanitários estão dentro dos parâmetros aceitos internacionalmente, sempre abaixo de 100 ppm. As embalagens podem ser armazenadas na propriedade em local adequado por um prazo máximo de 1 ano, contado da data da compra do produto. Neste período, o agricultor deverá encaminhar estas embalagens aos estabelecimentos comerciais onde adquiriram o produto ou às unidades de recebimento mediante documentação, para serem separadas por tipo de material, prensadas, enfardadas ou moídas e encaminhadas às unidades recicladoras para serem transformadadas em matéria prima destinada à fabricação de conduites e canos de esgoto. 6. CONCLUSÃO O que percebemos é que está havendo um esforço do poder público e de organismos da sociedade na tentativa de solucionar a questão do descarte das embalagens vazias de produtos fitossanitários e destacamos a contribuição do INPEV (Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias) que tem se empenhado na solução do problema. Entretanto, não podemos deixar de mencionar a necessidade de se intensificar a fiscalização por parte dos órgãos competentes e ampla divulgação dos procedimentos adequados do descarte de embalagens de produtos fitossanitários (Tríplice lavagem, armazenamento adequado e encaminhamento às unidades de recebimento), para que se alcance um engajamento maior dos usuários destes produtos. Com o intuito de colaborar nesta questão da reciclagem de embalagens como forma de reduzir o impacto sobre o meio ambiente, propomos algumas medidas que certamente contribuirão de forma

significativa para a redução do impacto negativo sobre o meio ambiente que hoje, ainda constatamos, apesar dos esforços até o momento empreendidos: - Criação de embalagens biodegradáveis; - Aumento da quantidade de produtos fabricados a partir da matéria prima obtida com a reciclagem das embalagens de produtos fitossanitários; - Desenvolvimento de novas tecnologias ligadas ao controle biológico de pragas; - Intensificar a fiscalização por parte dos órgãos competentes para que a Lei 7802 seja integralmente cumprida. 7. AGRADECIMENTOS Agradeço a minha querida esposa Adriane pela compreensão e sacrifício dos finais de semana e pela ajuda nas pesquisas deste artigo. Agradeço ainda a Luiz Antônio Menezes pelo apoio e incentivo. 8. REFERÊNCIAS Ambiência - Engenharia de Recursos Ambientais Ltda. Plano Básico para co-processamento em fornos de cimento, 1992. ANDEF - Associação Nacional de Defesa Vegetal - Destinação final de Embalagens Vazias de Agrotóxicos - www.andef.org.br Araújo, R. M., Destino Final de Embalagens de Produtos Fitossanitários - www.andef.org.br INPEV - Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias - www.inpev.org.br Lei 7802 de 11/07/89 RECYCLING OF PACKINGS: AN ENVIRONMENTAL MATTER First author: EDCARLOS DO NASCIMENTO Prof. Instituto de Ensino Superior de Rio Verde Faculdade Objetivo. E-mail: edc_nascimento@hotmail.com Second author: RENAN BILLA Prof. Titular da FEMEC Faculdade de Engenharia Mecânica, UFU. Email: rbilla@mecanica.ufu.br Abstract The aim of this study is to make us better understand the matter of recycling of agrochemical packings as an urgent need for the Brazilian society. With this objective, we will identify what has been done about it, the handling of the packings and possible solutions which might be taken as a means to minimize the problem. The inadequate discard of agrochemical packings, can lead to a contamination of the soil and the occupation of agricultural areas, the contamination of river streams and ground waters which can cause future generations irreparable demage. The agricultural sector is one of the most important of our economy, not only as far as export is concerned, but also of the production for the internal market of a country with continental proportions, whose agricultural production has been growing significantly over the last few years. And to keep up with the necessary productivity for the growth of this sector, agrochemicals are used and this activity is responsible for the huge amount of rigid and flexible packings which hold these products.

In the fulfillment of this study, we realized the need of a more intensive action from the inspection agencies and a bigger commitment from the farmers, mainly the small and medium ones, to the adequate proceedings for handling, storage and sending of the packings to the receiving units. Keywords: Recycling; agrochemicals; environmental preservation; final destination of packings; agriculture.