AGROTÓXICOS E INSALUBRIDADE: ANÁLISE DA PERCEPÇÃO AMBIENTAL DOS AGRICULTORES DE TEIXEIRAS - MG Giovana Oliveira Bugana 1 Eloy Alves Filho 2 Arlete Salcides 3 Resumo Considerando que diversos desequilíbrios ambientais estão ligados ao uso intensivo de agrotóxico como a contaminação do solo, de recursos hídricos, envenenamento de pessoas e animais. Foi feita uma pesquisa no município de Teixeiras MG, acerca da percepção ambiental dos agricultores familiares sobre o uso de agrotóxicos com intuito de descrever a situação de exposição e contaminação ambiental que a população esta sujeita. Foram coletados dados primários, através da aplicação de questionários semi-estruturados, entrevistas gravadas, análises de campo e fotodocumentação. Cerca de 28,5% afirmaram não usar qualquer tipo de roupas de proteção no manuseio dos equipamentos, pois acreditam que não irá prejudicá-los futuramente e 71,5% disseram que máscaras e/ou luvas são suficientes para proteção, 20% já apresentaram dores de cabeça, ardência na pele e problemas respiratórios após uso dos agrotóxicos. Conclui-se que os agricultores correm sérios riscos á saúde e urge que as instâncias governamentais tomem as providências que propicie a qualidade de vida das famílias do campo e evite a contaminação dos recursos naturais. Palavras Chaves: Recursos Naturais; Contaminação; Agricultura; Educação Ambiental Introdução O município de Teixeiras está localizado na zona da mata mineira que se insere no bioma Mata Atlântica, tem sua economia concentrada na agricultura familiar e na pecuária. Entre as atividades agrícolas desenvolvidas estão: café, arroz, feijão, mandioca, milho, tomate e verduras com o emprego de consideráveis quantidades de insumos químicos e principalmente de agrotóxicos. 1 Graduanda do Curso de Geografia, Universidade Federal de Viçosa e bolsista da PIBIC/ CNPq. Email: giovana.bugana@ufv.br 2 Docente do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Viçosa. Email: eafilho@ufv.br 3 Docente UNIPAMPA Universidade Federal do Pampa, Jaguarão RS. Email: arletesalcides@terra.com.br
Considerando que diversos desequilíbrios ambientais estão ligados ao uso intensivo de agrotóxico como a contaminação de recursos hídricos, persistência de resíduos de mercúrio, chumbo e cianeto por longos anos em solos, dispersão de resíduos na atmosfera, eliminação de insetos benéficos, insetos polinizadores e predadores naturais, além do envenenamento de pessoas e animais pelo consumo direto dos biocidas ou alimentos contaminados por eles. (LAMBERT, 1993) Neste contexto, o objetivo deste trabalho foi produzir informações acerca da percepção ambiental dos agricultores familiares sobre o uso de agrotóxicos com intuito de descrever a situação de exposição e contaminação ambiental que a população de Teixeiras esta sujeita. A análise final, têm a perspectiva de que os dados da pesquisa possam ser tomados como referências pelas instâncias governamentais preocupadas em qualificar a saúde na zona rural, adotarem medidas de segurança e promoverem atividades educativas mitigadoras dos impactos ambientais negativos ocasionados pela intervenção do ser humano no meio ambiente. Materiais e Métodos A pesquisa de campo foi realizada entre os meses de outubro de 2009 a janeiro de 2010, composta por uma amostra representativa de 35 produtores rurais selecionados aleatoriamente. Foram coletados dados primários através de entrevistas que foram gravadas e da aplicação de questionários semi-estruturados com questões abertas e fechadas; esta última baseada na escala metodológica de Likert o qual apresenta uma série de cinco proposições, das quais o inquirido deve selecionar uma, podendo estas ser: concorda totalmente, concorda, sem opinião, discorda, discorda totalmente. É efetuada uma cotação das respostas que varia de modo consecutivo: +2, +1, 0, -1, -2 ou utilizando pontuações de 1 a 5. Os questionários abordaram questões sobre os tipos de culturas praticadas, tipos de agrotóxicos empregados, tipo de orientação, consciência de toxidade, formas de proteção que o agricultor utiliza, disposição final das embalagens, riscos á saúde e ao meio ambiente e intoxicação associada ao uso. Também alguns dados foram coletados junto aos órgãos fiscalizadores do meio ambiente como IEF Instituto Estadual de Florestas, Secretaria da Agricultura, IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, COPAM Conselho de Política Ambiental, da Secretaria de Meio Ambiente de Minas Gerais, Órgãos de Assistência Técnica localizado no Município, tanto através de documentos e acesso às bases de dados disponíveis como de entrevistas com representantes de cada instituição. Para a análise das condições ambientais das propriedades rurais foram feitos estudos de campo e fotodocumentação com câmera digital de 5 mega pixels. Os dados foram processados, tabulados em planilhas Excel, que geraram tabelas e gráficos que foram devidamente analisados e comparados.
Resultados e Discussão Os dados dos questionários da pesquisa demonstram que 74,2% dos entrevistados consideram que os agrotóxicos são venenos e 25,8% remédio. Entretanto, cerca de 94,2% do total entrevistados atestam que o biocida é muito importante ou importante para a agricultura para matar as pragas e evitar doenças que aparecem nas culturas, a vista disso, não acreditam que possam desenvolver a produção agrícola sem a aplicação dos fitossanitários e apenas 5,7% apontaram os biocidas como sem importância para as lavouras e justificaram que há os meios alternativos que agroecologia propõe para evitar as moléstias que atacam as plantações sem danificar a saúde e os recursos naturais. Constatou-se que os tipos de agrotóxicos empregados nas culturas desenvolvida de café, milho, tomate e verduras, são herbicidas, inseticidas e fungicidas e estão entre os mais insalubres, pois cerca de 73,3% dos 15 biocidas diagnosticados apresentam toxidade de classe I - extremamente tóxica ou classe II - altamente tóxica, 13,3% pertence a classe III - medianamente tóxica e 13,4% a classe IV - pouco tóxica. Não obstante, vários desses agrotóxicos também são utilizados em culturas diferentes daquelas específicas do produto e ainda em doses indevidas, pois, os técnicos agrícolas prescrevem apenas o nome do biocida sem oferecer a orientação ao produtor sobre o correto manejo de agrotóxicos e de seus perigos, neste sentido, o agricultor determina a quantidade por conta própria ou segue as recomendações de vendedores ou visinhos. Tabela 1: Quadro demonstrativo de alguns dos 15 agrotóxicos empregados Nome Comercial Tipo Classe toxicológica Endossulfan AG Inseticida I Thiodan Inseticida II Klopan 480 Inseticida II Round up Herbicida IV Derosal Fungicida III Fonte : Dados da Pesquisa Como pode ser visualizado no Gráfico 1, cerca de 28,5% afirmaram não usar qualquer tipo de roupas de proteção no manuseio das substâncias químicas, pois justificaram que aplicam poucas vezes e acreditam que os agrotóxicos não irão prejudicá-los futuramente, outros 71,5% disseram que usam apenas máscaras e/ou luvas para evitar o cheiro forte e irritante do produto para os olhos, narina e o contato direto da substância com as mãos e ainda concluíram que os equipamentos de proteção completa são pesados, quentes e custam caro e não foi encontrado nenhum entrevistado que usa proteção completa. Entretanto, 20% da
amostragem geral dos entrevistados, já apresentaram sintomas como dores de cabeça, ardência na pele e problemas respiratórios após uso dos agrotóxicos. Constatou-se que a destinação final das embalagens dos biocidas é um problema gravíssimo que precisa ser urgentemente saneado como pode ser visualizado na imagem 1, pois, 82,8% destinam as embalagens ao depósito irregular de lixo do município, sem qualquer sistema de adequação sanitária que está localizado próximo as propriedades rurais pesquisadas. Não obstante, 17,2% reutilizam as embalagens para guardar sementes, fertilizantes ou alimentos para animais, pois acreditam que após serem lavadas não sobram resíduos para contaminar algo que esteja guardado nesses recipientes Imagem 1 : Local da disposição final das embalagens de Agrotóxicos; no depósito irregular de lixo do Município de Teixeiras MG. Fonte: Dados da Pesquisa
Conforme analisa Scorza Júnior, (2008) os agrotóxicos podem ser transportados pela ação das águas de chuvas ou das irrigações por meio do escoamento superficial e atingir rios, lagos, córregos, açudes, entre outros, ou transportados por lixiviação e atingir camadas profundas do solo e chegar ao lençol freático. Dessa forma, a disposição final das embalagens dos fitossanitários podem estar contaminando através da infiltração e/ou escoamento de resíduos do produto, os solos, lençóis freáticos e corpos d água superficiais entorno do lixão. Contudo, quando questionados se haveria possibilidade de contaminação do solo e das águas subterrâneas por infiltração de resíduos dos agrotóxicos, cerca de 91,4% desses entrevistados não acreditam que isso possa ocorrer, pois, justificaram que as quantidades de resíduos nas embalagens descartadas são muito pequenas para contaminar. Estes dados revelam que o agricultor corre sérios riscos, além de várias áreas estarem sendo contaminadas por estas substâncias químicas tóxicas, fundamentalmente na região próxima do depósito irregular de lixo. A prefeitura de Teixeiras MG, precisa urgentemente escolher um local adequado longe do município e de comunidades para a construção de um aterro sanitário. Esta forma de deposição final dos resíduos representa uma solução adequada e evolução em relação ao destino dos descartes dos resíduos sólidos, pois consiste na forma controlada de deposição desses materiais, pois evitam causar danos ou riscos à saúde pública e à segurança, minimizando os impactos ambientais. E sobre tudo, criar projetos ambientais em parceria com órgãos públicos, estaduais, federais, iniciativa privada, organizações populares, sindicatos e ONGs, como de educação ambiental das famílias do campo, coleta de embalagens de agrotóxicos, recuperação das áreas degradadas e conservação dos recursos naturais, e propor aos órgãos competentes maior fiscalização do uso irregular de agrotóxicos no município. Referências Bibliográficas Lambert, Mark. Agricultura e Meio Ambiente. São Paulo: Scipione, 1993 Portal EcoDebateCidadania e Meio Ambiente: Agrotóxicos e Recursos Hídricos. Rômulo Penna Scorza Júnior - Pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste, Dourados, MS. Disponível em: <http://www.ecodebate.com.br/2008/01/22/agrotoxicos-e-recursos-hidricosartigo-de-romulo-penna-scorza-junior/> acesso em 12/12/2009