UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ACADÊMICO DE VITÓRIA NÚCLEO DE BIOLOGIA Relato de Experiência: observação do comportamento dos alunos na vivência de uma aula Prática de Fermentação Luis André de Almeida Campos, Rita Santana dos Reis, Wilton Santana de Melo, Robervânia Maria de Oliveira, Gisele de Oliveira Silva. Resumo As aulas práticas são importantes estratégias no processo de ensino-aprendizagem dos conteúdos da Biologia por contribuírem na construção do conhecimento científico. Proporcionam maior aproximação dos acontecimentos dos fenômenos biológicos explorados teoricamente, evidenciando situações que a teoria em si não garante para a construção dos modelos mentais. Sabendo dessa importância o presente trabalho vem descrever o efeito da aula prática sobre fermentação através da observação do comportamento dos alunos por meio da participação deles no decorrer da aula, e pelas respostas obtidas através de problematizações que estimularam o espírito investigador dos alunos, bem como a capacidade de criar e reestruturar esquemas mentais, exigindoos articulação de outros conhecimentos para explicação do fenômeno. Palavras-chave: aulas práticas, fungos, fermentação. Introdução A fermentação é um conteúdo estudado no ensino médio por assumir importância por se correlacionar com outros assuntos também relevantes para o ensino e compreensão dos fenômenos biológicos. Trata do resultado da interação e do comportamento fisiológico dos microrganismos com processos metabólicos para a degradação de carboidratos e a obtenção de energia orgânica, o que determina produtos com utilização em larga escala. Este processo é utilizado na indústria alimentícia para a produção de massas e para a obtenção de combustíveis e bebidas alcoólicas, as quais dependem diretamente de diferentes formas de fermentação pelo processamento de ingredientes naturais. Como resultado da degradação das macromoléculas surgem
subprodutos como o ácido láctico, o etanol e o ácido acético; mas também são produzidos outros compostos, insumos na indústria química a exemplo de diversos ácidos, alcoóis e cetonas (AMABIS & MARTHO, 1994, FERREIRA et al., 2007, JUNQUEIRA & CARNEIRO, 2004). Em muitas propostas de ensino o conteúdo fermentação é tratado fora do contexto, sem as devidas retomadas e interações a outros conceitos significativos para o entendimento do processo e do resultado de seus produtos. Sabe-se que as aulas práticas estimulam um maior interesse nos alunos, ajudando-os com o desenvolvimento de conceitos científicos, além de permitir que os alunos aprendam como abordar objetivamente o seu mundo e como desenvolver soluções para problemas complexos (LUNETTA, 1991). Esse tipo de abordagem possibilita o desenvolvimento do caráter investigativo do aluno, assim como cria a possibilidade de relacionar os conhecimentos prévios, mesmo quando estes são empíricos, com os conhecimentos que devem ser (re)construídos. Em uma análise realizada por Capeletto (1992) o mesmo afirma que as aulas práticas funcionam como um poderoso catalisador no processo de aquisição de novos conhecimentos, pois a vivência de uma certa experiência facilita a fixação do conteúdo a ela relacionado. Por isso elas se mostram como um recurso de suma importância nos processos de assimilação e construção de conhecimentos. Por reconhecermos o significado e a relevância de se trabalhar muitos dos assuntos biológicos atrelados a atividades práticas, definimos como objetivo deste trabalho compreender o efeito que a atividade prática sobre o conceito fermentação desencadeia na atenção e na aprendizagem dos alunos através da observação do fenômeno simulado. Metodologia Esta intervenção foi realizada com alunos do segundo ano do ensino médio de uma escola estadual participante do projeto PIBID/Biologia do Município de Vitória de Santo Antão - PE. A metodologia consistiu na execução de uma aula prática sobre fermentação, correlacionando as abordagens e conteúdos trabalhados em aula teórica o Reino Fungi, assunto o qual já estava sendo estudado pelos alunos quando sentimos a necessidade de trabalha-lo também com intervenção prática. Para desenvolvimento do experimento utilizamos três tubos de 500ml, 300ml de água morna, 3 balões de festa, fermento biológico, açúcar e fita adesiva como materiais para montar a atividade e expor as variáveis. Em cada tubo colocamos 100ml de água morna: no primeiro colocamos também duas colheres sopa de açúcar; no segundo, além
da água, colocamos duas colheres sopa de fermento biológico; no terceiro adicionamos duas colheres sopa de açúcar e duas de fermento biológico. Depois de adicionarmos esses substratos, diversificando entre eles, colocamos um balão de festa na extremidade aberta de cada um, seguindo com a vedação pelo uso de fita adesiva. Após toda essa etapa, agitamos os tubos e solicitamos que os estudantes considerassem um tempo determinado, comum para todos os tubos, e então observassem o que acontecia com o balão. Utilizamos a estratégia da observação para que os alunos trabalhassem o conteúdo sobre a fermentação, onde os mesmos necessitavam acompanhar as mudanças de comportamento dos balões. Paralelamente ao que acontecia, realizávamos perguntas para ampliar o grau de observação dos estudantes. Após toda a intervenção seguimos com questionamentos do tipo: o que vocês acharam da aula prática?, Gostam mais de aula teórica ou prática? e Qual a importância da aula prática na aprendizagem de vocês? para avaliarmos o grau de satisfação dos estudantes ao participarem de uma proposta de intervenção diferente do restritamente teórico e expositivo. Resultados e Discussão Na execução da aula prática, logo quando foi anunciado que iríamos realizar um experimento envolvendo reações biológicas e químicas, notamos o imediato interesse dos alunos, pois eles começaram a questionar o que iriam fazer e o que eles iriam ver. Como meio de envolvê-los ainda mais não antecipamos os acontecimentos, apenas os orientamos a participarem observando o que estava acontecendo. Desejávamos que os estudantes evidenciassem determinados acontecimentos correlacionando-os com os conhecimentos já trabalhados nas abordagens teóricas expositivas. Iniciamos a intervenção realizando o experimento, o qual aconteceu passo a passo como descrito na metodologia. Após agitarmos o primeiro tubo constataram que o balão permaneceu estático. Realizamos o mesmo procedimento com o segundo tubo e os estudantes constataram que não ocorreu alteração com o balão. Apenas no terceiro balão é que foi possível constatar evidenciar que alguma alteração aconteceu com a solução (água morna, açúcar e fermento biológico), determinando aumento de volume interno no balão inflou. Com tal episódio, notamos que os estudantes ficaram surpresos e intrigados com o acontecimento no terceiro e pela negativa alteração nos dois primeiros. De imediato seguiram lançando alguns questionamentos do tipo: porquê o balão inflou?. Logo
após a indagação, as hipóteses começaram a surgir. Alguns disseram É porque entrou ar. Mas logo esta hipótese foi refurtada porque todos os tubos estavam muito bem vedados com os balões. Seguimos provocando o imaginário dos estudantes, estimulando-os a relacionar o acontecido com conhecimentos discutidos em aulas teóricas. Então nesse momento convidamos a pensar, usar o conhecimento que eles já possuíam para encontrar uma explicação para o fenômeno. Através de questionamentos instigadores da curiosidade, os estudantes foram pensando sobre o que tínhamos colocado nas garrafas. Começaram a fazer conexões entre os conhecimentos da bioquímica e do assunto que estavam estudando (Reino Fungi). Concluíram que o açúcar é fonte de energia, constituído de moléculas de carboidratos, e ele quando adicionado a água apenas seria dissolvido, e não liberaria nenhuma gás. Lembraram que no fermento biológico nós encontramos um tipo de fungo o Saccharomyces cerevisiae, que está relacionado à fermentação alcoólica, e quando adicionado à água sem mais nenhum outro produto, também não liberava nenhum gás. Contudo, quando se coloca na água morna o açúcar com o fermento biológico, o açúcar passa a ser a fonte de energia para o fungo que está presente no fermento, e acontece à fermentação, que nesse caso formou etanol e liberou gás carbônico. Com esta intervenção simples foi perceptível o interesse dos alunos e o espírito investigador que foi estimulado. Percebemos que foi importante esse experimento e com esse assunto, visto que a fermentação está ligada diretamente ao cotidiano deles, pois ela é utilizada na fabricação de bebidas alcoólicas, na formação de diversos derivados do leite e na fabricação do pão. Outra impressão forte que nos foi transmitida é a capacidade deles criarem esquemas mentais utilizando outros conhecimentos para resolver, ou melhor, para explicar um fenômeno. Ao perguntarmos, sobre como foi à aula, eles diziam Foi muito boa, melhor estar aqui do que na sala, aqui vemos as coisas acontecendo, Foi divertido, fez nós pensarmos sobre várias coisas, e eu nem sabia que bebida alcoólica era fabricada assim, É melhor aprender assim, exige de nós conhecimento, nós fazemos as coisas acontecerem e podemos comprovar e entender as coisas lá fora. Diante das observações e respostas obtidas, percebemos claramente que as aulas práticas simbolizam papel importante na construção do conhecimento científico, onde os alunos formulam as hipóteses, relacionam informações e conhecimentos, resolvem os problemas complexos, explicam os fenômenos e (re)constroem o conhecimento já
discutidos teoricamente. Essa experiência nos mostrou com nitidez que essas aulas funcionam como verdadeiros catalisadores de aquisição do conhecimento científico. Considerações Finais O desenvolvimento da aula prática sobre fermentação foi uma atividade de grande importância para o processo de ensino-aprendizagem, pois proporcionou uma maior aproximação entre o conteúdo e os alunos. Além disso, permite que os alunos questionem e formulem hipóteses através da observação das reações e fenômenos que aconteceram durante o decorrer da atividade. Dessa forma é possível perceber que as aulas práticas com experimentos devem ser mais utilizadas pelos docentes, como ferramenta de construção e debate do conhecimento e não como método que apenas reproduz o conhecimento do livro, sem envolver o aluno. Portanto, as aulas práticas com experimentação demonstra serem eficazes quando são utilizadas da melhor forma. Ações como estas permitem que se desenvolvam habilidades essências nos participantes do Programa Institucional de Bolsa a Iniciação a Docência PIBID, tendo em vista que serão professores e executarão aulas como esta durante sua vida profissional. Referências Bibliográficas CAPELETTO, A. Biologia e Educação ambiental: Roteiros de trabalho. São Paulo: Ática, 1992. AMABIS, J. M.; MARTHO, G. R. Biologia. São Paulo: Moderna, 1994. JUNQUEIRA, L.C. CARNEIRO, J. Biologia Celular e Molecular. São Paulo: Guanabara KOOGAN, 2004. LUNETTA, V.N. Actividades práticas no ensino da Ciência. Revista Portuguesa de Educação, v. 2, n. 1, 1991.