EDGAR ALLAN POE: EXCENTRICIDADE x GENIALIDADE



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EDGAR ALLAN POE: EXCENTRICIDADE x GENIALIDADE Vanessa Sócio (G UENP / campus Jac.) Viviane Calzado Brandi (G UENP / campus Jac.) viviane.clz@gmail.com Fernanda de Cássia Miranda (Orientadora UENP / campus Jac.) Vida atribulada Assim como muitos escritores famosos, Edgar Allan Poe atrai leitores tanto pelos mistérios que circundam sua vida particular, quanto pelo de suas histórias e contos. Nasceu em 19 de janeiro de 1809, em Boston, filho de atores, David Poe Jr. e Elizabeth Arnold Hopkins Poe. Após a morte de seus pais foi levado, juntamente com seus dois irmãos, Willian Henry (1807 1831) e Rosalie (1811 1874), pelo rico casal de comerciantes de tabaco de Richmond, John Allan e France Keeling Allan, os quais nunca o adotaram oficialmente, mas deram a ele seu sobrenome, Allan. O fato de Poe ser um jovem aventureiro, idealista e boêmio, diga-se de passagem, o levou a uma série de problemas durante sua vida. Estudou na escola londrina Stoke-Newington em 1815, e em 1820 voltou para Richmond onde freqüentou a Universidade da Virgínia em 1926, na qual pode estudar poesia e amava atuar, mas onde mais tarde foi expulso por motivos comportamentais. A vida boêmia de Poe começou a ser um problema quando ele começou a adquirir dívidas de jogo, motivo o qual o levou a romper com seu pai adotivo, John Allan, e se alistar no exército dos Estados Unidos em 1827, onde serviu pelo período de dois anos, sendo mais

tarde expulso, pelos hábitos inaceitáveis para a época. No primeiro ano em que estivera no exército, escreveu e publicou seu primeiro livro, Tamerlane and other poems e também Dreams que foi publicado no Baltimore North American, Após lutar ao lado do exército grego contra os turcos, chegou até a Rússia onde foi repatriado pelo cônsul americano. Ao chegar de volta à América descobre que sua mãe adotiva havia falecido, e após esse acontecimento, atendendo ao pedido feito por sua mãe adotiva no leito de morte, se reconcilia com o pai, e é com a ajuda deste que se alista na Academia Militar de West Point em 1929. Nesse mesmo ano o escritor publica seu segundo livro Al Aaraaf, porém fica pouco tempo na academia, pois acaba sendo expulso um ano após sua admissão, em 1831, por seu comportamento arredio. Sua saída da Academia Militar e o casamento de seu pai adotivo com outra mulher, abalaram definitivamente a relação delicada entre Poe e o pai, John Allan, que passou a repudiá-lo, até o dia de sua morte em 1834. Após essa série de acontecimentos Edgar A. Poe, muda-se de volta para Baltimore, onde foi viver com sua tia viúva, Maria Clemm, e com sua prima Virgínia Clemm. Neste período Poe vive miseravelmente, escrevendo como meio de sobrevivência, e neste período lança Poems. Viveu dessa forma miserável até o final de 1835, quando se tornou editor do jornal Sothern Literary Messenger em Richmond. Em 1936, casa-se com sua prima Virgínia, em segredo. Antes de se mudar para a Filadélfia, morou em Nova Iorque com a esposa durante pouco mais de um ano, e durante sua estada na cidade pode finalizar e publicar The Narrative of Arthur Gordon Pym. Já estabelecido na Filadélfia torna-se editor assistente da Burton s Gentleman s Magazine, durante sua estada na revista publica várias histórias, artigos e críticas e neste mesmo período tem publicado Tales of the Grotesque and Arabesque, uma coleção de dois volumes, que recebeu o título de Baudelaire, quando traduzida para o francês. Após deixar o emprego de

editor assistente, volta para Nova Iorque e trabalha por pouco tempo no Evening Mirror, onde tem publicado o poema que lhe renderia fama e popularidade nacional e internacional, The Raven and other Poems (O Corvo e outros poemas), em 1845, nessa mesma época teve publicado Eulalie e To Helen. Poe continuou a escrever poesia, ensaios críticos e contos os quais incluem Ulalume, Eureka e The Cask of Amontillado, estes datam de 1946. Em 1947, sua vida é mais uma vez abalada, pela morte da esposa, vítima da tuberculose, doença que vitimara sua mãe biológica e seu irmão Willian Henry. Transtornado com a perda da mulher, Poe se entrega cada vez mais ao alcoolismo. Após a falência do Brodway Journal, Poe voltou para o lugar que fora sua primeira residência quando em Nova Iorque, sua casa no Bronx, que hoje tem o nome de Poe Cottage (O chalé de Poe), e está aberta a visitas. Após um noivado fracassado com Sarah Helen Whitman, devido ao comportamento destrutivo de Poe, este volta para Richmond, onde se encontra com seu amor de infância, Sarah Elmira Royster, com quem inicia uma relação. Sua morte se dá no dia 03 de outubro de 1949 em Baltimore. Foi encontrado por um amigo na rua, vestindo com roupas que não lhe pertenciam e em estado de delírio. Foi então levado para o hospital Washington College Hospital, aonde depois de quatro dias veio a falecer. Destes dias pouco se consegui extrair de Poe para saber o que havia o levado à aquelas condições, mas devido ao seu discurso incoerente isso não foi possível. Existem inúmeras teorias para o caminho que guiou Poe até àquele estado, desde embriaguez, overdose por ópio e até mesmo envenenamento. Suas últimas palavras teriam sido: It s all over, write Eddy is no more. Está tudo acabado, escrevam Eddy já não existe.

Efeitos específicos e únicos A princípio a literatura americana podia ser vista como um espelho da literatura europeia, o que era normal já que os escritores americanos tinham grande influência vinda dos clássicos europeus. Durante a busca por uma identidade própria na literatura surgiu o conto, que Washington Irving, um dos contistas precursores, considerava como uma tela, na qual o escritor podia esboçar seus temas, desde os mais corriqueiros aos mais elaborados. Apesar de já ser usado há muito tempo, foi Edgar Allan Poe o primeiro a visualizar o conto como forma de arte. Poe acreditava que assim como nas obras de arte, cada cor tinha um efeito prévio, nos contos cada personagem, cada complemento de cena tinha um efeito já previsto e que visava um determinado fim. Para Poe tudo funcionava como uma engrenagem, na qual todas as peças tem uma finalidade, e é esse conjunto que impulsiona o enredo para frente. He influenced the course of creative writing and criticism by emphasizing the art that appeals simultaneously to reason and to emotion, and by insisting that the work of art is not a fragment of the author s life, nor an adjunct to some didactic purpose, but an object created in the course of beauty... (The American Tradition in Literature,1962). Essa visão de engrenagem pode ser identificada na escolha dos lugares ou cenários dos contos, diferentes de outros contistas que buscavam lugares conhecidos, para situar o leitor, Poe não tinha essa preocupação, não se interessava pelo lugar em si, mas pelos fatores que o favoreceriam, por isso ele fazia a escolha do cenário que seria mais propício a seu enredo e só depois acrescentava as cores que contribuiria para o

efeito final, nos contos modernos o enredo fazia parte da natureza do personagem. E foram tais visões que anunciaram o conto moderno. Diferente de muitos escritores da época, Poe procurava criar um enredo simples e sem aparente profundidade, para isso utilizav a alguns efeitos, e são eles que tornam as obras do escritor tão atraentes ao leitor, entenda-se por efeitos os caminhos que Poe utiliza para fazer com que o leitor entre no mundo criado por ele, e participe da história. Poe escreveu histórias de mistério, detetive, ficção científica e estórias de horror gótico. Das estórias de mistério / detetive destaca-se The murders in the Rue Morgue, precursora do gênero policial; das de ficção científica destaca-se The Gold Bug ; e das de estórias de horror gótico destaca-se The Raven e The black cat, e foi esse estilo, que circundava questões sobrenaturais, que mais rendeu popularidade a Poe, nacional e internacional. The Black Cat O conto O gato preto O conto O gato preto, que pertence à coleção Contos e Histórias, foi publicado em 1843, a história retrata a vida de um homem que tem a princípio uma personalidade estável, sendo uma de suas principais características a amabilidade que tinha para com sua esposa e animais que o cercavam. Com o passar do tempo o protagonista começa a beber com freqüência e esse processo é acompanhado pela mudança de sua personalidade, que passa a ser a de um indivíduo violento e obsessivo. Essa obsessão encontra um alvo no gato de estimação preto, chamado Plutão, que antes era um fiel companheiro do antes pacato chefe da casa. O que antes era um sentimento de amor e carinho passou a ser um sentimento de

raiva e até mesmo de horror. Um dia, compelido por um sentimento de violência, arrancou um olho do pobre felino, antes seu amigo. Após o ocorrido sentiu-se abatido por um enorme sentimento de arrependimento, porém esse arrependimento era apenas superficial:... mas era um sentimento frágil e equívoco e o meu espírito continuava insensível (POE, 1843, p.37-38) O gato, agora caolho, se recuperou e passou a assombrar o dono ainda mais, pois era uma lembrança viva do ato horrendo cometido pelo proprietário. Mais uma vez, induzido pelo álcool e se sentindo sufocado por aquele sentimento de raiva pelo felino, com uma corda atinge seu objetivo matando o animal sufocado. Passado um tempo, o dono da casa arruma um outro gato preto, que por sinal era muito parecido com o anterior, e esta razão começa a perturbar-lhe o juízo. No decorrer dos dias no porão da casa, decidido a cometer outro homicídio e acabar com aquela situação, acha um machado e o arremessa na direção do gato, mas é subitamente impedido pela mulher, e em uma explosão de fúria o esposo crava o machado no crânio da mulher, o gato por sua vez não se encontrava mais no lugar, devido ao susto que levou com o acontecido, por isso não pode matá-lo também. Feito o crime, era a hora de esconder o corpo, decidiu então emparedá-lo em uma das paredes do porão. O crime parecia perfeito até o dia em que a polícia bateu em sua porta, o autor do crime confiante em sua obra levou os policiais até o local do crime, e como ele esperava ninguém desconfiou de nada. Para se vangloriar o homicida bate com sua própria bengala na parede, e inesperadamente um choro, parecido com o de uma criança surge, era um miado. No mesmo instante a parede foi posta abaixo pelos policiais e o crime foi descoberto, e para a surpresa da polícia e do autor do crime, em cima da cabeça do corpo emparedado estava o gato preto.

Análise De O Gato Preto O conto O gato preto tem algumas das características marcantes de Poe, uma delas é o fato de que a estória é narrada em 1ª pessoa. Essa característica tem uma preocupação com o efeito que procura causar no leitor, Poe não esperava se refletir no seu personagem, o que mesmo sem querer acabou acontecendo algumas vezes, mas tinha a intenção de criar um cenário irreal, em que pudesse confundir o leitor entre a realidade e a ficção, de dar veracidade ao conto. No fragmento abaixo o autor apela para o leitor, tentando convencê-lo da veracidade do conto: Não espero nem solicito o crédito do leitor para a tão extraordinária e no entanto tão familiar história que vou contar. Louco seria esperálo, num caso cuja evidência até meus próprios sentidos se recusam aceitar, No entanto não estou louco, e com toda a certeza não estou a sonhar. (Contos e histórias, 1843. p. 35) A forma com que Poe expõe os pensamentos e argumentos de seu personagem realçam ainda mais o contato com o real. Poe conhecia muito além das formas literárias, mas o íntimo dos instintos humanos, por isso a psicologia se vira para a análise dos contos e histórias de Poe até hoje. Em seus contos, o escritor buscar escrever sobre fatos cotidianos, outra vez para aproximar o leitor do mundo ficcional de seus personagens, para que a familiarização do leitor com os personagens fosse o canal de interação entre os dois mundos, ficção e real. No fragmento abaixo, pode-se verificar o uso da metalinguagem, onde o autor fala de sua própria obra, através de seus personagens: O meu fim imediato é mostrar

ao mundo, simples, sucintamente e sem comentários, uma série de meros acontecimentos domésticos. (POE, 1843, p. 36) O enredo tem uma progressão que pode ser verificada primeiramente, através da evolução psicológica do protagonista. No início da estória o personagem tem personalidade marcadamente calma e amável, o que pode ser comprovado em: Já na minha infância era notado pela docilidade e humanidade do meu caráter. Tão nobre era a ternura do meu coração... Tinha uma especial afeição pelos animais... (POE, 1843, p. 36) A mudança de personalidade se dá de forma gradual, o fragmento a seguir, retrata o início das transformações que protagonista sofreria, fala sobre a amizade deste com o gato, Plutão: A nossa amizade durou vários anos, durante os quais o meu temperamento e o meu caráter sofreram uma alteração radical envergonho-me de confessar para pior, devido ao demônio da intemperança. (POE, 1843. p.37). O principal causador das mudanças psicológicas é citado pelo próprio protagonista-narrador: Mas a doença tomava conta de mim pois que doença se assemelha à do álcool? (POE, 1843, p. 37) As mudanças prosseguem durante o conto, levando o personagem ao passo da loucura: E para minha queda final e irrevogável, o espírito da PERVERSIDADE fez de seguida sua aparição. (...) No entanto, não estou mais certo da existência da minha alma do que no fato de que a perversidade é um dos impulsos primitivos do coração humano. (POE, 1843, p.38). A próxima marcação da evolução psicológica do personagem se dá quando há um grande incêndio na moradia dos proprietários do gato preto, o protagonista justifica o incêndio como uma tentativa de vingança do gato que fora morto por ele no mesmo dia enforcado. Esse pode ser considerado o ápice da loucura do personagem, pois, daí em diante o estado

neurótico do protagonista estava instaurado. Todos os meus bens materiais foram destruídos, e dái em diante mergulhei em desespero. (POE, 1843, p. 39) A obsessão, a neurose, a tensão faziam parte constantemente de suas obras, em O gato Preto não foi diferente. A obsessão do protagonista pelo gato preto é tão grande que levam o mesmo à loucura, já a tensão está presente em todo o conto, visto que o narrador conta à história com suas próprias palavras, e de acordo com sua visão, tornando a história mais sombria. Desde sempre a população em geral fora fascinada pelas questões sobrenaturais, e Poe satisfazia essa curiosidade através de seus contos e dos efeitos citados acima. Na história em análise, segundo Danforth Ross, em seu livro Escritores Norte-Americanos, talvez Poe estivesse mostrando através do personagem sem nome seu próprio estado de espírito conturbado. O leitor se identifica com o sentimento de culpa presente no personagem, pois reconhece esse sentimento em si mesmo, na verdade o que mais atrai os leitores, não era apenas o horror gótico presente na obra, mas o horror neurótico, que faz com que o leitor sinta toda a tensão presente na obra e ao findar sua leitura, não se sinta confortável, mas sim com os nervos à flor da pele. Referências: ROSS, Danforth. O conto Norte - Americano. Escritores Norte - Americanos. Tradução por Edith Ribeiro. Ed. Martins, São Paulo,1964. p. 14 20. POE, Edgar Allan. Contos e Histórias. Ed. Cedic, p. 35-45. BRADLEY S. ; BEATTY R. ; LONG E. H. The American Tradition in Literature. 1. ed. New York: W. W. Norton & Company, Inc,1962. p. 737 741.

GIBSON W; ARMS G. Introduction to Literature. 4. ed. Ed. Holt, Rinehart and Winston Inc. 1966. HAMALIAN L. ; KARL F. R. The Shape of fiction. British and American Short Stories. New York: MCGraw Hill Book Company, 1967. p. 220. Edgar Allan Poe. Disponível em <http://www.wikipédia.com/edgarallanpoe>. Acesso em: 26/07/2009. Edgar Allan Poe. Disponível em: <http://www.online-literature.com/poe/> Acesso em: 26/07/2009 Edgar Allan Poe. Disponível em: <http://www.spectrumgothic.com.br/literatura/autores/allan.htm> Acesso em: 26/07/2009