Estudo do fluxo de calor sensível armazenado no dossel vegetativo em floresta tropical

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Transcrição:

Estudo do fluxo de calor sensível armazenado no dossel vegetativo em floresta tropical Vanessa A. Dantas 1, Glayson F. B. Chagas 1, Vicente P. R. Silva 2, Antonio C. L. Costa 3, Jefferson E. Souza 4 1 Msc. em Meteorologia,Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia INPA,Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Clima e Ambiente CLIAMB, vanessa.dantas@inpa.gov.br / glayson.chagas@inpa.gov.br 2 Meteorologista, Prof. Doutor,, Depto. de Ciências Atmosféricas, UFCG, Campina Grande PB, vicente@dca.ufcg.edu.br 3 Meteorologista, Prof. Doutor,, Faculdade de Meteorologia, UFPA, Belém PA, lola@ufpa.br 4 Msc. em Meteorologia, Instituto de Gestão das Águas e Clima do Estado da Bahia - INGÁ, jeffe@dca.ufcg.edu.br ABSTRACT In the present study the season and annual variations of the sensible heat flow has been analyzed stored by the vegetative canopy of humid tropical forest. The used data in this work had been gotten during the project Study of Seca of the Forest (ESECAFLOR) that subprojeto of the Experiment of Great Scale of Biosfera-Atmosphere in the Amazônia is one (LBA), in firm land forest in the forest reserve of Caxiuanã, in the State of Pará, Brazil. The data of temperature and relative humidity had been collected in the profile of the forest, 8 intervals of m, during the year of 2008, to determine the flow of stored sensible heat in the rainy period (February, March and April) and less rainy (September, October and November). The results had indicated that the flow of sensible heat stored by the canopy of the forest during the experimental year of 2008 was 167,93 W m -2, with average and shunting line 0,96 standard of 0,46 and W m -2, respectively. Keywords: Reserve of Caxiuanã, sensible heat. INTRODUÇÃO O clima global na atualidade é uma preocupação de toda a humanidade, em razão de alterações significativas na freqüência e grandeza com que alguns fenômenos atmosféricos vêm ocorrendo nos últimos anos. As mudanças climáticas em escala global afetam toda a vida no planeta e, portanto, devem ser monitoradas de forma integrada com todas as ciências que tenham alguma interface com os problemas produzidos pela intervenção do homem sobre a biosfera. A superfície da Terra é coberta por aproximadamente 70% de vegetação, desse total, 30% por floresta boreal e o restante em floresta tropical (FAO, 2003). As trocas de energia entre os ecossistemas de floresta e atmosfera manifestam considerável variabilidade espacial e temporal face da complexa interação entre a atmosfera e os elementos biofísicos da floresta (Oliphant et al., 2004). As florestas tropicais são os ecossistemas mais biodiversos do planeta. No entanto, quando se faz um passeio pela floresta, essa biodiversidade é pouco evidente pelo simples fato de que a maioria das atividades na floresta tropical ocorre no dossel vegetativo sobre uma camada de sobreposição de ramos e folhas de 20 a 40 metros acima do solo. Além de o dossel ser o habitat da biodiversidade florestal, ele é a fonte de energia da floresta, com milhares de folhas agindo como painéis solares em miniatura, para converter luz solar em energia fotossinteticamente ativa. Por causa da altíssima taxa de fotossíntese, as plantas geram rendimentos mais elevados de frutos, sementes, flores e folhas, que atraem e oferecem suporte à ampla diversidade de vida

animal. Além disso, como o principal lugar de intercâmbio de calor, vapor d'água e gases atmosféricos, o dossel também desempenha um papel importante no controle climático regional e global (Lowman, 2008). MATERIAL E MÉTODOS: Neste trabalho foram utilizados os dados de temperatura e umidade relativa do ar do ano de 2008 para o cálculo do fluxo de calor sensível armazenado no dossel vegetativo. O presente estudo foi realizado no sítio experimental do projeto ESECAFLOR que está localizado no município de Melgaço, PA, na Floresta Nacional de Caxiuanã, na Estação Científica Ferreira Penna - ECFPn (01º 42 30 S; 51º 31 45 W e 15 m de altitude), administrada pelo Museu Paraense Emílio Goeldi. A floresta nacional de Caxiuanã é formada por uma floresta densa e de terra firme que ocupa cerca de 90% de sua área (Lisboa, 1997). A área experimental está localizada a 1 km de distância a Oeste da sede da Estação Científica Ferreira Penna (ECFPn). A altura média das árvores é em torno de 40 m. O seu solo é classificado como Latossolo Amarelo (Kern, 1996). Viana et al. (2003) descrevem a área da ECFPn como tendo 85% de floresta de terra-firme. O fluxo de calor sensível armazenado no dossel da floresta (S d ) foi calculado com base no gradiente de temperatura do ar, em quatro níveis espaçados de 8,0 m a partir da superfície do solo, totalizando três camadas no interior do dossel vegetativo da floresta, pela equação (McCaughey, 1985): S d = Ti + Ti ρacpδh 2 + 1 j+ 1 3600 Ti + Ti ρacpδh 2 + 1 j Em que, S d é o fluxo de calor sensível armazenado, ρ ar é a densidade do ar (1,3 kg m -3 ), Δh é distância vertical entre os sensores de medidas (8 m), T i é a temperatura do ar nas alturas i e j, que representam cada instante em que se calculou a temperatura média da camada de ar; assim, foi obtida a energia térmica do ar, para cada uma das camadas do dossel vegetativo. O fluxo de calor sensível armazenado no dossel da floresta foi obtido pela diferença entre as somas das energias térmica de cada uma das camadas, estimadas entre intervalos horários, dividindo-se o resultado pelo tempo em segundos, ou seja, 3600 s. RESULTADOS E DISCUSSÃO A Figura 1 exibe o comportamento temporal do fluxo de calor sensível armazenado pelo dossel da floresta durante o ano de 2008. Os valores do calor sensível na floresta são relativamente baixos durante todo o ano de observação. Tais valores representam uma pequena percentagem do saldo de radiação, possivelmente em face da grande quantidade de vapor de água presente em florestas tropicais que é usado para o arrefecimento do ar atmosférico. A média e o desvio padrão do calor armazenado pela floresta durante esse ano foi 0,46 W m -2 e de 0,96 W m -2, respectivamente.

6,0 Calor sensível armazenado (W m -2 ) 4,0 - -4,0 1 26 51 76 101 126 151 176 201 226 251 276 301 326 351 Figura 1. Curso anual do fluxo de calor sensível armazenado durante o ano de 2008 na floresta de Caxiuanã O alto valor do desvio padrão é justificado pelas flutuações naturais dessa variável ao longo de um ano, decorrentes da variabilidade da energia disponível para os processos físicos e químicos que ocorrem na floresta. O valor máximo do fluxo de calor sensível armazenado foi de 4,94 W m -2 no mês de janeiro e mínimo de -2,22 W m -2 no mês de março. A Figura 2 exibe o comportamento temporal dos valores médios mensais do calor sensível armazenado pelo dossel da floresta e do saldo de radiação durante o período chuvoso na floresta, que correspondeu aos meses de fevereiro, março e abril de 2008. No período analisado, enquanto os valores do calor sensível variam entre -2,22 a 4,94 W m -2, o saldo de radiação variou de 94,83 a 526,69 W m -2. O comportamento das duas curvas é semelhante durante o período chuvosos da região, como resultado das flutuações da disponibilidade de energia. Por outro lado, o comportamento temporal dos valores médios mensais do calor armazenado pelo dossel da floresta e o saldo de radiação durante o período menos chuvoso (setembro, outubro e novembro), de 2008, em Caxiuanã, é exibido na Figura 3. Também, nesse caso, o comportamento sazonal do calor sensível armazenado pelo dossel e o saldo de radiação são similares. Entretanto, as variabilidades dessas variáveis foram bem menores, com média e desvio padrão de 0,84 W m -2 e 0,80 W m -2, respectivamente.

Calor sensível armazenado (W m -2 ) 3,0 1,0-1,0 600 500 400 300 200 Saldo de radiação (W m -2 ) - 100 Calor sensível armazenado Saldo de radiação -3,0 32 52 72 92 112 0 Figura 2. Comportamento temporal dos valores médios do calor sensível armazenado pelo dossel da floresta e do saldo de radiação durante o período chuvoso na FLONA de Caxiuanã, PA, em 2008 (fevereiro, março e abril) 3,0 600 500 Calor sensível armazenado (W m -2 ) 1,0-1,0 - Calor sensível armazenado Saldo de radiação 400 300 200 100 Saldo de radiação (W m -2 ) -3,0 245 265 285 305 325 0 Figura 3. Comportamento temporal dos valores médios do calor sensível armazenado pelo dossel da floresta e o saldo de radiação durante o período menos chuvoso na FLONA de Caxiuanã/PA em 2008 (setembro, outubro e novembro) Nas estações chuvosas e menos chuvosas, os valores médios do saldo de radiação foram 340,21 e 430,54 W m -2, respectivamente; enquanto que para o fluxo de calor sensível armazenado pelo dossel da floresta esses mesmos valores foram de -8 e 0,84 W m -2, respectivamente. Portanto, entre os dois períodos, o saldo de radiação sofreu uma redução de 21% em relação ao período menos chuvoso, devido a grande incidência de nebulosidade durante essa época do ano. Souza Filho et al. (2006) constataram uma expressiva variação sazonal do saldo de radiação na Reserva Floresta de Caxiuanã, com redução de 15,3% na estação seca em relação à estação chuvosa no ano de 1999. Por outro lado, Rocha et al. (2004) encontraram maior variação do saldo

de radiação entre essas estações, em uma área de floresta no leste da Amazônia (em Santarém/PA), com média de 140 W m -2 na estação menos chuvosa e de 113 W m -2 na chuvosa. CONCLUSÃO 1. O fluxo de calor sensível armazenado pelo dossel vegetativo da floresta tem forte variabilidade diurna; porém, as suas variabilidades sazonais e anuais são pequenas quando comparadas com o saldo de radiação. 2. O fluxo de calor sensível armazenado pelo dossel da floresta durante o ano experimental de 2008 foi 167,93 W m -2, com média e desvio padrão de 0,46 e 0,96 W m -2, respectivamente. AGRADECIMENTOS A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela bolsa de estudo concedida e ao Museu Paraense Emílio Goeldi MPEG, pelo apoio na coleta dos dados. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FAO (Food and Agricultral Organization of the United Nations). State of the World s Forests 2003. UN FAO, Rome, Italy. Kern, D. C. Geoquímica e pedoquímica em sítios arqueológicos com terra preta na floresta nacional de Caxiuanã (Portel, PA). Belém: UFPA, 1996. p.119. Tese de Doutorado. Lisboa, P. L. B.; Silva, A. S. L.; Soares, S. S. Florística e estrutura dos ambientes. In: Lisboa, P. L. B.(org.). Caxiuanã. Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi, p.163-197, 1997. Mccaughey, J. H. Energy balance storage terms in a nature mixed forest at petawawa, ontario a case study. Boundary layer meteorological, v.31, n.1, p.89-101, 1985. Moore, C.J., Fisch, G. Estimating heat storage in amazonian tropical forest. Agriculture Forest Meteorology, v.38, n.1, p.147-169,1986 Oliphant, A. J.; Grimmond, C. S. B.; Zutter, H. N.; Schmid, H. P.; Su, H. B.; Scott, S. L.; Offerle, B.; Randolph, J. C.; Ehman, J. Heat storage and energy balance fluxes for a temperate deciduous forest. Agricultural and Forest Meteorology. San Francisco, v.126, n.1, p.185 201, 2004. Rocha, H. R.; Goulden, M. L.; Miller, S. D.; Menton, M. C.; Pinto, L. D. V. O.; Freitas, H. C.; Figueira, A. M. S. Seasonality of water and heat fluxes over a tropical Forest in Eastern Amazonia. Ecol. Appl. v.14, n.1, p. S22S32, 2004. Souza Filho, J. D. C.; Ribeiro, A.; Costa, M. H.; Cohen, J. C. P. Mecanismos de controle da variação sazonal da transpiração de uma floresta tropical no nordeste da Amazônia. Acta Amazonica, v.35, n.2, p.223-229, 2005. Viana, J. S.; Almeida, S. S.; Conceição, C.; Ferreira, E.; Alves, N. E.; Silva, R. Comparação estrutural e florística entre os ambientes de terra-firme e igapó do entorno da Estação Científica Ferreira Penna - ECFPn. In: Seminário de 10 anos de atividades da Estação Científica Ferreira Penna, Caxiuanã - Pará, 2003.