MÉTODOS DE APLICAÇÃO DE URÉIA NO ALGODOEIRO IRRIGADO: I QUALIDADE DA FIBRA DA CULTIVAR BRS 201 Maria José da Silva e Luz (Embrapa Algodão / mariajos@cnpa.embrapa.br), José Renato Cortez Bezerra (Embrapa Algodão), José Rodrigues Pereira (Embrapa Algodão), José Marcelo Dias (Embrapa Algodão) RESUMO - Com o objetivo de avaliar a qualidade da fibra do algodoeiro, cultivar BRS 201, submetido a diferentes métodos de aplicação de uréia, foi conduzido um experimento de campo no município de Barbalha, CE, no ano de 2004. O delineamento experimental utilizado foi o de blocos ao acaso com seis tratamentos e quatro repetições. Os tratamentos constituiram-se de métodos de aplicação fracionada de uréia (1/2, 1/3, 1/5 ou 1/6) distribuída em datas previamente determinadas, diretamente no solo ou via água de irrigação. Para a aplicação da quantidade de água em cada evento de irrigação foi utilizado o sistema de aspersão em linha. Pelos resultados obtidos observa-se que não há diferença significativa, a 5% de propabilidade pelo teste Tuckey, entre os métodos de aplicação de uréia para as variáveis testadas. Palavras-chave: Gossypium hirsutum, características tecnológicas da fibra, fertirrigação. UREA APPLICATION METHODS ON IRRIGATED COTTON: I BR S 201 CULTIVAR FIBRE QUALITY ABSTRACT - Objetiving to evaluate BRS 201 cotton cultivar fibre quality under different methods of urea application, a trial was carried out at Barbalha, Ce, on the year of 2004. The experimental design was a randomized block with six treatments and four replications. Treatments were constituted by different fraction of urea (1/2, 1/3, 1/5 or 1/6) that were applied at previous determined dates, manually at the soil or through irrigation water. To apply the water amount at each irrigation event, a splinker irrigation system was used. The variables did not present significant differences between themselves at 5% of probability through Tukey test. Key words: Gossypium hirsutum, fibre technological characteristics, fertirrigation.
INTRODUÇÃO Dentre os macronutrientes que influenciam o desenvolvimento das plantas, o nitrogênio é de vital importância. Embora seja o elemento químico mais abundante na natureza, representando cerca de 78% da composição do ar atmosférico, é o que mais limita a produção das culturas, pois na forma gasosa não é disponível para a maioria das plantas. Segundo Staut e Kurihara (1998), o nitrogênio é o elemento que o algodoeiro retira do solo em maior proporção, chegando a 212 kg.ha -1 para a obtenção de uma produtividade de 2500 kg.ha -1 de algodão em caroço. Gascho e Hook (1985), citados por Costa et al. (1994), verificaram que a eficiência da adubação com nitrogênio (N) na cultura do milho foi maior quando aplicada via fertirrigação com relação à convencional, porque possibilitou o uso do N de maneira mais parcelada e nas épocas mais adequadas, resultando em menor lixiviação, com conseqüente diminuição da contaminação ambiental e reduzindo as perdas sem onerar os custos de produção. Rhoads et al. (1978), trabalhando com solos arenosos na Flórida, EUA, concluíram que aplicações fracionadas de nitrogênio, realizadas de acordo com a curva de absorção do elemento pelo milho, resultaram em produções mais altas do que a aplicação via solo de 1/3 de nitrogênio em préplantio, 1/3 aos 51 dias e 1/3 aos 64 dias após o plantio. Resultados promissores também foram obtidos no Brasil com a cultura do feijão por Cruciani et al. (1998), tendo o parcelamento do nitrogênio aplicado em cobertura aos 30, 40 e 50 dias após o plantio via fertirrigação proporcionado as melhores concentrações de nitrogênio na planta e produção de grãos, comparadas à aplicação do N de uma só vez e manualmente aos 30 dias após o plantio. Estudos com milho (BASSOI e REICHARDT, 1995), melão (FARIA et al., 2000; PINTO et al., 1994) e tomate (SAMPAIO et al., 1999), entre outros, mostraram a efetividade do parcelamento da aplicação dos nutrientes sobre o aumento da produtividade. O objetivo deste trabalho foi avaliar a qualidade da fibra do algodoeiro, cultivar BRS 201, submetido a diferentes métodos de aplicação de uréia. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido no campo experimental da Embrapa, no município de Barbalha- CE, com as seguintes coordenadas geográficas: 07º19 S e 30º18`W e 415,74m de altitude. A classificação climática de Barbalha é do tipo C 1 S 2 A a (THORNTHWAITE e MATHER, 1955) - clima seco sub-úmido, com pequeno excesso hídrico no período chuvoso, megatérmico, com vegetação o ano todo - em um solo classificado como franco-argiloso (308,2 g.kg -1 de areia, 386,7 g.kg -1 de silte e 305,1 g.kg -1 de argila) e com os seguintes valores para as constantes físicas: 0,2738 kg.kg -1 para capacidade de campo, 0,1411 kg.kg -1 para ponto de murcha permanente, 0,0129 kg.dm -3 para densidade do solo, 0,0265 kg.dm -3 para de densidade das partículas e 0,5132 m 3.m -3 para porosidade total. Pela análise de fertilidade apresentou ph = 7,0; Ca +2 + Mg +2 = 161,0 mmol c.dm -3 ; Na + = 7,3 mmol c.dm -3 ; K + = 5,4 mmol c.dm -3 ; Al +3 = 0 mmol c.dm -3 ; P = 9,23 mg.dm -3 e matéria orgânica = 20,17 g.kg -1. Adotou-se o delineamento experimental de blocos ao acaso com quatro repetições e seis tratamentos constituídos de métodos de aplicação de uréia, assim distribuídos: T 1 aplicação fracionadas, aplicando-se 1/2 no sulco de plantio em fundação, 1/2 manualmente em cobertura aos 25-30 dias após a emergência (DAE); T 2 aplicação fracionada aplicando-se 1/2 no sulco de plantio em
fundação, 1/2 aplicada na água de irrigação em cobertura aos 25-30 DAE; T 3 aplicações fracionadas, aplicando-se 1/3 no sulco de plantio em fundação, 1/3 aos 25-30 e 1/3 aos 45 50 DAE, em cobertura manual; T 4 aplicações fracionadas, aplicando-se 1/3 no sulco de plantio em fundação, 1/3 aos 25-30 e 1/3 aos 45 50 DAE, em cobertura na água de irrigação; T 5 aplicações fracionadas, aplicando-se 1/5 da dose recomendada aos 10, 20, 30, 40 e 50 DAE, em cobertura na água de irrigação; T 6 aplicações fracionadas, aplicando-se 1/6 da dose recomendada aos 10, 20, 30, 40, 50 e DAE, em cobertura na água de irrigação. A quantidade de água de irrigação para cada evento foi determinada a partir da evapotranspiração de referência (ETo) calculada diariamente a partir do método de Penmam Monteith, descrita por Allen et al. (1998). A irrigação foi efetuada por meio de sistema de irrigação por aspersão convencional em linha. Antes do plantio foi aplicada uma irrigação capaz de levar o solo à umidade de capacidade de campo a uma profundidade de 0,60m. Nos primeiros 20 dias após o plantio, a área foi irrigada com freqüência de 4 dias, para estabelecimento da cultura, após este período, os eventos de irrigações passaram a ter freqüência de 7 dias, com base na ETo. A adubação da cultura foi calculada com base na análise de fertilidade de solo, exceto para a variável nitrogênio. A cultivar BRS 201 foi plantada manualmente, com espaçamento configurado em fileiras duplas (1,40 m x 0,40 m) e densidade de plantio de 10-12 sementes.m -1, gerando população de cerca de 111.000 plantas.ha 1. Os tratos culturais foram realizados conforme recomendação da Embrapa Algodão (1994). Antes da colheita foram coletadas, por parcela, amostras padrão constituídas por 20 capulhos cada, para análise das características tecnológicas da fibra. Todos os ensaios físicos foram conduzidos no Laboratório de Tecnologia de Fibras e Fios da Embrapa Algodão, utilizando-se o intrumento HVI. As amostras-padrão foram descaroçadas em máquina de rolo. RESULTADOS E DISCUSSÃO A análise de variância efetuada com os dados deste trabalho permite inferir que não houve diferença significativa para nenhuma das características tecnológicas da fibra submetida aos diferentes métodos de aplicação de uréia (Tab. 1). Na Tabela 2, são apresentados os resultados médios obtidos para as variáveis testadas. Comparando os dados obtidos com o padrão desta cultivar (CARVALHO et al., 2001), observase os métodos de aplicação de uréia favoreceram o comprimento, a resistência e a reflectância da fibra. Observa-se, ainda, que os valores obtidos para índice de fibras curtas, uniformidade de comprimento, alongamento à ruptura, maturidade, grau de amarelecimento e índice de fiabilidade encontram-se dentro dos padrões de aceitabilidade da indústria têxtil nacional; o índice micronaire entretanto, não atende a essas exigências (SANTANA et al., 1995), embora possibilite a classificação da fibra, quanto a este parâmetro, como regular (FONSECA, 2002). No tocante ao comprimento médio, pode-se observar que em todos os tratamentos a classificação foi de longo (27,94 a 32 mm); observa-se, ainda, que, em todos os tratamentos, as fibras apresentaram alta uniformidade, com médias variando de 82,8 a 85 %. Com relação à resistência à ruptura, segundo Fonseca (2002), os dados obtidos possibilitam classificar a fibra como de elevada resistência à ruptura (27,1 a 29,6 g/tex). O valor médio obtido por tratamento, para o Rd variou de 74,7% a 82,9%, evidenciando que a pluma da cultivar BRS 201 tem
um baixo padrão de acinzentamento. Quanto ao grau de amarelecimento que variou de 9,3 a 10,0, pode-se afirmar que se trata de uma fibra intrinsecamente branca. O rendimento de fibras obtido por tratamento, que variou de 39,2% a 41,9%, está compatível com a performance da cultivar testada. Tabela 1. Análise de variânica de percentagem de fibra (%), comprimento (UHM), índice de fibras curtas (SFI), uniformidade de comprimento (UNF), resistência (STR), alongamento (ELG), índice micronaire (MIC), maturidade (MAT), reflectância (Rd), grau de amarelecimento (+b) e índice de fiabilidade (CSP) da fibra da cultivar BRS 201, submetida a diferentes métodos de aplicação de uréia. Barbalha, CE, 2004. FV GL Quadrados médios % de UHM SFI UNF STR ELG MIC MAT Rd +b CSP fibra Método 5 4,676 ns 1,781 ns 0,508 ns 2,248 ns 5,045 ns 0,237 ns 0,200 ns 0,241 ns 28,175 ns 0,271 15678,470 ns ns Bloco 3 3,384 ns 0,718 ns 0,390 ns 0,219 ns 2,141 ns 0,783 ns 0,672 ns 0,152 ns 13,170 ns 0,200 8152,500 ns ns Resíduo 15 4,306 1,494 1,148 1,613 9,292 0,480 0,788 0,886 10,417 0,178 10648,93 Total 23 - - - - - - - - - - CV (%) - 5,2 4,1 24,4 1,5 10,7 11,1 6,1 1,0 4,1 4,4 4,7 Tabela 2. Valores médios de percentagem de fibra (%), comprimento (UHM), índice de fibras curtas (SFI), uniformidade de comprimento (UNF), resistência (STR), alongamento (ELG), índice micronaire (MIC), maturidade (MAT), reflectância (Rd), grau de amarelecimento (+b) e índice de fiabilidade (CSP) da fibra da cultivar BRS 201, submetida a diferentes métodos de aplicação de uréia. Barbalha, CE, 2004. TRA % de UHM SFI UNF STR ELG MIC MAT Rd +b CSP T fibra (mm) (%) (%) (g/tex) (%) (%) (%) T1 39,6 a 29,2a 4,0a 83,6a 27,5a 6,1a 4,5a 89,8a 82,9a 9,3a 2237,5a T2 41,9 a 29,1a 4,5a 83,0a 27,1a 6,1a 4,7a 90,3a 80,1a 9,4a 2159,5a T3 38,9 a 29,3a 4,5a 83,8a 29,6a 6,0a 4,6a 90,3a 79,1a 9,5a 2188,0a T4 39,2 a 29,1a 4,3a 83,6a 28,2a 6,1a 4,7a 90,3a 74,7a 10,0a 2082,0a T5 39,4 a 30,4a 5,0aa 82,8a 29,5a 6,6a 4,7a 90,0a 78,8a 9,6a 2198,6a T6 39,3 a 30,5a 4,1a 85,0a 29,6a 6,5a 4,6a 89,8a 79,7a 9,4a 2258,8a Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo teste Tukey a 5% de probabilidade CONCLUSÕES 1. Os métodos de aplicação de uréia não alteraram as característícas tecnológicas da fibra do algodoeiro cultivar BRS 201, que apresentam boa aceitabilidade para a indústria têxtil; 2. A fibra da cultivar estudada apresentou elevada qualidade intrínseca. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALLEN, G. R.; PEREIRA, L. S.; RAES, D.; SMITH, M. Crop evaporation: guidelines for computing crop water requirements. Roma: FAO, 1998, 300 p. (FAO Irrigation and Drainage Paper, 56). BASSOI, L.H.; REICHARDT, K. Acúmulo de matéria seca e nitrogênio em milho cultivado no período de inverno com aplicação de nitrogênio no solo e via água de irrigação. Revista Agropecuária Brasileira, v. 30, n. 12, p. 1364-1373, 1995.
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