VARIAÇÃO CLIMÁTICA DO MUNICÍPIO DE JAGUARUANA-CE EM FUNÇÃO DO ARMAZENAMENTO DE ÁGUA NO SOLO F. S. S. dos Santos 1 ; M. L. L. F. Peixoto 2 ; A. L. L. Ferreira 3 ; F. G. C. Freire 4 ; C. A. Celedônio 5 ; R. M. S. Lima 4 RESUMO: As variações climáticas de uma região ou microrregião são determinantes na escolha das atividades agrícolas desenvolvidas e do tipo de manejo a ser estabelecido. A CAD, fator determinante no desenvolvimento vegetal, está diretamente relacionada à precipitação pluvial e à capacidade de armazenamento de água no solo. Dessa forma, objetivou-se com esse estudo obter a classificação climática do município de Jaguaruana-CE com diferentes índices de capacidade de armazenamento de água, decorrentes da variabilidade das classes de solos existentes nesta localidade. Foi realizada a classificação climática, a partir do Balanço Hídrico Climatológico, para valores de CAD estimados em 100, 75 e 50 mm. A capacidade de armazenamento de água no solo não interferiu na Classificação Climática do município, contudo, solos com CAD maior, aumentam a ETR, proporcionam menores perdas de água e melhor aproveitamento desta pelas culturas. PALAVRAS-CHAVE: classificação climática, evapotranspiração, capacidade de armazenamento de água. CLIMATE CHANGE IN JAGUARUANA, CEARÁ, BRAZIL, ACCORDING TO SOIL WATER STORAGE ABSTRACT: Climatic variations in a region or microregion are crucial to choice what type of the agricultures practices must be developed there. They are also important to establish the type of agricultural management used there. The CAD is the main factor in plant development and it is directly related with both the rainfall and the capacity of the soil water storage. Thus the aim of this study was the climatic classification to Jaguaruana, Ceará, Brazil in the different indexes of the capacity of water storage according to types of soils found there. Climatic classification was performed using the Climatic Water Balance to CAD values equals to 100, 75 and 50 mm. Results showed that the capacity of the soil water storage doesn t interfere in the Climatic Classification of Jaguaruana. However, the soils that have high CAD increase the ETR and it causes low water loss and the crops make better use of this water. KEYWORDS: climatic classification, evapotranspiration, available water capacibility. 1 Doutorando em Irrigação e Drenagem, DENA/UFC. Professor do IFCE Campus Limoeiro do Norte. Rua Estevam Remígio, 1145, Centro, Limoeiro do Norte/CE. (88) 3447-6410. sildemberny@ifce.edu.br 2 Tecnóloga em Recursos Hídricos/Irrigação e Bolsista CNPq, Professora Voluntária do IFCE, Limoeiro do Norte/CE. 3 Engenheira Agrícola e Ambiental e Mestranda em Ciência do Solo. UFERSA, Campus Mossoró/RN. 4 Tecnólogo em Recursos Hídricos/Irrigação e Mestrando em Irrigação e Drenagem. UFERSA, Mossoró/ RN 5 Tecnóloga em Recursos Hídricos/Irrigação e Mestre em Irrigação e Drenagem. IFCE. Bolsista CNPq
INTRODUÇÃO O conhecimento das condições climáticas de uma determinada região é necessário para que se possa estabelecer estratégias, que visem o manejo mais adequado dos recursos naturais, almejando dessa forma, a busca por um desenvolvimento sustentável e a implementação das práticas agropecuárias viáveis e seguras para os diversos biomas da região (SOUSA et al., 2010). Nesse sentido, o balanço hídrico climatológico, desenvolvido por Thornthwaite e Mather (1955) é uma das várias maneiras de se monitorar a variação do armazenamento de água no solo. Através da contabilização do suprimento natural de água ao solo, pela chuva (P), e da demanda atmosférica, pela evapotranspiração potencial (ETP) e com a capacidade de água disponível (CAD) apropriada ao estudo em questão, o balanço hídrico fornece estimativas da evapotranspiração real (ETR), da deficiência hídrica (DEF), do excedente hídrico (EXC) e do armazenamento de água no solo (ARM), podendo ser elaborado desde a escala diária até a mensal (Pereira et al., 1997). A precipitação pluvial é um dos elementos essenciais nas atividades agrícolas, a partir do volume de chuva precipitado e da sua distribuição pode-se determinar quais os tipos de atividades agrícolas de certa localidade. (Arraes et al., 2009). Em 1948, Thornthwaite desenvolveu um método simples para estimar o balanço hídrico climático em bases mensais, usando valores médios mensais da temperatura do ar e do total pluviométrico, bem como a capacidade armazenamento hídrico do solo (VAREJÃO-SILVA, 2000). Posteriormente, Thornthwaite e Mather (1955) modificaram o método original de estimativa do balanço hídrico climatológico. Localizado no leste do estado do Ceará, o município de Jaguaruana possui características tipicamente do semiárido nordestino. Como tal, suas chuvas concentram-se num determinado período do ano, restringindo as possibilidades de exploração de algumas culturas na maior parte do ano. Face ao exposto, realizou-se o Balanço Hídrico Climatológico pelo método de Thornthwaite e Mather (1955) e obteve-se a classificação climática do município supracitado a partir de solos com diferentes capacidades de retenção de água, com o objetivo de verificar a influência do armazenamento de água no solo no microclima do município de Jaguaruana. MATERIAL E MÉTODOS O município de Jaguaruana faz parte da microrregião do Baixo Jaguaribe, no estado do Ceará, e está totalmente inserido no semiárido nordestino. Encontra-se a 20 m de altitude, entre as coordenadas 4º 50 02 S e 37º 46' 52" W. Possui uma vegetação composta por uma complexa combinação da zona litorânea, caatinga arbustiva densa, floresta caducifólia espinhosa e floresta mista dicotillo-palmácea (IPECE, 2006). Para a produção do Balanço Hídrico Climatológico foram utilizados dados de temperatura (T) e precipitação (P) mensais no período de 1970 a 1989, apresentando médias anuais de 25 ºC e 905 mm, respectivamente. A partir desses dados foi utilizada a metodologia de Tornthwaite (1948) para a estimativa da evapotranspiração potencial (ETP). Nos cálculos para a obtenção do BHC foram utilizadas estimativas dos valores de CAD representativos dos solos encontrados da região de estudo - CAD = 110 mm para um solo com
alta capacidade de armazenamento, como os solos aluvionais do município; CAD = 50 mm para um solo com baixa capacidade de retenção de água, como solos mais arenosos afastados do Rio Jaguaribe; e, por fim, CAD = 75 mm para solos com média capacidade. Com base no BHC foram utilizadas as metodologias de Tornthwaite (1948) e Thornthwaite e Mather (1955) para a classificação climática de acordo com os valores de CAD predeterminados. RESULTADOS E DISCUSSÃO A partir dos resultados do BHC para o município em questão foram elaborados gráficos (Figura 1) que permitem a melhor visualização da situação hídrica para os respectivos valores de CAD. Figura 1: Extrato do Balanço Hídrico Mensal para solos com CAD de 100, 75 e 50 mm, Jaguaruana, Ceará.
Observa-se que apenas no período de março a abril, foram observadas excesso de água, tempo esse que coincide com a quadra chuvosa local. Desse modo, durante nove meses do ano, o município de Jaguaruana (CE) permanece numa situação de déficit hídrico, constatação essa que restringe em muito a exploração de culturas, notadamente as mais sensíveis ao estresso hídrico e com sistema radicular pouco profundo. Vale ressaltar que, independente da capacidade de armazenamento de água pelo solo, a descrição supracitada se repete. Percebe-se ainda que quando se tem um solo com CAD maior, as precipitações anuais são mais bem aproveitadas perfazendo o excedente de apenas 64 mm anuais, com pico no mês de abril. Por outro lado, solos com baixa capacidade de retenção de água, perdem mais água por percolação profunda ou escoamento, produzindo em excedente de 114 mm, com maior índice no mês de março. Com o mesmo comportamento, o solo com 75 mm de CAD, produz um excedente de 89 mm. Desta forma, constatou-se que a capacidade de armazenamento de água no solo não influencia decisivamente nas condições hídricas anuais do município, entretanto, solos com maior capacidade de armazenamento podem minimizar as condições climáticas e assegurar condições hídricas de solo um pouco mais favoráveis à exploração radicular. No que diz respeito à classificação climática do município de Jaguaruana, a tabela 1 reúne todas as informações de tipos, subtipos com sua respectiva descrição. De modo que, mesmo com as consideráveis diferenças quanto à CAD, a classificação climática não sofreu qualquer interferência. Tabela 1: Classificação climática do município de Jaguaruana (CE) a partir do Balanço Hídrico Climatológico segundo a metodologia de Tornthwaite (1948) e de Tornthwaite & Mather (1955). CAD CLASSIFICAÇÃO DESCRIÇÃO Tornthwaite (1948) 100 mm D A d a Clima Semi-Árido, megatérmico, com excedente hídrico moderado ou 75 mm D A d a nulo no verão e uma concentração de 29% da ETP no trimestre Set- 50 mm D A d a Out-Nov Tornthwaite & Mather (1955) 100 C 1 A d a Clima Sub-úmido seco, megatérmico, com excedente hídrico moderado mm ou nulo no verão e uma concentração de 29% da ETP no trimestre Set- Out-Nov 75 mm C 1 A d a 50 mm C 1 A d a CONCLUSÃO A reposição de água ao solo para sua máxima capacidade de armazenamento ocorre entre fevereiro e abril; Solos com CAD maior proporcionam menores perdas de água, otimizando seu aproveitamento pelas culturas; A capacidade de armazenamento de água no solo não influencia decisivamente nas condições hídricas ao longo do ano do município em questão; A capacidade de armazenamento de água do solo não interfere na Classificação Climática do município.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARRAES, F.D.D.; LOPES, F.B.; SOUZA, F.; OLIVEIRA, J.B. Estimativa do Balanço Hídrico para as condições climáticas Iguatu, Ceará, usando Modelo Estocástico. Revista Brasileira de Agricultura Irrigada. Fortaleza, v.3, n.2, p.78 87, 2009. Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (IPECE). O Ceará em Mapas Interativos.Disponívelem:<http://mapas.ipece.ce.gov.br/i3geo/aplicmap/geral.htm?d5bf94021f5c7f3240f7 c2f2db43af67 > Acesso:27/out/2011. Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (IPECE). Perfil Básico Municipal: Jaguaruana. Secretaria de Planejamento e Coordenação. Fortaleza. 10 p. 2006. PEREIRA, A.R.; VILLA NOVA, N.A.; SEDIYAMA, G.C. Evapo(transpi)ração. Piracicaba: FEALQ, 1997. 183p. SOUSA, E.S. de; LIMA, F.W.B.; MACIEL, G.F.; SOUSA, J. P.; PICANÇO, A.P. Balanço hídrico e classificação climática de Thornthwaite para a cidade de Palmas TO. XVI Congresso Brasileiro de Meteorologia, Belém-PA, Anais on line, 2010. VAREJÃO-SILVA, M. A. Meteorologia e Climatologia. 2º. ed. Brasília: INMET, 2000. v. 1. 515 p.