COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA FLORÍSTICA EM BOSQUES DE MANGUEZAIS PARAENSES, BRASIL

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Ciência Florestal, Santa Maria, v. 27, n. 3, p. 923-930, jul.-set., 2017 ISSN 1980-5098 COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA FLORÍSTICA EM BOSQUES DE MANGUEZAIS PARAENSES, BRASIL 923 FLORISTICCOMPOSITION AND ESTRUCTURE OF THE MANGROVE FORESTS IN PARÁ STATE, BRAZIL Elena Almeida de Carvalho 1 Mário Augusto Gonçalves Jardim 2 RESUMO Este estudo objetivou caracterizar a composição florística e a estrutura em bosques de manguezais nos municípios de Soure, Maracanã e Salinopólis no estado do Pará. Em cada município foram delimitadas três parcelas de 10 x 50 m totalizando 0,15 ha, registrando-se as espécies e medindo-se o DAP e altura. Foram calculadas a densidade, frequência e dominância relativas, índice de valor de cobertura e de importância. As espécies típicas encontradas foram Rhizophora mangle L., Rhizophora racemosa G.F.W. Meyer, Avicennia germinans (L.) Stearn. e Laguncularia racemosa (L.) Gaertn. Rhizophora racemosa foi encontrada somente em Soure e, Laguncularia racemosa apenas em Salinópolis. O bosque de Soure apresentou maior valor médio em diâmetro e altura. Nos três municípios Avicennia germinans obteve maior diâmetro e altura. A maior área basal para indivíduos vivos ocorreu em Soure e Salinas, e para indivíduos mortos, em Maracanã, ambos para a classe > 10,0 cm de DAP. Em Soure não foram registrados indivíduos mortos. Os bosques apresentaram alto grau de desenvolvimento estrutural e ajustado ao padrão encontrado na costa norte brasileira. Informações conjuntas acerca da composição florística, abundância, densidade e parâmetros que demonstrem o grau de estrutura dos mesmos, além do registro e análise de indivíduos mortos, são bons indicadores do estado de conservação desse ecossistema. Conclui-se que os manguezais estão em bom estado de conservação. Entretanto, ações preventivas de manejo e conservação são fundamentais para garantir a manutenção de seus recursos. Palavras-chave: qualidade ambiental; fitossociologia; Amazônia. ABSTRACT This study aimed to characterize the floristic composition and structure of mangroves in three municipalities in Pará, to identify possible conservation and environmental change indicators. At each site, three plots were delimited in 10 x 50 m, registering the species present and measuring DAP and height. Were analized density, frequency and dominance, hedge value index and importance. Typical species found were Rhizophora mangle L., Rhizophora racemosa G.F.W. Meyer, Avicennia germinans (L.) Stearn. e Laguncularia racemosa (L.) Gaertn. Rhizophora racemosa found only in Soure and Laguncularia racemosa only in Salinópolis. The Soure of forest had higher mean values of height and diameter and, in the three areas, Avicennia germinans showed the highest values of height and diameter. The largest basal area values for living individuals occurred in Soure and Salinas, and dead individuals, the greatest contribution was in Maracanã, both for the class > 10.0 cm DBH. In Soure were not recorded dead individuals. The woods had a high degree of structural development and are adjusted to the pattern found in Brazil s northern coast. Joint information about the floristic composition, abundance, density and parameters that show the degree of structure thereof other than registration and analysis of dead individuals, are good indicators of this ecosystem conservation status. Concluded at good state of conservation of mangroves in this region. However, preventive actions 1 Bióloga, Mestre em Ciência Ambiental, Pós-doutoranda do Programa de Pós Graduação em Ciências Ambientais, Universidade Federal do Pará, Rua Augusto Corrêa, 01, Guamá, CEP 66075-110, Belém (PA), Brasil. ecarvalho@museu-goeldi.br 2 Engenheiro Florestal, Dr., Pesquisador Titular do Museu Paraense Emílio Goeldi, Coordenação de Botânica, Av. Magalhães Barata, 376, Caixa Postal 399, Nazaré, CEP 66040-170, Belém (PA), Brasil. jardim@museu-goeldi.br Recebido para publicação em 2/07/2015 e aceito em 21/01/2016

924 Carvalho, E. A.; Jardim, M. A. G. management and conservation are essential to ensure the maintenance of its resources. Keywords: environmentalquality; phytosociology; Amazon. INTRODUÇÃO Os manguezais, ecossistemas presentes nas zonas costeiras tropicais e subtropicais, ocupam no Brasil uma faixa mais ou menos contínua que vai do Estado do Amapá (Rio Oiapoque, 04 20 N) no extremo Norte, até Santa Catarina, ao Sul (Laguna, 28 30 S). No Norte do Brasil, constituem-se no maior cinturão de manguezais do planeta, com aproximadamente 7.591,09 km 2 de área contínua desse ecossistema, 2.176,78 km 2 encontram-se no Pará e 5.414,31 km 2 no Maranhão (SOUZA FILHO, 2005). Estes manguezais característicos de macromarés (até 7,5 m de altura) foram denominados por Souza Filho (2005) de Costa de Manguezais de Macromaré da Amazônia CMMA e se estendem desde a Baía de Marajó (PA) até a Ponta do Tubarão, na Baía de São José (MA). No Pará, os manguezais constituem-se na formação vegetal dominante da zona costeira e que se estende quase sem descontinuidade ao longo da costa, penetrando profundamente no interior dos estuários (MENDES, 2003). O ecossistema manguezal possui diversas funções, dentre as quais a produção de matéria orgânica como base das cadeias tróficas de espécies de importância econômica e/ou ecológica; área de abrigo, reprodução, desenvolvimento e alimentação de espécies marinhas, estuarinas, límnicas e terrestres; ponto de alimentação e repouso para diversas espécies de aves migratórias; manutenção da diversidade biológica; proteção da linha de costa; controlador de vazão e prevenção de inundações e proteção contra tempestades; absorção e imobilização de elementos químicos e filtro de poluentes; fonte de recreação e lazer, associado ao seu alto valor cênico; e fonte de alimento e produtos diversos, associados à subsistência de comunidades tradicionais que vivem em áreas vizinhas aos manguezais (SOARES et al., 2003). Mangues apresentam composição florística específica adaptada às condições abióticas locais e, no Brasil, se constitui por espécies lenhosas altamente especializadas dos gêneros Rhizophora, Avicennia e Laguncularia. São encontradas ainda nesses ambientes espécies herbáceas, epífitas, hemiparasitas e aquáticas. Nas faixas de transição entre o bosque de mangue e os ecossistemas de terra firme, ou em manguezais alterados, podem ocorrer outras espécies vegetais, como o algodoeiro-da-praia (gênero Hybiscus) e a samambaia-do-mangue (gênero Acrostichum). Na maré baixa, encontra-se o praturá, gramínea do gênero Spartina, assim como algumas ciperáceas (gêneros Scirpus, Eleocharis, Crenea) que podem estar associadas ao manguezal (SILVA; BERNINI; CARMO, 2005; MENEZES; BERGER; MEHLIG, 2008). Apesar das várias funções desempenhadas, o manguezal está entre os mais requisitados ecossistemas quanto a sua conversão para outros fins. São várias as pressões advindas do aumento populacional e desenvolvimento industrial e urbano, o que, segundo Chen et al. (2009), vêm causando, em escala global, a diminuição e a fragmentação das áreas de manguezal, colocando assim, em grande risco, sua sobrevivência em longo prazo. A ação de tensores, induzidos pelo homem somados aos tensores naturais que atuam sobre o ecossistema, limita o desenvolvimento do bosque, interferindo tanto nas características estruturais como na diversidade funcional deste ecossistema (SOARES et al., 2003). Os manguezais respondem, assim, às condições abióticas locais e regionais e ainda à ação de tensores antrópicos, através de sua distribuição, desenvolvimento estrutural e produtividade. A caracterização da composição e da estrutura se traduz em uma valiosa ferramenta para avaliar a resposta desse ecossistema a tais alterações e, desta forma, entrever seu estado de conservação. Neste contexto, os estudos até o presente realizados no estado do Pará foram de Almeida (1996), Bastos e Lobato (1996), Menezes, Berger e Costa Neto (2000), Bastos et al. (2001), Faure (2001), Menezes, Berger e Worbes (2003), Abreu et al. (2006), Matni, Menezes e Mehlig (2006), Seixas, Fernandes e Silva (2006), Berger et al. (2008), Menezes, Berger e Mehlig (2008) e Sales et al. (2009). Esta pesquisa teve como objetivo caracterizar a composição florística e a estrutura em trechos de manguezais localizados em três municípios do estado do Pará. MATERIAL E MÉTODOS As áreas de manguezais estudadas estão localizadas em três municípios paraenses: Soure, Maracanã

Composição e estrutura florística em bosques de manguezais paraenses, Brasil 925 e Salinópolis (Figura 1). No município de Soure, a área de estudo fica localizada na Reserva Extrativista (Resex) Marinha de Soure, criada a partir do Decreto s/n de 22/11/2001 abrangendo uma área de 27.463,58 ha na costa nordeste da Ilha do Marajó sob as coordenadas 0º13 55 S e 48º26 58 W. No município de Maracanã - PA, a área localiza-se na Área de Proteção Ambiental, Algodoal-Maiandeua, criada pelo Decreto-Lei nº 5.621, de 27 de novembro de 1990 correspondendo a uma área de aproximadamente 23.000 m 2 na microrregião do Salgado sob as coordenadas 0º34 45 S e 47º32 05 W. No município de Salinópolis, o estudo foi na Vila de Cuiarana sob as coordenadas 00 39 45 S e 47 16 56 W. 80' 0'0"W 60' (]0"W 40' 0'0"W 45 (YO'W LEGENDA + N,,..., Estradas Federais,.-/ Estradas Estaduais r "' Vicinais 8 Capital 1,-,-1 Rios/Mar 0 Áreas de Estudo Ilha deé'lgodoal Sallnópolls 0 8 o 'i' J.., -5390000-5360000 -5330000-5300000 -5270000 FIGURA 1: Mapa de localização das áreas de estudo: município de Soure, município de Maracanã (Ilha de Algodoal-Maiandeua) e município de Salinópolis, Estado do Pará, Brasil. FIGURE 1: Location map of the study areas: Soure municipality, Maracanã municipality (Algodoal- Maiandeua Island) and Salinópolis municipality, Pará State, Brazil. Para a caracterização da estrutura da vegetação foi adotada a metodologia padrão descrita por Schaeffer-Novelli e Cintrón (1986). Em cada município selecionou-se uma área de estudo. Por se tratar de bosques maduros, em cada área foram demarcadas três parcelas de 10 x 50 m, seguindo-se a orientação de incluir no mínimo 30 árvores vivas em cada parcela. As parcelas foram dispostas ao longo de um transecto perpendicular ao gradiente de inundação, visando caracterizar desde a zona fisiográfica de franja até a zona de transição com o ecossistema adjacente (Figura 2). As parcelas foram delimitadas usando-se trena e demarcadas com fitas plásticas coloridas e, em todas elas, as espécies de mangue com DAP 2,5 cm (diâmetro a altura do peito a 1,30 m do solo) foram medidas e identificadas. Estimou-se ainda a altura dos indivíduos vivos (altura superior a 1 m). Outras espécies ocorrentes nas parcelas também foram registradas e identificadas. Para a medida do DAP utilizou-se uma trena graduada em unidades de π (3,14159). Os diâmetros de troncos, incluindo-se árvores mortas, foram medidos e registrados. Para o cálculo do diâmetro médio, seguiu-se

926 Carvalho, E. A.; Jardim, M. A. G. t--- Grodiente Físico-Químico p 0 p a p a r r r e e e e e e 1 1 1 e a a # # #- 2 3 G rad i ente es rutur a l FIGURA 2: Posicionamento das parcelas. Fonte: Modificado de Schaeffer-Novelli e Cintrón (1986). FIGURE 2: Placement of plots. Font: Modified from Schaeffer-Novelli e Cintrón (1986). a orientação de Schaeffer-Novelli e Cintrón (1986), definindo-o como o diâmetro da árvore de área basal média. Os parâmetros fitossociológicos analisados com auxílio do Programa Mata Nativa 2 (CIENTEC, 2006) foram a Densidade Relativa (DR), a Frequência Relativa (FR), a Dominância Relativa (DoR), o Índice de Valor de Cobertura (VC) e, o Índice de Valor de Importância (VI) (CURTIS; MCINTOSH, 1950; MUELLER- DOMBOIS; ELLENBERG, 1974). RESULTADOS A composição florística abrangeu três gêneros e quatro espécies: Rhizophora mangle L., Rhizophora racemosa G.F.W. Meyer, Avicennia germinans (L.) Stearn. e Laguncularia racemosa (L.) Gaertn. No bosque de Soure, foi registrada a presença de Pterocarpus santalinoides L Hér. ex DC., espécie considerada associada ao ecossistema manguezal. Nos três bosques foram registrados 371 indivíduos típicos de mangue e desse total, 356 indivíduos vivos e 15 mortos. Rhizophora racemosa foi encontrada somente no bosque do município de Soure e, Laguncularia racemosa apenas no bosque de Salinópolis. Rhizophora mangle e Avicennia germinans nos três bosques. Os três bosques não diferiram quanto aos parâmetros estruturais avaliados. O bosque de Soure apresentou maior valor médio diâmetro e altura e diâmetro (23,27 cm e 11,6 m); o manguezal de Maracanã (Ilha de Algodoal-Maiandeua) obteve DAP médio de 21,45 cm e altura média de 10,8 m e o bosque de Salinas como menor valor médio de diâmetro (21,90 cm) e altura (9,5 m). Nas três áreas, Avicennia germinans mostrou os maiores valores de diâmetro e altura. Mas no bosque de Soure se destacou com 45,91 cm de DAP médio e 14,5 m de altura média (Tabela 1). No bosque de Soure, Rhizophora racemosa foi exclusiva quando comparada com as demais e apresentou os maiores valores de densidade relativa (59,09%), Dominância relativa de (77,59%), Valor de Cobertura (68,34%) e Valor de Importância (59,85%). Rhizophora mangle e Rhizophora racemosa ocorreram nas três parcelas. Avicennia germinans foi registrada em apenas uma parcela com apenas dois indivíduos com os menores valores em todos os parâmetros fitossociológicos (Tabela 1). Em Maracanã (Ilha de Algodoal-Maiandeua) ocorreram apenas Rhizophora mangle e Avicennia germinans. Rhizophora mangle foi a mais abundante (DR= 76,47%), porém, Avicennia germinans, apesar de ser menos abundante foi a que mais contribuiu em área basal e com maior valor de dominância (50,94%). Rhizophora mangle registrou os maiores valores de cobertura e de importância (VC = 62,77% e VI = 58,51%) (Tabela 1). No bosque de Salinópolis foram registradas Rhizophora mangle, Avicennia germinans e Laguncularia racemosa. Avicennia germinans se destacou em todos os parâmetros fitossociológicos em relação às demais espécies, seguida por Rhizophora mangle (Tabela 1). No que diz respeito à contribuição em área basal entre indivíduos vivos e mortos por classe

Composição e estrutura florística em bosques de manguezais paraenses, Brasil 927 diamétrica, os maiores valores para indivíduos vivos foram registrados nos bosques de Soure e Salinas para a classe > 10,0 (3,63 e 3,36m 2.ha -1, respectivamente). Para indivíduos mortos, a maior contribuição ocorreu no bosque da Ilha de Algodoal, para a classe > 10,0 cm, com valor de 0,14m 2.ha -1. No bosque de Soure não foram registrados indivíduos mortos (Tabela 2). TABELA 1: Parâmetros estruturais e fitossociológicos nos bosques de manguezal dos municípios de Soure, Maracanã (Ilha de Algodoal-Maiandeua) e Salinópolis, estado do Pará, Brasil. TABLE 1: Structural and phytosociological parameters in the mangroves forests of municipalities of Soure, Maracanã (Algodoal-Maiandeua Island) and Salinópolis, Pará state, Brazil. Local/espécie N. de ind. Alt (m) D (cm) FR (%) DR (%) DoR (%) VC (%) VI (%) Soure Total 132 11,6+3,3 23,27 - - - - - Rr 78 12,5+3,2 26,67 42,86 59,09 77,59 68,34 59,85 Rm 52 10,2+3,0 15,06 42,86 39,39 16,51 27,95 32,92 Ag 2 14,5+4,9 45,91 14,29 1,52 5,9 3,71 7,23 I. Algodoal Total 85 10,8+5,4 21,45 - - - - - Rm 65 10,1+4,5 17,18 50 76,47 49,06 62,77 58,51 Ag 20 13,1+7,1 31,56 50 23,53 50,94 37,23 41,49 Salinópolis Total 139 9,5+4,9 21,90 - - - - - Rm 42 8,2+4,0 13,49 42,86 30,22 11,47 20,84 28,18 Ag 81 10,7+5,2 26,53 42,86 58,27 85,56 71,92 62,23 Lr 16 6,7+3,9 11,12 14,29 11,51 2,97 7,24 9,59 Em que: Alt Altura (média+desvio padrão); D Diâmetro médio; FR - Frequência Relativa; DR - Densidade Relativa; DoR - Dominância Relativa; VC - Valor de Cobertura; VI - Valor de importância; Rr Rhizophora racemosa; Rm Rhizophora mangle; Ag Avicennia germinans; Lr Laguncularia racemosa. TABELA 2: Área basal (m 2.ha -1 ) viva e morta por classe diamétrica (cm) nos bosques de manguezal dos municípios de Soure, Maracanã (Ilha de Algodoal-Maiandeua) e Salinópolis, estado do Pará, Brasil. TABLE 2: Live and dead basal área (m 2.ha -1 ) by diameter class (cm) in the mangroves forests of municipalities of Soure, Maracanã (Algodoal-Maiandeua Island) and Salinópolis, Pará State, Brazil. Local Área basal de indivíduos vivos Área basal de indivíduos mortos > 2,5 > 10,0 Total > 2,5 > 10,0 Total Soure 0,12 3,63 3,74 0 0 0 Algodoal 0,09 1,96 2,05 0 0,14 0,14 Salinópolis 0,12 3,36 3,49 0,02 0,07 0,09

928 Carvalho, E. A.; Jardim, M. A. G. DISCUSSÃO As espécies encontradas nas áreas estudadas (Rhizophora mangle, Rhizophora racemosa, Avicennia germinans e Laguncularia racemosa) são compatíveis com sua distribuição geográfica (TOMLINSON, 1986) e a baixa diversidade reflete a característica dos manguezais ocidentais. A ocorrência de Rhizophora racemosa apenas no bosque de Soure (Ilha do Marajó) confere com sua propriedade de ser menos tolerante à salinidade, ocorrendo, assim, em áreas que são atingidas pela água salgada apenas na estação seca. Pterocarpus santalinoides, uma espécie associada ao manguezal e característica de ambientes de várzea, ocorreu em apenas uma parcela localizada em área de transição do manguezal com o ecossistema adjacente. As demais angiospermas típicas (Rhizophora mangle, Avicennia germinans e Laguncularia racemosa) foram amplamente registradas em pesquisas realizadas na região. Os valores de parâmetros estruturais registrados nesta pesquisa para as três áreas estão de acordo com estudos na região (SILVA; FERNANDES, 2004; MATNI; MENEZES; MEHLIG, 2006; MENEZES; BERGER; MEHLIG; 2008; SALES et al., 2009). Os resultados referentes aos parâmetros altura e diâmetros médios apontaram maiores valores para o bosque de Soure, demonstrando ser o mais desenvolvido estruturalmente dentre os demais. Neste contexto, Soares et al. (2003) afirmam que apesar de existirem fatores em escala global que conduzem a ocorrência de manguezais em determinada região, os atributos estruturais e funcionais de cada manguezal são regidos pela interação de fatores em escala regional ( assinatura energética ) e, ainda, fatores em escala local. No caso dos bosques de Soure, verifica-se uma relação direta com os atributos geomorfológicos e hidrodinâmicos daquele setor do litoral paraense, em contato com a baía de Marajó, como características de salinidade associadas ao regime de meso e macromarés (3,0 e 5,0 m), ventos e ondas que se formam na própria baía, e predominância de deposição lamosa nos setores mais abrigados (FRANÇA; PIMENTEL, 2012), que se traduzem em condições peculiares propícias para o desenvolvimento de bosques de mangue. Corroborando tal teoria em relação à salinidade, Almeida (1996) e Lara e Cohen (2006) indicam que, sob influência marinha, os manguezais atingidos apresentam bosques mais desenvolvidos estruturalmente. Nas três áreas estudadas, Avicennia germinans foi a que apresentou maior desenvolvimento estrutural, chegando a atingir médias de diâmetro de 45,91 cm e 14,5 m de altura no bosque de Soure. Na costa paraense, Avicennia foi citada com a maior média de DAP e altura em relação a outros gêneros vegetais típicos (MATNI; MENEZES; MEHLIG, 2006; SEIXAS; FERNANDES; SILVA, 2006). Entretanto, apesar desta espécie apresentar altos valores médios de altura e DAP em Soure, sua frequência e densidade foram muito baixas com poucos indivíduos próximos à área de transição com outro ambiente. Para Tomlinson (1986), Avicennia germinans é capaz de sobreviver em áreas pouco inundadas e mostra-se menos adaptada em locais com grande influência de água doce, enquanto que Cintrón-Molero e Schaffer-Novelli (1992) relatam que este gênero possui mecanismos para a sobrevivência em locais adversos e mais tolerante ao estresse ambiental. Essas características ambientais se assemelham ao que se presenciou nos bosques de Soure e, em particular próxima à área transicional. No manguezal em Salinópolis, Avicennia germinans, além de apresentar melhor desenvolvimento estrutural, obteve maior densidade e dominância e frequente em todas as parcelas, o que se traduz em espécie mais importante nesta área. Como esta espécie é altamente adaptada a ambientes salinos, sua presença e alto grau de desenvolvimento na costa nordeste paraense é comum. O gênero Rhizophora foi mais importante nos bosques de Soure e de Maracanã (Ilha de Algodoal- Maiandeua). Rhizophora racemosa foi abundante e dominante em Soure, e Rhizophora mangle abundante em Maracanã. Este gênero coloniza áreas com sedimento mais inconsistente, encontrando-se geralmente nas franjas dos bosques em contato com o mar, ao longo dos canais, na desembocadura de rios ou nas partes internas dos estuários, cuja salinidade não é muito elevada (SHAEFFER-NOVELLI; CINTRÓN, 1986), sendo essa caracterização ambiental similar a dos ambientes estudados. Outrossim, Abreu et al. (2006), ao compilarem dados sobre a estrutura de bosques de mangue na Amazônia brasileira, apontaram Rhizophora racemosa como a espécie mais bem representada na Ilha do Marajó, e Rhizophora mangle com os maiores valores de frequência, densidade e dominância relativa nesta região. Laguncularia racemosa ocorreu apenas no manguezal de Salinópolis, apresentou-se com menor desenvolvimento estrutural e valores baixos de frequência, densidade e dominância, portanto, menos

Composição e estrutura florística em bosques de manguezais paraenses, Brasil 929 importante em composição e estrutura neste bosque. Esta característica de Laguncularia racemosa também foi descrita na costa paraense por Matni, Menezes e Mehlig (2006), Berger et al. (2008), Menezes, Berger e Mehlig (2008) e Sales et al. (2009). Associa-se a presença dessa espécie a solos mais arenosos e melhor drenados (LONDE et al., 2013) e sua ocorrência às clareiras e bordas de canais, ou ainda colonizando áreas degradadas, apontado por Soares (1999) como indicador de alterações antrópicas, o que, pelos resultados encontrados, parece não ocorrer nos manguezais estudados. Nesta pesquisa houve predomínio de troncos vivos e mortos na classe diamétrica acima de 10,0 cm de diâmetro, demonstrando o alto desenvolvimento estrutural das florestas estudadas, sendo a contribuição de indivíduos mortos muito baixa. O bosque de Soure, o mais desenvolvido em estrutura, não apresentou registros de indivíduos mortos nas três parcelas. A baixa quantidade de indivíduos mortos e vivos com DAP reduzido nestes locais demonstra não estar havendo processo de mortalidade em massa (ação antrópica ou desastre natural). Neste sentido, Soares (1999) e Soares et al. (2003) descrevem esse padrão como indicador de um bosque saudável com mortalidade associada a processos naturais. CONCLUSÃO Os bosques estudados mostraram-se com alto grau de desenvolvimento estrutural, compatível com as características ambientais presentes nesta latitude. Informações acerca da composição florística dos bosques, sua abundância e densidade, e parâmetros que demonstrem o grau de estrutura, além do registro e análise de indivíduos mortos, são indicadores do estado de conservação desse ecossistema. Tais atributos fitossociológicos revelaram um bom estado de conservação dos manguezais nesta região. AGRADECIMENTOS A CAPES pela concessão de Bolsa de Doutorado para o primeiro autor. Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico pelo apoio ao projeto de Bolsa de Produtividade Palmeiras da Amazônia Oriental como indicadoras de conservação ambiental e qualidade de vida. CNPq-Processo 305667/2013-0. REFERÊNCIAS ABREU, M. M. O. et al. Análise da composição florística e estrutura de um fragmento de bosque de terra firme e de um manguezal vizinhos na península de Ajuruteua, Bragança, Pará. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Série Ciências da Terra, Belém, v. 1, n. 3, p. 27-34, 2006. ALMEIDA, S. S. Estrutura florística em áreas de manguezais paraenses: evidências da influência do estuário amazônico. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Série Ciências da Terra, Belém, v. 8, p. 93-100, 1996. BASTOS, M. N. C.; LOBATO, L. C. B. Estudos fitossociológicos em áreas de bosque de mangue na praia do Crispim e Ilha de Algodoal Pará. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Série Ciências da Terra, Belém, v. 8, p. 157-167, 1996. BASTOS, M. N. C. et al. Alterações ambientais na vegetação litorânea do nordeste do Pará. In: PROST, M. T. R. C.; MENDES, A. C. (Orgs.). Ecossistemas costeiros: impactos ambientais. Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi, 2001. p. 29-38. BERGER, U. et al. Advances and limitations of individual-based models to analyze and predict dynamics of mangrove forests: a review. Aquatic Botany, Amsterdam, n. 89, p. 260-274, 2008. CHEN, L. et al. Recent progresses in mangrove conservation, restorations and research in China. Journal of Plant Ecology, Oxford, v. 2, n. 2, p. 45-54, 2009. CIENTEC. Software Mata Nativa 2, Sistema para análises fitossociológicas e elaboração de inventários e planos de manejo de florestas nativas. Viçosa: Universidade Federal de Viçosa, 2006. CINTRÓN-MOLERO, G.; SCHAEFFER-NOVELLI, Y. Ecology and management New World mangroves. In: SEELIGER, U. (Ed). Coastal plant communities of Latin America. San Diego: Academic Press, 1992. p. 35-76.

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