ENERGIAS RENOVÁVEIS EM PORTUGAL

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Introdução Consideram-se energias renováveis, todas as fontes de energia cuja taxa de consumo seja inferior à sua taxa de produção. Tendo em conta esta definição também são considerados fontes de energia renovável os resíduos agrícolas, urbanos e industriais, dado que são produzidos a uma velocidade que supera a de consumo. Assim, pode-se observar que as fontes de energia renovável abrangem um conjunto de tecnologias, com graus de desenvolvimento diferente. Algumas delas, como é o caso da energia hídrica, da eólica e da biomassa (incluindo o tratamento de resíduos), já atingiram um estado de maturidade considerável podendo, em determinadas condições, ser comercialmente competitivas com os equipamentos de conversão de combustíveis fósseis. Refira-se que, em Portugal, a energia eólica tem tido um acréscimo significativo nos últimos anos. Durante a década de 90 do séc. XX, Portugal importou mais de 80% da energia que consumiu - somos energicamente muito dependentes do exterior. Visto que não se regista actualmente em Portugal a exploração de qualquer produto energético de origem fóssil, as energias renováveis assumem um papel extremamente importante já que representam a totalidade da produção doméstica de energia. Assim se compreende que o nosso País seja o quarto da União Europeia com maior percentagem de utilização de energias renováveis no consumo total de energia, com particular destaque para a produção de energia eléctrica, uma vez que quase 40% do consumo bruto de electricidade provém de fontes renováveis, salientam os dados da Direcção-Geral de Geologia e Energia do Ministério da Economia. O total de potência licenciada renovável está concentrado no norte do País, essencialmente devido à localização das grandes hídricas e de um número significativo de parques eólicos. Os distritos de Lisboa, Leiria e Castelo Branco apresentam uma forte componente eólica, superior a 50% da potência renovável desses distritos. A Directiva n.º 2001/77/CE de 27 de Setembro, sobre a produção de electricidade a partir de fontes de energia renováveis, fixa metas indicativas para o ano 2010 (estabelecidas com base na produção verificada em 1997), propõe à União Europeia um objectivo de 22,1%. Para Portugal, o objectivo a atingir, definido em 2007, é de que 45% da produção nacional de energia eléctrica em 2010 (uma subida relativamente aos 39% anteriormente estabelecidos) seja feita a partir de fontes de energia renováveis. Já em 2003, a incorporação de fontes de energias renováveis no consumo bruto de energia eléctrica foi de 36%, em 2003, aproximando-se da anterior meta estabelecida pela União Europeia. Em Portugal, desde 1995, a produção de energia primária é na sua totalidade obtida através das fontes de energia renováveis, data em que cessou a actividade de extracção de carvão. Considerando que o potencial de energias renováveis é assinalável, com destaque para a energia solar, eólica, hídrica e da biomassa, Portugal criou políticas e medidas para a sua promoção e estabeleceu também diversos incentivos. Tem-se registado um crescimento acentuado da potência instalada em fontes de energia renováveis nos últimos anos para produção de electricidade, tendo-se em 2005 produzido 8939 GWh de energia eléctrica a partir de fontes de energia renováveias. 1

Em 2005, Portugal foi o sexto país da União Europeia (considerando 15 Estados- Membros) com maior incorporação de energias renováveis, tendo descido um lugar relativamente a 2004, devido ao forte decréscimo da produção hídrica em 2005. No final de Janeiro de 2007, Portugal tinha 6975 MW de capacidade de produção de energia eléctrica a partir de fontes renováveis. Até 2012, espera-se que o investimento total nas energias renováveis no País atinja os 8,1 mil milhões de euros. Energia solar - sistemas fotovoltaicos Portugal é um dos países da Europa com maior disponibilidade de radiação solar (o número médio anual de horas de Sol, varia entre 2200 e 3000, enquanto que, por exemplo, na Alemanha varia entre 1200 e 1700 horas). Assim, Portugal possui excelentes condições para a conversão fotovoltaica. A conversão da radiação solar em energia útil pode ser realizada pela via fotovoltaica, ao produzir directamente electricidade através de células fotovoltaicas. Geralmente um sistema fotovoitaico inclui um conjunto de painéis, uma unidade de controlo de potência e, caso seja necessário, uma unidade de armazenamento de energia. Os sistemas podem ser isolados ou estarem ligados à rede de distribuição eléctrica. No primeiro caso, em geral, existe alguma forma de armazenamento de energia (mediante, por exemplo, o recurso a baterias de ácido-chumbo). Consequentemente, a utilização de um regulador de carga que tem como principal função evitar que haja danos na bateria devido a uma sobrecarga ou descarga profunda. Nos sistemas ligados à rede a totalidade da energia produzida é entregue directamente na rede, através de inversores, sem a necessidade do recurso à utilização de baterias. Os sistemas fotovoltaicos produzem energia eléctrica com elevada fiabilidade e a sua manutenção é baixa, limitando-se, essencialmente, ao sistema de acumulação de energia no caso dos sistemas autónomos. São também conhecidas as vantagens ambientais deste tipo de sistemas, que não emitem gases de efeito de estufa e não produzem ruído. Entre as principais utilizações dos referidos sistemas encontra-se a electrificação remota, ou seja a possibilidade de fornecer energia eléctrica a lugares distantes, nos quais os custos da montagem de linhas eléctricas são superior ao sistema fotovoltaico, ou existe a impossibilidade deste tipo de fornecimento. Salientam-se ainda os sistemas autónomos incluindo a bombagem de água para irrigação, sinalização, alimentação de sistemas de telecomunicação, entre outros. O Projecto da Central Fotovoltaica de Moura, promovido pela Amper, prevê uma potência somada dos painéis instalados de 62 MW e uma potência a injectar na rede de 49,6 MW. Iniciada em 2006, prevê-se que a central entre em funcionamento dentro de 3 anos. Com um investimento previsto de aproximadamente 250 milhões de euros e uma área de instalação de painéis de 114 ha, a central, que ficará instalada na freguesia da Amareleja, será a maior central solar fotovoltaica do Mundo. Mas, até à entrada em funcionamento do complexo de Moura, o título de maior central solar fotovoltaica do Mundo pertence à central de Serpa, inaugurada em Março de 2007, com uma potência total de 11 MW. Encontra-se instalada perto de Brinches numa área de cerca de 60 hectares, dos quais 32 se encontram cobertos por 52 mil painéis solares. 2

A Central Solar Fotovoltaica de Serpa produz para a Rede Eléctica Nacional a energia suficiente para alimentar oito mil residências. Com uma capacidade de produção de 20 gigawatts/hora por ano, permitirá poupar mais de 30 mil toneladas por ano em emissões de gases de estufa, numa comparação equivalente de consumo de combustível fóssil. O projecto implicou um investimento total de 61 milhões de euros. A central de energia solar fotovoltaica de Serpa, receberá um incentivo de 3,7 milhões de euros do PRIME Programa de Incentivos à Modernização da Economia. Energia solar - conversão em energia térmica O solar térmico activo, em particular, o aquecimento de água com colectores solares, de acordo com o trabalho realizado pelo Grupo Temático Solar Térmico Activo, é uma forma de aproveitamento para a qual Portugal dispõe de um recurso energético de grande abundância - entre os maiores a nível europeu. No entanto, a utilização deste recurso para usos tipicamente energéticos tem estado abaixo do seu potencial. Numa instalação solar térmica, a energia da radiação solar é captada por colectores e transferida por meio de um fluido para um ponto de consumo ou para um depósito onde ficará armazenada para utilizações futuras. Basicamente e no que respeita ao meio urbano, os componentes de um sistema de aproveitamento solar são: colector solar destinado à captação de radiação, um depósito para o armazenamento de água quente e o sistema de apoio (esquentador, caldeira de biomassa...). As tecnologias de conversão da energia solar em energia térmica têm desenvolvimentos distintos em função das gamas de temperatura necessárias. No que concerne às aplicações que requerem baixas temperaturas (até 90ºC), geralmente destinadas ao aquecimento de água, os colectores estacionários caracterizam-se como uma tecnologia bem desenvolvida e madura. Também está bem desenvolvida a tecnologia associada aos depósitos de armazenamento de água quente e existem regras de arte bem precisas para o dimensionamento e instalação de sistemas solares destinados a estas aplicações. Em meio urbano, a situação mais vulgar de aproveitamento térmico de energia solar destina-se ao aquecimento de águas sanitárias em habitações. Outras aplicações comuns passam pela produção de águas quentes sanitárias em balneários de infraestruturas desportivas e em outros edifícios de utilização comum como hospitais, centros de saúde, hotéis, escolas... Nas temperaturas médias (de 90ºC a 150ºC) consideraram-se duas aplicações distintas: industriais e condicionamento de ar (aquecimento e arrefecimento) recorrendo a máquinas frigoríficas. Para temperaturas superiores salientam-se as aplicações industriais. Está prevista em Tavira a implementação de uma central solar térmica que deverá entrar em funcionamento em 2008. Com uma potência de pico de 6,5 MW e uma potência nominal de 5,4 MW esta central será desenvolvida pela Enerpura em consórcio com SHP - Solar Heat Power e a portuguesa Meci. Energia solar - aplicação em edifícios No conceito de solar passivo incluem-se os aproveitamentos da radiação solar que não implicam a utilização directa de equipamentos de conversão energética, estando este 3

conceito directamente ligado aos edifícios e ao planeamento urbano. O solar passivo visa o aumento da eficiência energética e do conforto ambiental, tendo em conta uma diminuição efectiva dos consumos energéticos. Neste contexto, é essencial compreender a interacção entre a radiação solar e os edifícios em termos energéticos e da sua posição relativa ao longo do ano, de forma a que se possa projectar um edifício numa perspectiva bioclimática. Várias das técnicas de solar passivo e arquitectura bioclimática representam uma aplicação moderna do saber adquirido ao longo de muitas gerações. Constituído por mais de 3,3 milhões de edifícios, o sector de edifícios em Portugal representa um conjunto de actividades de grande importância económica para o País, com um consumo de energia que representa cerca de 21% do consumo final total. As necessidades de conforto nos edifícios, para além do comportamento dos ocupantes, bem como o dos equipamentos colocados, dependem fundamentalmente de dois factores: a sua localização (ou seja o seu clima, mais quente ou mais frio, com mais ou menos exposição à radiação solar) e a qualidade da sua envolvente. Assim, na estação fria, tem melhor comportamento térmico um edifício bem isolado termicamente e com vidros duplos. Para garantir melhores condições de conforto térmico com necessidades energéticas ainda menores acrescente-se a concepção do edifício de forma a captar melhor a energia solar disponível, utilizando para tal envidraçados correctamente orientados (a sul). Durante a noite deverão estar protegidos por estores ou um dispositivo equivalente. O isolamento da envolvente do edifício permite evitar perda de calor por condução. Trata-se, desta forma, da aplicação do conceito de edifícios solares passivos. Durante o tempo quente as preocupações são precisamente as opostas, evitando a radiação solar, tanto pela envolvente translúcida (envidraçados), como pela opaca (paredes e coberturas), e utilizando as fontes frias para o arrefecimento ambiente, especialmente por recurso à ventilação natural sempre que conveniente. Refiram-se também os ganhos de condução através do isolamento da envolvente, o arrefecimento pelo solo (do próprio edifício e do ar exterior introduzido no edifício) e a utilização de paredes pesadas com isolamento pelo exterior. Energia eólica Não sendo Portugal dos países mais ventosos da Europa, tem condições favoráveis ao aproveitamento da energia do vento. Recorde-se que o País tem grandes tradições no aproveitamento da energia eólica, desde a moagem de cereais à navegação à vela. A conversão da energia do vento em energia eléctrica é conseguida através de um aerogerador (uma turbina movida pelo vento que acciona um gerador de energia eléctrica). Os componentes principais de um aerogerador são a torre, o rotor e as suas pás, e o gerador eléctrico. Em Portugal, o primeiro parque eólico foi criado no Arquipélago dos Açores, em 1988, em Santa Maria mas, actualmente, a distribuição destas centrais abrange quase todo o território nacional, incluindo 106 parques eólicos e 703 turbinas eólicas. Cerca de metade dos parque eólicos em Portugal são parques pequenos, com potências entre 1 a 10 MW. 31% dos parques tem uma dimensão média, com potências entre 10 a 25 MW%. A potência eólica instalada no final do 1.º trimestre de 2006 situava-se em 4

1 151 MW, distribuída por 112 parques, com um total de 711 aerogeradores ao longo de todo o território continental. Mais de 65% da potência instalada situa-se em parques com potência igual ou inferior a 25 MW. É também de referir que os sistemas de informação geográfica têm um papel fundamental no dimensionamento e implementação dos projectos de parques eólicos, uma vez que a determinação destes locais compreende o levantamento de numerosos parâmetros técnicos, sociais e ambientais. Neste contexto, é necessário avaliar o potencial eólico da zona (como o auxílio dos dados meteorológicos e cartográficos), identificar as constrições técnicas (distância à rede, acessos...), ambientais (paisagísticas, zonas protegidas, de interesse florístico, faunístico...), arqueológicas, hidrológicas, geológicas, de impacte sonoro e sócio-económicas. Em 2005, Portugal foi o País da União Europeia que mais cresceu na capacidade de produção de energia eólica. Em 2006 o País registou o segundo maior crescimento, tendo entrado em funcionamento 36 novos parques eólicos, significando um crescimento de 60% da potência instalada. Biocombustíveis A utilização de combustíveis de origem natural em grande escala no sector dos transportes, radica em diversos factores, entre os quais se salienta a excessiva dependência e custos energéticos face às importações petrolíferas (no caso do Brasil) e pressupostos de natureza ambiental (nos EUA). Na Europa, a partir de 1992, a utilização de combustíveis fósseis foi impulsionada, entre outros factores, pela possibilidade de efectuar culturas com fins não alimentares nas terras retiradas da produção devido aos condicionalismos impostos pela Política Agrícola Comum. Refira-se que, devido à maior mobilidade de pessoas e de bens, o peso do sector dos transportes tem sofrido um aumento acentuado, sendo que, em Portugal, a dependência energética do sector transportador relativamente ao petróleo é elevada. A Comunidade Europeia advoga a concretização de um conjunto de acções destinadas a promover a diversidade de utilização de combustíveis obtidos a partir de energias renováveis. Neste âmbito, os Estados-Membros devem: assegurar a promoção de uma quota de mercado de 7% para os biocombustíveis em 2010; encorajar a redução do diferencial de preços entre os biocombustíveis e os combustíveis tradicionais; incrementar a promoção voluntária da distribuição dos biocombustíveis em larga escala pelas companhias petrolíferas; intensificar os esforços de pesquisa neste sector. Dos combustíveis de origem renovável disponíveis, destacam-se pela sua importância, os álcoois, o etanol e o metanol, ou os seus derivados, o ETBE (éter etil-ter-butílico) e o MTBE (etil-ter-metílico), utilizados essencialmente em motores Otto de combustão, e os ésteres metílicos de óleos vegetais (girassol, colza, etc.) para utilização em motores diesel. Problemas associados à contaminação de lençóis freáticos e aquíferos nos EUA pelo metanol e MTBE, colocam seriamente em causa a sua utilização. Assim, apenas o etanol e seus derivados, bem como os ésteres metílicos de óleos vegetais biodiesel - constituem alternativas aliciantes aos combustíveis convencionais. Saliente-se que biodiesel é largamente utilizado em diversos países Europeus, com especial relevância em França e Alemanha, o mesmo acontecendo com o etanol no 5

Brasil e EUA, e o ETBE em França. Em Portugal, as condições de produção e utilização destes combustíveis ainda encontram várias barreiras de cariz não tecnológico. Biomassa No que respeita à classificação deste recurso, foi adoptada a definição de biomassa constante da Directiva 2001/77/EC de 27 de Setembro de 2001, isto é: «a fracção biodegradável de produtos e resíduos da agricultura (incluindo substâncias vegetais e animais), da floresta e das indústrias conexas, bem como a fracção biodegradável dos resíduos industriais e urbanos». Refira-se que o processo de conversão ou aproveitamento de energia a partir da biomassa sólida, passa primeiro pela recolha dos vários resíduos de que é composta, seguido do transporte para os locais de consumo, onde se faz o aproveitamento energético por combustão directa. Entre as vantagens, encontra-se o baixo custo de aquisição, a não emissão de dióxido de enxofre a menor corrosão dos equipamentos (caldeiras, fornos), entre outras. As cinzas são menos agressivas ao meio ambiente que as provenientes de combustíveis fósseis. É importante estabelecer uma distinção entre a biomassa proveniente da agricultura, da pecuária, do sector urbano e da floresta em Portugal, face às diferentes estratégias, no que concerne à sua consideração como combustíveis endógenos e alternativos, capazes de minorar o efeito de estufa e, simultaneamente, diminuir a aquisição ao exterior dos combustíveis fósseis utilizados, salienta o Fórum Energias Renováveis em Portugal. Destaca-se aqui a importância da biomassa florestal: 38% da área do território nacional é coberta pela floresta, levando à disponibilidade de materiais ligno-celulósicos directamente da sua gestão. Acrescentam-se ainda os resíduos e desperdícios obtidos do sector de transformação da madeira que não possam ser sujeitos a outro tipo de valorização. Na Central Termoeléctrica de Mortágua, localizada na zona Centro do País, na margem direita da albufeira da Aguieira, produz-se electricidade utilizando como principal combustível a biomassa. A Central Termoeléctrica de Mortágua começou a operar em Agosto de 1999, estando projectada para o escoamento de cerca de 80.000 toneladas ano resíduos florestais queimados numa caldeira de 33MWth. Em 2003, o consumo de biomassa neste central foi superior a 80 000 toneladas. Biogás Obtido pela degradação biológica anaeróbica dos resíduos orgânicos, o biogás é um gás combustível, constituído, em média, por 60% de metano e 40% de dióxido de carbono. Tem origem nos efluentes agro-pecuários, da agro-indústria e urbanos (lamas das estações de tratamento dos efluentes domésticos) e ainda nos aterros de resíduos sólidos urbanos). No aproveitamento do biogás é necessário ponderar a redução da energia consumida no tratamento dos resíduos e, além disso, a queima do metano que faz com que não ocorra o seu lançamento na atmosfera onde é fortemente nocivo em termos de efeito de estufa. Saliente-se que para populações com dimensão superior a 10 a 15.000 habitantes é económico proceder-se à digestão anaeróbia das lamas com consequente produção de 6

biogás, indica o relatório síntese do Forum Energias Renováveis em Portugal. O potencial em Portugal é muito elevado, em especial devido à tendência para a construção de Estações de Tratamento de Águas Residuais multimunicipais ou que recebem efluentes de várias pequenas povoações. É também de salientar a substituição das tradicionais lixeiras municipais por grandes aterros sanitários regionais onde a recolha e eliminação do biogás será naturalmente obrigatória. A produção de electricidade será uma solução viável de aproveitamento do biogás devendo ser consideradas também outras utilizações, incluindo a introdução na rede de gás natural. Energia geotérmica A energia geotérmica é a energia disponível em forma de calor emitido pelo interior da crosta terrestre através de água quente ou vapor de água. Por cada 100 metros de profundidade a temperatura do planeta aumente entre 2 a 3ºC, dependendo da estrutura geológica do local. O aproveitamento da energia geotérmica depende da existência de um fluido que transporte o calor do interior da Terra para a superfície. O fluido pode existir na formação, como água fóssil ou ser proveniente da infiltração da água das chuvas. No caso da sua não existência pode recorrer-se à injecção de água, falando-se, neste caso, de rochas quentes. O aproveitamento deste calor geotérmico pode ser realizado directamente, sempre que a temperatura do fluido obtido seja inferior a um determinado limiar (entre 90 e 150ºC), para aquecimento ambiente, de águas, piscicultura ou mesmo em processos industriais ou na produção de energia eléctrica, quando a temperatura excede aquele limiar. Em Portugal continental existem essencialmente aproveitamentos de baixa temperatura ou termais. No que concerne ao aproveitamento termal, este pode ser dividido em duas vertentes: o aproveitamento de pólos termais existentes (temperaturas entre 20 e 76ºC). São exemplos os aproveitamentos em Chaves e S. Pedro do Sul com cerca de 3 MWt a temperaturas de cerca de 75ºC. o aproveitamento de aquíferos profundos das bacias sedimentares. Refira-se o projecto geotérmico do Hospital da Força Aérea do Lumiar, em Lisboa, que funciona a partir de um furo com 1500 m de profundidade com temperaturas superiores a 50ºC (desde 1992). São de salientar os aproveitamentos na área da geotermia realizados nas ilhas dos Açores (como em S. Miguel, Terceira, Faial, Pico, S. Jorge, Graciosa, Flores e Corvo). Só em S. Miguel, nas Centrais Geotérmicas de Ribeira Grande e Pico Vermelho, a energia produzida por esta fonte representou, em 2003, cerca de 25% da electricidade consumida na ilha, contribuindo a Central Geotérmica da Ribeira Grande com 85,4 GWh e a Central Geotérmica do Pico Vermelho com 3,5 GWh. Energia das ondas Têm sido associadas aos oceanos diversas formas de energias potencialmente utilizáveis, sendo as mais comuns, devido ao seu maior potencial de utilização, as resultantes da conversão da energia cinética, gerada pelas marés e pelas ondas, em energia eléctrica. A conversão de energia a partir das ondas e marés apresenta claras semelhanças com a 7

eólica. Caracterizam-se por não serem fontes de energia contínuas, e serem variáveis e, no caso da eólica e das ondas, imprevisíveis. Em ambos os casos extrai-se energia cinética dum meio fluido em movimento e de extensão praticamente ilimitada, e os sistemas de aproveitamento são modulares, com potências instaladas por unidade previsivelmente inferiores à dezena de MW. A maior complexidade dos sistemas de conversão e a maior agressividade do meio explicam o atraso da tecnologia das ondas em relação à eólica. A energia das ondas tem sido objecto, a nível nacional e internacional, de grande actividade de investigação e desenvolvimento. As regiões costeiras portuguesas, em especial a costa ocidental do continente e as ilhas do Arquipélago dos Açores, estão entre as que têm melhores condições naturais, a nível europeu e mesmo mundial, para o aproveitamento da energia das ondas, salienta o relatório do Forum Energias Renováveis em Portugal. A energia que chega à costa ocidental do continente (500 km) é de cerca de 120 TWh/ano. A conversão de apenas 1% desta energia em energia útil produziria 1,2 TWh/ano. Em Portugal, país pioneiro na investigação e desenvolvimento na área da energia das ondas, encontram-se dois dos poucos protótipos de dimensão industrial: na Ilha do Pico e em Viana do Castelo. A competência específica nesta área está essencialmente concentrada no Instituto Superior Técnico e no INETI - Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovação. A Europa (Portugal, Reino Unido, Irlanda, Holanda, Noruega, Dinamarca) e alguns outros países (Japão, Índia, China, Austrália, EUA) têm desempenhado o papel mais importante no desenvolvimento da utilização da energia das ondas. Numa perspectiva mais abrangente, existe substancial capacidade técnica em Portugal na área do mar, nomeadamente engenharia costeira, portuária e naval. A inexistência de condições naturais minimamente favoráveis torna a energia das marés e a energia associada ao diferencial térmico (OTEC) pouco interessantes em Portugal. Quanto às correntes marítimas, o recurso potencialmente utilizável em Portugal está localizado em estuários, onde o aproveitamento desta energia pode ser ambientalmente sensível. Saliente-se ainda que, em 2007, foi aprovada a criação de uma zona-piloto, em S. Pedro de Moel, para a instalação de projectos experimentais na energia das ondas. Mini-hídricas A publicação de legislação em 1998 e 1999 abriu a actividade de produção independente de energia eléctrica a pessoas singulares ou colectivas de direito público ou privado, com o limite de 10 MW de potência instalada. Tal como indicado anteriormente, no âmbito da Directiva 2001/77/CE, os Estados- Membros da União Europeia comprometem-se a atingir objectivos nacionais no que concerne à parcela de consumo de electricidade que será garantida por fontes renováveis em 2010. Para Portugal, o objectivo fixado é de 39%. Nestas fontes está também incluída a grande hidroelectricidade. Admitiu-se que a contribuição de pequenas centrais hidroeléctricas deverá atingir, em 2010, 1600 GWh/ano. O potencial de aproveitamento de energia mini-hídrica está distribuído por todo o território nacional, com maior concentração no Norte e Centro do País. 8

Desde 1998 e até 1994 foram licenciados 120 empreendimentos de utilização de água para produção de energia. No entanto, de acordo com o relatório síntese do Forum Energias Renováveis em Portugal, menos de metade encontram-se em funcionamento, representando um total de 170 MW de potência instalada e uma produção de 550 GWh/ano. Bibliografia ADENE / INETI (2001). Fórum Energias Renováveis em Portugal - Relatório Síntese. Versão On-line no site do INETI Agência para a Energia Jornal de Negócios 9