Tratamento das Receitas e Despesas Financeiras



Documentos relacionados
DETALHES RELEVANTES NA APRESENTAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA ELABORADO COM BASE NAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

Como Elaborar um Fluxo de Caixa com Base em Demonstrações Encerradas (Parte I)

Projeção do Fluxo de Caixa Caso Prático

PROPOSTA PARA TRATAMENTO DA RECEITA FINANCEIRA NA ANÁLISE DOS RESULTADOS

O QUE TODOS DEVEM DAVER SOBRE PERPETUIDADE

COMO CALCULAR E ANALISAR A CAPACIDADE DE

A ESTRUTURA DE CAPITAL NA ANÁLISE DE NOVOS INVESTIMENTOS

PROJEÇÃO DE DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

COMO ELABORAR UMA DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS POR UNIDADE DE NEGÓCIO

PERGUNTAS MAIS FREQÜENTES SOBRE VALOR PRESENTE LÍQUIDO (VPL)

COMPRAR VERSUS ALUGAR (qual a melhor opção)

Como Elaborar um Fluxo de Caixa com Base em Demonstrações Encerradas (Parte II)

COMO PREPARAR UM RELATÓRIO QUE APRESENTE OS RESULTADOS DA EMPRESA POR UNIDADE DE NEGÓCIO

UM GLOSSÁRIO PARA O DIA A DIA DO EXECUTIVO

TAXA INTERNA DE RETORNO (TIR) PERGUNTAS MAIS FREQÜENTES

TIPOS DE INVESTIMENTOS IMPORTANTES NA ELABORAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA- PARTE l

COMO ANALISAR ECONOMICAMENTE DUAS PROMOÇÕES

ENTENDENDO OS DIVERSOS CONCEITOS DE LUCRO

O FORMATO NOTA 10 PARA APRESENTAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA (com base em demonstrações financeiras encerradas)

COMO CONVERTER DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS BRASILEIRAS PARA A MOEDA AMERICANA (FAS 52) - EXEMPLO PRÁTICO

COMO SELECIONAR PROJETOS QUANDO EXISTE RESTRIÇÃO DE CAPITAL

RECUPERAÇÃO DE IMPOSTOS E O CUSTO REAL DA COMPRA DE MATÉRIA-PRIMA

PARA CRIAR VALOR PARA O ACIONISTA NÃO BASTA TER EVAs POSITIVOS - É PRECISO QUE SEJAM "CRESCENTES"

CONSTRUINDO E ANALISANDO O EBITDA NA PRÁTICA

COMO SALVAR UM PRODUTO DE UMA BAIXA IRREVERSÍVEL (?) NO PREÇO DE VENDA (investindo em diferenciais competitivos)

A Projeção de Investimento em Capital de Giro na Estimação do Fluxo de Caixa

COMO INTERPRETAR A RELAÇÃO VENDAS / ATIVOS ( GIRO )

QUAL A DIFERENÇA ENTRE O VPL DA OPERAÇÃO E O VPL DO ACIONISTA?

TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER SOBRE O INDICADOR : RETORNO SOBRE O PATRIMÔNIO LÍQUIDO

QUAL O CRITÉRIO IDEAL PARA REAJUSTAR O PREÇO DE UM SERVIÇO

AS PRINCIPAIS DIFERENÇAS ENTRE O LUCRO LÍQUIDO E O FLUXO DE CAIXA

EXEMPLO COMPLETO DO CÁLCULO DO FLUXO DE CAIXA COM BASE EM DEMONSTRATIVOS FINANCEIROS

PROCEDIMENTOS PARA ANALISAR PROJETOS EXCLUDENTES COM VIDAS ESTIMADAS DIFERENTES

DURATION - AVALIANDO O RISCO DE MUDANÇA NAS TAXAS DE JUROS PARTE l

COMO TRATAR A INFLAÇÃO NA ANÁLISE DE UM NOVO INVESTIMENTO

COMO TRATAR A TAXA DE JUROS NA FORMAÇÃO DO PREÇO DE VENDA

UTILIZANDO A TIR PARA ANÁLISE DE DOIS PROJETOS EXCLUDENTE

COMO CALCULAR O PONTO DE EQUILÍBRIO NA PRÁTICA

O QUE É CUSTO DE CAPITAL PARTE ll

QUE TAL ANALISAR O MVPL Valor Presente Líquido Modificado

COMO CALCULAR UM FLUXO DE CAIXA COM BASE EM DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS ENCERRADAS. Autor: Francisco Cavalcante UP-TO-DATE. ANO I.

COMO QUALIFICAR O PREÇO DE VENDA DE SEUS PRODUTOS (UTILIZANDO AS TÉCNICAS DE ANÁLISE DE INVESTIMENTOS FORMAÇÃO DE PREÇOS)

COMO DETERMINAR O PREÇO DE LANÇAMENTO DE UMA AÇÃO NA ADMISSÃO DE NOVOS SÓCIOS

COMO SE GANHA DINHEIRO GIRANDO MAIS O NEGÓCIO

REGRESSÃO LINEAR SIMPLES

Como calcular o Índice de Lucratividade (IL)

PAYBACK - CALCULANDO O TEMPO NECESSÁRIO PARA RECUPERAR O INVESTIMENTO

ANÁLISE DE UM NOVO INVESTIMENTO - A IMPORTÂNCIA DO INTERVALO DE PERÍODO NA ELABORAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA

COMO TRATAR O VALOR RESIDUAL NA ANÁLISE DE UM NOVO INVESTIMENTO

COMO CALCULAR PRAZOS MÉDIOS QUANDO ESTES EXCEDEM 30 DIAS

O NOME DO JOGO É: O MÁXIMO DE RETORNO SOBRE INVESTIMENTO COM O MÍNIMO DE CUSTO DE CAPITAL

OS IMPACTOS DA MUDANÇA PARA MAIS OU PARA MENOS NA TAXA DE JUROS SOBRE O PREÇO DE VENDA

COMO CRIAR UM PLANO DE AMORTIZAÇÃO

MERCADO DE OPÇÕES - O QUE É E COMO FUNCIONA

COMO FUNCIONAM DOIS PROCEDIMENTOS DO ICMS NA FORMAÇÃO DO PREÇO DE VENDA

RESENHA TRIBUTÁRIA ATUALIZADA

COMO CALCULAR O PRINCIPAL INDICADOR PARA MEDIR A EFICIÊNCIA FINANCEIRA DE UMA

Como Analisar Projetos Independentes E Excludentes

COMO UTILIZAR A FÓRMULA DO PONTO DE EQUILÍBRIO EM VOLUME NUMA EMPRESA QUE VENDE VÁRIOS PRODUTOS

COMO ESTIMAR QUANTAS VEZES UMA VARIÁVEL É MAIS IMPORTANTE DO QUE OUTRA. Para auxiliar na definição de cenários

JOGO DOS 4 ERROS - ANALISANDO UM NOVO INVESTIMENTO: ONDE ESTÃO OS 4 ERROS?

ASPECTOS AVANÇADOS NA ANÁLISE

CUSTO DE REPOSIÇÃO NA FORMAÇÃO DE PREÇOS

COMO CONVERTER DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS BRASILEIRAS PARA A MOEDA AMERICANA (FAS 52)

Outros Tópicos Importantes na Elaboração do Fluxo de Caixa

TÓPICOS ESPECIAIS DE CONTABILIDADE: JUROS SOBRE CAPITAL

COMO REDUZIR CUSTOS NA CONTRATAÇÃO DE SERVIÇOS

O VALOR DO CONTROLE PARTE 2

Aula de Apuração do Resultado (ARE) Prof. Pedro A. Silva (67)

Quais as aplicações do custo de capital?

ENTENDENDO OS CONCEITOS DE RISCO E RETORNO

COMO IDENTIFICAR E ANALISAR OS IMPACTOS DOS DRIVERS DA EMPRESA (CASH E VALUE)

AS 7 ETAPAS PARA ELABORAR UMA BOA ANÁLISE DE INVESTIMENTO

COMO DETERMINAR O PREÇO DE UMA

COMO ESTABELECER METAS DE DESEMPENHO ECONÔMICO E FINANCEIRO PERFEITAMENTE ALINHADAS (ou Definição de uma Taxa de Crescimento Sustentável)

Autor: Francisco Cavalcante UP-TO-DATE. ANO I. NÚMERO 25. Circular para: CAVALCANTE ASSOCIADOS

TODAS AS EMPRESAS DEVERIAM TER UM SIMULADOR DE PREÇOS. Francisco Cavalcante

UP-TO-DATE. ANO I. NÚMERO 15

COMO ORGANIZAR A APRESENTAÇÃO DOS INDICADORES ECONÔMICOS E FINANCEIROS (COLOCANDO-OS DEBAIXO DOS 3 DETERMINANTES DO RETORNO SOBRE

! Revisão de conceitos importantes! Fluxo com VRG diluído! Fluxo com VRG no final do contrato! Comparação com outras alternativas de financiamento

Avaliação pelo Método do Fluxo de Caixa Descontado

ÍNDICE SUBSTITUIÇÃO DE EQUIPAMENTOS...3 ESTUDOS DOS INSUMOS PASSADOS...4 HORIZONTE DO PLANEJAMENTO...5 CUSTO PRESENTE LÍQUIDO...6

ENTENDENDO OS CONCEITOS DE RISCO E RETORNO - (Parte III)

COMO CALCULAR A PERFORMANCE DOS FUNDOS DE INVESTIMENTOS - PARTE II

Vantagens e Cuidados na utilização do Valor Econômico Agregado - EVA

Conceitos e princípios básicos de Matemática Financeira aplicada à vida cotidiana do cidadão

QUAL A DIFERENÇA ENTRE O CÁLCULO DA TAXA CDI E TAXA OVER DE JUROS?

PATRIMÔNIO LÍQUIDO CONTÁBIL versus VALOR DE MERCADO Cálculo do patrimônio líquido pelo valor de mercado

APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS DAS

2ª edição Ampliada e Revisada. Capítulo 6 Grupo de contas do Balanço Patrimonial

O que é e como funciona uma operação de swap

COMO DETERMINAR O VALOR DE UMA EMPRESA PELO MÉTODO DO FLUXO DE CAIXA DESCONTADO. Um Texto Imperdível para os Interessados no Assunto

TÓPICO ESPECIAL DE CONTABILIDADE: PARTICIPAÇÕES MINORITÁRIAS

ANÁLISE FINANCEIRA VISÃO ESTRATÉGICA DA EMPRESA

DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA (DFC)

TÓPICO ESPECIAL DE CONTABILIDADE: EQUIVALÊNCIA PATRIMONIAL

ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS. Aula 12- Unidade III. Análise avançada das demonstrações contábeis. Prof.: Marcelo Valverde

INSTRUMENTO DE APOIO GERENCIAL

Logística Prof. Kleber dos Santos Ribeiro. Contabilidade. História. Contabilidade e Balanço Patrimonial

UP-TO-DATE. ANO I. NÚMERO 22

Transcrição:

Tratamento das Receitas e Despesas Financeiras! Onde considerar a despesa financeira?! A receita financeira é ou não operacional?! Faz sentido apresentar as receitas financeiras líquidas das despesas? Francisco Cavalcante (francisco@fcavalcante.com.br) Sócio-Diretor da Cavalcante Associados, empresa especializada na elaboração de sistemas financeiros nas áreas de projeções financeiras, preços, fluxo de caixa e avaliação de projetos. A Cavalcante Associados também elabora projetos de capitalização de empresas, assessora na obtenção de recursos estáveis, além de compra e venda de participações acionárias. Administrador de Empresas graduado pela EAESP/FGV. Desenvolveu mais de 100 projetos de consultoria, principalmente nas áreas de planejamento financeiro, formação do preço de venda, avaliação de empresas e consultoria financeira em geral. UP-TO-DATE - N O 338 TRATAMENTO DAS RECEITAS E DESPESAS FINANCEIRAS 1

ÍNDICE 1. APRESENTAÇÃO... 3 2. RECEITAS FINANCEIRAS (RFS)... 3 3. DESPESAS FINANCEIRAS (DFS)... 5 4. FORMAS DE APRESENTAÇÃO DA DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADO (DRE)... 8 UP-TO-DATE - N O 338 TRATAMENTO DAS RECEITAS E DESPESAS FINANCEIRAS 2

1. Apresentação O tratamento das receitas e despesas financeiras é motivo de dúvidas entre os analistas. Vamos desenvolver o assunto neste Up-To-Date dando nossa opinião. 2. Receitas Financeiras (RFs) Vamos considerar as receitas financeiras (RFs) no seu significado mais comum: são as receitas provenientes da aplicação dos excedentes temporários de caixa. Muitos analistas financeiros (não todos) tratam as RFs fora do lucro operacional. Neste caso, entende-se que somente são receitas operacionais aquelas provenientes diretamente da vendas de bens e serviços. Nossa interpretação é a seguinte: As receitas financeiras provêm, na sua essência, do superávit temporário de caixa provocado pelo desequilíbrio entre as entradas e saídas de eventos ligados à operação. Este caixa temporariamente ocioso é aplicado no mercado financeiro, até o momento de sua saída para o pagamento se um serviço da dívida, de um dividendo, etc. UP-TO-DATE - N O 338 TRATAMENTO DAS RECEITAS E DESPESAS FINANCEIRAS 3

O dinheiro ganho com estas aplicações financeiras ajuda a pagar os gastos do dia a dia da operação. Em nossa opinião, esta leitura da origem da existência de RFs dá um caráter operacional a elas. Em resumo: as RFs não advém diretamente da venda de bens e serviços, todavia, se origina do desequilíbrio do caixa entre eventos de natureza operacional. Em nossa opinião, as receitas financeiras somente deverão ser tratadas como resultado não operacional, quando forem originadas de eventos não operacionais, como os juros de um empréstimo concedido a uma controlada, ou os juros provenientes de um excedente de caixa pela venda de um ativo não operacional. UP-TO-DATE - N O 338 TRATAMENTO DAS RECEITAS E DESPESAS FINANCEIRAS 4

3. Despesas Financeiras (DFs) Vamos considerar as despesas financeiras (DFs) no seu significado mais comum: são as despesas provenientes da contratação de financiamentos bancários ou operações assemelhadas. As despesas financeiras não devem fazer parte do lucro operacional. O lucro operacional é aquele proveniente da gestão dos ativos operacionais, independentemente de como estes foram financiados. O lucro operacional serve para medir a eficiência dos gestores da companhia, sem levar em consideração como foram financiados seus ativos. Portanto, somente devem fazer parte do lucro operacional os gastos com a operação, e não os gastos com a estrutura de capital. Todavia, as despesas financeiras podem ser classificadas quanto à sua origem em dois tipos: 1. Despesas financeiras temporárias e, 2. Despesas financeiras estruturais. UP-TO-DATE - N O 338 TRATAMENTO DAS RECEITAS E DESPESAS FINANCEIRAS 5

Despesa Financeiras Temporárias Muitas empresas têm um déficit temporário de caixa, provocado por um aumento no prazo de venda a clientes, uma compra exagerada de matérias primas, etc. Nestas oportunidades, a empresa não deseja atrasar pagamento de salários, fornecedores, etc. Então, a empresa recorre a empréstimos temporários junto a instituições financeiras. No Brasil, estes empréstimos costumam ter duas características marcantes: 1. Um custo financeiro elevado e 2. Um prazo de vida curto. Por esta razão, nenhuma empresa deseja ficar com este tipo de empréstimo na sua estrutura de capital. Quando o fluxo de caixa da operação volta a ficar superavitário, a empresa deixa de descontar duplicatas, liquida o empréstimo de hot money e operações assemelhadas. Em nossa opinião, os juros deste tipo de empréstimo temporário devem ser tratados na formação do lucro operacional. UP-TO-DATE - N O 338 TRATAMENTO DAS RECEITAS E DESPESAS FINANCEIRAS 6

Despesa Financeiras Estruturais Quando uma empresa necessita fazer investimento com retorno no médio ou longo prazo, ela não pode depender de empréstimos a custos elevados e ciclo de vida curto, como na situação do texto anterior. Neste caso, a empresa necessita de linha de financiamento de longo prazo, e a custos mais moderados. Quando uma empresa vai investir $10 milhões e decide utilizar 40% de recursos próprios e 60% do BNDES, toma-se uma decisão de estrutura de capital. Contrata-se um financiamento que intencionalmente vais fazer parte do passivo da empresa durante anos. Nestes casos, os juros deste tipo de financiamento não farão parte do lucro operacional, pois não são custos da operação, e sim da estrutura de capital. UP-TO-DATE - N O 338 TRATAMENTO DAS RECEITAS E DESPESAS FINANCEIRAS 7

4. Formas de apresentação da Demonstração de Resultado (DRE) Em síntese, propomos a seguinte forma de apresentação da DRE: Receitas $10.000 (-) Impostos sobre as receitas ($1.000) (=) Receitas líquidas $9.000 (-) Custos operacionais ($5.000) (-) Despesas Operacionais ($2.000) (+) Receitas financeiras $200 (-) Juros temporários ($300) (=) Lucro operacional $1.900 (-) Juros estruturais ($1.000) (=) Lucro antes do IR/CSLL $1.000 Por todos estes comentários, fica claro que não tem qualquer significado a linha resultados financeiros líquidos, como diferença entre as receitas e despesas financeiras. UP-TO-DATE - N O 338 TRATAMENTO DAS RECEITAS E DESPESAS FINANCEIRAS 8