26. CONCEBIDO PELO PODER DO ESPÍRITO SANTO, NASCIDO DA VIRGEM MARIA 484-511



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Transcrição:

26. CONCEBIDO PELO PODER DO ESPÍRITO SANTO, NASCIDO DA VIRGEM MARIA 484-511 INTRODUÇÃO O tema principal destes parágrafos continua sendo a encarnação, mas a partir da preparação que Deus realiza em Maria (488-489), preservando-a de toda a mancha do pecado original (490-493). Maria responde com a obediência da fé, tornando-se assim a Mãe de Jesus (494) e a Mãe de Deus (495). O fato e o mistério de Maria conceber pelo poder do Espírito Santo tem a sua expressão corporal na concepção virginal (496-498), virgindade esta que é real a perpétua (499-501) e tem significado salvífico (502-507). Texto 484-511 PARÁGRAFO 2 CONCEBIDO PELO PODER DO ESPÍRITO SANTO, NASCIDO DA VIRGEM MARIA I. Concebido pelo poder do Espírito Santo 484. A Anunciação a Maria inaugura a plenitude dos tempos (Gl 4,4), isto é, o cumprimento das promessas e das preparações. Maria é convidada a conceber aquele em quem habitará corporalmente a plenitude da divindade (Cl 2,9). A resposta divina à sua pergunta Como se fará isto, se não conheço homem algum? (Lc 1,34) é dada pelo poder do Espírito: O Espírito Santo virá sobre ti (Lc 1,35). Parágrafos relacionados: 461, 721. 485. A missão do Espírito Santo está sempre conjugada e ordenada à do Filho. O Espírito Santo é enviado para santificar o seio da Virgem Maria e fecundá-la

divinamente, ele que é o Senhor que dá a Vida, fazendo com que ela conceba o Filho Eterno do Pai em uma humanidade proveniente da sua. Parágrafos relacionados: 689, 723. 486. Ao ser concebido como homem no seio da Virgem Maria, o Filho Único do Pai é Cristo, isto e, ungido pelo Espirito Santo desde o início de sua existência humana, ainda que sua manifestação só se realize progressivamente: aos pastores, aos magos, a João Batista, aos discípulos. Toda a Vida de Jesus Cristo manifestará, portanto, como Deus o ungiu com o Espírito e com poder (At 10,38). Parágrafo relacionado: 437. II. Nascido da Virgem Maria 487. O que a fé católica crê acerca de Maria funda-se no que ela crê acerca de Cristo, mas o que a fé ensina sobre Maria ilumina, por sua vez, sua fé em Cristo. Parágrafo relacionado: 963. A PREDESTINAÇÃO DE MARIA 488. Deus enviou Seu Filho (Gl 4,4), mas, para formar-lhe um corpo quis a livre cooperação de uma criatura. Por isso, desde toda a eternidade, Deus escolheu, para ser a Mãe de Seu Filho, uma filha de Israel, uma jovem judia de Nazaré na Galiléia, uma virgem desposada com um varão chamado José, da casa de Davi, e o nome da virgem era Maria (Lc 1,26-27): Quis o Pai das misericórdias que a Encarnação fosse precedida pela aceitação daquela que era predestinada a ser Mãe de seu Filho, para que, assim como uma mulher contribuiu para a morte, uma mulher também contribuísse para a vida. 489. Ao longo de toda a Antiga Aliança, a missão de Maria foi preparada pela missão de santas mulheres. No princípio está Eva: a despeito de sua desobediência, ela recebe a promessa de uma descendência que será vitoriosa sobre o Maligno e a de ser a mãe de todos os viventes Em virtude dessa promessa, Sara concebe um filho, apesar de sua idade avançada. Contra toda expectativa humana, Deus escolheu o era tido como impotente e fraco para mostrar sua fidelidade à sua promessa: Ana, a mãe de Samuel,

Débora, Rute, Judite e Ester, e muitas outras mulheres. Maria sobressai entre (esses) humildes e pobres do Senhor, que dele esperam e recebem com confiança a Salvação. Com ela, Filha de Sião por excelência, depois de uma demorada espera da promessa, completam-se os tempos e se instaura a nova economia. Parágrafos relacionados: 722, 410, 145, 64. A IMACULADA CONCEIÇÃO 490. Para ser a Mãe do Salvador, Maria: foi enriquecida por Deus com dons dignos para tamanha função. No momento da Anunciação, o anjo Gabriel a saúda como cheia de graça. Efetivamente, para poder dar o assentimento livre de sua fé ao anúncio de sua vocação era preciso que ela estivesse totalmente sob a moção da graça de Deus. Parágrafos relacionados: 2676, 2853, 2001. 491. Ao longo dos séculos, a Igreja tomou consciência de que Maria, cumulada de graça por Deus, foi redimida desde a concepção. E isso que confessa o dogma da Imaculada Conceição, proclamado em 1854 pelo papa Pio IX: A beatíssima Virgem Maria, no primeiro instante de sua Conceição, por singular graça e privilégio de Deus onipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano foi preservada imune de toda mancha do pecado original. Parágrafo relacionado: 411 492. Esta santidade resplandecente, absolutamente única da qual Maria é enriquecida desde o primeiro instante de sua conceição lhe vem inteiramente de Cristo: Em vista dos méritos de seu Filho, foi redimida de um modo mais sublime. Mais do que qualquer outra pessoa criada, o Pai a abençoou com toda a sorte de bênçãos espirituais,

nos céus, em Cristo (Ef 1,3). Ele a escolheu nele (Cristo), desde antes da fundação do mundo, para ser santa e imaculada em sua presença, no amor (Ef 1,4). Parágrafos relacionados: 2011, 1077. 493, Os Padres da tradição oriental chamam a Mãe de Deus a toda santa (Pan-hagia), celebram-na como imune de toda mancha de pecado, tendo sido plasmada pelo Espirito Santo, e formada como uma nova criatura. Pela graça de Deus, Maria permaneceu pura de todo pecado pessoal ao longo de toda a sua vida. FAÇA-SE EM MIM SEGUNDO A TUA PALAVRA 494. Ao anúncio de que, sem conhecer homem algum, ela conceberia o Filho do Altíssimo pela virtude do Espírito Santo, Maria respondeu com a obediência da fé, certa de que nada é impossível a Deus : Eu sou a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra (Lc 1,37-38). Assim, dando à Palavra de Deus o seu consentimento, Maria se tomou Mãe de Jesus e, abraçando de todo o coração, sem que nenhum pecado a retivesse, a vontade divina de salvação, entregou-se ela mesma totalmente à pessoa e à obra de seu Filho, para servir, na dependência dele e com Ele, pela graça de Deus, ao Mistério da Redenção. Parágrafos relacionados: 2617, 148, 968. Como diz Santo Irineu, obedecendo, se fez causa de salvação tanto para si como para todo o gênero humano. Do mesmo modo, não poucos antigos Padres dizem com ele: O nó da desobediência de Eva foi desfeito pela obediência de Maria; o que a virgem Eva ligou pela incredulidade a virgem Maria desligou pela fé. Comparando Maria com Eva, chamam Maria de mãe dos viventes e com frequência afirmam: Veio a morte por Eva e a vida por Maria. Parágrafo relacionado: 726. A MATERNIDADE DIVINA DE MARIA 495. Denominada nos Evangelhos a Mãe de Jesus (Jo 2,1; 19,25), Maria é aclamada, sob o impulso do Espírito, desde antes do nascimento de seu Filho, como a Mãe de meu Senhor (Lc 1,43). Com efeito, Aquele que ela concebeu Espírito Santo como homem e que se tornou verdadeiramente seu Filho segundo a carne não é outro que o Filho eterno do Pai, a segunda Pessoa da Santíssima Trindade. A Igreja confessa que Maria é verdadeiramente Mãe de Deus (Theotókos). Parágrafos relacionados: 466, 2677.

A VIRGINDADE DE MARIA 496. Desde as primeiras formulações da fé, a Igreja confessou que Jesus foi concebido exclusivamente pelo poder do Espírito Santo no seio da Virgem Maria, afirmando também o aspecto corporal deste evento: Jesus foi concebido do Espírito Santo, sem sêmen. Os Padres veem na conceição virginal o sinal de que foi verdadeiramente o Filho de Deus que veio numa humanidade como a nossa: Assim, Santo Inácio de Antioquia (início do século II): Estais firmemente convencidos acerca de Nosso Senhor, que é verdadeiramente da raça de Davi segundo a carne, Filho de Deus segundo a vontade e o poder de Deus, verdadeiramente nascido de uma virgem... ele foi verdadeiramente pregado, na sua carne, (à cruz) por nossa salvação sob Pôncio Pilatos... ele sofreu verdadeiramente, como também ressuscitou verdadeiramente. 497. Os relatos evangélicos entendem a conceição virginal como uma obra divina que ultrapassa toda compreensão e toda possibilidade humanas: O que foi gerado nela vem do Espírito Santo, diz o anjo a José acerca de Maria, sua noiva (Mt 1,20). A Igreja vê aí o cumprimento da promessa divina dada pelo profeta Isaias: Eis que a virgem conceber e dará à luz um filho (Is 7,14, segundo a tradução grega de Mt 1,23). 498. Por vezes tem-se estranhado o silêncio do Evangelho de São Marcos e das epístolas do Novo Testamento sobre a concepção virginal de Maria. Houve também quem se perguntasse se não se trataria aqui de lendas ou de construções teológicas sem pretensões históricas. A isto deve-se responder: a fé na concepção virginal de Jesus deparou com intensa oposição, zombarias ou incompreensões da parte dos não-crentes, judeus e pagãos. Ela não era motivada pela mitologia pagã ou por alguma adaptação às ideias do tempo. O sentido deste acontecimento só é acessível à fé, que o vê no nexo que interliga os mistérios entre si, no conjunto dos Mistérios de Cristo, desde a sua Encarnação até a sua Páscoa. Santo Inácio de Antioquia já dá testemunho deste nexo: O príncipe deste mundo ignorou a virgindade de Maria e o seu parto, da mesma forma que a Morte do Senhor: três mistérios proeminentes que se realizaram no silêncio de Deus. Parágrafos relacionados: 90, 2717. MARIA - SEMPRE VIRGEM 499. O aprofundamento de sua fé na maternidade virginal levou a Igreja a confessar a virgindade real e perpétua de Maria, mesmo no parto do Filho de Deus feito homem. Com efeito, o nascimento de Cristo "não lhe diminuiu, mas sagrou a integridade

virginal" de sua mãe. A Liturgia da Igreja celebra Maria como a Aeiparthenos, sempre virgem. 500. A isto objeta-se por vezes que a Escritura menciona Irmãos e irmãs de Jesus. A Igreja sempre entendeu que essas passagens não designam outros filhos da Virgem Maria: com efeito, Tiago e José, irmãos de Jesus (Mt 13,55), são os filhos de uma Maria discípula de Cristo que significativamente é designada como a outra Maria (Mt 28,1). Trata-se de parentes próximos de Jesus, consoante uma expressão conhecida do Antigo Testamento. 501. Jesus é o Filho Único de Maria. Mas a maternidade espiritual de Maria estende-se a todos os homens que Ele veio salvar: Ela gerou seu Filho, do qual Deus fez o primogênito entre uma multidão de irmãos (Rm 8,29), isto é, entre os fiéis, em cujo nascimento e educação Ela coopera com amor materno. Parágrafos relacionados: 969,970. A MATERNIDADE VIRGINAL DE MARIA NO DESÍGNIO DE DEUS 502. O olhar da fé pode descobrir, tendo em mente o conjunto da Revelação, as razões misteriosas pelas quais Deus, em seu desígnio salvífico, quis que seu Filho nascesse de uma virgem. Essas razões tocam tanto a pessoa e a missão redentora de Cristo quanto o acolhimento desta missão por Maria em favor de todos os homens. Parágrafo relacionado: 90. 503. A virgindade de Maria manifesta a iniciativa absoluta de Deus Encarnação. Jesus tem um só Pai: Deus. A natureza humana que ele assumiu nunca o afastou do Pai...; por natureza, Filho de seu Pai segundo a divindade; por natureza, Filho de sua Mãe, segundo a humanidade; mas propriamente Filho de Deus em suas duas naturezas. Parágrafo relacionado: 422. 504. Jesus é concebido pelo poder do Espírito Santo no seio da Virgem Maria, pois ele é o Novo Adão que inaugura a nova criação: O primeiro homem, tirado da terra, é terrestre; o segundo homem vem do Céu (1Cor 15,47). A humanidade de Cristo é, desde a sua concepção, repleta do Espírito Santo, pois Deus lhe dá o Espírito sem medida (Jo 3,34). É da plenitude dele, cabeça da humanidade remida, que nós recebemos graça sobre graça (Jo 1,16). Parágrafo relacionado: 359. 505. Jesus, o Novo Adão, inaugura por sua concepção virginal o novo nascimento dos filhos de adoção no Espírito Santo pela fé. Como se fará isto? (Lc 1,34). A participação na vida divina não vem do sangue, nem de uma vontade da carne, nem de uma vontade do homem, mas de Deus (Jo 1,13). O acolhimento desta vida é virginal, pois esta é totalmente dada pelo Espírito ao homem. O sentido esponsal da vocação humana em relação a Deus é realizado perfeitamente na maternidade virginal de Maria. Parágrafo relacionado: 1265. 506. Maria é virgem porque sua virgindade é o sinal de sua fé, absolutamente livre de qualquer dúvida, e de sua doação sem reservas à vontade de Deus. É sua fé que lhe concede tomar-se a Mãe do Salvador: Beatior est Maria percipiendo fidem Christi quam concipiendo carnem Christi - Maria é mais bem-aventurada recebendo a fé de Cristo do que concebendo a carne de Cristo. Parágrafos relacionados: 148, 1814.

507. Maria é ao mesmo tempo Virgem e Mãe por ser a figura e a mais perfeita realização da Igreja. A Igreja... torna-se também ela Mãe por meio da palavra de Deus que ela recebe na fé, pois pela pregação e pelo Batismo ela gera para a vida nova e imortal os filhos concebidos do Espírito Santo e nascidos de Deus. Ela é também a virgem que guarda, íntegra e puramente, a fé dada a seu Esposo. Parágrafos relacionados: 967, 149. RESUMINDO 508. Na descendência de Eva, Deus escolheu a Virgem Maria para ser a Mãe de seu Filho. Cheia de graça, ela é o fruto mais excelente da Redenção. Desde o primeiro instante de sua concepção, foi totalmente preservada da mancha do pecado original e permaneceu pura de todo pecado pessoal ao longo de toda a sua vida. 509. Maria é verdadeiramente Mãe de Deus, visto ser a Mãe do Filho Eterno de Deus feito homem, que é ele mesmo Deus. 510. Maria permaneceu Virgem concebendo seu Filho, Virgem ao dá-lo à luz, Virgem ao carregá-lo, Virgem ao alimentá-lo de seu seio, Virgem sempre : com todo o seu ser Ela é a Serva do Senhor (Lc 1,38). 511. A Virgem Maria cooperou para a salvação humana com livre fé e obediência Pronunciou seu fiat (faça-se) em representação de toda a natureza humana Por sua obediência, tornou-se a nova Eva, Mãe dos viventes. Revisando temas Os parágrafos que estudamos nos falam de Maria e por isso mesmo de Jesus Cristo. Há uma necessária e estreita correspondência entre o que cremos sobre Jesus Cristo e aquilo que afirmamos de Maria. De fato, o que a fé católica crê acerca de Maria fundase no que ela crê acerca de Cristo, mas o que a fé ensina sobre Maria ilumina, por sua vez, sua fé em Cristo (487). A verdadeira devoção de Nossa Senhora não desvia o cristão de Cristo nem ameaça a sua centralidade. Pelo contrário, a verdadeira devoção a Maria nos faz melhores cristãos. Levando em conta essa estreita correspondência entre o que a fé crê a respeito de Maria e a centralidade que Cristo ocupa na mesma fé católica, o Catecismo expõe os dogmas marianos.

1. A Imaculada Conceição A Igreja reconhece que Maria foi preservada imune de toda a mancha do pecado original (490). E ela descobre tal verdade no chamado proto-evangelho (Gn 3,15), no qual está afirmada a inimizade entre Eva e a serpente, entre a descendência da mulher e a do poder de sedução. Maria é a segunda Eva, unida ao segundo Adão que é Cristo. Ora, esta inimizade completa de Maria em relação ao poder do mal já encerra em si, profeticamente, a verdade de que Maria jamais pôde estar sujeita a tal poder ou manchada por ele. A passagem de Gn 3,15 exprime de forma negativa (a isenção de Maria do pecado) o que as palavras do anjo Gabriel afirmam positivamente: tu és cheia de graça. O fato de Maria ser cheia de graça não é um mero atributo humano provisório e superficial. Pelo contrário, trata-se de um estado essencial e fundamental de Maria, uma condição que lhe é própria de maneira pessoal. Diante dessa graça singular e privilégio de Maria, surge espontânea a pergunta: a imaculada conceição de Maria (a sua isenção do pecado original) faz dela alguém que não precisa da redenção de Cristo? Significa colocar Maria em pé de igualdade com o Redentor? A esse questionamento o Catecismo responde de maneira clara: Esta santidade resplandecente, absolutamente única da qual Maria é enriquecida desde o primeiro instante de sua conceição lhe vem inteiramente de Cristo (492). O dogma da Imaculada Conceição de Maria não quer, de forma alguma, diminuir o alcance nem a necessidade da ação redentora de Cristo. Pelo contrário, se bem entendido, esse dogma consolida a ação redentora de Cristo de maneira mais luminosa ainda. É preciso levar em conta que a isenção de Maria de toda mancha do pecado original se dá por singular graça e privilégio de Deus, em vista dos méritos de Jesus Cristo. Com a isenção de Maria do pecado, a obra salvadora de Cristo não é de forma alguma colocada de lado nem diminuída. Pelo contrário, a obra redentora de Cristo é realmente tão poderosa que alcança todo o tempo (também os que vieram antes de Cristo são salvos por Ele) e o supera. Dessa maneira, os efeitos da obra redentora podem atingir e ser aplicados a uma criatura antes mesmo de sua existência terrena (esse é o caso de Maria). Por isso, crer na imaculada conceição significa contemplar o mistério da redenção não como uma ação limitada ao tempo e ao espaço, mas como maravilhoso agir de Deus eterno para além do tempo e do espaço. O dogma da imaculada conceição não separa Maria de Cristo, mas a reconduz a Ele. A conceição imaculada de Maria é a ação redentora que se antecipa em Maria; é a ação de Cristo que prepara o espaço materno no seio da humanidade a fim de realizar a encarnação. Assim a imaculada conceição de Maria não limita a ação redentora, pelo contrário realça o seu poder de agir se antecipando ao ser humano. Na fé católica não existe auto-salvação: nós somos todos salvos por Cristo, também Maria. E a sua imaculada conceição está aí para provar isso. Nesse sentido, Maria não é uma exceção: ela é a primeira redimida por Cristo. A preservação do pecado não faz de Maria menos ser humano (uma semi-deusa)? Para responder a essa pergunta devemos olhar para o mistério do Verbo encarnado. Jesus era em tudo igual a nós, menos no pecado, e é exatamente por isso que Ele é homem perfeitamente íntegro. Assim é preciso corrigir o ditado: errar é humano. O pecado é o que mais desumano pode ocorrer; ele desumaniza e embrutece.

2. A maternidade divina de Maria A afirmação de que Maria é verdadeiramente mãe de Deus (495) é uma afirmação cristológica. Mais exatamente: reconhecer a maternidade divina de Maria tem por finalidade confessar a verdade da encarnação do Verbo; negar a maternidade divina de Maria implica também negar a verdade da encarnação: que Deus possa se tornar homem em senso verdadeiro e real e que um homem possa ser assumido na unidade pessoal com o Filho de Deus. Aquele que ela concebeu Espírito Santo como homem e que se tornou verdadeiramente seu Filho segundo a carne não é outro que o Filho eterno do Pai, a segunda Pessoa da Santíssima Trindade (495). Maria não se tornou mãe apenas de um homem, mas do Filho de Deus que realmente se fez homem. A verdade da maternidade divina de Maria sublinha que Cristo é Filho de Deus e ao mesmo tempo verdadeiro homem. Sublinha também que Ele, como filho de uma mãe humana, continua a existir na unidade divino-humana, isto é, que é e permanece Homem-Deus. 3. A virgindade de Maria A maternidade divina de Maria está ligada estreitamente à virgindade de Maria: Desde as primeiras formulações da fé, a Igreja confessou que Jesus foi concebido exclusivamente pelo poder do Espírito Santo no seio da Virgem Maria, afirmando também o aspecto corporal deste evento: Jesus foi concebido do Espírito Santo, sem sêmen. Os Padres veem na conceição virginal o sinal de que foi verdadeiramente o Filho de Deus que veio numa humanidade como a nossa (496). A maternidade virginal de Maria tem um inegável caráter espiritual: a dedicação total a e a sua fé perfeita em Deus constituem, de fato, o núcleo mais íntimo da virgindade de Maria. É exatamente essa convicção que fez Santo Agostinho escrever: Maria é bemaventurada mais por ter acolhido a fé em Cristo do que por ter concebido a sua carne (De sacra virginitate 3,3). Contudo esse aspecto espiritual não diminui o aspecto corporal da maternidade virginal de Maria. Com efeito, a salvação diz respeito a todo o ser humano: ao espírito, à alma e ao corpo. A Igreja e a tradição patrística nunca pensaram, por conseguinte, numa virgindade unicamente espiritual, mesmo que sempre tenha reconhecido a importância do senso espiritual da maternidade virginal. Além de respeitar e salvaguardar a unidade de corpo e alma do ser humano, a concepção virginal de Maria mostra e exige o momento criativo divino. A nova criação da nova humanidade em Cristo é uma ação exclusiva de Deus. Ela vem do alto, sem a intervenção do ser humano. A maternidade virginal é, portanto, um evento que depende da iniciativa soberana de Deus, de tal forma que o nascido da Virgem é única e diretamente realizado por Deus, pela liberdade e pelo imediatismo do mistério de sua ação soberana (aspecto corporal), que suscita e exige a aceitação livre e a responsável disponibilidade de Maria que não conhece outro parceiro nem outro destinatário de sua dedicação que não seja Deus (aspecto espiritual). Em outras palavras: a virgindade corporal de Maria é o sinal psicofísico da sua dedicação a Deus. O mistério da virgindade de Maria ilumina o próprio mistério da nova criação. A redenção é de fato obra da graça de Deus. Da parte de Deus, a nova criação depende de sua soberana iniciativa. Mas a soberania divina não se substitui à liberdade humana.

Antes a suscita, a sustenta e a coroa. Assim A plena soberania de Deus na salvação pressupõe uma receptividade obediente. Maria, Mãe e Virgem, é o cume e a síntese tanto da receptividade humana quanto da mediação eclesial da salvação. Leitura complementar Bento XVI. Jesus de Nazaré. A infância de Jesus, 2012, 47-52. Devemos pôr-nos muito seriamente a questão seguinte: os dois evangelistas Mateus e Lucas (...) nos referem sobre a concepção de Jesus por obra do Espírito no seio da Virgem Maria é um acontecimento histórico real, ou é uma lenda piedosa que (...) quer exprimir e interpretar o mistério de Jesus? (...) As narrações em Mateus e Lucas não são formas mais desenvolvidas de mitos. Segundo a sua noção de fundo, estão solidamente colocadas na tradição bíblica de Deus Criador e Redentor. Mas quanto ao conteúdo concreto, provêm de tradição familiar, são uma tradição transmitida que conserva o sucedido. Eu consideraria como única explicação verdadeira daquelas narrativas aquilo que Joaquim Gnilka (...) exprime sob forma de pergunta: Terá porventura o mistério do nascimento de Jesus sido sobreposto ao Evangelho num segundo tempo, ou não se demonstrará antes que o mistério era conhecido, só que não se queria falar demasiado dele nem torná-lo um acontecimento vulgar ao alcance da mão? Parece-me normal que só depois da morte de Maria se pudesse tornar público o mistério e entrar na tradição comum do cristianismo primitivo; então podia ser inserido no desenvolvimento da doutrina cristológica e relacionado com a confissão que reconhecia em Jesus o Cristo, o Filho de Deus. E não no sentido de que de uma ideia se terá depois desenvolvido uma narração, transformando a ideia num fato, mas ao contrário: o acontecimento, um fato então dado a conhecer, tornava-se objeto de reflexão, à procura da sua compreensão. (...) Em Mateus e Lucas, nada encontramos duma viragem cósmica, nada de contatos físicos entre Deus e os homens: é-nos narrada uma história muito humilde e todavia, por isso mesmo, de uma grandeza enorme. É a obediência de Maria que abre a porta a Deus. A Palavra de Deus, o seu Espírito, cria nela o Menino; cria-o através da porta da sua obediência. (...) O que dizemos no Credo creio em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor, que foi concebido pelo Espírito Santo; nasceu da Virgem Maria é verdade? A resposta, sem qualquer hesitação, é sim. (...) Na história de Jesus há dois pontos nos quais o agir de Deus intervém diretamente no mundo material: o seu nascimento da Virgem e a ressurreição do sepulcro, de onde Jesus saiu e não sofreu a corrupção. Estes dois pontos são um escândalo para o espírito moderno. A Deus é concedido agir sobre ideias e os pensamentos, na esfera espiritual, mas não sobre a matéria. Isto perturba; não é ali o seu lugar. Mas é precisamente disso que se trata: de que Deus é Deus, e não Se move apenas no mundo das ideias. Neste sentido, em ambos os pontos, trata-se precisamente de Deus ser Deus. Está em jogo a questão: também Lhe pertence a matéria? Naturalmente, não se pode atribuir a Deus coisas insensatas, ou não razoáveis, ou que estejam em contraste com a sua criação. Ora, aqui não se trata de algo não razoável ou contraditório, mas precisamente de algo positivo: do poder criador de Deus, que abraça todo o ser. Por isso, estes dois pontos o parto virginal e a ressurreição real do túmulo são verdadeiro critério da fé. Se Deus não tem poder também sobre a matéria, então Ele não é Deus. Mas Ele possui esse poder e, com a concepção e a ressurreição de Jesus Cristo inaugurou uma nova criação; assim, enquanto Criador, Ele é também o nosso Redentor. Por isso, a concepção e o nascimento de Jesus da Virgem Maria são elementos fundamentais da nossa fé e um luminoso sinal de esperança.