DEBATE DA QUESTÃO: AUSÊNCIA DE DOCUMENTOS DA RECLAMADA, NÃO SE DESINCUMBINDO DE PROVAR A NÃO INSALUBRIDADE DO LOCAL x NECESSIDADE DE PERICIA (SENTENÇA VIOLARIA O ART. 195, 2º DA CLT). SENTENÇA PJe-JT RELATÓRIO Fulano de Tal, através de profissional habilitado, ajuizou a presente reclamação trabalhista em face de Empresa X, alegando que trabalhou para a reclamada no período de 05/09/2013 a 07/10/2015, na função de motorista de caminhão, recebendo como última remuneração a importância de R$1367,68. Postula nulidade do TRCT, com o consequente pagamento das verbas rescisórias; integralização das diárias e diferenças da rescisão; diferença de horas extras; adicional de periculosidade; adicional de insalubridade e devolução de cobrança indevida. O autor acostou documentos. a total improcedência da ação. A reclamada apresentou contestação sustentando O valor da alçada foi fixado em R$219.008,91. As partes prestaram depoimento. oportunamente formuladas. Foram recusadas as propostas de conciliação
Em razões finais as partes mantiveram seus argumentos. De tudo o referido, incorpora-se o teor respectivo ao presente para todos os efeitos, considerando-se parte integrante deste relatório. É o relatório. F U N D A M E N T A Ç Ã O (...) DO ADICIONAL DE INSALUBRIDADE O obreiro assevera que durante todo o pacto laboral trabalhou em condições insalubres, cita como exemplo, o risco de sofrer acidente rodoviário diante das péssimas condições de tráfego e exposição a intenso barulho proveniente do motor do caminhão. A reclamada contesta o pleito afirmando que não há previsão legal para o referido adicional quanto ao risco de acidentes na estrada. Em relação ao ruído, defende que este estava dentro do limite previsto, conforme PPRA anexo aos autos. Vejamos. Diz a CLT no seu Art. 189 - Serão consideradas atividades ou operações insalubres aquelas que, por sua natureza, condições ou métodos de trabalho, exponham os empregados a agentes nocivos à saúde, acima dos limites de tolerância fixados em razão da natureza e da intensidade do agente e do tempo de exposição aos seus efeitos. estabelece em seguida: Complementando esse artigo, o mesmo diploma
Art. 190 - O Ministério do Trabalho aprovará o quadro das atividades e operações insalubres e adotará normas sobre os critérios de caracterização da insalubridade, os limites de tolerância aos agentes agressivos, meios de proteção e o tempo máximo de exposição do empregado a esses agentes. Parágrafo único - As normas referidas neste artigo incluirão medidas de proteção do organismo do trabalhador nas operações que produzem aerodispersóides tóxicos, irritantes, alérgicos ou incômodos. À luz do art. 190, temos que a caracterização da insalubridade acha-se estreitamente vinculada às normatizações do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Para esse fim, editou-se a Norma Regulamentadora nº 15, que constitui o quadro das atividades e operações insalubres requerido no Diploma Celetista. Dessa maneira, qualquer alegação em juízo que venha a pleitear o referido adicional deve encontrar suporte na regulamentação do MTE, sob pena de ser julgada improcedente. Nessa toada, com relação à alegação de risco de acidente na estrada, o pleito do autor não encontra amparo na NR-15 do MTE. Entretanto, com relação ao ruído, o qual está previsto na norma regulamentadora em questão, a reclamada não trouxe os documentos necessários para aferição da existência ou não de insalubridade. A ausência de prova documental nos autos, sobretudo de PPRAs e PCMOS, não trazem clareza à lide. Ademais, não existe nos autos documento que comprove que a empresa tenha adotado medidas efetivas para neutralizar o agente insalubre ou reduzi-lo ao limite tolerável. No caso em tela, incide a presunção de veracidade dos fatos alegados pelo reclamante, nos termos do Art. 400, I, do CPC, razão pela qual presumimos verídica a informação do autor de que prestava serviços em contato com ruídos contínuos, indo de encontro ao anexo I da norma regulamentadora nº 15 do MTE.
Dessa forma, julgamos procedente o pedido de adicional de insalubridade, no percentual de 20% e reflexos em aviso prévio, 13º salário, férias + 1/3 e FGTS. O referido adicional deve ser calculado sobre o salário mínimo, nos termos da Súmula 28 desse E. Regional. (...) PREVIDENCIÁRIAS DAS CONTRIBUIÇÕES FISCAIS E Devem ser efetuados os descontos fiscais e previdenciários sobre as parcelas remuneratórias deferidas nesta sentença, devendo ser levado em conta a multa de mora de 20% no cálculo da contribuição previdenciária, conforme expressa previsão do art. 35, I, c da Lei 8.212/91. DOS JUROS E CORREÇÃO MONETÁRIA Por serem parcelas acessórias que seguem a sorte da principal, aderem à condenação nos termos da lei. DO BENEFÍCIO DA JUSTIÇA GRATUITA art. 790, 3º, da CLT. Deferimos o requerimento do autor, com base no DISPOSITIVO ANTE O EXPOSTO, DECIDE A MM. 4ª VARA DO TRABALHO DE BELÉM, NA RECLAMAÇÃO TRABALHISTA QUE FULANO DE
TAL MOVE EM FACE DE EMPRESA X, JULGAR PROCEDENTE EM PARTE A PRESENTE AÇÃO TRABALHISTA, PARA: I - CONDENAR A RECLAMADA A PAGAR AO RECLAMANTE O VALOR BRUTO DE R$5.424,94, CONFORME CÁLCULO INTEGRANTE DA SENTENÇA EM ANEXO, NO PRAZO DE 15 DIAS A CONTAR DO TRANSITO EM JULGADO DA DECISÃO, SENDO AO AUTOR O VALOR LÍQUIDO DE R$5.085,95, A TÍTULO DE ADICIONAL DE INSALUBRIDADE E REFLEXOS EM AVISO PRÉVIO, 13º SALÁRIO, FÉRIAS + 1/3 e FGTS, ALÉM DE JUROS E CORREÇÃO MONETÁRIA, CONFORME FUNDAMENTAÇÃO. BENEFÍCIOS DA JUSTIÇA GRATUITA; II - CONCEDER AO RECLAMANTE OS III - JULGAR IMPROCEDENTES OS DEMAIS PEDIDOS, POR FALTA DE AMPARO FÁTICO E LEGAL. IV - DETERMINAR QUE EM TUDO DEVEM SER OBSERVADOS OS TERMOS E LIMITES DA FUNDAMENTAÇÃO QUE PASSA A INTEGRAR O PRESENTE DISPOSITIVO PARA TODOS OS EFEITOS LEGAIS. CUSTAS PELA RECLAMADA NO IMPORTE DE R$133,25, CALCULADAS SOBRE O VALOR DA CONDENAÇÃO R$6.662,35. NOTIFICAR AS PARTES EM RAZÃO DO ATRASO NA PUBLICAÇÃO DA SENTENÇA MOTIVADO POR ACÚMULO DE SERVIÇO.NADA MAIS. ///CJF/// BELÉM, 7 de Outubro de 2016.
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Juiz do Trabalho Titular