CARTA ECONÔMICA Ano 5 N 3 Outubro de 2012 A Indústria Cearense e o Custo da Energia Elétrica A energia elétrica é um insumo fundamental para o setor industrial e a garantia de seu fornecimento, com qualidade, segurança e preços adequados, é indispensável para o crescimento da produção industrial e para a promoção do desenvolvimento econômico. Em média, as despesas com energia elétrica e combustíveis representaram 2,9% dos custos das empresas industriais brasileiras, segundo a Pesquisa Industrial Anual (PIA) de 2010. O peso, no entanto, é bem mais relevante para setores intensivos no uso desse insumo. No setor de Minerais não metálicos, por exemplo, as despesas com energia elétrica representam cerca de 9,2% do custo total, como pode ser visto na tabela abaixo. BRASIL - DESPESAS COM ENERGIA ELÉTRICA E COMBUSTÍVEIS NOS SETORES INDUSTRIAIS Percentual em relação aos custos totais (%) Setores % dos Custos Total 2,9 Indústrias extrativas 7,9 Indústrias de transformação 2,7 Minerais não metálicos 9,2 Metalurgia 7,7 Produtos de madeira (exceto móveis) 6,5 Celulose, papel e produtos de papel 5,9 Têxtil 5,7 Produtos químicos 3,5 Borracha e material plástico 3,6 Produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos 2,3 Alimentos 2,1 Bebidas 1,9 Impressão e reprodução de gravações 1,8 Couros e Calçados 1,8 Fabricação de móveis 1,8 Fabricação de produtos diversos 1,7 Vestuário 1,4 Coque, derivados do petróleo e de biocombustíveis 1,3 Máquinas, aparelhos e materiais elétricos 1,3 Veículos automotores, reboques e carrocerias 1,0 Máquinas e equipamentos 1,0 Outros equipamentos de transporte 1,0 Farmoquímicos e farmacêuticos 0,8 Fumo 0,8 Equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos 0,3 Fonte: IBGE PIA 2010 1
Uma análise das tarifas de consumo¹ de energia elétrica industrial feita através de dados da ANEEL, para 64 distribuidoras, referentes às 27 unidades da federação mostra que a tarifa média de energia elétrica para a indústria no Brasil é de 329,0 R$/MWh, com diferença de 63% entre o Estado mais caro (Mato Grosso) e o mais Barato (Roraima). O Estado do Ceará possui a décima sexta tarifa de consumo de energia elétrica industrial mais cara do Brasil, 316,5 R$/MWh. Esse valor encontra-se abaixo da média brasileira e nordestina. Em comparação com os estados Bahia e Pernambuco a tarifa cearense possui um valor inferior em 13,3% e 8,4%, respectivamente. TARIFA DE CONSUMO DE ENERGIA ELÉTRICA INDUSTRIAL RANKING DOS ESTADOS (R$/MWh) # Local Tarifa 1 MT 419,2 2 TO 373,2 3 MG 372,4 4 BA 365,2 5 RJ 356,7 6 ES 350,0 7 MS 346,9 8 PE 345,4 9 SC 341,7 10 MA 338,2 11 RO 334,2 12 RS 331,0 13 PA 326,6 14 AM 317,3 15 SP 317,3 16 CE 316,5 17 SE 313,5 18 RN 306,8 19 AP 305,6 20 PR 301,3 21 AC 292,2 22 DF 291,4 23 PB 289,2 24 GO 288,4 25 AL 284,3 26 PI 271,7 27 RR 255,9 ¹A tarifa de energia elétrica para consumidores de alta tensão indústrias e grandes consumidores de energia se divide em duas partes: consumo e demanda. A análise apresentada se dedica ao detalhamento da tarifa de consumo, tanto pelo fato de que esta representa quase a totalidade da conta final de energia elétrica quanto pela escassez de dados para tarifas de demanda em outros países. 2
Contudo, mais importante do que observar as disparidades regionais é avaliar a competitividade das tarifas de energia cobradas no Brasil, frente às tarifas dos demais países do mundo. As tarifas cobradas no Ceará (316,5 R$/MWh) e no Brasil(329,0 R$/MWh) são 47% e 53% mais caras, respectivamente, à média de 215,5 R$/MWh encontrada para um conjunto de 27 países que possuem dados disponíveis na Agência Internacional de Energia. Quando comparada com países que formam o BRIC, as indústrias instaladas no Ceará pagam, em média, 246% a mais do que na Rússia, 122% a mais do que na China e 68% a mais do que na Índia. Comparativamente a média Brasileira, a diferença de tarifas para com esses países é ainda maior: 259%, 131% e 75%, respectivamente. Em relação aos países da América Latina, o Ceará apresenta também menor competitividade com uma tarifa 60% superior à média da praticada por Argentina, Chile, Colômbia, El Salvador, Equador, México, Paraguai e Uruguai (197,5 R$/MWh), onde apenas o Chile possui uma tarifa maior. Já em comparação com o Brasil, todos os nossos vizinhos latinos possuem tarifas inferiores à média do nosso país. Quando comparada à média mundial (215,5 R$/MWh), à dos BRICs (140,7 R$/MWh) e à dos países da América Latina (197,5 R$/MWh), nenhum estado brasileiro possui tarifa de energia em patamares competitivos. TARIFA INDUSTRIAL DE CONSUMO DE ENERGIA ELÉTRICA NO BRASIL E EM OUTROS PAÍSES (R$/MWh) Itália MT Turquia Rep. Tcheca TO MG BA RJ ES MS PE SC MA Nordeste RO RS Brasil PA Chile SP AM CE SE RN AP México PR El Salvador AC DF PB GO AL Singapura PI Portugal RR Japão Reino Unido Alemanha Costa Rica Espanha Holanda Colômbia Índia Uruguai Coréia do Sul França China Estados Equador Canadá Rússia Argentina Paraguai 3
Para identificar as razões que tornam as tarifas de energia elétrica nos estados brasileiros tão altas, é importante analisar suas estruturas. A tarifa industrial de consumo de energia elétrica foi dividida em dois grupos distintos. O primeiro, ligado diretamente a questões operacionais, inclui os custos de Geração, Transmissão e Distribuição ( GTD ), além das perdas técnicas e não técnicas. O segundo é diretamente relacionado à tributação, seja na forma de encargos setoriais, seja na forma de tributos federais e estaduais (PIS/COFINS e ICMS). Ao analisar os custos de GTD, estes representam 50% da composição da tarifa de energia elétrica industrial no Ceará e no Brasil. COMPONENTES DAS TARIFAS DE CONSUMO DE ENERGIA ELÉTRICA INDUSTRIAL Percentual em relação ao total da tarifa (%) MT TO MG BA RJ ES MS PE SC MA RO RS PA SP AM CE SE RN AP PR AC DF PB GO AL PI RR Nordeste Brasil 0,8 11,3 18,8 1,9 10,6 0,6 16,8 0,8 17,3 1,6 7,2 2,0 15,8 0,7 13,3 1,9 18,3 0,5 18,3 1,4 13,6 1,1 12,7 1,0 14,8 1,8 17,5 1,0 17,1 18,9 0,7 18,0 1,2 13,1 7,7 1,2 17,3 17,9 0,6 11,8 12,8 7,5 2,3 6,3 1,5 14,0 4,3 11,7 1,0 12,8 1,1 17,1 57,4 49,8 56,9 52,0 51,4 68,7 59,6 55,5 44,2 48,7 59,4 55,6 58,7 50,1 46,4 49,6 45,7 55,1 40,5 47,7 50,6 57,0 53,8 25,6 25,6 21,3 34,6 32,6 69,1 30,7 31,5 60,8 54,0 61,5 55,5 50,3 Perdas Técnicas e não Técnicas Encargos Setoriais Tributos Federais e Estaduais ( PIS/COFINS e ICMS ) Custos De Geração, Transmissão e Distribuição 4
A parcela referente às perdas técnicas e não técnicas correspondem a 1% do valor global da tarifa de energia elétrica industrial tanto no Ceará quanto no Brasil. Para os estados da região Norte, Roraima e Amapá, os valores são bem superiores à média brasileira. Ao apresentar as parcelas das tarifárias referentes aos custos operacionais (GTD e perdas) e compará-las com as tarifas industriais finais dos demais 27 países, fica novamente nítida a baixa competitividade brasileira. Onde as tarifas operacionais de Espirito Santos e Minas Gerais são menores do que as tarifas finais de, apenas, 8 países pesquisados. Em relação ao Ceará, sua tarifa operacional de 159,8 R$/MWh é superior a tarifa final do setor industrial de sete dos vinte e sete países analisados, situando-se 89% acima da tarifa do Paraguai, 81% em relação a Argentina, e 75% a da Rússia. COMPONENTES DAS TARIFAS LIGADOS A QUESTÕES OPERACIONAIS (GERAÇÃO, TRANSMISSÃO, DISTRIBUIÇÃO E PERDAS) DOS ESTADOS BRASILEIROS E AS TARIFAS FINAIS DE ENERGIA ELÉTRICA INDUSTRIAL (R$/MWh) Itália Turquia Rep. Tcheca Chile México El Salvador Singapura Portugal ES MT Japão MG Reino Unido MS Alemanha Costa Rica RO GO Espanha Holanda PA PE BA Colômbia TO NE Índia RS RJ Uruguai AL RN Coréia do Sul Brasil RR França DF MA SP CE PB SC PI AC AM AP PR SE China Estados Unidos Equador Canadá Rússia Argentina Paraguai 5
Tendo em vista que as tarifas que englobam os custos operacionais de energia elétrica para a indústria cearense e brasileira são pouco competitivas perante o mercado mundial, era de se esperar que os governos estaduais, assim como o governo federal, praticassem uma política tributária que buscasse onerar o mínimo possível esse insumo, entretanto, a realidade é completamente oposta. A parcela da tarifa de energia que corresponde aos custos relacionados à arrecadação do Estado soma quase 49% da tarifa total, tanto no Ceará como no Brasil. Os encargos setoriais que incidem sobre as tarifas do setor elétrico cearense e brasileiro representam 18% e 17%, respectivamente, e, diferentemente do que acontece em outros países, a motivação ambiental não é a razão primordial para existência desses encargos setoriais. A alíquota média dos tributos federais e estaduais (PIS/COFINS e ICMS, respectivamente), cobrada na tarifa de energia elétrica industrial no Ceará é de 30%, já no Brasil o percentual é de 31%. Esse elevado nível de carga tributária não encontra nenhum similar dentre os países analisados. Pelo contrário, em países como Chile, México, Portugal e Alemanha o peso dos tributos é zero. Há um mês, a presidente Dilma Roussef anunciou que, a partir de 2013, a tarifa de energia elétrica industrial sofrerá redução de até 28% para a indústria, citando a competitividade como um dos pilares de orientação do governo, entretanto, apesar de se tratar de medida importante, mesmo com a redução máxima de 28% na tarifa industrial Cearense, estas empresas ainda pagarão uma tarifa energética 60% acima de seus concorrentes chineses. Sondagem Especial Burocracia e a Indústria Cearense Publicação do Instituto de Desenvolvimento Industrial do Ceará INDI Unidade de Economia e Estatística UEE Equipe Técnica responsável: Pedro Jorge Ramos Vianna, Rodrigo Gomes de Oliveira, Guilherme Muchale de Araujo, Camilla Nascimento Santos, Diego Renan Cavalcante Sabóia, Ana Angélica da Silva Patrício, Ana Jéssika Sousa Braga, Maria Luiza Silva Cardoso e Maurílio Silva de Oliveira Av. Barão de Studart, 1980 Fortaleza, CE - Contato: (85) 3421 5471 - uee@sfiec.org.br - www.sfiec.org.br/indi 6