Jornal Samambaia 1 Lucas Gomes BOTELHO 2 Luciene de Oliveira DIAS 3 Universidade Federal de Goiás, Goiânia, GO RESUMO Esse trabalho é composto pelas edições 66, 67 e 68 do Samambaia, jornal laboratorial do curso de Jornalismo da Faculdade de Informação e Comunicação (FIC) da Universidade Federal de Goiás (UFG), produzido por estudantes do curso através de disciplinas integradas. O jornal é o espaço que o curso proporciona aos alunos para a prática da livre ação e experimentação jornalística no ambiente acadêmico. A proposta do jornal é aproximar os estudantes da realidade que os cerca e aproximá-los da sociedade, que é o objeto do jornalismo. Palavras-chave: Jornalismo; Jornal Impresso; Jornal-Laboratório; Samambaia. 1. INTRODUÇÃO O Samambaia é o jornal-laboratório do curso de Jornalismo da Faculdade de Informação e Comunicação da Universidade Federal de Goiás. As edições analisadas foram produzidas por estudantes das disciplinas de Jornal Impresso I, Jornal Impresso II e Laboratório Orientado Diagramação. As publicações são de 2014, ano em que o Samambaia teve seu projeto gráfico reelaborado pelos estudantes que atuavam no laboratório de diagramação. No Brasil, as diretrizes que regem os cursos de jornalismo estabelecem a obrigatoriedade de um jornal-laboratório nas suas estruturas curriculares. A proposta é promover a aplicação dos conhecimentos adquiridos, a experimentação de novas possibilidades e, como consequência, a conquista de novos saberes. O jornal se propõe a esquivar-se dos padrões rígidos e fechados que muitas vezes envolvem a prática do jornalismo, e tenta utilizar não somente os caminhos já conhecidos, 1 Trabalho submetido ao XXII Prêmio Expocom 2015, na Categoria I Jornalismo, modalidade JO 03 Jornal-laboratório impresso. 2 Aluno líder do grupo e estudante do 5º. Semestre do Curso de Jornalismo, email: lucasgbotelho@gmail.com. 3 Orientadora do trabalho. Professora do Curso de Jornalismo, email: lucienediasj@gmail.com.
mas abrir novos caminhos através do exercício da criatividade e principalmente da liberdade de produção jornalística. 2. OBJETIVO O jornal Samambaia, como laboratório do curso de Jornalismo, é um espaço essencialmente de experimentação. As disciplinas laboratoriais nas quais é produzido o jornal não pretendem reproduzir o ambiente de uma redação jornalística, mas envolver estudantes no processo de produção jornalística sem desconsiderar as especificidades laboratoriais. A verdadeira intenção é que o espaço seja para o estudante exercitar de forma plena a experimentação, a criatividade e a participação efetiva na produção jornalística, não se perturbando com erros ou acertos, mas desenvolvendo reflexões sobre o fazer. Contestando a prática de mercado que nos impossibilita de ousar através de rotinas produtivas neutralizantes, o Samambaia se propõe fugir de padrões fechados ou definitivos. O espaço se abre e se modifica para explorar as mais diversas possibilidades no texto, na apuração, na entrevista, nas fotografias, nas ilustrações e charges, no fazer jornalismo e no ser jornalista. O jornalismo não deve ser exercido por meros cumpridores de pautas, por profissionais silenciados pela rotina produtiva. Este é um espaço para debates, tensões que refletem os interesses em jogo e que espelham, inclusive, o esforço individual e coletivo de servir à sociedade. Então, o jornal-laboratório se constitui em um dos espaços em que buscamos nossa autonomia. (DIAS, 2010, p. 74) Neste sentido, o jornal-laboratório Samambaia vem conseguindo, ao longo dos anos, envolver estudantes no processo de produção jornalística enquanto agentes deste mesmo processo. Esta ação vai desde a concepção do jornal e elaboração das pautas, passando pelo seu cumprimento, edição e finalização, até o feed back necessário. 3. JUSTIFICATIVA No editorial da primeira edição do Samambaia, em julho de 2000, Renata Vieira Prado, então estudante, afirmou que o que queremos com o Samambaia é aproximar os
moradores da região dentro do nosso ideal de informar e possibilitar-lhes um canal de expressão de suas lutas. Em toda a sua trajetória, o jornal sempre carregou fortes traços do Jornalismo com responsabilidade social. Essa proposta editorial conduz vários estudantes a ter contato com realidades, para muitos, desconhecidas. O jornal-laboratório permite que o aprendiz de Jornalismo se exercite na capacitação e análise dos problemas de sua comunidade, de seu país e da civilização contemporânea, ao mesmo tempo em que desperta interesse pela especialização, fazendo-o descobrir quais dos aspectos e atividades da profissão o seduzem mais. (LOPES, 1989, p. 49) Como jornal-laboratório, o Samambaia configura-se como espaço de prática dos alunos de Jornalismo. O jornal tem grande relevância no curso, pois é o espaço onde os estudantes exercem as atividades jornalísticas na prática, que guiam e/ou reforçam as futuras escolhas profissionais dos estudantes. Também durante a produção do jornal, os alunos assumem o papel de editores, fotojornalistas e diagramadores. A escolha do jornal impresso como laboratório é oportuna, pois a escrita textual é base e requisito em qualquer mídia. A forma escolhida também abarca muitas outras práticas que são cotidianas na vida do jornalista. O Samambaia é produto do trabalho integrado de três disciplinas: Jornal Impresso I, Jornal Impresso II e Laboratório Orientado Diagramação. Na disciplina de Jornal Impresso I acontece o exercício da apuração e investigação jornalística através da produção de notícias, reportagens, entrevistas, reportagens fotográficas, crônicas, etc. Em Jornal Impresso II é organizada a edição do jornal laboratório, com a definição de conceitos, estratégias e técnicas que vão ser utilizadas pelos repórteres. E no Laboratório Orientado de Diagramação, os alunos recebem a produção textual e a organizam no projeto gráfico do jornal Samambaia. No ano de 2014, que envolve as três edições aqui apresentadas, o Samambaia teve seu projeto gráfico reformulado. A mudança de layout acontece num ciclo de quatro anos, e nesse ano específico, junto com a mudança do layout, modificou-se também formato, passando do tabloide para o standard germânico. A estrutura dos textos não foi muito modificada, porém os elementos visuais foram renovados: cabeçalhos, colunas, fontes tipográficas, etc. No editorial da edição que estreou redesign, diz-se que esta edição marca o início de um novo caminho para o Samambaia. Dessa vez, além da renovação da equipe
que acontece todos os semestres, também houve a reformulação da estrutura do jornal. Páginas maiores, coluna sobre cinema, novo projeto gráfico e editorial, todo esse processo de mudança trouxe uma nova cara para o jornal. Assim como as edições passadas, as três edições analisadas também estão disponíveis em plataforma digital. Dessa forma, o jornal pode ser lido por qualquer pessoa, mesmo que essa esteja em um lugar distante e não tenha um exemplar impresso em mãos. O jornal em formato digital também facilita a divulgação do produto na internet e nas redes sociais, atingindo dessa forma um número maior de leitores. O jornal Samambaia tem a periodicidade mensal. 4. MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS A produção do jornal acontece em três disciplinas distintas, porém integradas pela produção do Samambaia. O processo começa na disciplina de Jornal Impresso II, quando os estudantes, exercendo a função de editores, produzem as pautas das reportagens sob a orientação da professora Luciene Dias. Quando as pautas são finalizadas, os alunos da matéria de Jornal Impresso I as recebem para iniciarem a apuração, agendarem entrevistas, fazerem registros fotográficos e todo o mais que concerne à produção das reportagens. O trabalho de reportagem não é apenas o de seguir um roteiro de apuração e apresentar um texto correto. Como qualquer projeto de pesquisa, envolve imaginação, insight: a partir dos dados e indicações contidos na pauta, a busca do ângulo (às vezes apenas sugerido ou nem isso) que permita revelar uma realidade, a descoberta de aspectos das coisas que poderiam passar despercebidos. (LAGE, 2001, p. 35) O Samambaia busca trabalhar com reportagens sobre temas diversos ao invés de notícias cotidianas, sob a perspectiva de que a reportagem é a ampliação do relato simples, raso, para uma dimensão contextual. (LIMA, 2004, p.18). Não são produzidas reportagens que serão consumidas em um dia e descartadas no outro, mas busca-se produzir reflexões sobre o meio em que se vive, questionando as estruturas e relações sociais impostas, situando a informação num processo social de produção de sentidos (BORGES, 2012, p. 306).
Entretanto, a ampla maioria das práticas e rotinas do trabalho jornalístico está presa a uma lógica factual e cotidiana. Segundo Correia (1997, p. 78), estão mais orientadas para a cobertura e tratamento do que é pontual e episódico, do que para o que se processa ao longo do tempo. Ao noticiarem o imediato e não serem capazes de promover um movimento de síntese que abarque a totalidade histórica, ou ao menos que dela se aproxime, os veículos jornalísticos contribuem para o fortalecimento de um pensamento disperso sobre a vida e suas conjunturas. (BORGES, 2012, p. 305). Quando o texto e as imagens então prontas, o material é entregue para a turma de Laboratório Orientado Diagramação. Nessa disciplina, ministrada pelo professor Sálvio Juliano, os alunos organizam os textos e as imagens no layout do jornal, desenvolvendo o espaço gráfico e seus elementos de expressão. Todo o trabalho é orientado e acompanhado pelos professores e monitores das disciplinas. A conquista de monitoria para o Samambaia é um fator chave na produção de um jornal-laboratório de qualidade. O trabalho dos monitores é semelhante ao do editorchefe, e eles são responsáveis pela comunicação entre as turmas. As aulas das três disciplinas que integram o laboratório propõem aos estudantes não só o conteúdo técnico, mas promove também a reflexão do papel que eles estão exercendo dentro da produção jornalística, e também da função de sua produção, enquanto jornalistas, para a sociedade. 5. DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO O jornal Samambaia surgiu no ano de 2000 como jornal laboratorial da atual Faculdade de Informação e Comunicação da Universidade Federal de Goiás. Ao longo dos seus quinze anos de história, muitas mudanças aconteceram, mas para além dos diferentes formatos, fontes, pensares que o jornal já vivenciou, um elemento que aproxima todas as edições é, sem dúvida, a tentativa de fazer melhor (DIAS, 2010, p. 75). Atualmente composto por 16 páginas, o jornal tem o tamanho standard germânico, com impressão colorida apenas na página 1 (capa) e página 16. As editorias que compõem a produção não são fechadas, são temas, e podem manter-se ou não na edição seguinte. A edição nº 66, primeira de 2014, estreou o novo projeto gráfico, e trouxe na chamada principal a reportagem sobre as novas diretrizes curriculares dos cursos de Jornalismo no Brasil, estabelecendo, de certa forma, um diálogo entre a reformulação do
curso e a renovação do jornal. O exemplar também possui matérias relativas ao cotidiano da cidade, à saúde, educação, comportamento, e cultura. Na página 16, onde fica a seção Olhares, uma fotorreportagem sobre artistas de rua. Figura 01: Capa p. 01 nº 66 Figura 02: Olhares p. 16 nº 66 A edição nº 67 chamou atenção para os casos de violência contra idosos, e discutiu em outras reportagens assuntos nas editorias de política, cidadania, acessibilidade, literatura e esporte. A seção Olhares fala sobre o Mercado Central de Goiânia, um dos mais antigos pontos de comércio da capital.
Figura 03: Capa p. 01 nº 67 Figura 04: Olhares p. 16 nº 67 A edição 68 trouxe a editoria de cultura para a capa, falando sobre a literatura do continente africano e também trazendo informações sobre economia e violência contra jornalistas, entre outros assuntos. A imagem da capa foi produzida artesanalmente pelos editores dessa seção, através de desenhos, de recortes em papel e da fotografia. Um dos destaques da edição é também um perfil nas páginas 14 e 15, com o texto escrito e ilustrado pelo monitor do jornal.
Figura 05: Capa p. 01 nº 68 Figura 06: Olhares p. 16 nº 68 Figura 07: Perfil p. 14-15 nº 68 As fotos do Samambaia são feitas pelos repórteres, que as produzem e entregam para a edição junto com o texto. Além de fotos, é comum o uso de ilustrações na composição das páginas.
A capa tem seus próprios editores, sendo pensada e produzida pelos alunos do laboratório orientado de Diagramação de acordo com os destaques escolhidos. Com um visual simples e moderno, a capa contém uma imagem grande que se refere à chamada da matéria principal, e outras quatro chamadas na parte superior da página, ao lado do cabeçalho. O editorial é escrito por três estudantes de cada vez, que trazem uma visão crítica dos assuntos abordados e do próprio papel do jornal. Os editoriais são assinados para que os alunos desenvolvam sua autoria, e também porque o corpo editorial do Samambaia é modificado a cada semestre. Os artigos de opinião e as crônicas abrem espaço para uma produção livre do estudante, com espaço aberto para a expressão de opiniões e visões de mundo diversas. Da mesma forma, a charge contribui com esse propósito, com a manifestação do pensamento crítico através de ilustrações feitas pelos alunos. Na página 16, com impressão colorida, está a seção Olhares, com a prática da reportagem essencialmente fotojornalística. 6. CONSIDERAÇÕES O Samambaia é, há 15 anos, o campo onde os estudantes de Jornalismo da UFG encontram seu espaço para a produção livre e independente de sentidos, seja por meio dos textos, das fotos, das charges, do projeto gráfico ou de qualquer plataforma disponível nas páginas do jornal. O jornal cumpre seu papel não apenas no meio acadêmico, mas também no meio social, trazendo reflexões pertinentes para o cidadão. Estudante, professores e leitores. Universidade e sociedade. Todos ganham com a abertura e a promoção da experimentação no fazer jornalístico. Com erros e acertos, as práticas conhecidas são aprimoradas e novas práticas se desenvolvem. Esse é o papel do jornal-laboratório. Esse é o papel do Samambaia.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CORREIA, J. C. apud BORGES, R. M. R.; DEUS, J. B. Jornalismo e Geografia no espaço e nos tempos vividos: encontros, diálogos e possibilidades nos mundos e modos. In: MAIA, Juarez Ferraz de. Atualidades: estudos contemporâneos em jornalismo. Goiânia: Ed. da PUC-Goiás, 2012. BORGES, R. M. R.; DEUS, J. B. Jornalismo e Geografia no espaço e nos tempo vividos: encontros, diálogos e possibilidades nos mundos e modos. In: MAIA, Juarez Ferraz de. Atualidades: estudos contemporâneos em jornalismo. Goiânia: Ed. da PUC-Goiás, 2012. DIAS, L. O. Samambaia: Jornal-laboratório como construção coletiva. In: MAIA, Juarez Ferraz de (org.). Jornalismo UFG. Goiânia: FUNAPE/Facomb, 2010. LAGE, Nilson. A reportagem: teoria e técnica de entrevista e pesquisa jornalística. 7. Ed. Rio de Janeiro: Record, 2008. LIMA, Edvaldo Pereira. Páginas ampliadas O livro-reportagem como extensão do jornalismo e da literatura. 3. ed. Barueri: Manole, 2004. LOPES, D. F. Jornal Laboratório: do exercício escolar ao compromisso com o publicoleitor. São Paulo: Summus, 1989.